terça-feira, 28 de setembro de 2010

Quem vigia os vigilantes?

Na linha do post anterior sobre o quarto poder, eu me pergunto sobre se ainda há termos de relação amistosa entre o PIG e a futura presidenta Dilma Roussef. O nível da baixaria chegou a níveis alarmantes de torpeza e indecência. O curioso é que nem todos os representantes do andar de cima compraram a ideia do apocalipse anunciado com a eleição da candidata do PT, mas diversos representantes por procuração desse pessoal (notadamente o PIG e alguns figurões do alto escalão)se colocaram a serviço da difamação pura e simples.

Um traço de desfaçatez parece ajudar a azedar a relação : a odiosa falácia da insenção. Não me parece haver nada de errado se o JN ou a Veja ou o editorial da Folha ou qualquer outra porcaria do gênero deixasse claro aos seus consumidores que apoiam o José Serra e elencasse os seus motivos. Sabemos que entre os motivos estão pendores ideológicos, mas em grande medida tem a ver com fluxo de caixa e influência política nos destinos do país. Podemos não concordar com os motivos, mas sem dúvida seria mais honesto.

Existe no ideario político criado no Ocidente pós revoluções liberais do século XVIII XIX um fetiche da liberdade, embora não se saiba muito bem o que é essa tal liberdade. O PIG se coloca como defensor dessa condição. Embora me pareça que eles entendam que o povo deva ter liberdade apenas para consumir os produtos de seus anunciantes e votar de 4 em 4 anos nos seus candidatos, qualquer outra exercício de qualquer outra acepção da palavra é duramente criticado e combatido. Bom, o fato é que o PIG se arvora defensor perpétuo e inconteste dos valores democráticos, se coloca como vigilante. Mas uma pergunta incomoda a alguns: QUEM VIGIA OS VIGILANTES?

Já foi dito em outros blogs progressistas como o Conversa Afiada, por exemplo, que Dilma não é o Lula. Isso significa que Dilma pode não ter a mesma disposição que Lula para a contemporização com os seus detratores- um traço marcante da política brasileira. Ainda é um exercício de imaginação tentar prever como se dará a relação entre o PIG e futura presidenta. Os dois caminhos são possíveis: o PIG abaixar as armas frente uma esmagadora quantidade de votos que se anuncia, o que traduz em amplo apoio popular que pode eventualmente ser mobilizado em defesa de reformas; ou o PIG partirá para o confronto aberto como se deu na Venezuela Ambas as hipóteses guardam desdobramentos impossíveis de precisar agora, mas ambas são plausíveis.
Enquanto aguardamos os próximos acontecimentos: a vitória irretocável de Dilma e o naufrágio da coligação Demo-tucana, precisamos redobrar a atenção com relação aos movimentos do PIG nesses dias que antecedem a eleição.

Por fim, gostaria de postar uma livre tradução de um artigo sobre Dilma feito pelo semanário inglês The Independent mostrando um breve perfil seu o que a sua eleição representa para o país nesse momento:

A mulher mais poderosa do mundo será conhecida no próximo fim de semana. Muito vigorosa aos 63 anos, esta antiga líder da resistência a ditadura (que a torturou) se prepara para assumir o posto de presidente do Brasil.
Como chefe de Estado, a presidente Dilma Roussef excederá em importância a chanceler alemã Angela Merkel e a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton: seu país gigantesco com cerca de 200 milhões de habitantes regozija-se com a descoberta de milionários campos de petróleo. O crescimento econômico do pais rivaliza-e com o da China, algo que a Europa e os Estados Unidos apenas podem invejar.
Sua vitória amplamente predita, na eleição do próximo domingo, será saudada por milhões de eleitores. Marca o último suspiro do "estado de segurança nacional", um arranjo tramado pelos governos conservadores dos Estados Unidos e da Europa com o devido zelo para limitar reformas democráticas. Responsável por um nocivo status quo que manteve grande parte da população em absoluta pobreza enquanto favorecia amplamente a pequena elite ligada aos seus interesses.
A senhora Roussef, filha de um imigrante búlgaro e de uma professora, se aproveitou de fazer parte, como primeira ministra, do governo muito bem avaliado de Luis Inácio Lula da Silva, antigo líder sindical, mas com um histórico de determinação e sucesso (que inclui a aparente cura de um câncer linfático), esta esposa, mãe e avó está prestes a brilhar por ela mesma. As pesquisas demonstram a evolução de uma incontestável liderança nas intenções de voto - de mais de 50% comparado com menos de 30% - em cima de seu rival mais próximo, um desinteressante centrista chamado José Serra. Pouquíssimas pessoas duvidam que ela ocupará o palácio do Alvorada em Janeiro.
Assim como o presidente do vizinho Uruguai, José Mujica, A senhora Roussef não sente vergonha de seu passado como guerrilheira, o que incluiu combater os generais de plantão e cumprir pena como presa política. Quando criança, em Belo Horizonte, sonhava em ser bailarina, bombeiro e trapezista de circo. As freiras, em sua escola, a levaram, em um passeio de escola, a uma das áreas mais pobres de sua cidade para mostrar àquelas crianças a desigualdade existente entre a pequena classe mediam e a vastidão da pobreza. Ela se lembrou de quando um jovem pedinte bateu à porta da casa de sua família e ela rasgou ao meio uma nota e a dividiu com ele, sem saber que a nota deixara de ter valor.
(...)
A senhora Roussef pretende convidar o presidente Mujica do Uruguai para a sua posse. Os presidentes Evo Morales da Bolívia, Hugo Chavez da Venezuela e Fernando Lugo do Paraguai - outros bem sucedidos líderes latino americanos que sofreram, assim como ela, incessantes e impiedosas campanhas denigridoras por parte da mídia - também estarão lá. Será uma celebração da decência política - e do feminismo.

O texto completo pode ser lido em inglês na pagina: http://www.independent.co.uk/news/world/americas/the-former-guerrilla-set-to-be-the-worlds-most-powerful-woman-2089916.html



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