sexta-feira, 1 de abril de 2011

REAL, BUT SAD, POLITIK

I can't believe the news today
I can't close my eyes and make it go away.
How long...
How long must we sing this song?
How long, how long?*

As imagens de 40 anos atrás continuam vívidas nas íris de todo cidadão brasileiro. São marcas indeléveis no corpo nacional. Feridas que não cicatrizam. O golpe alterou para sempre os destino de todos nós, até mesmo daqueles que sequer existiam.
Personagens heróicos, dados a voluntariedade, a retidão de caráter, a fibra e a defesa de ideais, caçados como animais e empalados em praça pública, de forma exemplar.
Personagens infames, metendo o coturno na cara da sociedade, com todo escárnio e desprezo pela humanidade, com o escopo de manter a ordem e acelerar o progresso. Infelizmente, milhares de outros personagens, hoje em dia tratados como heróicos ou infames, graças às circunstâncias criadas nesse purgatório terrestre.
Uma ínfima parcela da sociedade conhecia os fundamentos do comunismo. (aliás, nesse aspecto, pouco coisa mudou!). Pois os golpistas utilizaram a velha artimanha de instigar o pavor ao desconhecido para tentar alguma adesão, algum respaldo. Ao invés de levar luz onde há trevas, conhecimento onde há ignorância, leva-se o medo, e mantém-se a dominação, intelectual e física. A grande massa, circunstancialmente covarde, se omitiu.
Mesmo assim, foram repudiados pelo povo. Jamais houve uma manifestação popular tem apoio ao regime de exceção. Os desfiles de 7 de setembro lembravam o totalitarismo nazi-fascista. Vaquinhas de presépio, acuadas, aplaudiam comedidamente o passar dos tanques, que por qualquer motivo, poderiam esmagá-los instantes depois. Multidão reunida? Só pelas diretas...
Não menos culpados foram os “intelectuais” que tentaram dar um quê de racionalidade naquela estupidez. Bob Fields, Mário Henrique Simonssen, Delfim Netto. Jamais se aproximaram dos porões da ditadura. Jamais sujaram seus belos ternos, cortes impecáveis, com o sangue dos inocentes. Porém cometeram, não uma, mas várias vezes, o crime de lesa-pátria. Tornaram o FGTS um regime obrigatório, esfaqueando o suado salário do trabalhador. Revogaram a lei de remessa de lucros. Engessaram a reforma agrária, revertendo nosso campo para a exportação. Construíram obras faraônicas com o dinheiro público, e enriqueceram construtores, empreiteiros, conglomerados de mídia. Tornaram a corrupção uma instituição... Atrelaram definitivamente nossas vida à dívida externa. E ao FMI.
Um grande monumento à bestialidade humana. O autoritarismo, a tortura, a violência, o tacão dos tacanhos. DOI-CODI, Dops, as diversas tecnologias criadas para extrair confissões, e para retirar dignidade. Atentados contra civis, cavalos pisando homens. Arapongas, traidores, infiltrados. Repressão, mordaça, AI-5, truculência. Guerra Civil sob os auspícios de um milagre?! Não, não é para quem tem estômago fraco. É mais macabro que qualquer ficção. É mais mórbido do que qualquer adjetivo possa expressar.
Justificando o injustificável. Nos dias de hoje, os historiadores explicam os acontecimentos passados graças ao “despreparo” de Jango. Apontam um bode expiatório depois de perpetrada a carnificina. Oprimem, como fizeram idos atrás os golpistas, e como fazem hoje os organizadores da divisão social do trabalho, com a reengenharia. Como estes, fundam uma nova “ciência”: a Rehistória.



Ninguém Lê.com.br – Porque temos memória

(*)
Eu não posso acreditar nas notícias de hoje
Eu não posso fechar os olhos e fazê-las desaparecer.
Quanto tempo...
Quanto tempo teremos de cantar esta canção?
Quanto tempo, Quanto tempo?


Escrito por Holden Caulfield, em 31/03/2004 às 21h43, quando as coisas faziam mais sentido.
http://ninguemle.zip.net/arch2004-03-28_2004-04-03.html

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