terça-feira, 23 de setembro de 2014

ONDA VERMELHA

Um fenômeno se repete às vésperas de cada eleição: a arremetida irrefreável dos candidatos do Partido dos Trabalhadores. Antes, essa ocorrência recebia o nome de "fenômeno PT", e era creditada à aguerrida militância do partido, que saía às ruas e promovia o verdadeiro milagre da conversão de votos.

A eleição de Luíza Erundina para prefeita de São Paulo, em 1988, foi inesquecível. Figurava em 5.º lugar nas pesquisas. Na semana anterior à eleição, ultrapassava José Serra e se encontrava em empate técnico com João Leiva, do PMDB, mas atrás de Paulo Maluf, que venceu inclusive a pesquisa de boca de urna (exceto a feita pela Rádio Jovem Pan). Tempos depois, ficamos sabendo que a Rede Globo omitiu uma pesquisa feita pelo IBOPE, no dia anterior ao pleito que já apontava a petista na liderança.

Lógico que o fenômeno não é tão facilmente explicável, mas o fato é que hoje a tal militância mingou, e sair às ruas empunhando bandeiras ou a estrela vermelha no peito se tornou mortalmente perigoso, como não os deixa esquecer Hiago Augusto Jatobá de Camargo.

Então, a questão que se propõe é a seguinte: do nada, por geração espontânea, as pessoas que assistem ao massacre midiático imposto ao PT diuturnamente passam a enxergar as virtudes do partido, contrariando tudo o que veem na televisão, ou estamos diante de um embuste, de uma mentira fabricada com margens de erro, sondagens direcionadas, um serviço sujo feito pelos institutos de pesquisa sem qualquer auditoria, papagaiado pelo PIG dentro de todos os lares brasileiros?

Em suma, é uma transformação ou uma farsa?

Nossa intuição e experiência apontam na segunda opção. Aliás, já questionamos para que servem as pesquisas eleitorais senão para influenciar grosseiramente o eleitor que não quer perder, como se fosse um jogo.

O problema é que quando chegamos perto da votação real o campo das especulações se estreita, e fica impossível manipular tão abertamente os dados, ainda que determinados institutos como o Datafolha ultrapassem o limite da decência na maquiagem dos números. Para voltar à realidade, começam a pipocar dados estaduais: em Minas, Dilma vence por 40% contra 22% de Marina e 21% de Aécio. No Ceará, Dilma 58%, Marina 18% e Aécio 9%. Na Paraíba, Santa Catarina e Paraná se verifica a mesma coisa. No Maranhão, a vitória é estrondosa: 70%, contra 22% de Marina.

Um Estado sedendo, com a boca seca, à beira de uma tragédia, apostaria na reeleição de seu governador, o verdadeiro volume morto? São Paulo, que se acostumou a fazer piadas com a seca no sertão nordestino, vive o racionamento. Não há nenhuma iniciativa pública estrutural para evitar o drama de quem ficará sem água. Jogam para as câmeras, empurram para depois da eleição, apostam numa guerra dos entes federativos, costuram uma série de gambiarras em cidades do interior, culpam o cidadão que não fecha a torneira quando escova os dentes e mistificam invocando queimadas na Amazônia. Engraçado: não falta água nos estados limítrofes a São Paulo, mas aquela maldita árvore derrubada num rincão do Pará faz hoje o paulistano feder, porque não toma mais banho.

O jogo de cena se repete no estado do Rio Grande do Sul, onde o PT enfrenta a própria Rede Globo, sem atravessadores, com os seus lacaios jornalistas fazendo o papel de candidatos da "oposição". Em Brasília, insistem em fazem concorrer um bandido julgado e condenado - e duas vezes! No Paraná, nos empulham a dupla Piá de Prédio e Catão dos Pinhais (o Alberto Roberto cover) como alternativas ao projeto democrático e popular. Na Bahia, o candidato do PT, Rui Costa, começou nos levantamentos com 2% e semana passada já tinha 24%. E os exemplos não param por aí...

