quarta-feira, 2 de julho de 2014

O G8 DO FUTEBOL MUNDIAL

Público: nos oito jogos das oitavas de final tivemos a presença de 457.004 torcedores, com uma taxa de ocupação dos assentos de 98,68%. Agora, somados os 56 jogos, já chegamos a 2.911.381 espectadores, com uma média de 51.989 por jogo. E a tendência é aumentar, porque os jogos finais acontecem nas maiores arenas. Será a 2.ª Copa com maior média de público da história, com o limite óbvio no tamanho dos estádios.

Saudades: com pesar, lembro que já está acabando. faltam apenas oito jogos para o fim do torneio. O que faremos depois? Tenho a impressão que o Brasil não será mais o mesmo, independente dos resultados dentro de campo. Poderemos incorporar o exemplo japonês, de recolher a sujeita após o espetáculo. Ou um passo mais simples: aprender a reconhecer os erros.



Gols: já é o terceiro mundial com mais rede balançando. Foram marcados 154 tentos, atrás apenas de Japão/Coreia (2002), com 161 e França (1998), com 171, em números absolutos. A média caiu drasticamente nos jogos eliminatórios. Mesmo assim, são 2,75 gols por partida, o que desde o México em 1970, só foi superado uma vez (na Espanha, em 82, 2,81 de média). Tanto nos números absolutos quanto relativos, dizem as más línguas que a culpa é justamente da seleção canarinho: em 1982 fizemos 15 gols e tomamos 6, em 5 jogos (média de 4,2 gols por partida); em 1998 fizemos 14 e tomamos 10, em 7 jogos (média de 3,43). E em 2002, foram 18 gols pró e 4 contra (média de 3,14), em 7 jogos. Nessa copa, fizemos 8 e tomamos 3 em 4 apresentações, reduzindo a média das partidas que participamos para 2,75.

Equipe brasileira: vou na contramão dos derrotistas que, diante do sucesso mundial do evento, redirecionaram suas pragas para o time de futebol. O jogo contra o Chile teve um momento de tensão, a dita bola vadia, no chute de Pinilla. Além dos pênaltis, onde o fator emocional é decisivo, e vimos atletas com nervos em frangalhos, sentido o peso de jogar em casa. Fora isso, digo que o Brasil jogou melhor o primeiro tempo, tomou o gol num vacilo numa cobrança de lateral, e que no segundo tempo, o Chile neutralizou o Brasil apostando numa tática suicida, pois marcou a saída de bola dos nossos zagueiros. Ninguém marca o campo inteiro impunemente, ainda mais com jogadores sabidamente baleados (Vidal e Medel). Na prorrogação, o que vi foi o Chile se arrastando em campo, pedindo aos céus que o jogo acabasse e o Brasil atacando de forma desordenada. As lições desse jogo foram muitas, principalmente em termos de controle mental.

Seleção Colombiana: devemos eterna gratidão a James Rodriguez e los cafeteros, por terem expurgado o fantasma do Maracanazo. Tão pilhados estamos, que seria insuportável jogar contra os uruguaios, aqueles caem que em campo após uma joelhada na têmpora, com suspeita de traumatismo craniano, e voltam a jogar três minutos depois, a despeito do veto médico! Ou mordem os adversários, nos momentos críticos. Contra a Colômbia, a carga dramática é infinitamente menor. Além disso, o estilo de jogo se "encaixa" com mais naturalidade. De todas as virtudes que se viu na Colômbia, ninguém mencionou a marcação. Ou seja, jogam e deixam jogar, o que deve nos deixar otimistas.

Alemanha vs. França: les bleus, assim como a Colômbia, têm tornado fáceis as vitórias. Não quero tirar seus méritos, mas foram beneficiados pela arbitragem na partida contra a Nigéria: após anular um gol dos africanos, o juiz não marcou um pênalti clamoroso de Evra, ainda no primeiro tempo. Já no segundo tempo, com o placar ainda 0x0, Matuidi fez uma falta criminosa, que quase aleijou o nigeriano, e recebeu apenas cartão amarelo. Por outro lado, a Alemanha parece seguir o caminho oposto, complicando jogos, em tese, tranquilos. Nunca imaginei dizer isso, mas falta objetividade ao time alemão. Noves fora a goleada em Portugal, que jogou com um a menos, a equipe tem oscilado bastante de produção. Esteve perdendo de Gana, sofreu contra os EUA e só superou a valente Argélia na prorrogação - e no sufoco. Mesmo com esse cenário, penso que a camisa alemã pesa bem mais na decisão.

