domingo, 5 de junho de 2011

ASSUNTOS DA SEMANA - PARTE I

E o tal de Tony Palocci (ou Malocci) continua na crista da onda. Assim como no primeiro governo Lula, faz o Executivo patinar, imerso em uma série de denúncias, de mesma natureza das anteriores: a mistura indigesta entre exercer um mandato público e suas lucrativas atividades particulares.
Acho que a postagem do PHA sobre o assunto é taxativa. Mas eis que surge uma voz dissonante: Eduardo Guimarães, lá do excelente Blog da Cidadania, faz a leitura de que a militância caiu em histeria, manipulada pela grande mídia. Deixei meu comentário no texto "Palocci, a ‘psolização’ do PT e o poder da direita midiática", e travei uma diálogo interessante com outra leitora, que transcrevo aqui:

Eu, hoje, às 12:19:
Palocci não é da “esquerda”. Muito menos representa o projeto político pelo qual nós lutamos pela continuidade. Apesar das “pressões internacionais”, basta ver que, quando ele se afastou do governo, a política econômica se tornou muito mais inclusiva, os juros baixaram, o crédito foi facilitado. Foi quando o governo Lula realmente deixou um legado do qual nos orgulhamos. Palocci é apenas o “fiador” do PT junto ao “mercado”. Uma historieta: nos idos de 2002. Lula liderava as pesquisas, com relativa folga, enquanto Serra e sua brutal máquina de campanha massacrava seus adversários do campo direitista. Assim que detonou a Roseana, e depois o Ciro Gomes, ia virando as canhoneiras para Lula, um alvo até mais “fácil” em termos ideológicos. Nisso, o Palocci faz uma viagem à Nova York, mas precisamente a Wall Street, entrega seus protocolos de intenção e “acalma o mercado”. Pronto, o Brasil não seria mais uma nova Argentina. Palocci entrou no PT já na cúpula, oriundo da Libelu, numa das alianças mais esquisitas da história do partido. E carrega esse perfil dirigista, que faz com que todos os militantes da esquerda tenham aversão à suas posturas. Se o PIG alimenta essa contradição, só o faz porque o governo atual, que foi eleito graças ao trabalho maciço destes mesmos militantes “manipulados”, forçou sua indicação indo contra os protocolos assumidos em campanha. Faça uma rápida enquete entre os leitores e veja: quem aqui faria campanha pró Palocci, independente desse caso? Não me venha com o argumento de que TODOS estão iludidos… Não sou contra um homem público se tornar privado. Mas que fique nessa esfera, e não transitando entre as duas, conforme as conveniências. Na verdade, esse é um homem público que deveria ir pra privada, isso sim… E, por favor, não retire a verdadeira importância dos questionamentos éticos. Existe uma diferença entre o que é legal e o que é moral. Isso não é conversa de botequim. “Se você não puder dizer como fez, não faça” – aprendi isso como as minhas professoras do primário e carrego como princípio até hoje.

Andrea Serpa, em seguida, às 13:42:
Eu não faria campanha para o Palocci, tampouco sou a favor de derruba-lo sem provas. Ele ou qualquer pessoa. Isso além de uma questão legal também é uma questão moral. Não gostar do Palocci, não querer ele no governo por não ser de esquerda e outros motivos, é uma coisa que não tem nada a ver com a acusação que está sendo feita no momento. Acusar sem provas só é errado quando se trata de pessoas que nos são simpáticas?

Minha replica, 16:07:

Tudo bem, Andrea. Reconheço que a ojeriza a um indivíduo que atráves de várias ações políticas elencadas pelo PHA no post “Dilma a Lula: toma que o filho (Palocci) é teu”, se mostrou contrário aos anseios da militância que lutou para eleger um governo dos trabalhadores turva um julgamento isento. Ações realizadas dentro dos limites legais, frise-se. De qualquer forma, reduzindo-se todas as circunstâncias e ideologias a zero, ainda assim não existiriam julgamentos imparciais. Talvez no mundo das idéias de Platão. Mas sou obrigado a rebater um argumento seu: derrubar “sem provas”. Como assim, sem provas? O fato do patrimônio dele ter se multiplicado muito além do razoável a um integrante do poder legislativo, já constituiu o indício. A chance de se explicar ao público – pois é um homem público (que ele reservou com exclusividade a Globo) – foi dada. Nela, ele negou nomes e números, num abstrativismo que só o compromete. E a manutenção de uma empresa de consultoria a outras empresas com negócios com o governo é a óbvia prova de que há sim tráfico de influência. Como eu disse, ele transitou entre o público e o privado, conforme interesses de difícil apreciação. Não dá para aceitar isso. Não admito como desculpa o fato de não haver legislação que proíba isso. É aí que encontramos a ética e a moral. Como disse Kant, “age de tal maneira que a máxima da tua vontade possa valer sempre, ao mesmo tempo, como princípio de legislação universal”. Numa linguagem mais singela, foi o que eu aprendi no primário. Não isento as empresas “corruptoras” de culpa. E também admito que preferia que o Palocci saísse por opção política da Presidenta. Mas acho salutar esse contraditório, nesse nível de debate. Aprenderemos a fazer uma política melhor dessa forma.

Tréplica da Andrea, 17:17:
Também me agrada debater assim. Já foi tudo analisado pela CGU e pelo MPF antes dele ser ministro e não foi encontrado nada ilegal. As empresas estão listadas aqui mesmo no post, todos já sabem. O alvo é o governo Dilma, assim que derrubarem o ministro partiram com toda força para cima de outro.

A conversa foi positiva, mostra que, mesmo defendendo pontos de vista opostos, as pessoas podem ter boas intenções e procurar um objetivo comum. Contudo, continuo acredito que seria melhor para o Brasil se afastar de Palocci, como escreveu Marco Aurelio Mello, do DoLaDoDeLá. Até porque, a questão nunca foi jurídica; foi política desde a sua gênese. A "governabilidade" que ancorava Palocci já não existe mais. E se continuarmos a defender um governante suspeito, ainda que sem as ditas "provas irrefutáveis", teremos que reconduzir Collor ao Planalto.

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