domingo, 19 de dezembro de 2010

DANÇA DAS CADEIRAS

O mandato da nossa futura presidente, Dilma Rousseff, ainda não se iniciou, mas já enfrenta duras batalhas. Esse artigo, da lavra de Paulo Henrique Amorim, demonstra a falta que quadros como Márcio Pochmann e Samuel Guimarães irão fazer. Eu inclusive, fiz concurso para o IPEA, na virada de 2008, entusiasmado com a nova gestão do Instituto, mas não passei. Tudo isso para acomodar o PMDB, a "cota pessoal do Temer", e, o pior, o Palocci.

Militantes, da blogosfera ou não: foi para isso que lutamos?

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/12/18/o-que-significa-a-saida-de-pochman-do-ipea-uma-tragedia/

No Estadão, na pág. A6, confirma-se a escolha de Nelson Johnbim – clique aqui para ler o artigo de Maierovitch sobre Johnbim e a bananeira – para a Defesa e de Wellington Moreira Franco para a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Clique aqui para ler o que este ordinário blog disse recentemente sobre este que o Brizola chamava de “gato angorá da ditadura”.
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães sai de um posto em que contribuiu para fazer o que ninguém no Brasil faz, com consistência – com exceção da Chevron e da Embaixada americana – com a ajuda do Ministro Johbim.
Ou seja, pensar o Brasil no longo prazo, por um caminho que inclua os pobres e a soberania seja a base.
A saída de Pinheiro Guimarães significará, provavelmente, a saída de Marcio Pochman.
Marcio mudou o IPEA.
Estudou o novo perfil demográfico do país – e seus riscos.
A fragilidade de políticas sociais que não mexem com a distribuição da renda de forma significativa.
O Bolsa Família é ótimo.
Mas, a distribuição de renda muda muito pouco.
Pochman preocupa-se com a perda de poder econômico de São Paulo, que se tornou uma economia produtora de bens primários e produtos financeiros – indústrias que não empregam.
Marcio teme que, a longo prazo, esse seja o caminho do próprio Brasil, caso não se altere a relação de força do Real com o Dólar e, portanto, com a moeda chinesa, ao Dólar atrelada.
O Brasil vende comida à China e compra indústria da China.
Já que, segundo Pochman, o Império Chinês se parece muito com o da Inglaterra.
A Inglaterra também não tinha comida.
Comprava comida e pagava com indústria.
Como se sai dessa ?
Basta fazer um “apertinho” fiscal, que os juros caem e o Real se valoriza ?
Pochman não tem certeza.
De qualquer forma, o IPEA de Pochman foi capaz de entender o Brasil do crescimento-com-integração de Lula e estaria pronto para apontar caminhos numa nova etapa – mais complexa, talvez.
Além de tudo, Pochaman pensou em montar a partir do IPEA uma espécie de “Faculdade” do Serviço Público.
Assim como a Petrobrás faz com seus empregados – e, nisso, gasta R$ 400 milhões por ano.
Quatro vezes mais que o Ministério do Trabalho.
A Receita faz o mesmo com seus fiscais.
E a Policia Federal com seus delegados.
Mas, o Serviço Público não forma quadros técnicos especializados.
E o Brasil de Dilma terá que enfrentar, provavelmente, uma grave escassez de quadros.
Inclusive no Serviço Público.
Samuel Guimarães vai embora.
(Clique aqui para ver a resposta que Guimarães deu a Johnbim, que foi falar mal dele ao Embaixador americano).
Pochman provavelmente voltará à UNICAMP.
E a estratégia do Brasil será entregue a alguém da “cota” do Michel Temer.
A política no Brasil é a arte de engolir o PMDB.
Ou como disse hoje, na pág. 2 da Folha (*), notável colonista (**): “O presidencialismo de coalizão em vigor no Brasil é uma distopia sistêmica”.
“Distopia sistêmica”.
Vai ver que é coisa do Tiririca.


sábado, 11 de dezembro de 2010

PARA QUE TIME VOCÊ TORCE?




Desnecessário um tratado sociológico para identificar no futebol um elemento cultural de suma importância no Brasil e em grande parte do mundo. O sentimento de pertença à comunidade, os laços afetivos, o apreço estético, tudo isso é supérfluo quando a paixão clubística deixa de lado a racionalidade da lógica e traz à tona o amor a um distintivo.

Sou santista de coração. Creio que é um sentimento que me liga à mais tenra infância, momentos felizes que eu faço questão de não apagar da memória. Mas gostaria de ter mais identificação "política" com meu time.

