terça-feira, 2 de novembro de 2010

O LEGADO DA CAMPANHA DE J. SERRA

Ao contrário da imprensa comercial, retornaremos à ordem natural das coisas. Primeiro, falaremos sobre o derrotado. Depois, sobre a vitoriosa. É só no Brasil do PIG que o candidato perdedor tem palanque para suas lamúrias APÓS a presidente eleita fazer um discurso de grandeza, de integração, de acordo com a "liturgia" do cargo de estadista.

Eu poderia fazer inúmeras análises sobre os números que trouxemos nos posts anteriores. Nos Estados onde Serra ganhou, o fez por pequena margem, exceto Roraima e Acre*. Onde Dilma venceu, colocou no mínimo 17% de vantagem, exceto Distrito Federal e Alagoas.
Apesar de ter construído uma sólida vantagem de 15% na região Norte, e de incríveis 41% na Região Nordeste, Dilma ainda venceria a eleição desconsiderando estes 16 entes federativos.
Levando em conta apenas as regiões Sul (RS, SC e PR), Sudeste (SP, RJ, MG e ES) e Centro-Oeste (MS, MT, GO e DF) a vitória de Dilma seria apertada, com os seguintes números:
Dilma Rousseff: 33.247.499 votos
José Serra: 32.972.450 votos
Ainda chama a atenção o fato de que Serra vence em 8 destes 11 estados; seu melhor desempenho é em Santa Catarina, onde abre 13% de frente. Mas onde Dilma vence, MG e RJ, são vitórias acachapantes.

* Não sei explicar o porquê da votação de Serra tão expressiva no AC e RR. Suponho que no AC tenha a ver com a postura da família Vianna e com a dissidência de Marina Silva. Já em RR, um dos deputados eleitos com maior votação foi Paulo Cesar Quartiero, que se armou até os dentes contra a demarcação da reserva Raposa do Sol. Ele fez campanha para Serra. Sem falar que o Estado convive endemicamente com a compra de votos.



Mas, deixando de lado a frieza dos números, salta aos olhos o apartheid social, a trincheira que foi cavada separado dois "Brasis" (palavras do próprio derrotado, que na campanha falava em união, mas sempre investiu na segmentação). Desde 1974, no célebre neologismo de Edmar Bacha, o Brasil é a Belíndia da distribuição de renda: uma pequena e rica Bélgica e uma imensa e pobre Índia.
A campanha de José Serra se articulou em duas frentes. Uma, visível, nas inserções publicitárias e no horário eleitoral operava com paradoxos ("Não se deixe levar pelos boatos"), constatações sem lastro ("Foi o melhor deputado da Constituinte"), estímulo ao medo ("Ela não vai dar conta") e em fina sintonia com o PIG (chegaram ao cúmulo de antecipar uma capa da Veja). A outra, subterrânea, urdida no esteio de preconceitos inconfessáveis, de cor, classe social, origem e religiosidade. Temas supérfluos emergiram do esgoto em detrimento da verdadeira agenda política. Afinal de contas, o que é um presidente da República: é alguem que palpita sobre aborto e fé cristã ou é o chefe do Poder Executivo da nação? É um aiatolá ou um dirigente laico?

A incitação da irracionalidade na disputa política descambou para o ódio puro e simples. Há relatos de bullying nas escolas particulares de São Paulo sobre alunos cujos pais fossem eleitores da Dilma. O antipetismo cresceu e se associou a grandes setores da classe média, alienada e manipulada pelo PIG e, na parte Bélgica do país, o Brasil rachou.

