domingo, 9 de dezembro de 2012

REFLEXÕES DEZEMBRINAS

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Dezembro é o mês dos balanços, das retrospectivas, do meu aniversário e dos planos para o ano seguinte. Este dezembro está vazios de planos, pois o mundo talvez acabe dia 21 – planejar o quê?

Sem saber o que farei (se é que farei) o ano que vem, escreverei sobre o que tenho visto acontecer. Rodrigo Vianna apresentou uma tese interessante sobre a estratégia da oposição: o fatiamento.

Mais que nunca, está claro que a oposição é a Globo. Por tabela, a Abril e a Folha. E por uma quimérica necessidade institucional, os instrumentos são os partidos de direita. O fato do candidato ser o Aécio não significa que o PSDB sepultou o Serra, e sim que a Globo tem pressa em colocar os lutadores no octágono. Mostrar para o espectador em quem ele deve votar, depois de esculachar pela milésima vez o PT e Lula.

Primeiro, destruíram o patrimônio ético e moral que restava ao PT. Virou viral tachar o petista, seja o militante, seja o carreirista, de quadrilheiro, mensaleiro e o escambau. Agora, de novo as canhoeiras estão direcionadas ao Lula. Quem disser que a luta de classes acabounão é capaz de fixar a atenção no ódio visceral que as elites deste país têm do sapo barbudo. Depois de tentarem imputá-lo o mensalão, colarem-lhe o rótulo de apedeuta, a bola da vez é a acusação de adúltero, favorecendo sua teúda e manteúda com as benesses de um cargo público onde o tráfico de influências rolava solto. Abatido o batráquio, a terceira e derradeira etapa é o ataque massivo à gerente Dilma.

Bom, esse é o plano da oposição. Me admira muito quantas linhas a imprensa progressista gasta comentando os rumos que a oposição deva ou não tomar. Levar o Aécio mais para o centro, se aproximar do PSB, reconhecer os avanços do lulismo na assistência aos pobres, isso e aquilo. Sem delongas, quero que a oposição se foda. Acho ótimo quando os colonistas* do PIG explicitam seus pensamentos obtusos. Quando o mundo inteiro (e aqui não apenas uma figura de linguagem –é o coletivo de todos os outros países da terra) reconhece os avanços sociais do Brasil nos governos petistas e a nova posição de player (anglicismo ridículo, desculpem) internacional e eles teimam em retorcer a verdade sem disfarçar o complexo de vira-latas. Quando a insignificante oposição parlamentar berra contra o povo, contra o bolsa família, contra as cotas. Quando publicam fotomontagens grosseiras ou fichas falsas do DOPS. Quando são incapazes de homenagear gênios universais como Hobsbawn ou Niemeyer.

Um parêntese. Não queria fazer do texto um obituário, mas foi um ano de duríssimas perdas. Mais um. Niemeyer, meio gênio, e a outra metade milagre, prodígio, fenômeno, maravilha e portento, respondeu premonitório ainda em vida: “Nunca me calei. Nunca escondi minha posição de comunista. Os mais compreensíveis que me convocam como arquiteto sabem da minha posição ideológica. Pensam que sou um equivocado e eu penso a mesma coisa deles. Não permito que ideologia nenhuma interfira em minhas amizades.” Lógico a figura que o desacatou nas exéquias não tem envergadura para compartilhar da amizade de alguém para quem esse sentimento tinha tanto significado. Fecha parêntese.

Voltando ao argumento do Rodrigo Vianna, a fragmentação é a forma mais fácil de compreender a totalidade. A ciência atua assim. Raciocinar sobre frações da realidade é mais simples do que as conjecturas que levam em conta infinitas variáveis. Sobre o PT mesmo, tenho me sentido dividido. Me iludi com o garantismo constitucional que aprendi na faculdade e o arrivismo do Paulo Henrique Amorim e do Mino Carta (“quero ver o supremo condenar o Dirceu sem provas”; “o mensalão ainda está por provar-se”). Uma percepção semelhante à de 2003/2004, quando as ilusões sobre a chegada de “um áureo tempo de justiça” ruíam sob Palocci, Meirelles, o próprio Dirceu e a governabilidade.

Fragmentando, em qual PT votar? O que respeita e fortalece instituições como a Polícia Federal e o Ministério Público ou o que reclama de ser condenado por fazer caixa dois, como de resto, os partidos de direita fazem?

O que denuncia o PIG, como Fernando Ferro, o que propõe com Franklin Martins um novo marco regulatório da comunicações ou o que banca com subvenções públicas via SECOM o golpe da Globo e se cala?

O que pede indiciamento do Carlinhos Cachoeira e expõe a ferida de sua ligação com a Veja – e via de consequência, a Globo – ou o que rasteja por uma entrevista nas páginas amarelas do detrito sólido de maré baixa? Ou o que barganha a pizza na CPI em troca do silêncio sabe se lá em qual falcatrua? Ou o que consta nos caderninhos de pagamento do bicheiro, como Raul Filho e Rubens Otoni?

Mino Carta e Ronaldo Kotscho clamam por postura do partido. A inação permite interpretações dúbias, e quem está entrincheirado defendendo o modelo trabalhista de governo é apedrejado como um bandido de vilarejo. Legal que os dois, com toda vivência que têm ainda acreditem no papel no jornalista como agente de transformação social. Mesmo depois do paparazzi de Nova York que fotografou um homem sendo atropelado pelo metrô sem oferecer ajuda, ou o caso da enfermeira inglesa que recebeu o trote de uma rádio acerca da princesa Kate e, não suportando a humilhação, se suicidou.

A imprensa de uma maneira geral precisaria rever seu espaço no mundo. Mas não fará isso, pois não pode pular sobre sua própria sombra. No máximo, veremos a Globo estrebuchar contra a Argentina colocar o Clarín no seu devido lugar. Nós teremos que fazer. Não há mais necessidade de intermediários. A crise na comunicação em tempos de informação em tempo real é análoga à desconfiança sobre os representantes de Deus na terra – sejam lá de que religião forem – diante dos avanços da ciência que desmistificam a vida.

De minha parte, penso que a realidade se tornou complexa demais para fragmentações. A oposição encaminhará seu golpe com o estratagema confundir para conquistar, caro aos colonialistas. Dividir para conquistar não é um lema inovador, como aliás é a superada oposição brasileira.




Poderia escrever sobre a transformação do significado do natal. Mas aí seriam maus agouros em demasia para, com cinismo, desejar boas festas.

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