No Brasil quase não há trabalhadores, somente escravos; assim, o 1.º maio é apenas o dia em que o Senna morreu. Injustiças à parte, também é o dia das centrais sindicais distribuírem prêmios, carros, bebida e fazerem a festa. Mas não é só isso: é o dia dos trabalhadores irem explorar seus pares que labutam nos estabelecimentos abertos, maximizando ganhos, estimulando o consumo e girando a roda do mercado. O fluxo de pessoas se concentra e o local símbolo desse tipo de convivência são os shoppings. A memória histórica dos povos é esclerosada, com momentos de lucidez, intercalados por longos períodos de amnésia. Poucos conhecem a origem do 1.° de maio. Muitos pensam que é um feriado decretado pelo governo, outros imaginam que é um dia santo em homenagem a S. José; existem até aqueles que pensam que foi o seu patrão que inventou um dia especial para a empresa oferecer um churrasco aos "seus colaboradores”.
Mas a história, sempre ela, pode lançar um pouco de luz nas trevas da ignorância. No final das contas, todo medo e insegurança advêm da falta de conhecimento. Baseado nessa simples ilação, é que até hoje, os detentores do poder jogam campesinos contra citadinos, braçais contra intelectuais, homens contra mulheres, sulistas contra nortistas, trabalhadores contra trabalhadores. No século XIX era comum (e hoje?) o trabalho de crianças, grávidas e trabalhadores ao longo de extenuantes jornadas de trabalho que reproduziam a tradicional jornada de sol-a-sol dos agricultores. Com o desenvolvimento do associativismo operário, e particularmente do sindicalismo, a proposta das 8 horas de turno laboral, tornou-se um dos objetivos centrais das lutas operárias, marcando o imaginário e a cultura operária durante décadas, sendo importante fator de mobilização, mas, ao mesmo tempo, causa da violenta repressão e das inúmeras prisões e mortes de trabalhadores.
Em maio de 1886, realizou-se uma manifestação que reivindicava a almejada redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, com a participação de milhares de pessoas, em Chicago. Nesse dia se deflagrou uma greve geral nos EUA. Houve um levante que culminou em choque com a polícia, resultando a morte de alguns manifestantes. No dia seguinte, nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores. Uma bomba foi lançada por desconhecidos para o meio dos policiais que dispersavam os manifestantes, matando oito agentes (um imediatamente; sete em decorrência dos ferimentos). A polícia então abriu fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram para história como a revolta da praça Haymarket.
Em 1889 a II Internacional, reunida em Paris, decidiu se manifestar anualmente pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1.º de maio, em homenagem aos mártires de Chicago. Em 1.º de maio de 1891, uma manifestação na França é reprimida pela polícia causando a morte de dez manifestantes. Esse novo drama consolida a data como dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional o proclama como “dia internacional de reivindicação de condições laborais”. Apenas em 1919 o senado francês ratifica a jornada de 8 horas e admite o 1.º de Maio como feriado (somente naquele ano). Em 1920, a União Soviética recepciona a data como feriado nacional, e este exemplo é seguido por vários países. Contudo, até hoje os estadunidenses se negam a reconhecer essa data como sendo o Dia do Trabalhador, e comemoram um “labor day” na primeira segunda feira de setembro.
A primeira tentativa de comemorar o 1.º de maio no Brasil se deu em 1894, em São Paulo, por iniciativa do anarquista italiano Artur Campagnoli, e foi frustrada pelas prisões desencadeadas pela polícia. Na década seguinte, vários jornais da imprensa operária foram lançados, dedicados ao dia dos trabalhadores. São Paulo, Santos, Porto Alegre, Pelotas, Curitiba e Rio de Janeiro foram os pioneiros centros urbanos onde o incipiente sindicalismo brasileiro comemorava esse dia, mesmo sem o caráter “oficial”.
Hoje, o 1.° de maio é mais um dia do calendário civil, sob o inócuo título de feriado nacional, como se décadas de lutas, prisões e mortes fossem detalhes secundários na festa patrocinada pelo capital e pelo Estado em nome de S. José. Numa curiosa contradição, se fala do “Dia do trabalho”, não dos trabalhadores. Os direitos sociais tão arduamente conquistados, não foram concessões benevolentes do capital, mas resultados do embate das classes. Que escutemos as belas canções protesto de Vandré e Chico Buarque, que façamos algazarra, mas que não percamos de vista o significado da data, claramente exposto por Perseu Abramo: “A história do Primeiro de Maio mostra que se trata de um dia de luto e de luta, não só pela redução da jornada de trabalho, mas também pela conquista de todas as outras reivindicações de quem produz a riqueza da sociedade”.
Mas a história, sempre ela, pode lançar um pouco de luz nas trevas da ignorância. No final das contas, todo medo e insegurança advêm da falta de conhecimento. Baseado nessa simples ilação, é que até hoje, os detentores do poder jogam campesinos contra citadinos, braçais contra intelectuais, homens contra mulheres, sulistas contra nortistas, trabalhadores contra trabalhadores. No século XIX era comum (e hoje?) o trabalho de crianças, grávidas e trabalhadores ao longo de extenuantes jornadas de trabalho que reproduziam a tradicional jornada de sol-a-sol dos agricultores. Com o desenvolvimento do associativismo operário, e particularmente do sindicalismo, a proposta das 8 horas de turno laboral, tornou-se um dos objetivos centrais das lutas operárias, marcando o imaginário e a cultura operária durante décadas, sendo importante fator de mobilização, mas, ao mesmo tempo, causa da violenta repressão e das inúmeras prisões e mortes de trabalhadores.
