Aos comentaristas de futebol escapa o mais óbvio dos fatores que influem no placar de um jogo: a sorte. E nisso, o futebol difere da imensa maioria dos esportes, onde preparação, treino, técnica e planejamento conduzem quase obrigatoriamente à vitória. No passado, havia gritantes diferenças entre países e suas respectivas culturas futebolísticas. Hoje não mais, com o advento da globalização, doses cavalares destes elementos - preparação, etc - diminuem as chances do imponderável ao limite das margens de erro das pesquisas eleitorais. Só que, num cenário ideal, imaginemos que todos os times e seleções se preparem adequadamente, treinem com afinco, dominem as técnicas, se planejem com inteligência e em níveis equivalentes. O que irá determinar o resultado das partidas? Novamente ela, a sorte.
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E numa eleição, a sorte é fator preponderante? Ao contrário do esporte, onde a tendência é ganhar o melhor, numa eleição sem fraudes ganha a maior torcida. Mas assim como no futebol, os comentaristas têm o condão de manipular a opinião das massas sobre esse ou aquele jogador. Há ainda os comentaristas de arbitragem, que vem à telinha explicar, conforme lhes convém, aspectos jurídicos dos atos durante a campanha eleitoral. A sorte, nesse caso, é saber quem vestirá a camisa do clube mais popular no dia 3 de outubro. E a sorte da torcida é que essa farda não seja colocada à força no seu corpo.
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Queria saber agora dos profetas qual a influência da Copa na eleição? Se a organização correu às mil maravilhas, o governo sai fortalecido? Se a seleção teve uma campanha desastrosa, o governo cai? Já havíamos demonstrado que, a partir do momento em que as eleições passaram a coincidir com o ano de Copa do Mundo, não há qualquer paralelo que possa se traçar. Parece que a imprensa concorda, pois publica a mesma pesquisa das últimas três eleições para o mês de junho, sem dar a mínima para o resultado da copa.
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E por falar em imprensa, questões aleatórias:
A imprensa que torceu para o desastre na Copa perdeu credibilidade?
A imprensa que anunciou o caos na véspera da Copa perdeu credibilidade?
A imprensa que louvava a seleção como única certeza perdeu credibilidade?
A imprensa que publica a mesma pesquisa a quatro eleições perdeu credibilidade?
A imprensa que tenta esconder um aeroporto debaixo do tapete perdeu credibilidade?
Só perguntas desinteressadas.
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Para finalizar, uma lembrança da juventude. Um amigo tinha o péssimo hábito de se queixar de tudo. Vira e mexe, nossos assuntos descambavam para suas lamúrias. Um belo dia, no fundo do poço, engoliu seu orgulho e ouviu alguns conselhos deste que escreve. Tempos depois, fui à sua casa e me surpreendi com o que vi: no seu quarto, paredes exibiam cartazes com os dizeres "Pára de reclamar e age!". Assim mesmo, no imperativo. Hoje, podemos dizer sem medo de errar, que se trata de um profissional de sucesso e tem uma família estruturada e feliz. Para não perder o costume, hoje seu único lamento é com tudo que os políticos poderiam ter sido e não são.
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P.S.: Em 21 de junho, fiz uma postagem que continha uma promessa em seu sexto item. Sem o menor ânimo, e com bastante atraso, me sói cumpri-la: 11 dos 32 países que participaram da Copa do Mundo são incapazes de gerar tanta energia solar quanto os 2.5 MW, que o Estádio Nacional Mané Garrincha, produz, segundo o relatório "Pobres Povos Energy Outlook" (PPEO) publicado pela ONG britânica Practical Action. O
relatório destaca que Bósnia-Herzegovina, Croácia,
Camarões, Colômbia, Costa Rica, Equador, Honduras, Irã, Costa do
Marfim, Uruguai e Gana, produzem o mesmo ou menos do que 2,5 MW de
energia solar. Somados os 12 estádios utilizados no mundial, o Brasil produzirá com eles 5,4 MW de energia solar, de baixo impacto ambiental e custo reduzido.
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