sábado, 12 de fevereiro de 2011

VIDA DE GADO

Já deu no saco a reclamação de que eu não tenho acesso à internet. Azar o meu. Mesmo assim, continuarei reclamando. As coisas nem sempre devem ser boas. Ou, como disse o Romário, nem sempre mais é melhor.
Pensei que não viveria para assistir o Partido dos Trabalhadores fazer tanto empenho para limitar o aumento do salário mínimo. E, pior, as desculpas são iguais as que eram usadas tempos atrás, quando 100 mil marchávamos a Brasília para brandir:

"Fora já;
Fora já daqui;
Fora FHC
e o FMI!"

1984, do Orwell, termina com o olhar daqueles que estão excluídos do banquete, mas que o assistem pela janela. E já não conseguem distinguir os homens dos porcos.
Não serei tão impiedoso, pois reconheço os avanços do governo petista. Também não cairei na esparrela de acreditar na nobreza de propósitos da oposição, acenando com a promessa de campanha do Serra, de R$ 600,00.
Vejo o lado das centrais sindicais, que são um arremedo da classe trabalhadora organizada, mas ainda assim a única voz a clamar pelos geradores da riqueza da nação, que calculam R$ 580,00 uma medida plausível. E acordos, concordo, são tratados levando-se em conta as circunstâncias. Lula, como sindicalista, rompeu vários acordos com os patrões.
Não dá para ser complacente com que não tem sequer o tato para arredondar R$ 550,00. É muito economicismo, monetarismo e o caralho de asa para quem se colocou ao lado do povo na hora de pedir votos.
R$ 35,00 de excedente é a possibilidade de progresso para muitas famílias. É a possibilidade de enriquecer de proteína a dieta espartana. Um livro. Contudo, a classe merdia não vê diferença: essa grana não paga o cinema no shopping. E é essa a sensibilidade que guia nossa classe dirigente.

...

Ainda há o Egito, cujo desfecho de sua "revolução", com transição controlada por milicos, me deixou decepcionado.
Em geral, os povos mantêm orgulho de suas tradições gloriosas. Extraí essa regra geral de alguns casos particulares. Nada sacia mais o saudosismo português do que falar das grandes navegações. Os séculos XV e XVI são considerados "de ouro" por nossos patrícios lusos. A melancolia de um português constantando que os tempos áureos não voltarão, é tocante.
Num outro nível, nunca nos sentimos tão brasileiros quando falamos de futebol. Entre os argentinos, isso também fica evidente.
E por aí vai... Asterix é um ídolo francês, a Itália ainda conta os feitos notáveis do Império Romano, gregos citam aforismos de Platão, Aristóteles, além dos clássicos do teatro. No filme Casamento Grego, o pai da noiva consternado diz que os americanos ainda subiam em árvores quando seus ascendentes já faziam filosofia.
Era nessa escala de grandeza histórica que eu imagina a queda de Mubarak e o florescer de uma nova era... Mas não aconteceu, e na falta de palavras, cito algumas copiadas do "Anais Políticos":

...

"Em outras palavras, o exército cuidará de não mudar nada.
E o povo, massa de manobra como sempre, ainda aplaudirá."

...

"... os governos fazem isso. Colocam uma idéia monstruosa numa embalagem bonita, e empurram goela abaixo do cidadão. Exatamente como os EUA, o Brasil e tantos outros países, fizeram (e fazem) por muito tempo. A América é o caso mais gritante. Vendem 'democracia' como sendo a panacéia, mas o que entregam para o povo é um governo fajuto voltado aos interesses de meia dúzia. Democracia que é bom, nada."

...

"O povo se cansou de Mubarak, mas foi uma daquelas revoluções que nascem de um estopim nada a ver. O povo estava normal até outro dia. e por algum motivo vindo da Tunísia, resolveu subir nas tamancas. Tudo isso significa dizer que o povo do Egito será novamente, engambelado. Só haverá eleição lisa, se houver muito sangue nas ruas. Caso contário, nada feito."

Não vou postar foto, nem vídeo, nem nada que suavize minha amargura ou torne a leitura mais agradável. Nem sempre mais é melhor.

2 comentários:

james brasil de kur disse...

É marco, os tempos mudam. E nós tb.

Relton Leandro disse...

Meu caro mais coerente impossivel.