quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O PIG E AS GREVES

Estamos num país que ainda convive com a escravidão. A grande imprensa serve apenas para veicular os interesses das classes dominantes. Por isso, é necessário que se esclareça o que está acontecendo com os trabalhadores dos correios e bancários:







1.º Greve já foi crime, motivo de prisão, tortura e morte. Hoje, está na Constituição. Antes, as paralisações eram resolvidas pela lei do mais forte: ou os trabalhadores retornavam humilhados, nas mesmas ou em piores condições, por medo de demissão, represálias e da violência patronal e policial, ou os proprietários atendiam total ou parcialmente as reivindicações para evitar prejuízos.

2.º A Constituição, em seu artigo 9.º, preceitua: "É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender". Para regulamentar o direito constitucional, surge a lei 7.783, em 28/06/89, que determina até o conceito jurídico de greve: "suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador".

3.º Mas como no Brasil as categorias profissionais não estão organizadas, a estrutura sindical é pífia, a ameaça do desemprego é constante e a maioria da população ainda acredita no modelo de capitalismo excludente e elitista, que dá sinais no mundo inteiro de sua falência, fazer greve é quase um sinônimo de privilégio. Temos gente passando fome, abaixo da linha da pobreza, não somos capazes de erradicar o analfabetismo, o trabalho infantil, a desnutrição. Nesse cenário, clamar por melhores condições de trabalho, redução da jornada ou aumento salarial soa como luxo inimaginável ao povão.

4.º Essa visão é sempre reforçada pelo PIG, que faz questão de omitir vários movimentos, e quando traz o assunto, é para questionar sua legitimidade, ou apresentar os grevistas como vilões contra a população que utiliza os serviços. Até os bombeiros foram tachados de arruaceiros. Os banqueiros são sacralmente preservados. O fato da FENABAN não apresentar sequer uma contraposta desde 27/09 é ignorado. A notícia de que a justiça determinou o fim da greve dos correios é dada com uma mistura de alívio e triunfo com um quê de vingança visto que a classe vai ter seus dias descontados, como se estivessem de férias, na infeliz fala da ministra.



5.º Mesmo nos blogs tidos como progressistas, uma olhada nos comentários dá mostras do caráter mesquinho daqueles que não estão diretamente envolvidos. Tirar o cidadão daquela zona de conforto de "consumidor" justifica posições retrógradas, assustadoras. O "Farinha pouca, meu pirão primeiro" está arraigado por aí, esperando a chance de reaparecer. Solidariedade entre trabalhadores é um valor corroído no tecido social em que a competição é a mola mestra para sobrevivência. Apenas corroído, quando não ridicularizado.

6.º A greve não é culpa dos empregados! É a última alternativa que resta quando a negociação para o acordo ou convenção coletiva de trabalho não tem êxito. Outro capricho, perto dos milhões que vivem na informalidade trabalhista. Mas nem tudo está perdido. Igor Felippe sintetizou com rara felicidade como se dá a cobertura da greve dos bancários pelo PIG:

As matérias da imprensa conseguiram me esclarecer que grandes problemas do nosso país são causados pela greve dos bancários.

Idosos que não recebem o INSS, homens que não pagam a pensão e podem ser presos, lojas cheias de dinheiro a mercê da criminalidade, famílias que não conseguem pagar suas contas…

Interessante que, pela cobertura, o lucro dos seis maiores bancos do Brasil, em torno de 46 bilhões de reais em 2010, não causa problema nenhum.

Será que a intransigência em aceitar as reivindicações dos trabalhadores bancários não coloca nos bancos (que coincidentemente formam o setor econômico que mais lucrou e lucra com o atual modelo econômico por mais de 15 anos) alguma responsabilidade pela situação?

Um comentário:

Douglas Yamagata disse...

Ok, boa matéria. Só não concordo com aquele trecho que diz que as categorias profissionais não estão organizadas. Digo que muitas categorias estão organizadas sim! No entanto, existem diversas categorias que são atreladas à sindicatos pelegos e que acabam desqualificando os demais. Metalúrgicos, bancários, petroleiros e correios, são mostras de que existem sindicatos fortes, e que são ainda mais fortalecidos quando possuem acordos coletivos nacionais.