sábado, 29 de maio de 2010

QUE TIPO DE INTELECTUAL ESTÁ AO LADO DO POVO?

Goiás, 23 de Maio de 2010. Concurso das Secretarias de Ciência e Tecnologia e de Educação do Estado. Cargo: professor de nível médio e fundamental. Exigência: licenciatura numa das disciplinas previstas em Edital. Número de vagas: 5581. Remuneração: variável, de acordo com a carga horária. Instituição organizadora do certame: UFG.

Até aí, uma notícia banal. corriqueira. Mas tive o desprazer de folhear uma prova. O primeiro impacto, digo texto, era retirado do caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo*, de 05 de abril de 2010. O autor, um tal de Luiz Felipe Pondé, um colonista de nenhuma repercussão, com o qual, por azar, eu já havia travado contato.

Contato meramente acadêmico, diga-se de passagem. Afinal, é mais um megafone a reproduzir o discurso que as elites preparam nos vetustos ambientes universitários. Cada vez mais inócuo, cada vez mais distante da realidade. Bom, para não me alongar demais, a explicação é que ele é filósofo, e eu, quixotescamente, travei uma batalha contra a filosofia. Um dos subprodutos desse conflito foi a necessidade de militar em algo mais popular, como a imprensa livre na internet. Um outro resultado foi esse artigo.

Mas, voltando ao tal artigo que iniciava a prova do concurso, intitulado “De 1984 a 2010”, ele reproduz sem escrúpulos a mais falsa panacéia criada pelas mentas corruptas e pervertidas que se encontram em vantagem no nosso modelo político e econômico (disponível para assinantes do UOL. Vasculhando, achei-o reproduzido num blog de esgoto. Até que o debate nos comentários, sustentado por Filipe Calvário, é interessante).

Liberdade é uma palavra. Os significados que se associam a ela são os mais diversos. O argumento do texto vai no sentido de que o “politicamente correto” oprime a liberdade dele. Principalmente dele, pois é a sua perspectiva que sofre com as limitações da vida em sociedade. Não estou aqui para defender o politicamente correto, apenas para demonstrar a falta de conteúdo do intelectual e preocupação com a escolha desse artigo oco para avaliar os professores estaduais.

Para não dar muita vazão a sua pobreza política ele mesmo assume, sem mais delongas, “A minha [política] pode ser entendida como uma política herdada de autores como Isaiah Berlin... prefiro sempre os britânicos aos franceses ou alemães... prefiro a liberdade à felicidade”. E aí que começa o problema. Senão vejamos as preocupações infantilóides que estão no jornal e no concurso: “O Canadá é um dos países mais totalitários no que se refere à repressão ao uso livre da linguagem e à crítica aos costumes da nova casta fascista que empesteia o mundo”; “Tiraram o cachimbo da boca do Saci. Eu, que sou um amante de cachimbos e charutos cubanos (e viva la Revolución!!), me senti diretamente afetado”; “O fascismo 'verde' chega ao ponto de tirar das crianças uma música divertida para torná-las defensoras dos gatos” (no caso, atirei o pau no gato); “Como era bom jogar baratas mortas no lanche das meninas só para ver elas pularem deliciosamente das suas cadeiras em lágrimas”.

Nesse samba do crioulo doido, tudo que contraria esse marmanjo imaturo se mistura com o ideal político que ele detesta. A sociedade vaticinada por Orwell está acontecendo por que ele não tem mais liberdade para jogar baratas na comida alheia, nem para fumar seus fétidos cachimbos pouco se importando com os demais. Isso é totalitarismo, revolução cultural chinesa (!), revolução cubana, ideais franceses... ou seja, tudo que foge da visão liberal e neoliberal do mundo não presta e atrapalha o mimado articulista.

Mas isso absolutamente não importa. Talvez um pequeno choque de vida severina fosse a posologia suficiente para cura dessa aborrescência tardia. O que preocupa é esse texto ser usado como balizamento na prova dos professores. Alguém mais colérico já iria à beira de uma crise de nervos com tamanha sandices. “É um teste também para o controle emocional” replicaram os otimistas.

