terça-feira, 1 de outubro de 2013

O PRÍNCIPE DA PRIVATARIA - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Interessante que a última postagem teve muitas visualizações - na realidade, foi a mais vista desde que o blog ressuscitou. Isso diz muito: o nome do livro é um chamariz para o público. Não é à toa que frequenta todas as listas de best-seller, rompendo o constrangedor silêncio do PIG. Mas vamos aos comentários.

1. Não se trata de uma resenha literária. É apenas um apanhado de impressões subjetivas de um leitor ávido pelo assunto. Terminei a leitura já há uma semana, tempo suficiente para esquecer minudências e matutar a respeito do que encorpa o livro.

2. Como antes, começo com uma crítica. São elencados vários dos escândalos tucanos na presidência. Mas alguns deles são apenas mencionados, talvez guardados para uma continuação. Exemplos: PROER e SIVAM, dois absurdos, um no aspecto financeiro, outro no campo da soberania nacional. Talvez, na continuidade, haja espaço para as declarações desastrosas, mas com a empáfia de erudito que caracterizou FHC.

3. O trabalho de Aloysio Biondi parece ser o ÚNICO que entrou a fundo na questão das privatizações. É uma referência constante n'O Príncipe da Privataria, inclusive numa "entrevista póstuma", licença humorada de Palmério Dória que perfaz o cap. 16. Adiante, noutra passagem ele levanta o tapete da sujeira: várias empresas foram vendidas com dinheiro em caixa, mas NÃO EXISTEM INVENTÁRIOS! (pág. 354). Parece que as informações oficiais foram apagadas do registro público. Hoje, tantos anos depois, talvez seja impossível investigar em números o que aconteceu de fato.

4. Frase do tucano arrependido Luiz Carlos Bresser Pereira: "Só um bobo dá a estrangeiros serviços públicos como as telefonias fixa e móvel" (pág. 282).

5. FHC não foi presidente do Brasil, apenas um títere. Isso não o isenta de culpa nos vários episódios de seus dois mandatos, mas essa conclusão é inevitável a partir da citação do livro "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar", do norte-americano Greg Palast, cujo primeiro capítulo se intitula: "Sua excelência Robert Rubin, Presidente do Brasil". Rubin era secretário do tesouro dos Estados Unidos e manda-chuva do FMI. FHC, o presidente nominal, seu subordinado. Aquilo que na retórica do PIG era culpa dos funcionários públicos aposentados e sindicatos escondia a cartilha a qual estávamos subjugados: "eliminar os gastos sociais, cortar a folha de pagamento do governo, quebrar os sindicatos e, o verdadeiro prêmio, privatizar empresas públicas lucrativas" (pág. 260).

6. O processo de privatização foi um desastre. FHC, como um estróina, torrou uma parte constitutiva do orçamento público e, em seu lugar, aumentou a carga tributária, de 27% para 36% (portanto, não acredite no discurso do PSDB de redução de impostos. É cascata). Os serviços públicos encareceram e pioraram miseravelmente. Foi a "maior estupidez político-estratégica que se fez no país", desconsiderando os trambiques. (pág. 268). Mas não dá para "desconsiderar": assim como está vindo à tona o propinoduto paulista, a farra das privatizações criou uma redoma de bilionários no país , como Benjamin Steinbruch, Roger Agnelli, Daniel Dantas, sem contar o capital apátrida que expropriou nossas riquezas. Nota sórdida: FHC escolheu (sic) o Banco Opportunity, de Daniel Dantas, para administrar os fundos do iFHC, cujo capital estatutário é da ordem de R$ 84 milhões. Sobre isso e como se formou o iFHC, o capítulo 35 (pág. 361) é translúcido.

7. Por fim, gostaria de exibir as insuspeitas capas dos jornais, que ilustram o livro na pág. 259. Consegui colar essas duas, mas são seis. Esse trabalho fala de muitas outras. No momento em que bati os olhos e vi as manchetes, me dei conta do quão importante é a leitura deste livro como testemunho da nossa história recente. Há tantos brasileiros com menos de 25 anos que não vivenciaram essa verdadeira idade das trevas, que se torna fácil manipulá-los, colocá-los na rua "contra tudo o que está aí", sem se dar conta de que quem está por trás disso, quebrou o país e quase nos tornou um estado joguete sem eira nem beira na geopolítica mundial.

Um comentário:

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Marcos, tá muito bom seu blog. O meu vai indo, sem muita mudança. Acabamos não fazendo a fusão, mas a idéia não morreu (pelo menos pra mim). Vamos conversando. Abraço!
F.Prieto