Sim, existem clubes de "esquerda" no mundo. Alguns de centro-esquerda, que se renderam à mentalidade mercantilista do esporte de alta performance e fizeram generosas concessões: Barcelona (símbolo da resistência catalã contra a ditadura franquista; no seu estádio, contra as determinações do Gal. Franco, os hinos eram cantados no idioma catalão), Atlethic Bilbao (resistência à mesma ditadura, só que basca. Até hoje não admitem jogadores que não sejam oriundos da regiões do País Basco, o Hegoalde espanhol e o Iparralde francês), Roma (time do povo de Roma), Celtics (da minoria católica escocesa), West Ham United, Shalke 04 (do proletariado industrial do vale do Ruhr) e outros.

E também existem os times de extrema-esquerda. Citaremos o Rayo Vallecano, que além de ser um clube de futebol, é uma fundação social, que apóia iniciativas relacionadas ao esporte, educação física e moral, o Livorno, time dos comunistas italianos, da apaixonada torcida BAL (Brigadas Autônomas Livornesas) e o St. Pauli, tema desse artigo do Xico Malta. Já é o meu segundo time.

http://blogdobirner.virgula.uol.com.br/2010/12/10/conheca-esta-equipe-diferente-de-todas-as-outras-no-futebol/




Um Red Light District

O time leva o nome do bairro onde está sediado desde a sua criação, na cidade de Hamburgo, norte da Alemanha. Conhecido por ser um Red Light District (bairro da luz vermelha), o local abriga sex shops, casas de prostituição, teatros, discotecas e bares.

É conhecido por receber faz muito tempo os marinheiros ávidos e sedentos pelos prazeres carnais depois de meses no mar.

Hoje em dia, o bairro tem como seu ponto alto a famosa rua Reeperbahn, repleta de casas de stripers, bordéis e um museu do sexo. É lá também que se encontra o ilustre Star Club, onde os Beatles, no começo dos anos 60, ainda desconhecidos, tocavam.

Por lá já passaram também Jerry Lee Lewis, Jimi Hendrix, Ray Charles e tantos outros astros do Rock.

É nesse ambiente que vive o St. Pauli. Parodiando o filosofo iluminista: O clube é o reflexo de seu meio. Seus torcedores compostos por punks, rockeiros, artistas e gays compõem a paisagem do estádio Millerntor, junto à fumaça dos cigarros de maconha e das bandeiras com caveiras de pirata, símbolo do clube.

Militantes libertários ou de extrema esquerda, todos se unem nos valores defendidos pelo clube desde a sua criação em 1910. No seu estatuto está determinado que antes de mais nada o Sankt-Pauli é um clube anti-racista e antifascista.




Rivalidades

O St. Pauli, clube mais sui generis de toda a história do futebol mundial, completou 100 anos em 2010.

Além da rivalidade com o Hamburgo, o St. Pauli tem como principais adversários o Bayern de Munique e o Hansa Rostock.

O time de Munique é considerado pelos habitantes de Hamburgo o expoente do capitalismo da rica Baviera.Eles encaram o confronto como o jogo do time de esquerda, do norte e protestante, contra um dos mais ricos clubes do mundo, localizado no sul da Alemanha, região composta por maioria católica.

A briga com o Hansa Rostock é outra. O time da ex-Alemanha Oriental tem muitos torcedores neonazistas.

Este jogo é considerado o mais perigoso do país.

The Rebel’s choice

Não só de rivalidades vive o St. Pauli. Os torcedores do time de Hamburgo tem uma amizade fraternal com os seus homólogos escoceses do Celtic de Glasgow. A união das duas torcidas é chamada de The Rebel’s choice (a escolha rebelde).




O liustre senhor Corny

Em 2002, Cornelius Littman, ou simplesmente Corny, assumiu a presidência do clube.

Homossexual assumido, Corny é artista e dono de um cabaré no bairro, o Schmidt Theater.

Este emblemático personagem de Hamburgo conseguiu conciliar as obrigações do futebol moderno com o desejo de seus torcedores de manter as tradições da instituição.

Corny deu algumas pinceladas capitalistas na gestão do clube, que pagou uma enorme dívida.

Deu início também à modernização do estádio Millerntor. Conciliou o desejo de seus torcedores de manter a maioria dos lugares em pé com preços baixos e construiu camarotes caros para quem deseja mais conforto.

O bom trabalho de Corny foi premiado com a primeira divisão da bundesliga no ano de seu centenário.

É lógico que a festa não podia ser banal.

No dia 9 de maio deste ano, logo após o apito final do último jogo da segunda divisão, os jogadores do St. Pauli entraram no vestiário e voltaram alguns minutos depois com as camisas de seus futuros adversários da Bundesliga.

A parodia de um jogo entre o Sankt-Pauli e o All Stars da Bundesliga foi idealizada e dirigida por Corny.