O entendimento e assimilação do texto é condição de aprovação no concurso. Quem o aceita e faz eco se encaixa no estereótipo de “educador dos extratos mais rampeiros” da sociedade. Já quem imagina uma sociedade diferente, onde não se jogam baratas para apavorar e impressionar as meninas, está fora do padrão estabelecido. Quem pensa em brincadeiras como forma de emancipar, e não de intimidar, é considerado “politicamente correto”. Quem pensa em liberdade para todos, com as devidas preocupações sociais e ambientais que o mundo de hoje inspira, graças a degradação que o capitalismo impôs, é carta fora do baralho. A academia moderna, pensada pelo e para o capital, não poderia se auto-destruir, plantando em suas sendas as sementes da revolução.

E esse duro papel, é o que está reservado ao professor das gerações vindouras, de um país que apesar da mentalidade da sua elite, teima em se insubordinar contra quem insiste em mantê-lo na pequenez de seus próprios horizontes.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

PIG SE DELEITA COM TRUCULÊNCIA ESTADUNIDENSE

A direita surtou! No momento atual, beira às raias da insanidade. A cobertura midiática regojizou-se ontem (18) ante ao pronunciamento de Hillary Clinton. Bonner, Waack, Jabour, et caterva – todos eles travestidos de Prof. Hariovaldo martelavam na cabeça dos espectadores o “fracasso” da missão brasileira. A virada de mesa ianque era motivo de júbilo dos nossos colonistas(*), os mesmos que, pouco antes haviam noticiado a contragosto os elogios e apoio da China, Rússia e França ao acordo, agora açulavam nas mentes perplexas o retorno do complexo de vira-latas.

Os EUA e seus fiéis cães de guarda têm costume de demonizar oponentes em sua propaganda, como no eloquente “Eixo do Mal”. É o país mais intervencionista do mundo – destino manifesto, doutrina Monroe, big stick, etc – por medo, oriundo de uma suposta conspiração contra eles. Foi essa a desculpa contra México, Cuba, Vietnã, Nicarágua, Afeganistão, Iraque e agora, o Irã. Três fatos escaparam à “atenção” da nossa imprensa: o pronunciamento da Ms. Clinton foi EM NOME das outras nações, ou seja, parece que eles detêm procuração sobre a soberania alheia. Mais: a diplomacia americana (ou a falta dela) havia sofrido a maior derrota dos últimos tempos. Por fim, apenas três países do mundo têm urânio e tecnologia capaz de beneficiá-lo: EUA, Rússia e Brasil.

Portanto, não era apenas solidariedade internacional que estava em debate. Os interesses do Brasil estavam sendo defendidos. Até porque o Irã, país soberano, tem pleno direito de usar energia atômica pacificamente, e mesmo se defender se necessário, pois Israel, seu inimigo declarado, possui armas de destruição em massa mais contundentes sob as bênçãos dos EUA. Alguém fala em sanções contra Israel, que vive a massacrar civis na Palestina?

Como os EUA que desrespeitam sistematicamente as resoluções internacionais (para não ir muito longe, os protocolos ambientais), que possuem um arsenal nuclear que dá para acabar com vários mundos, se arvoram juízes do mundo? Da onde advém essa suposta supremacia moral deles? O único país que soltou bombas atômicas sobre humanos, e duas, matando milhares de pessoas, agora quer recriminar que o Irã use o urânio, em nome de uma suposta ameaça à paz mundial? Como já foi feito em relação à farsa das armas químicas que não existiam no Iraque? O perigo para o mundo não é o Irã, são os EUA.

A guerra é o negócio mais lucrativo da América, já demonstrou Michael Moore. A defesa da “paz mundial” é artifício retórico para a venda de armamentos. Fomentar guerras é business, ainda mais quando sua economia interna enfrenta severa recessão. Mas isso não aparece noticiado pelo PIG. Além da oportunidade de lamber as botas dos patrões do norte, eles estão em tamanho êxtase diante de um possível retrocesso brasileiro, que todos os seus esforços estão concentrados na tentativa de diminuir a relevância que o Brasil adquiriu na comunidade internacional.