O fato é que nem com todo tumulto causado, o PIG conseguiu derrubar a aprovação do governo. Como um governo com 80% de avaliações bom ou ótimo, a tendência da reeleição volta a ganhar o peso que tinha até meses atrás. Não dá mais para esconder a realidade: o projeto continuará por mais 4 anos. Até porque os adversários sofrem de uma inconsistência risível. Não têm o mostrar, fora o anteparo midiático. Aécio, candidato a quatro anos, não oferece absolutamente nada de novo. Só o arcaico udenismo aliado ao anti-petismo irracional. Por que ele não nos mostra as grandes obras do seu partido? Já Marina, a cada vez que abre a boca expõe suas contradições, e perde votos. Enquanto o PIG falava por ela, a candidata ventríloca chamava a atenção. Hoje, não consegue nem fazer rir comparando a presidente a um besouro gordo (imaginem o contrário: Dilma, ou qualquer petista, ridicularizando características físicas dos oponentes). Sai menor do que entrou na disputa.

...

É hora de entrar de corpo e alma na campanha para defender as conquistas sociais dos últimos anos.

Para garantir a tecnologia desenvolvida pela Petrobrás, ÚNICA empresa no mundo capaz de extrair petróleo a grandes profundidades marinhas. Os gringos estão alucinados na transferência desse conhecimento!
Para ampliar o acesso a educação, qualificando-o, fazendo com que cada vez mais filhos de pedreiros possam se tornar doutores.
Para manter a política de valorização real dos salários, do pleno emprego, e com todo mundo de carteira assinada.
Enfim, é a hora de fazer acontecer a onda vermelha.

A onda vermelha é Dilma Rousseff. 13.

domingo, 21 de setembro de 2014

O ANTIPETISMO CHEGOU À BARBÁRIE

As chagas da nossa elite são temas mencionados amiúde, mas sempre com muitos dedos e melindres. De todas elas, a que mais me espanta é a do antipetismo. Já tratamos do assunto aqui e aqui.

Não sou filiado ao partido, mas sou agredido por várias formas de ofensa que se tornaram lugar comum na classe média. Por exemplo, toda discussão sobre o "mau gosto" ou a falta de educação política de determinado tipo de humorismo feito no Brasil, é sobre a forma que eles encaram as pessoas que são priorizadas nos governos petistas. O mundo deles se baseia na humilhação do mais fraco. Na opressão ao mais pobre. No horror às cotas. Na vergonhosa campanha contra os médicos estrangeiros - notadamente os negros cubanos.  Como disse o ator José de Abreu, só vai para a cadeia preto, pobre, puta e petista. Romper com esse estado de coisas assusta quem sempre tomou como natural a desigualdade marcante da sociedade brasileira.

Já fui constrangido e já me senti ameaçado por defender ideias - até por "amigos" e familiares - que passam longe da subversão, como a defesa das empresas públicas e do patrimônio nacional, o aumento real do poder de compra dos trabalhadores, uma economia cuja prioridade seja o pleno emprego, enfim, uma justiça social "light", com várias concessões ao capital. 

No fundo, estou falando do programa ao qual o PT teve que se adequar para sair do gueto onde berrava clamores de reformas profundas, sendo ouvido apenas pelos iniciados, e chegar ao poder instituído ainda que aliado a setores retrógrados que muito mais atrapalham que ajudam no seu projeto.

Vários destes aliados de última hora alimentaram o antipetismo. Mas o que era apenas uma manifestação de preconceito se tornou ódio - o como todo ódio, irracional - com a ascensão de Lula ao cargo de chefe do poder Executivo. O perfil mais moderado e técnico de sua sucessora, Dilma, que poderia sugerir o amainar dos ânimos teve efeito contrário.

Com o assassinato do militante petista Hiago Augusto Jatobá de Carvalho, em Curitiba, no último dia 19, o antipetismo rompe a última barreira que o separava da selvageria e chega à barbárie. O que no debate soava como uma burrice inominável, haja vista todas as classes sociais terem se beneficiado das administrações petistas, assume sua faceta criminosa, covarde e perversa.

