domingo, 9 de maio de 2010

AS IDÉIAS DE J. SERRA

Alguns críticos têm dito que o candidato José Serra não têm um discurso bem formulado sobre o que fazer como presidente. Pelo que pudemos pesquisar, eles têm razão. Depois de levantamento pela internet, chegamos a apenas três manifestações práticas do candidato. E uma análise mais acurada derruba facilmente os três argumentos. Vamos a eles:


1. Serra pretende criar o ministério da segurança pública.


Típica promessa eleitoreira, inviável sob os aspectos jurídico, político e econômico. Senão vejamos: é determinação constitucional a divisão de poderes públicos. Aliás, a Constituição de 1988 só faz reproduzir a consagrada posição hierárquica das polícias. Pertencem ao âmbito da polícia federal os crimes contra a ordem política e social ou em detrimento dos interesses da União, tráfico de drogas, contrabando, descaminho (sem prejuízo da ação dos Estados), polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, restando todos os dispositivos e legislação ordinária de matéria penal ao cargo dos comandos estaduais. A proposta de Serra é ilegal, por quebrar o princípio de separação e harmonia dos poderes e autonomia dos Estados e mais, inconstitucional por ferir nossa Lei Magna, art. 144, 1.º.

Politicamente, isso é um chute no saco do pacto federativo. Os governadores teriam que se humilhar publicamente, abrindo mão de suas competências para serem salvos pelo ente maior. Um dos pilares discursivos dos tucanos é criticar a centralização promovida pelo PT no poder executivo federal. Uma vez no poder, prometem cometer tamanha ingerência que as forças estaduais estariam reduzidas a meras guardas ornamentais, ou subordinadas ao dito ministério. E quem conhece os assuntos de polícia sabe que esse tipo de desmando não fica sem retaliação. Por fim, economicamente, é dispendioso criar uma estrutura burocrática para instantes depois ser desmontada por força de decisão judicial. Se existisse esse recurso financeiro , ele deveria ser destinado a repasses aos estados, como se fez com as UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro.


2. Serra diz que quem fuma não tem Deus no coração (A pessoa que fuma sabe que o cigarro vai fazer mal, mas continua assim mesmo. Depois, adoece e mesmo assim continua fumando. Assim, É uma pessoa sem Deus. Sabe que Ele está ali, mas não o procura).


Aqui, sabujamente, o tucano se retirou das manifestações populares do dia 1.º de Maio, participando do Congresso Internacional dos Gideões Missionários, evento patrocinado pela prefeitura de Balneário Camboriú – SC, mandato do PSDB. Sua intervenção demonstra um ataque em dois viés: primeiro, dá um jeito de enfocar sua polêmica lei estadual que proibiu o cigarro em ambiente públicos, como se a propaganda pela lei antitabagista fosse mais um cabo eleitoral na disputa pela presidência; por outro lado, transfere a questão de fundo mais importante, a de saúde pública, que deve ser enfrentada por qualquer governo sério, para o mundo teológico.

Como consequência, outros problemas que devem ser enfrentados pelo Estado fatalmente serão deixados por conta do imponderável. Por exemplo, a educação, tão desprezada pelas gestões tucanas: muito mais do que a ampliação de oportunidades, trata-se de “mérito” dos que querem subir na vida. Pior ainda é a ótica desse pensamento sobre a previdência. O deficit se deve ao fato de que as pessoas estão vivendo mais! Como disse Pedro Malan, outro prócere do tucanato, “o futuro tem por destino ser incerto”. Planejamento, trabalho a longo prazo, estabelecimento de metas e objetivos, tudo isso é desconsiderado pela possibilidade de não regular a atividade econômica.


3. Serra e o Mercosul. Num primeiro momento, o candidato afirmou o Mercosul é uma "farsa" e só atrapalha, sinalizando que gostaria de retirar o Brasil no bloco. Diante das repercussões negativas, ele voltou atrás e se retratou, mudando o tom.


Em 21 de abril, num evento na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Serra proferiu que “Ficar carregando esse Mercosul não faz sentido”. Ele disse ainda que “a união aduaneira é uma farsa, exceto quando serve para atrapalhar”. Já no dia 25, contudo, em matéria da Folha de S.Paulo - sempre benevolente quando se trata do PSDB -, Serra teve todo o espaço necessário para tentar desfazer a besteira. “Não quero acabar com o Mercosul” é o título da reportagem. “O Mercosul deve ser flexibilizado, de modo a evitar que seja um obstáculo para políticas mais agressivas de acordos internacionais”, diz ele agora sobre um Mercosul que, de “farsa” – na sua opinião - passou a apenas uma “obra inconclusa”, em quatro dias.