No dia 19 de maio de 2010, aniversário do clube, Corny anunciou sua demissão com o sentimento de dever cumprido.

O rockeiro St. Pauli

Nos jogos em casa, o time entra em campo ao som de "Hells Bells" do grupo AC/DC.
Sempre depois de cada gol, toca nos alto falantes do estádio trecho de música "Song2" do grupo Blur.

FIFI Wild Cup

O clube hospedou o 2006 FIFI Wild Cup, um torneio cujo os participantes eram Seleções nacionais não reconhecidas: Tibete, Zanzibar, Groenlândia, Gibraltar e República Popular do Chipre do Norte. O anfitrião disputou o torneio sob a denominação “República de St. Pauli”.



Leia também:

http://www.ebafutebol.com.br/?p=3489

http://esporteonline.com/blogdonake/?p=5830

http://resistenciacoral.vilabol.uol.com.br/stpauli.htm

http://fcstpaulibrasil.blogspot.com/

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

MEMÓRIA AFETIVA

Me deparei com o artigo "O Wikileaks de Moniz Bandeira" no Escrevinhador. Excelente leitura. Interessante que eu tenho o livro desse autor e me lembrei como o adquiri.
Em 1999, eu trabalhava como assessor de um sindicato e cursava o 3.º ano da Faculdade de Direito. Fui eleito (democraticamente, sem as famigeradas "listas") delegado (duas vagas pela base; uma pela entidade) para o 46.º Congresso da UNE, sediado em Belo Horizonte.
No movimento estudantil as duas grandes forças da época aqui - e no Brasil todo - eram a UJS (braço estudantil do PCdoB) e o PSTU (que liderava o bloco com o sonoro nome "Rompendo Amarras").
Tínhamos mais dificuldades do que aproximações com as duas facções. Os tribuneiros (distribuidores do jornalzinho a Tribuna Operária, órgão do PCdoB durante algum tempo) nos recomendavam a leitura de "Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo", criticando nossa postura radical, intransigente e na perspectiva deles, sectária e inconsequente. Já os trotskistas orientavam a leitura de "A Revolução Proletária e o Renegado Kaustky", denunciando nosso comportamento excessivamente moderado, revisionista e por fim, os últimos dos xingamentos, "direitista" e "burguês".
Acatei as sugestões de leituras leninistas, mas acho que não corrigi meus desvios ideológicos mais graves. A pauta política do congresso, quase consensual, era o "Fora FHC". Não tínhamos peso político nenhum (imaginem: éramos cinco colegas, de um mesmo curso, de um mesmo Estado, de três faculdades). Mas o aprendizado foi intenso, e os contatos (que não viraram nada) riquíssimos: iam de uns "republicanos" do Largo São Francisco, à LBI (Liga Bolchevique Internacional) do Piauí, que bradava o refrão: "Oposição, unificada, é a direita disfarçada".
No mais, a eleição do novo presidente da UNE (ganhou um cara inexpressivo, Wadson Ribeiro, da UJS, como sempre) e o grande mote que me levou às alterosas: o discurso de abertura, com Fidel Castro.
Antes de ir, fui atrás de algum livro do Fidel, pois iria tietá-lo, pegar um autógrafo. Na livraria encontrei dois e comprei: "Fidel Castro por ele mesmo" (uma coletânea de citações. Legal, mas superficial) e o denso "De Marti a Fidel: A Revolução Cubana e a América Latina". A capa era essa aí do lado, não a atual. Confesso que viajei sem ler o livro, além de levar dois charutos que meu tio havia trazido de Cuba.
Viajamos de ônibus 1.000km para chegarmos em cima da hora. Essas viagens obedecem ao roteiro de farra até o esgotamento físico. Os mais fracos não aguentam sequer as brincadeiras. Depois, vêm as bebidas, e por fim as drogas. Não, congresso estudantil NUNCA tem mulher. No máximo, um viadinho que a galera do ônibus apelidou de Xupinski - em homenagem à estagiária da Casa Branca chegada num bola gato.
"Congresso vai, congresso vem, e eu ainda não comi ninguém", outro saudoso bordão.
Sou tímido, calado, não costumo entrar na bagunça. Mas eu precisava chegar acordado, estava eufórico ante o acontecimento que iria testemunhar em pouco tempo.
Depois de 16 horas na estrada chegamos. A maioria queria ir para os alojamentos: escolas públicas cujas salas de aulas haviam sido transformadas em dormitórios coletivos. Exceto para os amigos do rei, ou a patotinha bem relacionada com a UJS, que conseguiu albergues mais "seletivos".
Mas eu me opus: no ônibus nossa minoria de cinco já tinha algum peso político e rumamos direito para o Mineirinho, ginásio próximo à bela Lagoa da Pampulha. À mais de um quilometro de distância tivemos que parar e fomos à pé, com malas e sacolas às costas. Não sei quantas pessoas eram, mas minha sensação era de que a multidão beirava o infinito. Estava deslumbrado com tanta gente querendo debater política.
E sem maiores delongas, cerimonial simples. Hino nacional e composição da mesa de autoridades. Imediatamente, a palavra foi passada para o "comandante en jefe". Fidel falou por apenas três horas.
Vi alguns bravos colegas se renderem à exaustão e puxarem um ronco. Mas, para mim, aquele era um momento único: eu estava a poucos metros de quem FEZ a história que eu estudo. O conteúdo do discurso vai se perdendo, mas o magnetismo do orador e as circunstâncias formam na minha memória uma imagem de lutadores ouvindo seu líder repassar as últimas palavras de encorajamento antes da batalha...