Essa campanha difamatória lesa-pátria ainda tem dupla função, pois é um bom motivo para se lançar a cortina de fumaça nas notícias nacionais, ignorando o “empate técnico” das últimas pesquisas eleitorais, além da propaganda política do DEM, ocupada integralmente pelo Serra, apregoando a união entre ricos e pobres. Logo eles, que quando se aboletaram no Planalto, logo no discurso de posse, disseram que “não haveria lugar para todos”.

(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

Com inspiração no http://sakuxeio.blogspot.com/

Em tempo: um tijolaço do Brizola Neto, mostra como se comporta uma mídia que não é imparcial, mas é honesta: http://www.tijolaco.com/?p=14998 E também, as repercussões no site do The New York Times sobre a lambança de sua chancelaria http://www.tijolaco.com/?p=15034



domingo, 16 de maio de 2010

A CONVENIÊNCIA DAS CRISES

Marx preconizou crises cíclicas no capitalismo. Elas descrevem um movimento espiral, com seu fluxo tendendo ao vórtice (o olho do furacão) e se expressam ou como excesso de produção, quando há mais oferta que procura e a demanda não dá conta de todos os produtos disponíveis no mercado, ou como crise de acumulação de capitais, quando as interferências especulativas criam bolhas mercadológicas sem lastro. Num caso ou no outro, além das causas imediatas e das circunstâncias específicas de cada crise, opera a lei da tendência decrescente da taxa de lucro. Na medida em que o ciclo afina sua espiral, o funil do mercado se torna mais apertado, diminui o lucro e aumenta a “competitividade”. Marx não vaticinou, porém, as soluções de Keynes para o problema. A pressão sobre a taxa de lucro poderia fazer ruir não apenas cada empreendedor, mais o sistema todo, como quase aconteceu em 1929. Ao legado de Keynes, creditamos a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), originado na lendária conferência de Bretton Woods, sempre abastecido pelos Estados mais ricos e conseqüentemente mais interessados na estabilidade econômica mundial, com o objetivo de assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro mundial amortecendo possíveis choques econômicos.

A bola da vez é a Grécia. Berço cultural da humanidade; fiel da balança na partilha européia pós-guerra: o leste, zona de influência soviética, ficaria com esse “enclave” ocidental, afiliado à OTAN, reconstruído com dinheiro ianque, e reverberando valores caros à democracia liberal burguesa, a livre iniciativa econômica e a liberdade de imprensa. Pois bem, as benesses concedidas aos cidadãos em nome da suposta tranqüilidade política agora são acusadas de vilania, quando o Estado grego passa o chapéu na banca internacional. O raciocínio vendido pelo PIG como verdade inquestionável é simples: a rede de proteção social do Welfare State tornou-se onerosa por demais em dias de tamanha necessidade de eficiência e eficácia produtiva. O conforto de um colchão de prosperidade ilusória que funcionava como propaganda ideológica na Guerra Fria não faz mais sentido. Os dinossauros serão extintos. A lei da selva é implacável.

Depois da automação industrial, o preço do trabalho humano é sempre alto, por mais degradantes que sejam as condições de trabalho. Ainda que sejam deploráveis as condições, trata-se de humanos, não de máquinas. Rússia, Coréia do Sul, Taiwan, Argentina, México. Já vimos esse filme, mesmo em projetores que nunca foram sociais-democracias com grande papel público na provisão do bem estar social, ao estilo europeu. Nessas localidades, a substituição de operários pelo maquinário não se completou graças ao atraso tecnológico, ou quando se completou amparou-se em especulação financeira. A desculpa do “custo-país” também foi utilizada na Islândia, Estado insolvente que só não teve maior repercussão pela sua diminuta população.

