O título ficou em boas mãos. Torci contra a Alemanha contra Gana, contra a Argélia, contra o Brasil, contra a Argentina. Mas para saber ganhar, é preciso saber perder. Sem entrar nas considerações de preparação, organização, supremacia ariana e demais cretinices do gênero, o fato é que eles jogaram o melhor futebol. O melhor goleiro, o melhor meio-campo, o maior artilheiro das copas, e o melhor conjunto. Passaram alguns sufocos, é verdade, mas montaram uma seleção excelente - dentro e fora de campo.
A Argentina caiu de pé. O título do post nem é uma provocação apropriada, visto que estava torcendo por nosso continente manter a escrita de jamais um europeu ganhar uma Copa em solo americano. Seu craque catalão repetiu a sina de não criar empatia pelo entorno. Messi é a antítese do que convencionamos imaginar o jogador argentino. A partida se conduzia como uma batalha, uma guerra campal, os demais atletas se desdobrando, superando sua nítida inferioridade técnica com abenegação, e ele alheio a tudo, olhando num misto de espanto e indiferença, para cima. Não deu. Para os argentinos em geral, ainda que recuperem parte do orgulho infinito, fica a sensação de que estavam a dois passos do paraíso. Para Messi, a impressão é que ele perdeu uma partida de vídeo game.
Sobre o jogo de sábado, a laranja espremeu um pouco mais do bagaço que aquele time se tornou. Acho covarde o calendário que já marca uma carrada de jogos para esse ano. Mais uma "contribuição" nefasta da entidade que comanda a seleção, sempre pronta a sugar seu produto de forma inconsequente. Nem que de seis minutos em seis minutos catastróficos se dilapide o patrimônio brasileiro construído pelo talento de Leônidas, Zizinho, Garrincha, Pelé, Rivellino e outros tantos, que teimaram em mostrar ao mundo mais do que o complexo de vira-latas poderia sugerir. É preciso tempo, qualquer que seja a definição, para pensar sobre o que queremos ser no futebol mundial. Um fantasma do passado, escoltado em uma história estupenda, como o Uruguai, ou um "player" do futebol, como já somos na economia.
E a vida segue. Será interessante a condução de debate político que se desenvolverá no rescaldo na Copa. Os profetas do fracasso foram derrotados impiedosamente. Nunca havia ficado tão explícito, meses antes da eleição, o papel partidário jogado pela imprensa. E sua derrota foi tão avassaladora que nem as sucessivas mudanças de rumo no discurso os salvaram. Há problemas, é fato, inclusive no famigerado legado, mas perto do bombardeio a que o país foi submetido só é possível ver o sucesso. Aos 13 de julho de 2014, 30 dias e 64 jogos depois, 171 gols e espetáculos épicos, jogados nos melhores estádios do planeta, há alemães extasiados em vários pontos do Brasil, o portão de Brandemburgo explode em alegria e a festa não tem hora para terminar, mas a Copa das Copas já não existe mais.
3 comentários:
Sobre a tal "futebrás", Isso é argumento típico de quem gosta de democracia sem povo.
Vi muita gente que estava indecisa ou inclinada a torcer contra a Copa virar a casaca e se tornar torcedor(a). Isso foi bom. A Copa em si está sendo considerada uma das melhores de todas. O que mostra que outros países hoje têm um futebol quase tão bom quanto o que já tivemos ... e poderemos voltar a ter se quisermos.
Patrick, democracia sem povo é um conceito bem brasileiro. Quase uma jabuticaba. Mas me faz lembrar de outro, sempre mencionado por Domenico Losurdo: o de Herrenvolk, a democracia dos senhores, cujo exemplo remonta à Grécia, foi aplicado na América do Norte segregacionista e elevado a ideal nazista.
O pessoal tá bem acompanhado...
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