Em maio de 1886, realizou-se uma manifestação que reivindicava a almejada redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, com a participação de milhares de pessoas, em Chicago. Nesse dia se deflagrou uma greve geral nos EUA. Houve um levante que culminou em choque com a polícia, resultando a morte de alguns manifestantes. No dia seguinte, nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores. Uma bomba foi lançada por desconhecidos para o meio dos policiais que dispersavam os manifestantes, matando oito agentes (um imediatamente; sete em decorrência dos ferimentos). A polícia então abriu fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram para história como a revolta da praça Haymarket.
Em 1889 a II Internacional, reunida em Paris, decidiu se manifestar anualmente pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1.º de maio, em homenagem aos mártires de Chicago. Em 1.º de maio de 1891, uma manifestação na França é reprimida pela polícia causando a morte de dez manifestantes. Esse novo drama consolida a data como dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional o proclama como “dia internacional de reivindicação de condições laborais”. Apenas em 1919 o senado francês ratifica a jornada de 8 horas e admite o 1.º de Maio como feriado (somente naquele ano). Em 1920, a União Soviética recepciona a data como feriado nacional, e este exemplo é seguido por vários países. Contudo, até hoje os estadunidenses se negam a reconhecer essa data como sendo o Dia do Trabalhador, e comemoram um “labor day” na primeira segunda feira de setembro.
A primeira tentativa de comemorar o 1.º de maio no Brasil se deu em 1894, em São Paulo, por iniciativa do anarquista italiano Artur Campagnoli, e foi frustrada pelas prisões desencadeadas pela polícia. Na década seguinte, vários jornais da imprensa operária foram lançados, dedicados ao dia dos trabalhadores. São Paulo, Santos, Porto Alegre, Pelotas, Curitiba e Rio de Janeiro foram os pioneiros centros urbanos onde o incipiente sindicalismo brasileiro comemorava esse dia, mesmo sem o caráter “oficial”.
Hoje, o 1.° de maio é mais um dia do calendário civil, sob o inócuo título de feriado nacional, como se décadas de lutas, prisões e mortes fossem detalhes secundários na festa patrocinada pelo capital e pelo Estado em nome de S. José. Numa curiosa contradição, se fala do “Dia do trabalho”, não dos trabalhadores. Os direitos sociais tão arduamente conquistados, não foram concessões benevolentes do capital, mas resultados do embate das classes. Que escutemos as belas canções protesto de Vandré e Chico Buarque, que façamos algazarra, mas que não percamos de vista o significado da data, claramente exposto por Perseu Abramo: “A história do Primeiro de Maio mostra que se trata de um dia de luto e de luta, não só pela redução da jornada de trabalho, mas também pela conquista de todas as outras reivindicações de quem produz a riqueza da sociedade”.
4 comentários:
Pena que os sindicatos e as centrais adotaram esta data “comemorativa” apenas para entorpecer a consciência do trabalhador.
Algumas coisas:
1º Sinceramente não conhecia a história sangrenta por trás do 1º de maio.
2º As centrais sindicais brasileiras levam ao pé da letra a canção do Zé Ramalho "Povo Marcado, Povo Feliz!" e tratam trabalhadores e trabalhadoras como um enorme rebanho.
3º Até os dias atuais alguns sindicatos espalhados pelo mundo se utilizam dessa data para reivindicar melhorias para a classe trabalhadora.
Marco, primeiramente, parabéns pelo texto. Muito bom mesmo.Em segundo lugar, o seu texto cabe uma reflexão sobre a natureza do trabalho e a sua precarização nos ultimos trinta anos.Já discutimos um pouco sobre isso na sua casa uma vez; o capital mudou de tal forma a relação do trabalho para assentar a maximização dos ganhos sobre uma fantasmagoria absolutamente etérea que não encontra respaldo no mundo físico, minando a capacidade de mobilização de trabalhador que já não consegue perceber, na maior parte das vezes, a alienação do fruto do seu trabalho porque é de difícil apreensão, imaterial. O trabalhador, hoje em dia, é um "colaborador" e "cresce" junto com a empresa.É impressionante a capacidade de adaptação do capital e como suas adaptações invariavelmente flexibiliza e relativiza o trabalho; há um grande número de estudos que apontam que o trabalho saiu incrivelmente enfraquecido dessa última crise que ainda não acabou. Postos protegidos pelas legislações foram perdidos e não serão recuperados apontando para um desmanche gradual das conquistas sociais dos trabalhadores. Se olharmos as fotos do 1 de Maio pelo mundo, veremos que as tensões econtram-se afloradas no mundo todo, embora, obviamente, o PIG não repercuta isso, pois pode despertar algumas pessoas do sono doce e letárgico do consumo inflado a crédito e endividamento.
Obrigado pelo elogio. Não estou conseguindo postar comentários pois estou sem internet durante a semana. Algumas questões levantadas nos comentários:
1. É longo o debate sobre a importância dos sindicatos na organização dos trabalhadores, principalmente no Brasil, onde desde a Era Vargas ficaram sob custódia do Estado. Em outros países, como foi dito, exercem um papel distinto;
2. Não é conveniente lembrar a história da data, assim como o do 08 de março, que recentemente tem sido explorada pelo comércio como mais uma data de presentes;
3. O comentário do Patrick ensejou a elaboração de um novo texto, que pretendo publicar durante a semana, sobre essas crises do capitalismo e seus desdobramentos.
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