Para pagar o pato, ou melhor, a dívida publica, é conclamada a presença daqueles que não auferiram grandes ganhos com a ciranda financeira. Quando muito, passaram a andar de carro novo, possuir eletrônicos e outros fetiches consumistas. Não são as grandes empresas que assinarão o cheque, muito pelo contrário. Elas ganham com a crise na exata medida da supressão dos direitos sociais e do aumento de preços, elevando artificialmente a taxa de lucro aos patamares de antanho, contrariando a tendência irresistível do sistema. Não precisa ser vidente para perceber que a próxima crise sobrevirá com ímpeto muito maior. Mas voltando a essa, quem vai pagar é o Estado, tanto grego quanto dos países financiadores, mas na figura do contribuinte, que é o mesmo cidadão trabalhador que tem seus salários achatados, seus direitos arrancados e os impostos majorados.

Aqui o Estado revela sua face mais perversa: é um instrumento de classe. Um instrumento gigantesco, que interfere controlando a vida das pessoas em todas as áreas da existência. Usando uma terminologia mais marxista, uma estrutura – determinada pela superestrutura econômica. E também pertencente a uma classe, aquela que terá seus interesses defendidos a unhas e dentes, nem que seja necessário botar a polícia em cima dos financiadores (cidadãos), causando um paradoxo que não é nítido graças à alienação em que vivemos. Para nublar ainda mais o pensamento, a força da ideologia nos faz crer que o trabalhador hoje é um colaborador do sistema que o aliena ou, voltando a Adam Smith, a soma dos esforços individuais traduz-se em ganhos coletivos. Discurso velho em roupagem nova.

A precarização do trabalho se materializa de inúmeras maneiras. Impressiona a capacidade de adaptação do capital, invariavelmente solapando seu contraponto, o trabalho. Há gente dizendo, e não estamos falando da mãe Dinah, que o trabalho sofreu mais alguns golpes nessa última crise que ainda não acabou. Postos protegidos pelas legislações foram perdidos e não serão recuperados apontando para um desmanche gradual das conquistas sociais dos trabalhadores. O capital teve forçosamente que transformar a relação de trabalho para assentar a maximização dos lucros, haja vista o aperto da espiral, numa “fantasmagoria absolutamente etérea que não encontra respaldo no mundo físico”. Nos moldes de social democracia européia, o capitalismo já teria falido, advindo provavelmente a barbárie, com homens – capitalistas e trabalhadores – disputando a sobrevivência com poucos recursos, como bestas-feras num cativeiro jamais reabastecido.

A lei da tendência decrescente da taxa de lucro é a bomba relógio do capitalismo. A única salvação é a utilização do aparelho estatal para tomar o dinheiro das pessoas e tampar momentaneamente o dique que está prestes a explodir. A capacidade de resistência das pessoas é bombardeada por todos os lados, e as tensões estão à flor da pele, mas isso não aparece nas manchetes do PIG, pois poderia “despertar algumas pessoas do sono doce e letárgico do consumo inflado a crédito e endividamento”.


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Cuidado com o PIG II

Pra exemplificar o último Post do Márcio, aqui vai mais uma da turma do PIG. É impressionantes o que um jornalista que come na mão do empresário não faz pra ficar com essa corja.
Dá pra ficar assustado como está escancarada essa luta.

terça-feira, 11 de maio de 2010

CUIDADO COM O PiG

De acordo com o jornalista Luis Nassif, alguns órgãos da imprensa estão tentando remover o verbete PiG do Wikipedia.
Abaixo segue o link da notícia.
http://www.luisnassif.com/profiles/blogs/verbete-partido-da-imprensa?xg_source=activity

domingo, 9 de maio de 2010

AS IDÉIAS DE J. SERRA

Alguns críticos têm dito que o candidato José Serra não têm um discurso bem formulado sobre o que fazer como presidente. Pelo que pudemos pesquisar, eles têm razão. Depois de levantamento pela internet, chegamos a apenas três manifestações práticas do candidato. E uma análise mais acurada derruba facilmente os três argumentos. Vamos a eles:


1. Serra pretende criar o ministério da segurança pública.


Típica promessa eleitoreira, inviável sob os aspectos jurídico, político e econômico. Senão vejamos: é determinação constitucional a divisão de poderes públicos. Aliás, a Constituição de 1988 só faz reproduzir a consagrada posição hierárquica das polícias. Pertencem ao âmbito da polícia federal os crimes contra a ordem política e social ou em detrimento dos interesses da União, tráfico de drogas, contrabando, descaminho (sem prejuízo da ação dos Estados), polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, restando todos os dispositivos e legislação ordinária de matéria penal ao cargo dos comandos estaduais. A proposta de Serra é ilegal, por quebrar o princípio de separação e harmonia dos poderes e autonomia dos Estados e mais, inconstitucional por ferir nossa Lei Magna, art. 144, 1.º.