Mauro Carrara tratou com propriedade dessa parte obscura da campanha do PSDB no artigo "Os segredos internacionais por trás da 'Revolução do Ódio' no Brasil", enumerando inclusive os mandamentos operativos que guiaram as ações tramadas por debaixo dos panos. O próprio ANTIPIG modestamente compilou no seu "COMBATE DE IDÉIAS - PARTE IV", o falso moralismo revelado nas denúncias de que uma gráfica do PSDB imprimia panfletos apócrifos, para serem distribuídos nas Igrejas, contra Dilma Rousseff e o PT.
No rescaldo do resultado das eleições, o ânimos oposicionistas não se abrandaram. É o que reporta Leonardo Sakamoto, no "
Breve comentário sobre o preconceito no Twitter". Uma mistura de rancor, amargura, incompreensão do país como República Federativa faz destilar o preconceito mais criminoso que a campanha serrista patrocinou. O jornalista relata:
"Ao mesmo tempo, colegas jornalistas receberam spams que defendiam a necessidade de separar o Estado de São Paulo e a Região Sul do restante do país por conta do resultado da votação. Nada sobre juntar quem não concorda com o governo eleito e fazer uma oposição firme, programática e responsável. Até porque, como sabemos, a tática do 'perder e levar a bola embora' é super madura e fortalece a democracia. Tudo bem, é meia dúzia de pessoas que acha que 'São Paulo é meu país', mas estes reproduzem em profusão argumentos na internet, também estranhos e mais palatáveis, feito Gremlins."
Mas é nos comentários que se percebe a disposição para manter o clima de instabilidade, de provocação. Um tal Fernando Lopes assim escreve:
"Vir dizer que a campanha da oposição é que foi agressiva? A campanha cheia de ódio foi a do presidente Lula, mandando extirpar partidos políticos, chamando o atual governador de sujeito, babando completamente descontrolado, tocado por algo mais que simplesmente emoção, algo meio etílico… Botando ricos contra pobres, nordestinos contra paulistas e sulistas, minorias étnicas contra a maioria branca, cristãos contra ateus disfarçados de defensores de Estado Laico… mentira destes cabras a gente até TEM de engolir mas a de gentinha puxa-saco, ah, tenha dó!"
Um outro leitor, Cláudio H. Medeiros de Andrade, assim lhe responde:
"Fernando, lembra daquela história do sujeito que estava com merda no bigode e achava que o mundo fedia? Pois é, são seus olhos vidrados que vêem tudo ao contrário."
A quem, o inconformado e beligerante Fernando Lopes replica apelando:
"Claudio, sua tática é a dos nazistas travestidos de almofadinhas. São pessoas como você que, tentando torturar a verdade, progridem em sua labuta que é a de impor sua opinião e mais que isto, criar a mentira absoluta, aquele que deve ser a nova verdade, como todo regime autoritário que com certeza você deve admirar. Não me confunda com sua família e com a sua trempe, nem me dirija a palavra, usando de expressões que devem lhe ser bem comuns e caras… senão vou ter a certeza de que faz suas necessidades na mesa e se alimenta na privada."
Como se vê, esse é o legado que José Serra deixa não só para os seus eleitores, mas para o Brasil. Cultivando preconceitos, oferecendo farto campo para eles crescerem, estimulando a discórdia sob o pretexto de vencer uma eleição a qualquer preço, conseguiu sair menor do que entrou na campanha eleitoral, como já disse Lula. Acrescentamos que sai menor inclusive que os valores que estão embutidos nestes preconceitos. Para terminar, a última reflexão do artigo de Sakamoto:
"... Até porque, como todos sabemos e o preconceito rastaquela paulistano reafirma diariamente, os nordestinos em São Paulo estão apenas em ocupações subalternas. Seja na superfície, através de risinhos, ironias e preconceitos, seja estruturalmente, via baixos salários e uma desigualdade gritante, já passamos o recado de quem manda e quem obedece. Direitos sociais e econômicos já são sistematicamente negados. Agora passamos a dizer não também aos direitos políticos? Qual o próximo passo? Revogar a Lei Áurea?"




Um comentário:

Relton Leandro disse...

Eis ai o respeito à democracia que a elite financiadora da candidatura do Serra pregaram durante a campanha e continuam após o resultado final da eleição, se tivessem ganhado elogiariam o povo do norte e do nordeste como perderam agora os tratam como os nazistas tratavam os judeus.
Nazifascistas covardes e golpistas.