Em todas as eleições, corrupção surge como um dos mais inflamados temas. Políticas públicas, como o tratamento da economia em macro e micro escala, as relações internacionais, política indústrial e agrícola, prestação de serviços públicos como saúde, educação, segurança pública e geração de empregos e oportunidades, além do papel do Estado no desenvolvimento do país são outros assuntos que deveriam interessar ao debate político.
Contudo, da forma que vem acontecendo na eleição, o tópico corrupção bloqueia todas as demais discussões, tão fundamentais quanto, para quem se preocupa com o futuro do país. E isso vem acontecendo a algumas eleições: à véspera de cada pleito surgem boatos de irregularidades na Petrobras. Passada a votação perde sentido o ataque desembestado, ânimos voltam ao lugar, e o que era mera suposição, pressão, chantagem, volta à sua insignificância.
Os links estão aí, para quem quiser pesquisar. As denúncias, que saem nos jornais e revistas da mídia corporativa, são repercutidas pela televisão visando potencializar o estrago. Ocas, vazias, sem consistências para subsistir após o frisson eleitoral. Foram investigadas pela polícia, MP e demais órgãos de controle e não deram em nada. Como consequência só a difamação do governo e da Petrobrás.
Esse é o grande problema da difamação: se manipula a reputação do acusado, como quem pega uma folha de papel, rasga, e atira ao vento. Não há retratação que faça a folha voltar ao que era antes. Ademais, com o vento, é quase impossível, recuperar todos os pedaços do papel, como se fossem os pontos da credibilidade de quem foi difamado.
Outro problema que precisamos enfrentar é a da "
indignação seletiva". Ultrapassa o bom senso, a justiça, qualquer parâmetro civilizado, a diferença de tratamento dispensada às denúncias dos candidatos em disputa. Com sinceridade, não há nenhuma forma de administração, pública ou privado, que seja imune a desvios de seus indivíduos. O que pode qualificar a administração é a forma como ela trata essa situação.
Quem difama?
É sempre algum agente político irrelevante. Por exemplo, um bandido confesso, cuja palavra seria mais que suspeita, mas que é tomada como verdade inquestionável.
Quem divulga?
A imprensa corporativa, que aqui no blog chamamos de PIG - Partido da Imprensa Golpista, que assassina a reputação da vítima na manchete da capa e depois da eleição publica (se é que publica) os desmentidos na seção dos obituários ou dos classificados, que ninguém lê.
A quem interessa?
A quem quer derrubar o governo. A quem que tomar a Petrobras. A quem está louco para conhecer os segredos de como retirar o petróleo do Pré-Sal, pesquisa da Petrobŕas que começou na extração em alto mar, décadas atrás, e evoluiu muito, sempre com conteúdo genuinamente brasileiro. A quem não tem uma visão nacionalista para perceber que a geração de petróleo e seus recursos é um passaporte para o país crescer e melhorar seus serviços públicos.
Pessoas. Pessoas que antipatizam com o projeto do governo por qualquer motivo (às vezes, inclusive, por outro motivo criado nesse modelo de "denúncias" na imprensa corporativa). Pessoas de boa fé. Pessoa que se informam exclusivamente por esses veículos de imprensa. Pessoas que nem entendem direito o teor da acusação, mas que, acostumadas ao padrão Datena de exposição de assaltantes, logo associam: se são acusados, são iguais àqueles miseráveis enquadrados nos Cidade Alerta e Brasil Urgente da vida.
Quem é prejudicado?
De imediato, os envolvidos diretamente: os diretores da empresa, e o próprio governo federal responsável pela estatal. Num segundo momento, o grande prejudicado é o povo brasileiro, pois a Petrobras não é de nenhum governo: é do povo. E as riquezas que ela é capaz de gerar devem servir ao povo. E sob hipótese alguma aos "investidores" que a sobrevoam como aves de rapina a cada eleição.
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Esse texto foi inspirado num
artigo de Márcio Valley titulado "Um soco na arrogância da visão seletiva supostamente intelectual (ou, carta Aberta ao antropólogo Roberto DaMatta)". Recomendo entusiasticamente sua leitura! Trata-se de uma elegante desconstrução de um texto de Roberto DaMatta chamado "Um soco na onipotência" vibrando com a votação que Aécio recebeu e repetindo os clichês antipetistas que lemos a torto e direito nos "penas de aluguel, "experts" pagos justamente para isso: apresentar a visão do patrão (o dono do meio de comunicação) e tentar criminalizar um governo que se oponha aos seus mesquinhos interesses.
No afã de que um maior número de pessoas conheçam esse artigo do Márcio Valley, seleciona alguns trechos que julgo imperdíveis:
"Participo pouco do Facebook, mais para divulgar meus textos. Isso porque percebo nas redes sociais uma enorme carência de discussão inteligente e racional dos problemas políticos brasileiros. Trata-se de mera gritaria irracional, com repetição de memes e de conteúdo absolutamente raso. É nessas discussões adialéticas, onde não é possível o contraponto, visto como ofensa, e cuja pretensão é somente a de fazer prevalecer a própria visão e de repelir agressivamente todo pensamento que contrarie essa ótica, que vejo comumente serem usadas essas expressões de mera injúria como 'petralhas', 'tucanalhas', 'privataria', 'coxinhas' e, vejam só, 'lulopetismo', a mesma utilizada por você, um intelectual."