Politicamente, isso é um chute no saco do pacto federativo. Os governadores teriam que se humilhar publicamente, abrindo mão de suas competências para serem salvos pelo ente maior. Um dos pilares discursivos dos tucanos é criticar a centralização promovida pelo PT no poder executivo federal. Uma vez no poder, prometem cometer tamanha ingerência que as forças estaduais estariam reduzidas a meras guardas ornamentais, ou subordinadas ao dito ministério. E quem conhece os assuntos de polícia sabe que esse tipo de desmando não fica sem retaliação. Por fim, economicamente, é dispendioso criar uma estrutura burocrática para instantes depois ser desmontada por força de decisão judicial. Se existisse esse recurso financeiro , ele deveria ser destinado a repasses aos estados, como se fez com as UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro.


2. Serra diz que quem fuma não tem Deus no coração (A pessoa que fuma sabe que o cigarro vai fazer mal, mas continua assim mesmo. Depois, adoece e mesmo assim continua fumando. Assim, É uma pessoa sem Deus. Sabe que Ele está ali, mas não o procura).


Aqui, sabujamente, o tucano se retirou das manifestações populares do dia 1.º de Maio, participando do Congresso Internacional dos Gideões Missionários, evento patrocinado pela prefeitura de Balneário Camboriú – SC, mandato do PSDB. Sua intervenção demonstra um ataque em dois viés: primeiro, dá um jeito de enfocar sua polêmica lei estadual que proibiu o cigarro em ambiente públicos, como se a propaganda pela lei antitabagista fosse mais um cabo eleitoral na disputa pela presidência; por outro lado, transfere a questão de fundo mais importante, a de saúde pública, que deve ser enfrentada por qualquer governo sério, para o mundo teológico.

Como consequência, outros problemas que devem ser enfrentados pelo Estado fatalmente serão deixados por conta do imponderável. Por exemplo, a educação, tão desprezada pelas gestões tucanas: muito mais do que a ampliação de oportunidades, trata-se de “mérito” dos que querem subir na vida. Pior ainda é a ótica desse pensamento sobre a previdência. O deficit se deve ao fato de que as pessoas estão vivendo mais! Como disse Pedro Malan, outro prócere do tucanato, “o futuro tem por destino ser incerto”. Planejamento, trabalho a longo prazo, estabelecimento de metas e objetivos, tudo isso é desconsiderado pela possibilidade de não regular a atividade econômica.


3. Serra e o Mercosul. Num primeiro momento, o candidato afirmou o Mercosul é uma "farsa" e só atrapalha, sinalizando que gostaria de retirar o Brasil no bloco. Diante das repercussões negativas, ele voltou atrás e se retratou, mudando o tom.


Em 21 de abril, num evento na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Serra proferiu que “Ficar carregando esse Mercosul não faz sentido”. Ele disse ainda que “a união aduaneira é uma farsa, exceto quando serve para atrapalhar”. Já no dia 25, contudo, em matéria da Folha de S.Paulo - sempre benevolente quando se trata do PSDB -, Serra teve todo o espaço necessário para tentar desfazer a besteira. “Não quero acabar com o Mercosul” é o título da reportagem. “O Mercosul deve ser flexibilizado, de modo a evitar que seja um obstáculo para políticas mais agressivas de acordos internacionais”, diz ele agora sobre um Mercosul que, de “farsa” – na sua opinião - passou a apenas uma “obra inconclusa”, em quatro dias.

As declarações foram mal recebidas na Argentina, por exemplo. O jornal argentino Clarín analisa que sua perspectiva “supõe que o Brasil deva se afastar de Argentina, Paraguai e Uruguai, porque é a única maneira para o país formar áreas de livre comércio com Estados Unidos e Europa”. Voltando ao modelo neoliberal, o PSDB não teria interesse na integração latino-americana, em detrimento de uma política pró-EUA.

Já o diário argentino Página 12 foi mais contundente: Los brasileños deberían escribir un libro y mandarlo para aquí: un manual para entender a José Serra. El candidato de oposición para las elecciones presidenciales de octubre dijo primero que el Mercosur es “una farsa”. Después pidió “flexibilizar el Mercosur”. ¿Cómo se flexibiliza una farsa? Misterio.

A tentativa de remendar o erro não apaga, contudo, o que bem lembrou o Clarín: as declarações de Serra contra o Mercosul “retomam teses já defendidas por ele quando foi derrotado por Lula em 2002”.

sábado, 1 de maio de 2010

PRIMEIRO DE MAIO

No Brasil quase não há trabalhadores, somente escravos; assim, o 1.º maio é apenas o dia em que o Senna morreu. Injustiças à parte, também é o dia das centrais sindicais distribuírem prêmios, carros, bebida e fazerem a festa. Mas não é só isso: é o dia dos trabalhadores irem explorar seus pares que labutam nos estabelecimentos abertos, maximizando ganhos, estimulando o consumo e girando a roda do mercado. O fluxo de pessoas se concentra e o local símbolo desse tipo de convivência são os shoppings. A memória histórica dos povos é esclerosada, com momentos de lucidez, intercalados por longos períodos de amnésia. Poucos conhecem a origem do 1.° de maio. Muitos pensam que é um feriado decretado pelo governo, outros imaginam que é um dia santo em homenagem a S. José; existem até aqueles que pensam que foi o seu patrão que inventou um dia especial para a empresa oferecer um churrasco aos "seus colaboradores”.

Mas a história, sempre ela, pode lançar um pouco de luz nas trevas da ignorância. No final das contas, todo medo e insegurança advêm da falta de conhecimento. Baseado nessa simples ilação, é que até hoje, os detentores do poder jogam campesinos contra citadinos, braçais contra intelectuais, homens contra mulheres, sulistas contra nortistas, trabalhadores contra trabalhadores. No século XIX era comum (e hoje?) o trabalho de crianças, grávidas e trabalhadores ao longo de extenuantes jornadas de trabalho que reproduziam a tradicional jornada de sol-a-sol dos agricultores. Com o desenvolvimento do associativismo operário, e particularmente do sindicalismo, a proposta das 8 horas de turno laboral, tornou-se um dos objetivos centrais das lutas operárias, marcando o imaginário e a cultura operária durante décadas, sendo importante fator de mobilização, mas, ao mesmo tempo, causa da violenta repressão e das inúmeras prisões e mortes de trabalhadores.

Em maio de 1886, realizou-se uma manifestação que reivindicava a almejada redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, com a participação de milhares de pessoas, em Chicago. Nesse dia se deflagrou uma greve geral nos EUA. Houve um levante que culminou em choque com a polícia, resultando a morte de alguns manifestantes. No dia seguinte, nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores. Uma bomba foi lançada por desconhecidos para o meio dos policiais que dispersavam os manifestantes, matando oito agentes (um imediatamente; sete em decorrência dos ferimentos). A polícia então abriu fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram para história como a revolta da praça Haymarket.

Em 1889 a II Internacional, reunida em Paris, decidiu se manifestar anualmente pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1.º de maio, em homenagem aos mártires de Chicago. Em 1.º de maio de 1891, uma manifestação na França é reprimida pela polícia causando a morte de dez manifestantes. Esse novo drama consolida a data como dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional o proclama como “dia internacional de reivindicação de condições laborais”. Apenas em 1919 o senado francês ratifica a jornada de 8 horas e admite o 1.º de Maio como feriado (somente naquele ano). Em 1920, a União Soviética recepciona a data como feriado nacional, e este exemplo é seguido por vários países. Contudo, até hoje os estadunidenses se negam a reconhecer essa data como sendo o Dia do Trabalhador, e comemoram um “labor day” na primeira segunda feira de setembro.

