sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CEGUEIRA NEOLIBERAL




Rodrigo Constantino, em 21 de fevereiro de 2006, escreveu o seguinte excerto:

"A Irlanda vem experimentando um choque liberal há anos, com redução de gastos públicos, abertura comercial e maior liberdade econômica. O país já está em terceiro lugar no ranking de liberdade econômica do Heritage Foundation, perdendo apenas para Cingapura e Hong Kong. A economia apresentou crescimento superior a 7% ao ano desde 1993. O país conta com uma das mais favoráveis políticas para investimentos estrangeiros do mundo, assim como ambiente bastante amigável para os negócios. Os impostos corporativos foram reduzidos para 12,5%, um dos mais baixos da Europa. A Irlanda se tornou um enorme ímã de investimentos de americanos e ingleses, que são também os maiores parceiros comerciais do país. A tarifa média ponderada para importação é de apenas 1,3%, bastante inferior a do Brasil, acima de 13%. Não existe controle de preços por parte do governo. A proteção à propriedade privada é forte, e o sistema legal é transparente. Em resumo, a Irlanda é um ótimo exemplo das reformas defendidas pelos liberais.

Os resultados são claros. Fora o excelente crescimento econômico já citado, a renda per capita está chegando perto dos US$ 40 mil, uma das maiores do mundo. O desemprego é baixo, perto dos 5%. Os indicadores sociais estão melhorando a cada ano. O gasto com educação não é muito diferente do brasileiro, em cerca de 4,3% do PIB. O que faz a diferença mesmo é o grau de liberdade econômica. A Irlanda vem reduzindo o tamanho do Estado, assim como sua interferência na economia. Vem abrindo seu comércio, atraindo investimentos estrangeiros, tratando bem os empresários e adotando o império da lei. Exatamente a receita liberal. E com isso, vem colhendo os doces frutos dessas medidas.

Como ficou claro, a Irlanda de Bono está na contramão do Brasil de Lulla. Aqui, o Estado é cada vez maior, mais inchado e mais interventor. Falta muito para chegarmos ao grau de abertura comercial da Irlanda. Falta muito para chegarmos ao ambiente amistoso para os negócios. Falta muito para termos um império da lei que respeite as propriedades privadas. Enfim, falta muito para o Brasil virar uma Irlanda."

Essa cantilena era o pano de fundo para achincalhar o presidente do Brasil e a visita que Bono Vox, irlandês, do U2, o fez.
Menos de cinco anos depois, o vocabulário mais acadêmico diria que "mudamos de paradigma". Vejam a notícia de hoje, 26 de novembro de 2010, acerca da real situação da economia que até outro dia se apresentava como farol da modernidade liberal:

"Em troca do socorro governamental, todos os cinco maiores bancos da Irlanda serão total ou parcialmente nacionalizados, com participações que vão de 51% a 100%. A estimativa vem sendo feita por analistas econômicos da agência Fitch e por autoridades do país. Já socorridos com 46 bilhões de euros no auge da crise, em 2008, o sistema financeiro da Irlanda deverá receber uma nova injeção de recursos, de cerca de 12 bilhões de euros, conforme análises otimistas.

Todo o oligopólio do sistema financeiro irlandês está incluído. Já detentor de 100% das ações do Anglo Irish Bank desde 2009 - quando a instituição foi nacionalizada em troca de um empréstimo de 30 bilhões de euros, o equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país -, o governo de Brian Cowen também deve superar os 90% de ações no Allied Irish Bank (AIB), do qual hoje detém 18% dos títulos. Além dos dois, o Estado também deve assumir o controle do Bank of Ireland, elevando sua participação acionária dos atuais 34% para mais de 50%.

AIB e Bank of Ireland perderam 80% de seus valores de mercado nas bolsas de valores desde a eclosão da falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008. As três instituições dividem o mercado de 4,4 milhões de clientes do país. Dois outros bancos de financiamento imobiliário, o EBS e o Irish Nationwide (INBS), também já são controlados pelo poder público, que detém 51% das ações das duas empresas.

A nacionalização, entretanto, vai custar caro à Irlanda. Só o AIB pode receber até 7 bilhões de euros dos 85 bilhões de euros em recursos prometidos pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). E nem a injeção de recursos é capaz de garantir a perenidade da instituição. Desde janeiro, o banco já perdeu 13 bilhões de euros em depósitos de seus clientes. Levantamento da agência de risco Moody's avalia a necessidade de recapitalização dos bancos irlandeses entre 8 bilhões de euros e 12 bilhões de euros."

Comparação descaradamente copiada do Esquerdopata.

Nenhum comentário: