Copyleft por Agência Carta Maior, 09/09/2010
Vida, (falta de) paixão e morte dos tucanos
O PSDB nasceu de um grupo de políticos do PMDB basicamente de São Paulo que, derrotados e isolados pelo quercismo, resolveram sair do partido e fundar uma outra agremiação. Era integrado basicamente por cardeais paulistas – Montoro, Covas, FHC -, mais alguns de outras regiões – como José Richa, do Paraná, Tasso Jereissatti, do Ceará.
Na hora de dar um nome ao partido, vieram os impasses, até que surgiu a idéia de encampar a social democracia, sigla vaga no Brasil, apesar de que alguns – entre eles especialmente o Montoro – se definiam como democrata cristãos. Escolheu-se o tucano como símbolo, para tentar dar-lhe uma raiz brasileira.
Era o ano de 1988, a social democracia já estava passando por transformações que mudariam sua natureza. De partido geneticamente vinculado ao Estado de bem estar social, começava a aderir à onda neoliberal, primeiro com Mitterrand, na França, em seguida com Felipe Gonzalez na Espanha. Quando os tucanos aderiram à social democracia, era quando esta já havia aderido à moda neoliberal.
Na própria América Latina Ação Democrática da Venezuela, os socialistas chilenos, o peronismo, o PRI mexicano – que pertenciam à corrente social democrata – já tinham aderido ao neoliberalismo. Foi a essa versão da social democracia que aderiu os PSDB.
Não foi essa a única diferença dos tucanos em relação ao que tinham sido historicamente os partidos social democratas. A social democracia tinha sido uma vertente da esquerda, junto aos comunistas, ambos com profundas raízes sociais, em particular no movimento operário e no movimento sindical. Há ainda uma rede internacional de centrais sindicais ligadas à social democracia.
Nada mais alheio aos tucanos. Nem o PMDB tinha presença sindical, menos ainda eles, que eram um grupo de políticos parlamentares que tinha em Mario Covas sua principal expressão. No entanto, já na eleição presidencial de 1989 aderiram a um “choque de capitalismo” que o Brasil precisaria, como prenuncio de caminhos ideológicos que os tucanos trilhariam no futuro próximo.
A morte de Covas deixou o espaço aberto para outros lideres tucanos, FHC e Serra disputavam a preferência, diante da incompetência de outros lideres regionais, como Tasso Jereissatti, para se projetar nacionalmente. Os tucanos terminaram sendo um partido eminentemente paulista.
Quando FHC assumiu o projeto neoliberal, com o Plano Real, olhava para a França e a Espanha, suas referencias ideológicas, para acreditar que esse seria o caminho da “modernização” no Brasil. FHC se deslumbrou com a globalização – “o novo Renascimento da humanidade” – e a vitoria eleitoral de 1994 lhe confirmou que a via era abandonar o Estado desenvolvimentista pelo da estabilidade monetária e do ajuste fiscal.
Foi o auge do PSDB e o começo do seu fim. Sem lugar para políticas sociais, acreditando que o simples controle inflacionário levaria à distribuição de renda, teve um efêmero sucesso no primeiro governo FHC, mas saiu derrotado nas eleições de 2002, de 2006 e agora de 2010.
Foi uma vida breve, uma glória efêmera e uma morte prematura, para quem nasceu supostamente como social democrata, assumiu o projeto neoliberal no Brasil e foi repudiado pelo voto popular. Nasceu do anti-quercismo e termina indo ao fundo, abraçado com Quercia. Triste fim de um partido das elites do centro-sul, repudiado pelo governo mais popular que o Brasil já teve.
Postado por Emir Sader às 06:16
Vida, (falta de) paixão e morte dos tucanos
O PSDB nasceu de um grupo de políticos do PMDB basicamente de São Paulo que, derrotados e isolados pelo quercismo, resolveram sair do partido e fundar uma outra agremiação. Era integrado basicamente por cardeais paulistas – Montoro, Covas, FHC -, mais alguns de outras regiões – como José Richa, do Paraná, Tasso Jereissatti, do Ceará.
Na hora de dar um nome ao partido, vieram os impasses, até que surgiu a idéia de encampar a social democracia, sigla vaga no Brasil, apesar de que alguns – entre eles especialmente o Montoro – se definiam como democrata cristãos. Escolheu-se o tucano como símbolo, para tentar dar-lhe uma raiz brasileira.
Era o ano de 1988, a social democracia já estava passando por transformações que mudariam sua natureza. De partido geneticamente vinculado ao Estado de bem estar social, começava a aderir à onda neoliberal, primeiro com Mitterrand, na França, em seguida com Felipe Gonzalez na Espanha. Quando os tucanos aderiram à social democracia, era quando esta já havia aderido à moda neoliberal.
Na própria América Latina Ação Democrática da Venezuela, os socialistas chilenos, o peronismo, o PRI mexicano – que pertenciam à corrente social democrata – já tinham aderido ao neoliberalismo. Foi a essa versão da social democracia que aderiu os PSDB.
Não foi essa a única diferença dos tucanos em relação ao que tinham sido historicamente os partidos social democratas. A social democracia tinha sido uma vertente da esquerda, junto aos comunistas, ambos com profundas raízes sociais, em particular no movimento operário e no movimento sindical. Há ainda uma rede internacional de centrais sindicais ligadas à social democracia.
