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Essa eleição fez emergir do "submundo da política" (expressão lapidar do apedeuta) outros interesses, outrora tachados de mesquinhos e/ou inconfessáveis. Simbolizando a ideologia que mistura o que há de pior em termos de preconceito - xenofobia, racismo, aristocracismo tardio e deslocado, enoclofobia - Mayara Petruso encarna o ideal da "eugenia paulista", uma suposta "POI", resultado do amálgama das três raças - branco, negros e índios - como de resto, todo o Brasil, mas que atingiu excelência em termos culturais e evolutivos, e agora deve tomar as rédeas do destino de todo povo brasileiro, purgando-o da miscigenação e remindo-o dos sangue impuro de seus ancestrais indignos.
Mayara foi barbaramente defendida em dois editorais na Folha de São Paulo. Na quinta, dia 11, Leandro Narloch assina o nazista "Sim, eu tenho preconceito", justificando o injustificável e fazendo a apologia do preconceito contra "cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente", "com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país" e "quem insiste em pregar o orgulho de sua origem", entre outras baboseiras.
Mais longe foi Janaína Conceição Paschoal, advogada e professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Seu texto tem como título “Em defesa da estudante Mayara”, publicado no matutino do dia 12. O cúmulo foi atribuir a Lula (!) a responsabilidade pelas declarações da "Patricinha Fascista", supostamente motivadas oposição de regiões promovidas pelo atual governo: "Mayara é um resultado da política separatista há anos incentivada pelo governo federal".
Mayara, Leandro e Janaína são estão sozinhos: Ju Tedesco aí ao lado (clique na imagem para ampliar) vem corroborar e tornar mais agudas as posições até então demonstradas. Daqui uns dias, eles, que já não têm vergonha de pleitear a dissolução da União, clamarão pela revogação do sufrágio universal e - mais adiante - da Lei Áurea.
Mayara foi barbaramente defendida em dois editorais na Folha de São Paulo. Na quinta, dia 11, Leandro Narloch assina o nazista "Sim, eu tenho preconceito", justificando o injustificável e fazendo a apologia do preconceito contra "cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente", "com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país" e "quem insiste em pregar o orgulho de sua origem", entre outras baboseiras.
Mais longe foi Janaína Conceição Paschoal, advogada e professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Seu texto tem como título “Em defesa da estudante Mayara”, publicado no matutino do dia 12. O cúmulo foi atribuir a Lula (!) a responsabilidade pelas declarações da "Patricinha Fascista", supostamente motivadas oposição de regiões promovidas pelo atual governo: "Mayara é um resultado da política separatista há anos incentivada pelo governo federal".
Mayara, Leandro e Janaína são estão sozinhos: Ju Tedesco aí ao lado (clique na imagem para ampliar) vem corroborar e tornar mais agudas as posições até então demonstradas. Daqui uns dias, eles, que já não têm vergonha de pleitear a dissolução da União, clamarão pela revogação do sufrágio universal e - mais adiante - da Lei Áurea.
Patricinha fascista
A estupidez está sempre ao alcance de todos. Mayara Petruso, patricinha paulista, estudante de direito, saiu do anonimato para a fama, via Twitter, graças a um coice na inteligência nacional.
Indignada com a vitória de Dilma Rousseff, a moça disparou este petardo: "Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado. Tinham que separar o Nordeste e os bolsas-vadio do Brasil (...) Construindo câmaras de gás no Nordeste, matando geral". No Facebook, a burrinha racista se atolou um pouco mais: "Afunda, Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar vagabundos que fazem filhos pra ganhar bolsa 171". Mayara já perdeu o emprego no escritório onde trabalhava e sofrerá ação judicial protocolada pela OAB.
Alguns jovens universitários paulistas têm revelado um grau superior de idiotice. Depois da turminha que hostilizou uma guria por causa da sua minissaia, apareceu o bando do "rodeio das gordas", propondo tratar meninas obesas como animais. E agora entra em cena a tal Mayara. O escândalo maior é imaginar que isso representa uma opinião média difundida na Internet. Como será que a mulinha Mayara explica a vitória de Dilma em Minas Gerais? Achar que as ajudas sociais são incentivos à vagabundagem é típico de uma elite primitiva ou de uma classe média ignorante. Qualquer país civilizado, a começar por França, Alemanha, Inglaterra e, evidentemente, países escandinavos, oferece mais ajudas sociais que o Brasil. Não adianta ir à Europa só para comprar bolsas Vuitton. É preciso espiar o cotidiano.