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"Como um intelectual pode se unir à grita da corrupção generalizada petista assim, de forma tão leviana? Sem o adensamento das causas? Sem uma perspectiva histórica? Sem analisar o sistema legal que proporciona tais desvios? Sem uma análise comparativa? Sem qualquer pronunciamento sobre a existência ou não das ações de combate? A corrupção inexistia no Brasil pré-PT ou nasce a partir da assunção desse partido? A malfadada governabilidade no Brasil - e seus filhos diletos, o fisiologismo e o patrimonialismo - é uma pré-condição do exercício do poder ou somente foi e será praticada pelo PT, mas não por outros partidos que eventualmente venham a conquistas o governo? Em outras palavras, é possível a qualquer partido governar sem se render aos clamores e anseios de sua inexoravelmente necessária base de apoio?"
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"Sei que você sabe (ou deveria saber) que um dos primeiros atos de Fernando Henrique Cardoso (desse mesmo PSDB que você agora tão calorosamente articula em favor), assinado somente dezoito dias depois de tomar posse, através do Decreto nº 1.376/1995, foi extinguir a Comissão para Investigar a Corrupção, comissão que havia sido criada em 1993 por Itamar Franco.
Lula, no dia 1º de janeiro de 2003, primeiro dia de seu governo, a partir da antiga Corregedoria-Geral da União, assinou a MP n° 103/2003 (depois Lei n° 10.683/2003), criando a Controladoria-Geral da União e atribuindo ao seu titular a denominação de Ministro de Estado do Controle e da Transparência, o que implicou elevar o status administrativo da pasta e sinalizou aos subalternos o norte a ser orientado.
Nos oito anos de governo do PSDB, com FHC, a Polícia Federal realizou um total de 48 (quarenta e oito) operações, ou seja, uma média de seis operações por ano.
Nos doze anos de governo do PT, essa número saltou para cerca de duas mil e trezentas, o que dá uma média de mais de 190 (cento e noventa) por ano.
Ao assumir, o governo do PT encontrou cerca de cem varas federais. Agora já são mais de quinhentas.
Como você sabe, ou deveria saber, são as operações da Polícia Federal e as varas da Justiça Federal que, no âmbito federal, investigam, combatem e julgam os crimes de corrupção."
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"Enfim, retorno à indagação que fiz acima: a corrupção é uma característica do PT? Se não, onde estão os condenados por corrupção do período do PSDB no governo federal?
E Aécio, DaMatta? Está ele livre de indícios de corrupção em sua passagem pelo governo mineiro? Você bem sabe que Minas Gerais, com o PSDB, foi o berço do mensalão tucano, gerido pelo mesmo indivíduo, o publicitário Marcos Valério, cujos tentáculos se espraiaram em direção ao governado federal do PT. Além disso, você sabe que Aécio é réu, acusado de improbidade administrativa, em ação civil pública movida pelo Ministério Público Estadual, em razão de desvio de 4 (quatro) bilhões e 300 (trezentos) milhões de reais da área da saúde em Minas, não sabe? E o aeroporto construído com dinheiro público em área desapropriada de parte da fazenda de seu tio, em Minas, ouviu falar sobre isso?
Bom, tudo isso eu relato, DaMatta, em função de sua visão estreita e seletiva sobre a corrupção do PT, olvidando-se (de forma proposital?) daquela oriunda dos quadros tucanos. Em princípio, não me parece o papel de um intelectual. Passável para uma pessoa comum, para redatores de Facebook, essa visão reducionista é, no meu entender, vergonhosa para um erudito."
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"DaMatta, retorne à sanidade intelectual. Não para infalivelmente apoiar o PT, mas para, se for o caso, rejeitá-lo pelos motivos lógicos e racionais corretos, ou seja, fundamentando sua contrariedade à linha econômica petista; ou à forma como ocorre, hoje, o enfrentamento da questão social; ou, ainda, pelas teses de relações internacionais atualmente defendidas pelo Itamaraty; ou por qualquer outra que você, livremente e como cidadão, considerar não ser adequada ao seu pensamento.
O que não dá é para alcunhar o PT de 'dono espúrio de um Brasil que é de todos nós', uma frase de efeito cujo único objetivo é o aplauso fácil. Ou de falar em “aparelhamento do Estado”, um mantra que pode ser considerado bonitinho para aqueles que ignoram as formas pelas quais se materializam os processos políticos, mas que se torna ridículo se proferido por um intelectual ciente de que o aparelhamento do Estado faz parte do processo democrático, uma vez que todo partido que chega ao poder preenche os espaços de indicação política existentes no governo justamente como meio de oferecer aos eleitores a direção política que eles escolheram através da eleição livre. Ou você, DaMatta, acha que o PSDB não “aparelhou” o governo federal, quando lá esteve, ou, atualmente, não nomeou todo e cada um dos cargos políticos de livre nomeação no Estado de São Paulo durante esses vinte anos de seu governo (algo a dizer sobre a “perpetuação no poder” em São Paulo?)."