As declarações foram mal recebidas na Argentina, por exemplo. O jornal argentino Clarín analisa que sua perspectiva “supõe que o Brasil deva se afastar de Argentina, Paraguai e Uruguai, porque é a única maneira para o país formar áreas de livre comércio com Estados Unidos e Europa”. Voltando ao modelo neoliberal, o PSDB não teria interesse na integração latino-americana, em detrimento de uma política pró-EUA.

Já o diário argentino Página 12 foi mais contundente: Los brasileños deberían escribir un libro y mandarlo para aquí: un manual para entender a José Serra. El candidato de oposición para las elecciones presidenciales de octubre dijo primero que el Mercosur es “una farsa”. Después pidió “flexibilizar el Mercosur”. ¿Cómo se flexibiliza una farsa? Misterio.

A tentativa de remendar o erro não apaga, contudo, o que bem lembrou o Clarín: as declarações de Serra contra o Mercosul “retomam teses já defendidas por ele quando foi derrotado por Lula em 2002”.

4 comentários:

Márcio Scott Teixeira disse...

Será que J. Serra quer privatizar o MERCOSUL?
Agora falando sério, o único ponto que o tucanato age de forma social é no campo da saúde, entretanto carrega consigo ranços das mais arcaicas elites como a discriminação regional de doenças?

patrick disse...

Esse apanhado das "idéias" do candidato do PSDB dão a exata medida da incapacidade de articular um programa de governo mínimo que seja por parte do tucanato.
O Serra sabe que não pode se apresentar como o anti-Lula porque isso seria o suicídio político, visto que o presidente goza de uns 80% de aprovação, segundo pesquisa recente; O Serra não pode colar sua imagem de maneira inconteste ao governo desastroso do Farol de Alexandria por motivos óbvios: a triste memória do desmonte do Estado ainda é muito fresca no lombo do trabalhador; O Serra não pode desancar com o projeto de governo de Dilma porque o projeto dela é a continuação do governo Lula e depois da crise inacabada de 2009, não dá pra sair por ai dizendo abertamente ser a favor da desregulamentação dos mercados (embora saibamos que os tucanos o são)e que deve-se acabar com o restante do patrimônio público do país (embora saibamos que os tucanos são loucos para venderem o BB, a Caixa, a Petrobrás, as universidades federais, etc, etc).
Assim, o Sr. Burns fica sem ter muito o que falar e pra não sumir da mídia (que o tem em conta de mega estadista e economista de grande reputação)fica atirando para todos os lados com factóides ridículos como estes.
Mas que a fragilidade de sua campanha não seja motivo para se baixar a guarda porque sabemos o que esse pessoal é capaz se por algum infortúnio voltarem ao poder.

Marco disse...

Márcio, acho que essa suposta preocupação social dos tucanos na área da saúde é um paradoxo causado forçosamente pelas circunstâncias. Até porque eu pauta seria contraditória em relação às demais áreas de preocupação. Não faz sentido você retirar as condições de vida do gado para depois medicá-lo. Há sim, até aí, interesse econômicos difusos.

Patrick, o problema é que o Serra, encostado na parede, espirra para um dos dois lados: ou ele se assume neoliberal, coerente (para usar uma expressão em voga graças ao Dunga), mas abominada pelo povo brasileiro, que tem um sentimento patriótico bem presente, ou ele se revela um vazio absoluto, uma candidatura pró-forma, cujo intento é apenas assumir as boquinha do poder. Se você ainda é dos que creditam a Serra o mínimo de conteúdo, fica claro que esse conteúdo é nocivo ao Brasil. Do contrário, se percebe que o candidato não tem nada na cabeça, ridiculariza a mais oportunista das candidaturas.

patrick disse...

Eu entendo a sua posição Marco, mas o que eu quis dizer é que o Serra na verdade não tem escolha. Não penso ser uma questão dele ter ou não algum conteúdo o mínimo que seja. O grande problema dele é que não pode assumir um projeto próprio porque não o tem. O seu único projeto seria contrapor a administração do PT com a do PSDB, mas isso seria loucura porque ai a eleição se torna abertamente um plecito sobre a administração neoliberal; por outro lado, ele não pode assumir que não tem o que dizer ao seu público. Eu imagino que o oportunismo da candidatura serrista deve ficar muito evidente nos debates, quando ele não vai poder criticar abertamente a administração petista.