À época em que Lula exercia "apenas" o cargo de presidente nacional do PT, não havia um dia sem a pergunta: quem o banca? Como consequência, vinha a mentira canalha de que ele se mutilou, cortando o próprio dedo para receber pensão.
Pois bem. Alguns anos depois Marina Silva emerge como nova musa de uma elite decrépita. Com todos os dedos e nenhum emprego, proponho a mesma indagação: do que vive Marina?
É sabido que seu marido, Fábio Vaz de Lima, ocupou até semana passada o cargo de secretário adjunto do Estado do Acre, governado por Tião Viana, do PT. Apesar das pressões para que saísse do governo petista, Fábio relutou até o último instante em abrir mão de emolumentos de R$ 18.200,00.
Um bom salário para sustentar a família, sem dúvida, ainda que num cargo de confiança dum mandato do ex-partido de sua esposa, agora espinafrado a cada vez que um microfone aparece. Mas nem de longe suficiente para patrocinar as idas e vindas da mulher. E irrisório para os voos de uma candidatura presidenciável.
A bem da verdade, cumpre informar que Marina Silva tem dois aportes econômicos de peso.
O primeiro é do grupo Natura de cosméticos cujo fundador e maior acionista, Guilherme Peirão Leal, foi candidato a vice-presidência em 2010. Há grande identificação entre o marketing da empresa e a ideologia eco-liberal da candidata. Na campanha passada, o grupo foi o grande doador da campanha, com valores oficiais de R$ 12 milhões.
O segundo maior doador em 2010, a cada dia assume maior protagonismo na campanha de 2014: Banco Itaú. Antes captadora de recursos para a "Rede Sustentabilidade",
na atual temporada, a herdeira Maria Alice "Neca" Setúbal é a
coordenadora de programa de governo de Marina Silva. Educadora por
profissão e bilionária por herança, um misto de Armínio Fraga e Glória
Kalil, Neca não hesita em se apresentar como porta-voz da candidatura.
A fada madrinha da fadinha da floresta vive num conto de fadas |
No ponto alto da entrevista concedida à Folha, Neca acena ao mercado e promete autonomia do Banco Central, ponto fundamental da campanha de
2014. A autonomia do BC é a senha para o capital tomar de vez o controle político do Brasil. Em vez de deixar a
política econômica em mãos de servidores públicos que respondem a uma autoridade
eleita, o que se quer é dar independência aos diretores do banco, que
passam a ter mandato e assim por diante. Independência de quem? De
autoridades que de uma forma ou outra expressam a soberania popular.
Caso fosse eleita, Marina Silva representaria um enorme retrocesso no desenvolvimento que o país experimenta durante os governos Lula e Dilma. Algo que não incomodava tanto na candidatura de Eduardo Campos, aparentemente um adepto de desenvolvimentismo lulista. A nós, contudo, duas preocupações se sobrepõem às teorias de "não-crescimento", que logo seria rejeitada pelo povo.
Primeiro, o enorme risco de não concluir o mandato, mergulhando o país na incerteza, nos mesmos moldes que Jânio Quadros e Fernando Collor. Na tripartição dos poderes, o poder legislativo é o mais importante. O executivo, como o nome diz, executa as determinações advindas da "vontade geral", representada na Câmara (ou Assembleia, Congresso, etc) e o Judiciário apenas media conflitos entre particulares, entre os poderes e entre particulares e os poderes constituídos. Não há nenhuma possibilidade de sustentação de um governo sem respaldo no Congresso. No Brasil temos dois exemplos. Pelo mundo afora, são inúmeros. O que viria depois é muito difícil prever, mas tenho minhas suspeitas sobre a quem interessaria o clima de instabilidade.
Segundo, a política econômica, com o Itaú assumindo o Banco Central e ditando as regras, permitindo ao sistema financeiro recuperar o controle absoluto da
política econômica, definindo a taxa de juros conforme análises e
projeções de instituições privadas que atuam no mercado. As consequências aos setores produtivos, à infra-estrutura em formação seriam desastrosas. Os EUA voltariam a nos ver como eterno dependente de seus recursos e como paraíso do capital especulativo.
Parafraseando Paulo Moreira Leite (que por sua vez parafraseou Paulo Francis): chega de intermediários! Itaú para presidente!
2 comentários:
Pois é, meu amigo. Não nos esqueçamos também que o vice da Marina, o parlamentar Beto Albuquerque, é ligado à setores do agronegócio. Consta que são grandes contribuidores das campanhas do gaúcho. Resta saber como Marina Silva faria para equilibrar sua ideia de sustentabilidade com os interesses do agronegócio.
Alias, essa tal sustentabilidade tem um forte cheiro de picaretagem e só contribui para despolitizar qualquer debate, afinal, quem pode em plena posse das faculdades mentais ser contra o planeta inteiro, os animaizinhos indefesos, os rios, os mares, as plantas? Ninguém. Não há política possível a partir do discurso de sustentabilidade.
Um aspecto que tem me ocorrido, ainda que secundario, eh a questao da fidelidade partidaria. Enquanto a discussao se desenvolve com gente reclamando que o mandato parlamentar pertence ao partido versus personalistas que querem levar o mandato pulando de galho em galho, secundados pelo subdesenvolvimento politico da sociedade (ah mas eu voto eh na pessoa!), eis que surge essa jabuticaba querendo levar o mandato PRESIDENCIAL na maleta. Na proxima oportunidade em que houver um debate sobre o tema, esse precedente serah o argumento definitivo para encerrar o assunto.
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