sexta-feira, 12 de novembro de 2010

PARA PENSAR

No centro da ideologia dominante hoje há um mito, chamado a glorificar o Ocidente e, em particular, seu país-guia. É o mito segundo o qual o liberalismo teria gradualmente se transformado, por um impulso puramente interno, em democracia, e numa democracia cada vez mais ampla e mais rica. Para nos darmos conta de que se trata de um mito, basta uma simples reflexão. Da democracia como hoje a entendemos, faz parte em qualquer caso o sufrágio universal, cujo advento foi por muito tempo impossibilitado pelas cláusulas de exclusão estabelecidas pela tradição liberal em detrimento dos povos coloniais e de origem colonial, das mulheres e dos não-proprietários. E estas cláusulas foram por muito tempo justificadas, assimilando os excluídos a “bestas de carga”, a “instrumentos de trabalho”, a “máquinas bípedes” ou, na melhor das hipóteses, a “crianças”.


O mito hoje dominante também quer fazer crer que democracia e livre mercado se identificam. Na realidade, durante séculos, o mercado do Ocidente liberal comportou a presença da chattel slavery, da escravidão-mercadoria: os antepassados dos atuais cidadãos negros foram, no passado, mercadorias a serem vendidas e compradas, e não consumidores autônomos. E precisamente a história dos dois países em que a tradição liberal está mais profundamente enraizada se mostra inextricavelmente entrelaçada com a história do instituto da escravidão. Um dos primeiros atos de política internacional da Inglaterra liberal, nascida da Gloriosa Revolução de 1688-1689, foi arrancar da Espanha, com a paz de Utrecht, o Asiento, o monopólio do tráfico negreiro. Do mesmo modo, dever-se-ia saber que só em 1865 foi abolida nos Estados Unidos a escravidão dos negros, os quais, por outro lado, mesmo depois de tal data, continuaram por muito tempo a ser submetidos a formas de servidão ou semi-servidão.


Domenico Losurso in Democracia ou Bonapartismo

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