Os recentes acontecimentos no Rio de Janeiro levantaram a lebre: o brasileiro é mesmo um sujeito pacifista? Ou como diriam acadêmicos, temos “índole cordial e mansa”?
A maioria absoluta da população – tantos os que vivem na pele o drama, quanto os que assistem vidrados pela televisão – apoiou a ação militar desenvolvida em conjunto pela polícia civil e militar, polícia federal, exército e marinha no complexo do Alemão, principalmente na Vila Cruzeiro.
Na origem, essas ocupações eram quilombos formados após a abolição da escravatura, povoados por negros que, apesar da liberdade conquistada, passaram a ser marginalizados. Sem emprego, se viram obrigados a ocupar terras devolutas, de ninguém, construindo habitações precárias nas encostas mais distantes da “cidade maravilhosa”. Um século depois, o Rio cresceu demais, e a favela antes longínqua hoje se equilibra para não despencar entre os bairros chiques da cidade.
Minha opinião é que a ação militar nos morros cariocas foi um sucesso. Foi a resposta oficial ao poder paralelo que existe por lá, financiado pela droga consumida por filhinhos de papai. O secretário de segurança pública carioca, José Mariano Beltrame, além da seriedade, demonstrou uma capacidade de estratégia e organização com a qual não estamos acostumados. Não houve derramamento de sangue, nem tampouco cenas espetaculares de perseguição ou troca de tiros. Apenas uma fuga, repetida à exaustão.
Isso acabou frustrando os fanáticos pela ideologia “Tropa de Elite”, que insufla os temores da classe média – para justificar a violência contra qualquer um, vilão ou vítima. No filme, são duas horas de tiroteio, no ar refrigerado, com pipoca e Coca-Cola – e doses cavalares de autoritarismo sem sujar as mãos. No fim, vai todo mundo para casa, de barriga cheia, feliz da vida. De alma lavada
É preciso muito cuidado com essa questão da violência urbana. Ela não explode sem motivo. Muitos políticos usam o discurso de combate ao crime. Quase sempre isso é fajuto, uma apelação à moral das pessoas “de bem” que reduz a política à perseguição de bandidos. Como conseqüência dessa farsa, podemos citar a expressão “tolerância zero”, que importamos dos Estados Unidos (criada pelo ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani), e aqui no Brasil virou pura e simplesmente intolerância, como vimos nos ataques covardes e sem motivos contra gays, negros e nordestinos, principalmente em São Paulo e Porto Alegre.
Um comentário:
A grande questão desse caso é que os dois "morros" invadidos pela polícia, segundo minhas fontes(hehehe), eram os únicos que as "milícias" já não tinham tomado, portanto, essa solução é parcial, meramente "para inglês ver" e se tranquilizar com os eventos esportivos de 14 e 16.
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