Quem não recebeu e-mails dizendo que Dilma não podia ser candidata por ter nascido na Bulgária? Quantos analistas têm por aí sugerindo que os nordestinos são subeleitores que votaram com o estômago? Quando um empresário escolhe um candidato seduzido pela possibilidade de redução de impostos, o que é legítimo, não se trata de voto por interesse? Não é voto com o bolso? Quando ruralistas votam num candidato na esperança de conseguir mais incentivos, o que é comum, não é voto interesseiro? Mayara não deixa de ser o produto de uma estratégia perigosa, a divisão ideológica entre bem e mal. Foi essa perspectiva, cara ao vice Índio da Costa, que José Serra adotou. A revista Veja e o jornal Estado de S. Paulo deram aval a essa idiotice retrógrada. Uau!
O PSDB, que nasceu pretendendo ser moderno e racional, podia mais. Veja, que se acha mais moderna do que os modernos, acabou por produzir leitores Mayara. Isso não tem a ver com partidarismo como imaginam os mais simplórios ou ideológicos. Eu jamais terei partido. Meu único capital é a independência selvagem. Sou a favor do voto de castidade partidária para jornalistas. Tudo pela liberdade de dizer que quem acha o Bolsa-Família um incentivo à vadiagem pensa como Mayara. Esse foi o principal erro tucano na campanha eleitoral: ter guinado à direta para tentar seduzir as Mayaras, que arrastaram um intelectual progressista como Serra para o reacionarismo rasteiro do Estadão e da Veja. Mayaras, nunca mais!
Juremir Machado da Silva
Artigo publicado no Correio do Povo de 5/11/2010
A estupidez está sempre ao alcance de todos. Mayara Petruso, patricinha paulista, estudante de direito, saiu do anonimato para a fama, via Twitter, graças a um coice na inteligência nacional.
Indignada com a vitória de Dilma Rousseff, a moça disparou este petardo: "Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado. Tinham que separar o Nordeste e os bolsas-vadio do Brasil (...) Construindo câmaras de gás no Nordeste, matando geral". No Facebook, a burrinha racista se atolou um pouco mais: "Afunda, Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar vagabundos que fazem filhos pra ganhar bolsa 171". Mayara já perdeu o emprego no escritório onde trabalhava e sofrerá ação judicial protocolada pela OAB.
Alguns jovens universitários paulistas têm revelado um grau superior de idiotice. Depois da turminha que hostilizou uma guria por causa da sua minissaia, apareceu o bando do "rodeio das gordas", propondo tratar meninas obesas como animais. E agora entra em cena a tal Mayara. O escândalo maior é imaginar que isso representa uma opinião média difundida na Internet. Como será que a mulinha Mayara explica a vitória de Dilma em Minas Gerais? Achar que as ajudas sociais são incentivos à vagabundagem é típico de uma elite primitiva ou de uma classe média ignorante. Qualquer país civilizado, a começar por França, Alemanha, Inglaterra e, evidentemente, países escandinavos, oferece mais ajudas sociais que o Brasil. Não adianta ir à Europa só para comprar bolsas Vuitton. É preciso espiar o cotidiano.
Quem não recebeu e-mails dizendo que Dilma não podia ser candidata por ter nascido na Bulgária? Quantos analistas têm por aí sugerindo que os nordestinos são subeleitores que votaram com o estômago? Quando um empresário escolhe um candidato seduzido pela possibilidade de redução de impostos, o que é legítimo, não se trata de voto por interesse? Não é voto com o bolso? Quando ruralistas votam num candidato na esperança de conseguir mais incentivos, o que é comum, não é voto interesseiro? Mayara não deixa de ser o produto de uma estratégia perigosa, a divisão ideológica entre bem e mal. Foi essa perspectiva, cara ao vice Índio da Costa, que José Serra adotou. A revista Veja e o jornal Estado de S. Paulo deram aval a essa idiotice retrógrada. Uau!
O PSDB, que nasceu pretendendo ser moderno e racional, podia mais. Veja, que se acha mais moderna do que os modernos, acabou por produzir leitores Mayara. Isso não tem a ver com partidarismo como imaginam os mais simplórios ou ideológicos. Eu jamais terei partido. Meu único capital é a independência selvagem. Sou a favor do voto de castidade partidária para jornalistas. Tudo pela liberdade de dizer que quem acha o Bolsa-Família um incentivo à vadiagem pensa como Mayara. Esse foi o principal erro tucano na campanha eleitoral: ter guinado à direta para tentar seduzir as Mayaras, que arrastaram um intelectual progressista como Serra para o reacionarismo rasteiro do Estadão e da Veja. Mayaras, nunca mais!
Juremir Machado da Silva
Artigo publicado no Correio do Povo de 5/11/2010
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