domingo, 15 de agosto de 2010

AINDA SOBRE AS ENTREVISTAS


Apesar de seu um assunto datado, cuja colaboração da rede já foi feita, por motivos de força maior, apenas hoje eu consigo postar os meus comentários sobre o assunto. Adianto que nos rincões onde não passa outro canal que não seja a Globo, nem há banda larga, a repercussão foi considerável.

A entrevista com a Dilma foi fartamente comentada na blogosfera. Não assisti, mas li sua transcrição e fiz um exercício interessante depois. "Assisti" ao vídeo disponível no portal G1 com o áudio desligado (sugestão do blogueiro do Óleo do Diabo).
A Globo há muito tempo faz o jornalismo de caras e bocas. O representante mor desse estilo canastrão é William Waack, sempre presente, ali de maneira mais espontânea e descontraída (à vontade, diriam alguns) nas reuniões do Instituto Millenium. Mas ele tem um aprendiz à altura: a linguagem corporal do Bonner é reveladora: o tronco inclinado à frente, o dedo em riste, a exposição dos caninos, tudo isso maquiado pelo tom cordial da segunda voz da bancada, constrangida pelo ataque de fúria do marido.
Assiti ao vivo a entrevista com a Marina. A bancada do JN confunde as coisas. Eles (principalmente o Bonner) interpelam a candidata no meio da resposta. Acham que com isso estão “apertando”, mas na verdade querem direcionar as respostas. E os candidatos não são idiotas, é lógico que escapam.
Essa confusão evidencia, em minha opinião, a falta de conteúdo desses jornalistas, ao investirem em problemas supostamente espinhosos, privam o espectador das questões de fundo, reduzindo um debate que poderia ser rico à abordagem periférica, de temas polêmicos, porém inócuos. É o jornalismo das capas de revista de fofoca.
Parece que a ordem da direção era: “Não deixar o candidato fazer palanque”. Até aí, eu concordo, mas com isso eles inviabilizam o desenvolvimento das idéias, por mais simples que sejam.
A Dilma pagou caro por ser a primeira a se defrontar com esse estilo agressivo de pompom do casal JN. Foi surpreendente, mas ela criou um modelo de como lidar como essa falsa pressão que a bancada impõe. A Marina foi razoalvelmente bem, driblou os cortes que ia tomando. Mais da metade do tempo ficou amarrada nas questões da viabilidade da sua candidatura, sem poder falar de idéias e projetos. Está correta quando diz que a ecologia permeia todas as demais questões, mas mostra que o programa do seu partido não supera o entrave desenvolvimento econômico x sustentabilidade ambiental.

Quem a definiu, de maneira brilhante, foi o Plínio de Arruda Sampaio, no debate da Band: Ela é uma ecocapitalista.
Também presenciei os doze minutos de confraternização com José Serra. O mais interessante foi que ele mentiu impunemente sem os apartes e o tom de interrogatório deu lugar a uma amistosa digressão entre confrades, já que coadunam das mesmas idéias e comungam dos mesmos adversários. Ilustrações da cena: os vários pedidos de desculpa do Bonner e o comentário do candidato a uma pergunta: "Essa é uma ótima pergunta, William".
Porém, nada mais explícito que a mensagem que o Roberto Jefferson deixou no Twitter: "William Bonner e Fátima Bernardes facilitaram para o meu candidato. Foram mais amenos com ele".

Um comentário:

Márcio Scott Teixeira disse...

Essa é uma prática comum na Vênus Platinada. Vocês não se lembram da Míriam Leitão tirando a mordedura pra entrevistar os candidatos tucanos de 2002 e 2006?