Holanda vs. Costa Rica: ou antipáticos vs. simpáticos. A Costa Rica já fez história e mostrou muito mais que sorte: um excelente goleiro, um sólido sistema defensivo (que só tomou o gol grego por ter tido um zagueiro expulso), um toque de categoria no meio-campo, com o capitão Brian Ruiz, e poder de finalização com o jovem e impetuoso Campbell. Se classificou em primeiro lugar num grupo com três ex-campeões mundiais. A Holanda vem, aos trancos e barrancos, mas com uma campanha irretocável, exceto pelo purgante que dirige a equipe do banco. Os homens da frente - Snijder, Van Persie e Robben - realmente decidem, mas sua defesa, toda vez que exigida, entregou a rapadura. Uma surpresa é o fôlego demonstrado, tanto em partidas jogadas às 13 horas, quanto nas três viradas que já aplicou. É a favorita, mas vai jogar com torcida contra em Salvador.

Argentina vs. Bélgica: los hermanos, a exemplo do Brasil, vêm expondo suas fraquezas já conhecidas por todos que acompanham o futebol. O goleirão questionado até que vai bem, mas não inspira confiança. O mesmo ocorre com a defesa. Do meio para frente, é só bola no Messi. Tirante o esforço de Di Maria, Mascherano é de uma nulidade absoluta (no Barcelona, a despeito do seu 1,70m, o escalam lá atrás, para não atrapalhar o resto da equipe). Os resultados têm sido sofridos como um tango, e as vitórias magras, por um gol de diferença. Por enquanto, para felicidade portenha, foi o suficiente. Já a Bélgica, les Diables Rouges, parece que engrenaram agora. Vinham cozinhado o galo, mostrando um futebol apático, aquém das expectativas. Mas esse último jogo foi eletrizante. Suado, árduo e divertido, o recorde de finalizações. Vejo seu meio-campo black power, com Witsel e Fellaini, atropelando os frágeis volantes argentinos. Ainda assim, darei meu voto de confiança a Messi, que pode decidir tudo num lampejo de genialidade.
Porre: tem sido um saco desafiar nas rodas de conversa sobre futebol e política, a mancha negativista que ficou impregnada no imaginário popular. O sucesso da copa é avassalador. Levou de roldão todos os que fincaram suas bandeirinhas do "não vai ter copa". Agora, a carga se volta contra nosso scratch. Não vivi tempos de equipe perfeita: em 1994, no ano do tetra, detestava Dunga e sua mediocridade, correndo como um anão de jardim atrás da bola. Mas o que me infartava era o Zinho, a enceradeira do time. Raí, a esperança de criatividade, estava numa péssima fase, tanto que foi parar na reserva. Em 2002, o indefectível esquema com três zagueiros, e a pobreza de talento num meio com Gilberto Silva e Kleberson. Nos dois casos, as falhas óbvias não impediram a torcida. Hoje, o PIG que reclama dos nordestinos que votam com o estômago, faz o mesmo cada vez que Daniel Alves erra um cruzamento. Que desdenha dos negros, associa Marcelo e seu "cabelo ruim" a uma série de falhas coletivas. Que exige talento, futebol arte, mas que espera com um punhal após o primeiro fracasso. Que inveja Neymar e cobra dele o retorno de audiência que nunca mais terão. Que gostavam do Felipão saudoso da ditadura, mas que não terão pudores em aniquilar seu passado com uma improvável derrota.
Mas o pior mesmo é buscar argumentação racional para dialogar com gente assim, como Malu Cruz.

3 comentários:

Unknown disse...

Uma curiosidade/coincidencia interessante nessa terceira fase: apenas os primeiros em cada grupo chegaram. A Segunda fase depurou 100% dos segundos colocados.

Hoje lamentei muito a perda da vaga pelos EUA por um motivo simples: esta Copa conquistou MUITA popularidade para o futebol dentro do pais, polarizando ideologicamente e trazendo valores de coletividade em contraponto ao individualismo.

Quando li o tipo de ataque que o esporte e o time estavam sofrendo, passei a torcer por eles pelo bem da humanidade. Pena que os Belgas venceram (merecidamente) porque a Copa estava arrebatando geral!

Márcio Scott Teixeira disse...

Um porre ainda maior é escutar os #nãovaiterhexa, que já foram um dia os #nãovaitercopa, lamentarem que agora o Brasil terá um adversário que facilitará o jogo para nós, ou escutar dos mesmos que os elogios à copa do mundo proferidos no períodioco francês Le Monde foram pagos pelo governo federal!!! "Tá serto"!!!

Marco disse...

Essa estatística ficou fora do corpo da postagem:
Apenas 3 de 16 equipes não marcaram nas oitavas de final: Uruguai, Nigéria e Suíça.
Ninguém fez mais de 2 gols.
Apenas 3 equipes marcaram no primeiro tempo: Brasil, Chile e Colômbia.
Foram 3 gols no primeiro tempo, 8 no segundo e sete nas prorrogações!