sábado, 11 de dezembro de 2010

PARA QUE TIME VOCÊ TORCE?




Desnecessário um tratado sociológico para identificar no futebol um elemento cultural de suma importância no Brasil e em grande parte do mundo. O sentimento de pertença à comunidade, os laços afetivos, o apreço estético, tudo isso é supérfluo quando a paixão clubística deixa de lado a racionalidade da lógica e traz à tona o amor a um distintivo.

Sou santista de coração. Creio que é um sentimento que me liga à mais tenra infância, momentos felizes que eu faço questão de não apagar da memória. Mas gostaria de ter mais identificação "política" com meu time.

Sim, existem clubes de "esquerda" no mundo. Alguns de centro-esquerda, que se renderam à mentalidade mercantilista do esporte de alta performance e fizeram generosas concessões: Barcelona (símbolo da resistência catalã contra a ditadura franquista; no seu estádio, contra as determinações do Gal. Franco, os hinos eram cantados no idioma catalão), Atlethic Bilbao (resistência à mesma ditadura, só que basca. Até hoje não admitem jogadores que não sejam oriundos da regiões do País Basco, o Hegoalde espanhol e o Iparralde francês), Roma (time do povo de Roma), Celtics (da minoria católica escocesa), West Ham United, Shalke 04 (do proletariado industrial do vale do Ruhr) e outros.

E também existem os times de extrema-esquerda. Citaremos o Rayo Vallecano, que além de ser um clube de futebol, é uma fundação social, que apóia iniciativas relacionadas ao esporte, educação física e moral, o Livorno, time dos comunistas italianos, da apaixonada torcida BAL (Brigadas Autônomas Livornesas) e o St. Pauli, tema desse artigo do Xico Malta. Já é o meu segundo time.

http://blogdobirner.virgula.uol.com.br/2010/12/10/conheca-esta-equipe-diferente-de-todas-as-outras-no-futebol/




Um Red Light District

O time leva o nome do bairro onde está sediado desde a sua criação, na cidade de Hamburgo, norte da Alemanha. Conhecido por ser um Red Light District (bairro da luz vermelha), o local abriga sex shops, casas de prostituição, teatros, discotecas e bares.

É conhecido por receber faz muito tempo os marinheiros ávidos e sedentos pelos prazeres carnais depois de meses no mar.

Hoje em dia, o bairro tem como seu ponto alto a famosa rua Reeperbahn, repleta de casas de stripers, bordéis e um museu do sexo. É lá também que se encontra o ilustre Star Club, onde os Beatles, no começo dos anos 60, ainda desconhecidos, tocavam.

Por lá já passaram também Jerry Lee Lewis, Jimi Hendrix, Ray Charles e tantos outros astros do Rock.

É nesse ambiente que vive o St. Pauli. Parodiando o filosofo iluminista: O clube é o reflexo de seu meio. Seus torcedores compostos por punks, rockeiros, artistas e gays compõem a paisagem do estádio Millerntor, junto à fumaça dos cigarros de maconha e das bandeiras com caveiras de pirata, símbolo do clube.

Militantes libertários ou de extrema esquerda, todos se unem nos valores defendidos pelo clube desde a sua criação em 1910. No seu estatuto está determinado que antes de mais nada o Sankt-Pauli é um clube anti-racista e antifascista.




Rivalidades

O St. Pauli, clube mais sui generis de toda a história do futebol mundial, completou 100 anos em 2010.

Além da rivalidade com o Hamburgo, o St. Pauli tem como principais adversários o Bayern de Munique e o Hansa Rostock.

O time de Munique é considerado pelos habitantes de Hamburgo o expoente do capitalismo da rica Baviera.Eles encaram o confronto como o jogo do time de esquerda, do norte e protestante, contra um dos mais ricos clubes do mundo, localizado no sul da Alemanha, região composta por maioria católica.

A briga com o Hansa Rostock é outra. O time da ex-Alemanha Oriental tem muitos torcedores neonazistas.

Este jogo é considerado o mais perigoso do país.

The Rebel’s choice

Não só de rivalidades vive o St. Pauli. Os torcedores do time de Hamburgo tem uma amizade fraternal com os seus homólogos escoceses do Celtic de Glasgow. A união das duas torcidas é chamada de The Rebel’s choice (a escolha rebelde).




O liustre senhor Corny

Em 2002, Cornelius Littman, ou simplesmente Corny, assumiu a presidência do clube.

Homossexual assumido, Corny é artista e dono de um cabaré no bairro, o Schmidt Theater.

Este emblemático personagem de Hamburgo conseguiu conciliar as obrigações do futebol moderno com o desejo de seus torcedores de manter as tradições da instituição.

Corny deu algumas pinceladas capitalistas na gestão do clube, que pagou uma enorme dívida.

Deu início também à modernização do estádio Millerntor. Conciliou o desejo de seus torcedores de manter a maioria dos lugares em pé com preços baixos e construiu camarotes caros para quem deseja mais conforto.

O bom trabalho de Corny foi premiado com a primeira divisão da bundesliga no ano de seu centenário.

É lógico que a festa não podia ser banal.

No dia 9 de maio deste ano, logo após o apito final do último jogo da segunda divisão, os jogadores do St. Pauli entraram no vestiário e voltaram alguns minutos depois com as camisas de seus futuros adversários da Bundesliga.

A parodia de um jogo entre o Sankt-Pauli e o All Stars da Bundesliga foi idealizada e dirigida por Corny.



No dia 19 de maio de 2010, aniversário do clube, Corny anunciou sua demissão com o sentimento de dever cumprido.

O rockeiro St. Pauli

Nos jogos em casa, o time entra em campo ao som de "Hells Bells" do grupo AC/DC.
Sempre depois de cada gol, toca nos alto falantes do estádio trecho de música "Song2" do grupo Blur.

FIFI Wild Cup

O clube hospedou o 2006 FIFI Wild Cup, um torneio cujo os participantes eram Seleções nacionais não reconhecidas: Tibete, Zanzibar, Groenlândia, Gibraltar e República Popular do Chipre do Norte. O anfitrião disputou o torneio sob a denominação “República de St. Pauli”.



Leia também:

http://www.ebafutebol.com.br/?p=3489

http://esporteonline.com/blogdonake/?p=5830

http://resistenciacoral.vilabol.uol.com.br/stpauli.htm

http://fcstpaulibrasil.blogspot.com/

2 comentários:

Márcio Scott Teixeira disse...

Concordo com a tese de que futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes da sociedade, por isso, penso que essa politização das paixão clubísticas como algo "nonsense". É claro que os casos mencionados no texto atravessaram a barreira do entretenimento e foram para lugares nunca antes navegados pelo glorioso esporte bretão, só que isso é a exceção e não a regra.

Marco disse...

Risos...
Esse comentário é só para justificar que você torce para um time com dirigentes fascistas, que manipulam a torcida com jogadas de marketing de gosto para lá de duvidoso e origem de dinheiro escuso...
Mas vamos superar essa rivalidade...