...

Apesar de não perceber qualquer esquema de segurança, não consegui chegar perto a ponto de pedir o autográfo. Mas me vi de pé, frente a frente com quem ousou desafiar a maior potência da História. Um senhor já entrado em anos, mas altivo, com a postura característica, quepe e uniforme de mercenário, como ele mesmo diz.
O máximo de subversão que conseguimos foi quando o repórter da Globo tentou entrevistá-lo e a turba de umas 100 pessoas na qual me inseria começou a gritar: "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo".
No alojamento, uma breve decepção: ficamos num quarto com uma turma de Marília-SP. A "agenda política" deles incluía viagens a Ouro Preto e aos bares mais badalados de BH. Foi o único ambiente fechado com neblina que eu conheci. Um colega nosso chegou a pegar um barato por tabela,
Já eu, do lado de fora, curtia meus dois Cohibas, olhar distante e sorriso no canto da boca, protegido do orvalho da noite, desligado do mundo real, imaginando utopias, sociedades justas, fraternas e igualitárias, inspiradas pelo idealismo daquele barbudo que saiu de Sierra Maestra para inscrever seu nome no panteão dos heróis da nossa época.

Leiam o artigo do Rodrigo Vianna. É muito melhor que essa babação de ovo aqui.

domingo, 5 de dezembro de 2010

BRASIL, PAÍS PACÍFICO?

Os recentes acontecimentos no Rio de Janeiro levantaram a lebre: o brasileiro é mesmo um sujeito pacifista? Ou como diriam acadêmicos, temos “índole cordial e mansa”?

A maioria absoluta da população – tantos os que vivem na pele o drama, quanto os que assistem vidrados pela televisão – apoiou a ação militar desenvolvida em conjunto pela polícia civil e militar, polícia federal, exército e marinha no complexo do Alemão, principalmente na Vila Cruzeiro.

Na origem, essas ocupações eram quilombos formados após a abolição da escravatura, povoados por negros que, apesar da liberdade conquistada, passaram a ser marginalizados. Sem emprego, se viram obrigados a ocupar terras devolutas, de ninguém, construindo habitações precárias nas encostas mais distantes da “cidade maravilhosa”. Um século depois, o Rio cresceu demais, e a favela antes longínqua hoje se equilibra para não despencar entre os bairros chiques da cidade.

Minha opinião é que a ação militar nos morros cariocas foi um sucesso. Foi a resposta oficial ao poder paralelo que existe por lá, financiado pela droga consumida por filhinhos de papai. O secretário de segurança pública carioca, José Mariano Beltrame, além da seriedade, demonstrou uma capacidade de estratégia e organização com a qual não estamos acostumados. Não houve derramamento de sangue, nem tampouco cenas espetaculares de perseguição ou troca de tiros. Apenas uma fuga, repetida à exaustão.

Isso acabou frustrando os fanáticos pela ideologia “Tropa de Elite”, que insufla os temores da classe média – para justificar a violência contra qualquer um, vilão ou vítima. No filme, são duas horas de tiroteio, no ar refrigerado, com pipoca e Coca-Cola – e doses cavalares de autoritarismo sem sujar as mãos. No fim, vai todo mundo para casa, de barriga cheia, feliz da vida. De alma lavada

É preciso muito cuidado com essa questão da violência urbana. Ela não explode sem motivo. Muitos políticos usam o discurso de combate ao crime. Quase sempre isso é fajuto, uma apelação à moral das pessoas “de bem” que reduz a política à perseguição de bandidos. Como conseqüência dessa farsa, podemos citar a expressão “tolerância zero”, que importamos dos Estados Unidos (criada pelo ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani), e aqui no Brasil virou pura e simplesmente intolerância, como vimos nos ataques covardes e sem motivos contra gays, negros e nordestinos, principalmente em São Paulo e Porto Alegre.