Nada mais alheio aos tucanos. Nem o PMDB tinha presença sindical, menos ainda eles, que eram um grupo de políticos parlamentares que tinha em Mario Covas sua principal expressão. No entanto, já na eleição presidencial de 1989 aderiram a um “choque de capitalismo” que o Brasil precisaria, como prenuncio de caminhos ideológicos que os tucanos trilhariam no futuro próximo.
A morte de Covas deixou o espaço aberto para outros lideres tucanos, FHC e Serra disputavam a preferência, diante da incompetência de outros lideres regionais, como Tasso Jereissatti, para se projetar nacionalmente. Os tucanos terminaram sendo um partido eminentemente paulista.
Quando FHC assumiu o projeto neoliberal, com o Plano Real, olhava para a França e a Espanha, suas referencias ideológicas, para acreditar que esse seria o caminho da “modernização” no Brasil. FHC se deslumbrou com a globalização – “o novo Renascimento da humanidade” – e a vitoria eleitoral de 1994 lhe confirmou que a via era abandonar o Estado desenvolvimentista pelo da estabilidade monetária e do ajuste fiscal.
Foi o auge do PSDB e o começo do seu fim. Sem lugar para políticas sociais, acreditando que o simples controle inflacionário levaria à distribuição de renda, teve um efêmero sucesso no primeiro governo FHC, mas saiu derrotado nas eleições de 2002, de 2006 e agora de 2010.
Foi uma vida breve, uma glória efêmera e uma morte prematura, para quem nasceu supostamente como social democrata, assumiu o projeto neoliberal no Brasil e foi repudiado pelo voto popular. Nasceu do anti-quercismo e termina indo ao fundo, abraçado com Quercia. Triste fim de um partido das elites do centro-sul, repudiado pelo governo mais popular que o Brasil já teve.
Postado por Emir Sader às 06:16
4 comentários:
Comentário extraído da internet (o autor se identifica com Torquemada)
Análise perfeita sobre o moribundo PSDB, a qual eu me atreveria a acrescentar apenas duas coisas, talvez desimportantes.
A primeira é que o PSDB nasceu como uma alternativa bacaninha e charmosa para a elite de esquerda dos Jardins e dos demais bairros nobres da cidade de São Paulo, característica que logo se espalhou por todo Estado, ainda mais porque na época da sua fundação uma outra agremiação, um tal de Partido dos Trabalhadores, já tinha angariado a simpatia da maioria dos esquerdistas autênticos.
Mas, sabe como é... Gente fina é outra coisa e, como desde que o mundo é mundo sempre existiram as Elianes Catanhedes da vida, era preciso que fosse um partido de esquerda, mas uma esquerda cheirosa e não aquela fedida, cheirando a suor e com raízes no operariado de São Bernardo do Campo.
Mas, como o PSDB nunca passou daquilo que nos anos de ditadura se chamava "esquerda festiva", aos poucos passou a ser vista com bons olhos pela direta, até porque se dizer de direita logo após a ditadura não pegava bem. Era vergonha pra mais de metro. Daí a crença de há muito não existe mais distinção entre esquerda e direita no Brasil, o que vem a ser rematada besteira, pois existe sim, e isso fica evidente em períodos eleitorais.
A segunda coisa é que o PSDB, exatamente pelo assédio que recebeu da direita (e docemente constrangida aceitou), em pouco tempo perdeu o rumo e se transformou no símbolo da indefinição, a ponto da imprensa, na época, se referir aos tucanos como gente "em cima do muro", complexo atávico de indefinição que eles até hoje não conseguiram se livrar, bastando notar a expressão "biruta de aeroporto" recentemente usada pela ex-ministra Dilma para demonstrar a insegura e errática campanha do Serra.
Outro comentário interessante, do amigo Bonifa:
Ótimo artigo, mas a gênese dos tucanos não é simples assim. Está carregada de uma ideologia tipicamente paulista, históricamente anti-sindical, que retoma os postulados da Velha República tão fielmente como se fossem um rosário de dogmas. Daí a tentativa de por fim à era Vargas, o desprezo ao planejamento, a opção pelas intervenções pontuais do Estado em lugar da universalização de políticas públicas. A relativização ética das ações políticas. A substituição, na predestinação histórica de Max Weber, da suposta raça ariana ou dos judeus ou dos cristãos positivos pela simples paulistanidade. Falta um forte embasamento histórico para que se compreenda este fenômeno que está dando seus últimos suspiros no Brasil, a Era dos Tucanos.
Amei esse deselance! Ambos já se vão muito tarde p/o bem do Brasil!
Na minha opinião, o PSDB nasceu para ser um partido mais equilibrado do ponto de vista político-ideológico. Um contra ponto ao radicalismo da esquerda metalúrgica, que fundou o PT.
Traduzindo: o PT de hoje, é o PSDB de ontem. Uma social-democracia que não combate o capitalismo e preserva os direitos adquiridos pela longa jornada das lutas dos trabalhadores (ferias, carteira assinada, regul. de jornada).
Infelizmente, as fontes de financiamento do PSDB foram o capital especulativo, financeiro. Os "cabeças de planilha" conseguiram engolir toda a capacidade de transformação que o PSDB trazia consigo, inclusive, isolando seus melhores quadros, comprometidos com a justiça social, e as mudanças estruturais que o Brasil precisa.
O resultado não foi outro, tornou-se uma legenda de centro-direita, enterrando seus ideais de fundação. Da mesma forma, ocorreu com o PT, que abandonou a luta pelo Socialismo, e encampou a social-democracia, que havia ficado órfã, na década de 90-00.
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