Por anos açulada por gente como Olavo de Carvalho e seu séquito de bajuladores, a classe média leitora de Veja é a responsável direta por essa atrocidade. Hiago era cantor da banco Família 100 Caos, cantava pela paz e a esperança e era religioso. Mas, ao invés de um ser humano, os fanáticos antipetistas veem inimigos, paranoicos em sua delirante luta contra um tal comunismo que do qual ouvem as piores desgraças, e cobrem com o véu da ignorância, existindo somente em seus piores e mais atormentados sonhos.

O crime de Hiago foi de montar cavaletes anunciando os nomes das candidatas Gleisi Hoffmann, ao governo do Paraná, e Dilma Rousseff, a presidência da república. Ou seja, nem mesmo de se contrapor ao discurso histérico do antipetismo, Hiago poderá ser acusado. Resistindo apenas com seu silêncio, foi esfaqueado exclusivamente por ser petista.

Uma campanha eleitoral que começou com a lamentável frase de Aécio, incitando novos aliados a sugarem e depois traírem o governo não poderia terminar bem. Ele que até a última eleição fez uma improvável aliança com o PT para a prefeitura de Belo Horizonte se tornou "exterminador de petralhas", visando agradar o típico eleitor assassino de Hiago. Da mesma fonte que brota o medo de uma sociedade mais igualitária se origina o ódio, disse Maurício Dias. Esperamos que esse caso inspire uma reflexão, ainda que tardia. E que possamos manifestar nossas opiniões, mesmo as favoráveis ao PT.

sábado, 13 de setembro de 2014

O FANTÁSTICO MUNDO DE BOBBY DIREITISTA

Nunca antes na história desse país se fez tanta pesquisa eleitoral. Passaram a ser diárias, repetidas, matutinas e noturnas, segmentadas conforme o interesse de quem as faz. Pesquisas frenéticas, as quais nem os mais atentos leitores conseguem acompanhar, denunciam o desespero. 

Afinal de contas, qual é a importância das pesquisas. Não têm valor científico, nem como informação terciária ao leitor. Somente objetivam INFLUENCIAR  o eleitor a votar conforme quem as publica. E quem banca essa profusão de pesquisas? O Itaú?

Fosse qualquer tipo de trabalho revestido com seriedade acadêmica, seria vergonhoso um instituto desmentir o outro ao mesmo tempo e o tempo todo! Sem contar todos os erros das pesquisas na história, o que confirma e reforça a tese que se trata, quando divulgados à maneira do PIG, de um rasteiro instrumento de manipulação.

Nem mesmo o choque de realidade provocado pela presidenta Dilma Rousseff em sabatina promovida pelo Globo foi capaz de abrir os olhos de certo grupo de celerados. Houve inclusive um pedido do blogueiro Noblat para que a candidata "falasse menos", ao que ela teve que relembrá-lo sobre quem era a sabatinada.

É normal esse tipo de entrevista tirar o entrevistado da zona de conforto. Nesse caso, entretanto, o fenômeno ocorreu com os entrevistadores, tão pouco habituados ao contraditório que acabam tomando como inquestionáveis suas próprias verdades, repetidas como mantras pelos meios de comunicação.

O tópico sobre energia ilustrou muito bem essa situação: TODAS as afirmações dos jornalistas foram contestadas pela atual mandatária sem que qualquer um deles conseguisse formular uma réplica. Por outro lado, as afirmações da presidenta não foram contestadas.



A questão é que a imprensa prefere divulgar uma verdadeira inversão de conceitos convenientes às suas verdades. Ainda que não sejam de própria lavra, optam por afirmar que Chico Mendes era de elite, que Neca Setúbal é "educadora", que são o bastião da liberdade de imprensa e não das empresas que as mantém, que o problema de São Paulo é criacao de ciclovias e não a falta de água; que o BACEN independente é bom povo e ruim para os bancos, e que o choro de Marina é o ápice de uma campanha difamatória cujo algoz é o PT.

Antes que essa nova "verdade" se alastrasse como praga nas mentes influenciáveis pelo padrão PIG de informação, o próprio Lula foi direto ao ponto: “Nunca falei mal da dona Marina e vou morrer sem falar mal da dona Marina. Ela é que tem que explicar por que nasceu, cresceu e ganhou todos os cargos no PT e falou mal do PT essa semana. Eu não tenho que me explicar, eu tenho é a obrigação de falar bem da minha candidata que é Dilma Rousseff".

