quarta-feira, 9 de março de 2011

SERÁ QUE SOU PETISTA?

Minha história de vida petista começou muito antes do meu nascimento e do nascimento do Presidente Lula.
Meu pai era um trabalhador (sem barba, porém de bigodes) que liderava os movimentos grevistas na linha da antiga Estrada de Ferro Sorocabana. Ao seu comando a linha parava entre São Paulo e Presidente Epitácio.
Ele deu muito trabalho ao interventor paulista, Ademar de Barros. Tanto que um belo dia foi chamado pelo dito cujo e recebeu uma proposta irrecusável: salário 100 vezes maior do que o de maquinista de trens e cargo de diretoria. Para aceitar a oferta, coincidentemente meu pai apresentou uma pauta de 13 reivindicações. Estas representavam melhorias profissionais de toda sorte para seus companheiros. Após uma semana, meu pai foi novamente chamado e da pauta apresentada o interventor aprovou 11 itens, deixando apenas 2 de fora. Como se tratava de coisas muito significativas para os trabalhadores, meu pai avisou que não abria mão dos pedidos e deixou então de ser diretor com direito a muitas mordomias, voltando a viver entre os companheiros, na luta de cada dia. Liderou muitas passeatas junto com minha mãe, clamando por Assembléia Constituinte.
Na Constituinte de 46 o então Secretário Geral do partidão em São Paulo foi eleito deputado federal. Sofreu então uma grande desilusão. Afinal, meu pai era um trabalhador de poucas letras e seus companheiros de bancada não quiseram aceitar um “analfabeto” na Constituinte.
Meu pai foi convidado a renunciar em favor de seu suplente e xará, Dr. Mario Cayres de Brito, um médico.
Deixou a cena política e voltou-se apenas para a família a partir de então. Seis anos depois eu nasci. Pelo berço que tive, fica claro que política já estava no meu sangue. Mas veio 1964, eu estudante do então 2º grau (ginásio) fui amordaçada e tive que conter todos os meus anseios.
Já no Curso Clássico, a pedido da professora de literatura, um trabalho que implicava em comentar e analisar (sob o aspecto literário) uma notícia de jornal, escolhi a cobertura feita pela então FSP sobre os ataques sofridos pelos estudantes no Mackenzie, sob o comando vociferante do Cel. Erasmo Dias (que o diabo o tenha!).
Fui chamada atenção para não repetir tal ousadia, mas ao mesmo tempo “alguém” me procurou e a partir de então estava engajada no movimento estudantil que agia na surdina, no ABC.
Somente ao encontrar o companheiro que liderava nossa célula, depois de ter sido apanhado e torturado no Dói-Cod (o codinome dele era Ricardo, e vc Ricardo que abriu este tópico tem posicionamentos que lembram dele) fiquei, confesso muito assustada. Eu era uma criança, ainda nem tinha 18 anos.
Os encontros foram se arrefecendo, pois todos se apavoraram, a ditadura recrudesceu. Eram tempos sombrios. Li a obra do Jorge Amado (que fora amigo do meu pai) chamada Os Subterrâneos da Liberdade. Vi a vida que a jovem Mariana enfrentou e recolhi as armas. Éramos poucos e desarmados. Coquetéis molotov feitos no quintal de casa, nunca seriam em quantidade suficiente, até porque não se tinha onde estocar.
O tempo passou. Lá de São Bernardo vinha uma voz que entoava liberdade nas entrelinhas das suas falas. A igreja saiu da moita. Enfim vieram as diretas e tudo o mais é muito recente.
Aquela voz que clamava por liberdade, tinha uma história de vida tão parecida com a de meu pai...
Acabei transferindo para ele tudo o que sentia pelo meu querido pai, já falecido há muitos anos.
Tem sido um amor incondicional.
Sou do time: O Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo!
Eu nunca me filiei ao partido, mas voto nele em todas as eleições. Faço campanha, carreata, buzinaço, adesivaço e tudo o mais que o partido promova. Ah! Também fiz dois petistas atuantes nos movimentos sindicais de suas categorias.
Será que eu sou petista?

Norma Scott
(São Paulo, 18/05/1951 - Goiânia, 17/02/2011)