quinta-feira, 7 de novembro de 2013

SEMIÓTICA

Atribui-se a Confúcio a máxima de que uma imagem vale mais que mil palavras.


Marshall McLuhan deixou como frase à posteridade "o meio é a mensagem". Não caberia explicação, mas o meio a que se refere encampa o conjunto de expressões que uma linguagem midiática pode decodificar ao ser apropriada por outro usuário.


O termo ideologia foi criado por Antonie Destutt, o Conde de Tracy. Seu significado logo foi deformado quando Napoleão  chamou o conde e seu séquito de "ideólogos", enfatizando o carater de deformadores da realidade.


Marx abre uma senda na ideologia, como concepção de uma consciência falsa, oriunda da divisão do trabalho entre os manuais e os intelectuais. Logo, geraria a inversão (ou camuflagem) da realidade, obviamente em favor da classe dominante.


Chegamos ao estágio onde a reprodução da ideologia dos senhores, de linhagem econômica, alcança cada cidadão ininterrupta e sistematicamente. O governo, que tem o condão de contrapor a política à dominância, abastece as burras de seus adversários. Os desvalidos da história seguem assimilando o discurso do opressor, a subjetividade do patrão em seu próprio prejuízo. E meia dúzia de intelectuais (ou ideólogos, na primeira acepção do verbete) acendem o rastilho de uma quixotesca disputa, no pandemônio da www.


O que é possível?

Subverter a ordem?
Democratizar os meios de comunicação?
Escrever um artigo com quatro fotos?

4 comentários:

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Marco, quando estudava Economia cheguei à conclusão, ainda na faculdade, que o mundo todo é e sempre foi 'capitalista'. Explico-me: na universidade dizia-se que o capitalismo se inicia com a troca ou escambo, com a divisão do trabalho entre homens e mulheres, velhos e jovens, aptos e inaptos, e ainda, com a criação dos excedentes de produção e da poupança (separar uma parte do que é produzido a mais para guardar, plantar, trocar). Nesse aspecto, pelo menos desde que o homem se fixou à terra, esse tipo de capitalismo sempre foi praticado e é, de certo modo, a base de todas as sociedades em todas as épocas. Em grego atual a palavra 'οίκος' significa casa. Os modos de arrumá-la podem ser vários, mas algumas características parecem permanecer em todos os tempos: a divisão do trabalho, a troca com ou sem o uso de alguma coisa que sirva de moeda, a poupança - seja em moeda ou em víveres e bens, a propriedade (privada ou coletiva) dos meios de produção e do que é produzido ou criado. O chefe do clã, por exemplo, costuma ter mais direitos na maior parte das sociedades primitivas, incluindo o direito às coisas e todo grupo social tem dirigentes, sejam eles oficiais ou tácitos, impostos ou eleitos. Até mesmo no grupamento humano mínimo de duas pessoas há diferenças em termos de iniciativa e capacidade ou vontade de liderar e maior ou menor apego às coisas e ao mando. Acho que a 'sociedade de iguais' é mais uma abstração, embora deva sem dúvida ser buscada. Quanto ao governo encher as burras dos seus adversários, concordo que isso ocorre - talvez para barganhar algum apoio na hora em que outros inimigos ferozes tentam derrubá-lo também por outros meios. Será isso?

Marco disse...

Flávio,

Sempre me chamou a atenção o quanto o grego oikos, de onde advém economia (nomos, originou nomia e norma) lembra oca, do tupi.

Mas eu não vejo o capitalismo em todas as eras históricas. Acho que o fim da economia é a suficiência de bens para atendimento de todas as necessidades humanas. E, a partir desse ponto, os sistemas econômicos são pensados (essa promessa está tanto no capitalismo quanto no socialismo, e ainda nos modelos dialéticos que consideram elementos das duas doutrinas). Quanto às trocas, o comércio, o escambo, a divisão do trabalho entre os desiguais, o excedente e a poupança - tudo isso é inerente ao socialismo também.

E na verdade, o capitalismo que eu julgo nefasto é aquele que só pode surgir quando as condições materiais e jurídicas foram propícias. Quando houve a expulsão dos servos de gleba da terra, que foi cercada e tornada propriedade privada para que os antigos senhores feudais, convertidos a fisiocratas, detivessem a fonte da matéria prima (no início, a lã). Quando essas massas deslocadas para a cidade precisaram comer e a única forma de subsistir foi se sujeitar ao regime das fábricas. E aceitar a divisão de trabalho entre iguais, uns braçais, outros intelectuais. E a classe dominante deteve essas fábricas, os meios de produção, e o Estado e o Direito se fundamentaram para legitimar, com a legislação, e proteger, com o polícia e o exército, essa estrutura.

Eu falo desse 1% que detêm a riqueza de 80% do globo, que são os acionistas majoritários de todos os grandes meios de produção, que escolhem e trocam governantes como se fossem marionetes e, no estágio atual, detém o monopólio da informação midiática. Esse capitalismo gera riqueza e infelicidade de forma irracional e vertiginosa. Precisamos racionalizar isso e, aí entra meu combate ao atual capitalismo.

Quanto a entender o porque de um governo que se contrapõe a classe dominante (como ingenuamente imagino ser o nosso) entupir de grana o sistema midiático que reproduz a ideologia dos senhores, eu realmente não sei. Não se parece fazer parte do arco de aliança, como você conjectura. É um comportamento esquizofrênico.

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Marco, legal a tua resposta. Só não sei se o desenvolvimento das relações humanas funciona de fato de modo tão esquemático, pois há e sempre houve interações à margem do sistema formal, como as relações informais de compra e venda, trabalho e cooperação. No entanto, no geral concordo contigo. Voltando ao ponto da mídia, que aqui no Brasil pode funcionar até como tribunal penal(quando interessa), acolheria e apoiaria de bom grado uma proposta de uma Lei de Meios ao estilo da que acaba de ser reconhecida judicialmente na Argentina. O difícil é passar tal lei aqui ...

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Apêndice: além das relações que eu cito, também há várias outras relações à margem dos sistemas formais, muitas das quais são toleradas ou consentidas (ex.: no Brasil, 'gato' de energia elétrica em áreas de baixa renda, moradias irregulares sem pagamento de IPTU e sem habite-se, posse, etc.).