Nesse contexto, os autistas acham espaço para num luxuoso auditório na Vila Olímpia, lançar o 1° Fórum Liberdade e Democracia de São Paulo, que contou com as presenças de americano Ron Paul, o argentino Ricardo Murphy, o escritor dissente de Cuba Carlos Alberto Montaer, além de dezenas de empresários e jovens empreendedores, com o denominador comum de espumar de raiva ao falar do PT.

Os parceiros do evento estenderam seus cartazes pelos corredores do auditório: IFL (Instituto de Formação de Líderes), Instituto Liberal, Instituto Millenium, Instituto Ludwig Von Mises Brasil, Capitalismo Consciente, organizações que se fundem em ideias e se interconectam através de associados que se repetem em todas elas, e que poderiam inclusive ser melhores investigadas, visto as polpudas contribuições financeiras que recebem de grupos rentistas e empresariais e rentistas, além aportes estrangeiros.

Depois de toda cantilena liberal, que se replica como as falsas verdades do jornalismo do PIG, o final apoteótico reservou a entrega do "Prêmio Liberdade", segundo a organização do evento, distribuído "pelo ótimo serviço de defesa dos direitos individuais e de defesa da liberdade de imprensa".

Quem era o agraciado?

Danilo Gentili.

O perfeito Bobby, do mundo fantástico em que vivem esses direitista.

sábado, 6 de setembro de 2014

O POVO ENTENDE O QUE MARINA FALA?

Passada a comoção da morte de Eduardo Campos, o que acontece com Marina? Por que, quanto mais ela se torna conhecida, menos intenções de voto ela apresenta?

 
Alguns entendem que ela atingiu seu objetivo, qual seja, de romper a polarização entre PT e PSDB. O que, na minha opinião, foi salutar, pois deixou claro qual era a polarização existente no cenário político: a que se verifica entre simpatizantes do projeto petista e entre antipetistas empedernidos, servindo qualquer um que se prestasse a esse papel, de acordo com as palavras do próprio FHC. A dos jatinhos ilícitos pousou sobre o do aeroporto ilícito sem qualquer cerimônia.


Outros imaginam ser Marina o produto emergente das passeatas de junho de 2013. Discordo, haja vista não ter conseguido sequer as 500 mil assinaturas que justificassem a criação de seu partido. Na verdade, os 20% de intenção de voto com que Marina “surgiu” no dia seguinte à queda do avião de Campos representavam seu eleitorado garantido entre evangélicos e demais nichos. O que se agregou a essa parcela são advindos da fatia conservadora da sociedade que nunca marcheteou, aquela parcela despolitizada e altamente sugestionável pela mídia. Que por seu caráter volúvel, começa a refluir.


O fato é que, enquanto Marina conseguiu sustentar uma imagem light, mesclando discurso ambientalista e um liberalismo agradável aos setores rentistas, sem abrir a boca, pintou como a possibilidade real de apear o PT do governo. Contudo, a máscara caiu na medida em que deixou de ser um ícone midiático e expôs suas idas e vindas, a falta de clareza de posturas, a ambiguidade entre a defesa do meio ambiente e a adesão ao agronegócio, a rendição aos pastores arrecadadores e a renegação de seu passado causou mais temor do que expectativas com a possibilidade de sua vitória. Ela não se comprometeu com nada, exceto com banqueiros, exigindo do mandato uma carta branca que até faz sentido no fundamentalismo religioso, mas não diz respeito a uma democracia.


Minha opinião é que enquanto o PIG traduziu seu discurso, foi possível vender Marina como alternativa viável. Porém, quando a candidata teve que se apresentar sem filtros, a aparência imaculada ruiu: o povo não entende nada do que ela fala. Não que seja muito complexo, porque para os iniciados também está claro que se trata de um palavratório oco e artificial.

Ou você entende que é preciso preservar a cópula dos bagres, em detrimento da construção das usinas hidrelétricas?