A primeira tentativa de comemorar o 1.º de maio no Brasil se deu em 1894, em São Paulo, por iniciativa do anarquista italiano Artur Campagnoli, e foi frustrada pelas prisões desencadeadas pela polícia. Na década seguinte, vários jornais da imprensa operária foram lançados, dedicados ao dia dos trabalhadores. São Paulo, Santos, Porto Alegre, Pelotas, Curitiba e Rio de Janeiro foram os pioneiros centros urbanos onde o incipiente sindicalismo brasileiro comemorava esse dia, mesmo sem o caráter “oficial”.

Hoje, o 1.° de maio é mais um dia do calendário civil, sob o inócuo título de feriado nacional, como se décadas de lutas, prisões e mortes fossem detalhes secundários na festa patrocinada pelo capital e pelo Estado em nome de S. José. Numa curiosa contradição, se fala do “Dia do trabalho”, não dos trabalhadores. Os direitos sociais tão arduamente conquistados, não foram concessões benevolentes do capital, mas resultados do embate das classes. Que escutemos as belas canções protesto de Vandré e Chico Buarque, que façamos algazarra, mas que não percamos de vista o significado da data, claramente exposto por Perseu Abramo: “A história do Primeiro de Maio mostra que se trata de um dia de luto e de luta, não só pela redução da jornada de trabalho, mas também pela conquista de todas as outras reivindicações de quem produz a riqueza da sociedade”.
Monumento aos Mártires, em Chicago: "Um dia nosso silêncio será
mais forte que as vozes que hoje vocês estrangulam"

A DIREITA E O DIREITO

Uma pequena aula de como distorcer uma notícia. Uma declaração que era favorável à Reforma Agrária transforma-se, nas páginas do jornal, num manifesto legalista, contra a promoção da luta do MST.
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JOGO SUJO NA REDE

Há insultos e baixarias de todos os lados, mas o PSDB montou um esquema na internet que a ação de hackers e a propagação de calúnias variadas a ação de hackers e a propagação de calúnias variadas.
Matéria completa

CONTRADIÇÕES E APARÊNCIAS

Informações privilegiadas, criação de factóides, manipulação midiática e disputa eleitoral. Ingredientes de uma análise política, que pode ser vir aos mais diversos interesses em conflito. Ainda mais advindo de um “analista de pesquisa”.
Leia a análise completa

JÁ VAI TARDE

O período de Gilmar Mendes à frente do Supremo Tribunal Federal encerrou-se em 23/04/2010, da mesma forma em que transcorreu durante os dois anos de mandato. Polêmico e melancólico, na menos séria de todas as gestões da Suprema Corte do país, em mais de 100 anos.
Continua...

GUERRA IDEOLÓGICA

Não bastasse o mise-em-scéne contra Cuba e Venezuela, o semanário da editora 1.º de Abril se arvora detentor das provas de que a esquerda não presta e a elite brasileira é o farol da modernidade.
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UMA COMPARAÇÃO NECESSÁRIA

Argentina e Brasil trilharam caminham semelhantes na década de 90. Do lado de lá da fronteira, contudo, o alcance das políticas neoliberais foi mais catastrófico do que aqui. Por isso, eles querem voltar, para completar o serviço.
Veja o vídeo...

Ou aqui mesmo

PRIMEIRO MUNDO

Viajar de norte a sul da Flórida (492 km), custa US$ 21,20 em pedágios, o que equivale a R$ 37,31. Em São Paulo, um trajeto de distância semelhante, da cidade de São José do Rio Preto à capital paulista custa R$ 61,50, por 440 km percorridos.
Continua...

SUGESTÃO DE BLOG

Para criar uma tradição, o AntiPig vem recomendando a leitura de alguns blogs distantes dos holofotes. O dessa semana é o do Douglas Yamagata, que demonstra, com uma boa dose de ironia, o lado sujo dos noticiários.
(Link)