domingo, 21 de setembro de 2014

O ANTIPETISMO CHEGOU À BARBÁRIE

As chagas da nossa elite são temas mencionados amiúde, mas sempre com muitos dedos e melindres. De todas elas, a que mais me espanta é a do antipetismo. Já tratamos do assunto aqui e aqui.

Não sou filiado ao partido, mas sou agredido por várias formas de ofensa que se tornaram lugar comum na classe média. Por exemplo, toda discussão sobre o "mau gosto" ou a falta de educação política de determinado tipo de humorismo feito no Brasil, é sobre a forma que eles encaram as pessoas que são priorizadas nos governos petistas. O mundo deles se baseia na humilhação do mais fraco. Na opressão ao mais pobre. No horror às cotas. Na vergonhosa campanha contra os médicos estrangeiros - notadamente os negros cubanos.  Como disse o ator José de Abreu, só vai para a cadeia preto, pobre, puta e petista. Romper com esse estado de coisas assusta quem sempre tomou como natural a desigualdade marcante da sociedade brasileira.

Já fui constrangido e já me senti ameaçado por defender ideias - até por "amigos" e familiares - que passam longe da subversão, como a defesa das empresas públicas e do patrimônio nacional, o aumento real do poder de compra dos trabalhadores, uma economia cuja prioridade seja o pleno emprego, enfim, uma justiça social "light", com várias concessões ao capital. 

No fundo, estou falando do programa ao qual o PT teve que se adequar para sair do gueto onde berrava clamores de reformas profundas, sendo ouvido apenas pelos iniciados, e chegar ao poder instituído ainda que aliado a setores retrógrados que muito mais atrapalham que ajudam no seu projeto.

Vários destes aliados de última hora alimentaram o antipetismo. Mas o que era apenas uma manifestação de preconceito se tornou ódio - o como todo ódio, irracional - com a ascensão de Lula ao cargo de chefe do poder Executivo. O perfil mais moderado e técnico de sua sucessora, Dilma, que poderia sugerir o amainar dos ânimos teve efeito contrário.

Com o assassinato do militante petista Hiago Augusto Jatobá de Carvalho, em Curitiba, no último dia 19, o antipetismo rompe a última barreira que o separava da selvageria e chega à barbárie. O que no debate soava como uma burrice inominável, haja vista todas as classes sociais terem se beneficiado das administrações petistas, assume sua faceta criminosa, covarde e perversa.

Por anos açulada por gente como Olavo de Carvalho e seu séquito de bajuladores, a classe média leitora de Veja é a responsável direta por essa atrocidade. Hiago era cantor da banco Família 100 Caos, cantava pela paz e a esperança e era religioso. Mas, ao invés de um ser humano, os fanáticos antipetistas veem inimigos, paranoicos em sua delirante luta contra um tal comunismo que do qual ouvem as piores desgraças, e cobrem com o véu da ignorância, existindo somente em seus piores e mais atormentados sonhos.

O crime de Hiago foi de montar cavaletes anunciando os nomes das candidatas Gleisi Hoffmann, ao governo do Paraná, e Dilma Rousseff, a presidência da república. Ou seja, nem mesmo de se contrapor ao discurso histérico do antipetismo, Hiago poderá ser acusado. Resistindo apenas com seu silêncio, foi esfaqueado exclusivamente por ser petista.

Uma campanha eleitoral que começou com a lamentável frase de Aécio, incitando novos aliados a sugarem e depois traírem o governo não poderia terminar bem. Ele que até a última eleição fez uma improvável aliança com o PT para a prefeitura de Belo Horizonte se tornou "exterminador de petralhas", visando agradar o típico eleitor assassino de Hiago. Da mesma fonte que brota o medo de uma sociedade mais igualitária se origina o ódio, disse Maurício Dias. Esperamos que esse caso inspire uma reflexão, ainda que tardia. E que possamos manifestar nossas opiniões, mesmo as favoráveis ao PT.

5 comentários:

Rogerio disse...

Nossa que texto perfeito. Estou divulgando a varios familiares que me hostilizam por defender o projeto progressista.

Márcio Scott Teixeira disse...

Já perdi a paciência com antipetistas, são totalmente fechados a qualquer argumento que não esteja no PIG.
A cultura do ódio foi criada em 2006, quando queriam eliminar essa raça ( petistas) do Brasil.
É complicado discutir com quem pensa assim, as vezes temo pela minha integridade.
O que me conforta é ver que os antipetistas defendem tudo aquilo que sou crítico, ou seja, estou no lugar certo!!!

Marco disse...

Espantoso e revoltante também é o silêncio do PIG.

Morro de medo de publicar uma notícia falsa, e só tive certeza do fato quanto o próprio PT do Paraná emitiu a nota de pesar.

E também é de se lembrar que quem queria "eliminar essa raça", o Borhausen, agora faz a nova política de Marina Silva...

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Durante as várias semanas em que os militantes do acampamento de apoio a Dirceu e Genoíno permaneceram em frente ao STF, foram várias vezes hostilizados por extremistas de direita. Em alguns momentos chegaram a rasgar as faixas e derrubar cavaletes, ameaçando as pessoas que estavam lá abertamente. É por isso que estou adesivando geral e usando estrelinha do PT na camisa.

Rogerio disse...

Essa semana nao aguentei e deletei/bloqueei um parente indireto da minha rede social. Eh dificil remar contra a mare. De certa forma tenho magoa do PT por nao ter combatido essa batalha ESTRUTURAL desde que chegou aa presidencia. Eh culpa deles tambem, por omissao. Acho um absurdo as estatais e o governo pagarem fortunas a esses meios que o destroem e que instilam o odio. Se nao perderem a eleicao espero que finalmente acordem para a necessidade de mudar muito essa postura e finalmente comecem o enfrentamento. Marcio Pochmann cantou a pedra: treze anos de governo, excelentes resultados mas saldo organizativo ZERO. A campanha fala muito em coragem, entao se ganhar eu quero ver. No MINIMO tem que cortar esse financiamento bilionario ao Partido da Imprensa Golpista.