Esse texto é permeado por quadros que demonstram os lucros dos bancos no Brasil de 2003 para cá, ou seja, desde o início da gestão petista. Se fala, com propriedade, nas conquistas das políticas sociais focadas nos menos favorecidos. Estamos indo a passos largos rumo à erradicação da fome e da miséria, algo tão presente no Brasil de 15, 20 anos atrás, que parecia ser uma meta inatingível, como se fizesse parte do nosso DNA. Também é inegável o avanço da classe média, que abarcou em seu contingente uma massa de 40 milhões de pessoas, cheias de desejos reprimidos por tanto tempo de exclusão.
O dilema econômico tem sido refrear o impulso consumista dessa gente bronzeada que ficou séculos babando nas vitrines, assistindo ao espetáculo da sociedade de consumo do lado de fora, sem convite, quiçá como penetra, e agora quer tirar o atraso em uma geração. O espectro que ronda permanentemente nossa bonança financeira é a inflação, fantasmagoria sempre alimentada pelo PIG.
Um aspecto relegado tanto nos discursos oficiais, quanto na agenda de críticas ao governo do PIG, é que NINGUÉM perdeu no governo petista. Era para ser o pacto social perfeito: pobres e ricos de mãos dadas, prosperando na mesma toada e com base sólida para manutenção desse resultado positivo por longo período, sem sobressaltos. Ao contrário da opção da Venezuela ou da Argentina, onde a luta de classes e o conflito ideológico se escancaram nos últimos governos, no Brasil, o símbolo máximo da acumulação capitalista, os bancos, experimentam números jamais sonhados em tempos de arrocho, empréstimos ao FMI e economia estagnada.
Mas eles parecem não satisfeitos com o vento favorável, céu de brigadeiro e lucros cada vez mais exorbitantes. O Itaú vem capitaneando o pessimismo e alastrando o pânico quanto à sustentabilidade da economia brasileira. Em pelo menos três oportunidades, Ilan Goldfjan, economista-chefe do Itaú, membro do Instituto Millenium, e ex-diretor de política econômica do BACEN à época de Armínio Fraga e Pedro Malan, manifestou pesadas críticas ao governo. Roberto Setúbal, o presidente do banco não o contestou.
Em março, no auge da histeria em relação ao tomate, Ilan Goldfjan registrou em artigo no Estadão que o remédio correto contra a alta nos preços seria cortar empregos e o consumo das famílias. Em junho, quando o COPOM elevou a taxa SELIC em 0,5%, apressou-se em reduzir a estimativa de crescimento do PIB, ainda que tergiversasse, reconhecendo à contragosto melhorias no curto prazo: "O PIB da
indústria deve crescer a um ritmo mais forte no segundo trimestre, mesmo com a
perspectiva de crescimento mais lento da produção industrial".
Mais recentemente, o banco apostou na crise, ao enlaçar as marchas de junho com uma perspectiva de revés econômico, já que o povo na rua não é bom para a economia: "pode prevalecer um ambiente de incerteza com efeito perverso sobre as
decisões de investimento". O portal 247 alerta que as grandes economias convivem com manifestações
há décadas. Seja nos Estados Unidos, desde 1960 com os protestos contra a Guerra do Vietnã, seja na China, onde estudantes ocuparam nos anos 1990 a Praça da Paz Celestial
pedindo mais democracia, esses eventos de massa fazem parte natural do ambiente
de negócios. Por lá, não se faz associações entre protestos e efeitos nocivos na
economia. Por aqui, o Itaú pode estar inaugurando esta onda.
Para colocar um pouco mais de pimenta nessa caldeira, é importante frisar que Neca Setúbal, irmã de Roberto e herdeira do banco, é quem vem patrocinando o projeto de criar um partido para Marina Silva ser candidata à presidência. É pouco? João Amoedo, ex-conselheiro do banco também pretende fundar uma nova sigla partidária, chamada "Novo". O que defende? A velha cantilena do Estado mínimo que propicia apenas juros mais altos.
Isso tudo serve para aumentar a empáfia, o desdém com que vem tratando a multa de R$ 18,7 bi aplicada ao banco pela Receita Federal. É bom saber que o Itaú é quem mais demite no setor, e apenas em 2012, pois no olho da rua quase 8000 trabalhadores. Desde março de 2011, já são quase 14 mil postos de trabalho eliminados, na contramão de todo o restante da economia brasileira, que gera empregos como nunca. Também lidera com constância o ranking reclamações no PROCON.
Setembro é o mês do dissídio salarial do bancários. Logo, veremos banqueiros rechaçando qualquer reivindicação dos bancários, forçando-os à greve. Com a outra mão, a manipulação se dará via PIG, que sempre achará uma velhinha que deixou de receber sua aposentadoria e corre o risco de ficar sem os medicamentos, por conta desses malvados e corporativos bancários. Na classe média, prevalecerá o espírito de consumidor, sufocando as últimas esperanças de solidariedade entre os trabalhadores de categorias diferentes, em nome da brutal competição que o sistema impõe como mola mestra da sobrevivência.
Parece ser um jogo de cartas marcadas. Os trabalhadores dos grandes bancos públicos, Banco do Brasil e CAIXA, que tiveram papel determinante na resistência à crise de 2008, suportando o alucinante aumento do volume de atendimentos e prestação de serviços, puxarão as manifestações, pois ainda lhes é assistido o direito à greve sem a posterior demissão (ainda que isso custe todo tipo de boicote à ascensão profissional, exercício de funções, etc). Com isso, a greve ganha volume e o impasse se intensifica. Imagino os conselhos do Itaú, do Bradesco, e demais bancos privados se divertindo com a situação, uma vez que o desgaste institucional de imagem fica muito maior nos bancos governamentais. O Estado brasileiro se presta a anteparo do grande capital contra trabalhadores e contra si mesmo.
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