segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

TRAIÇÃO

A declaração da presidenta Dilma, na manhã de hoje, instada por repórteres que ela mesma convidou para compartilhar um café da manhã, encerra um capítulo da política. Pelo menos para mim.

Provocada a repercutir os boatos sobre a abertura do capital da Caixa Econômica Federal, Dilma confirmou a notícia, ponderando somente que é um "processo que demora".

O AntiPIG nasceu da inconformidade com a imprensa dominante brasileira, que se assumiu como partido de oposição e passou a fazer uma cobertura perniciosa dos  atos do governo brasileiro. Lá em 2010 nos chamava a atenção o monopólio exercido por um grupo de empresas com flagrantes interesses em interromper o ciclo petista de poder, iniciado com Lula e continuado por Dilma.

Passamos a enxergar o inverso do pensamento crítico no PIG: se vinha do governo, não prestava. Dólar em alta demonstrava equívoco do governo; dólar em baixa, decisão errada do governo. Por fim, tentávamos contrapor notícias positivas, que demonstravam vitórias brasileiras ou de brasileiros diante do cenário catastrófico e pré apocalíptico pintado em cores berrantes nos quadros do jornalismo protofascista, alimentado pelo PIG.

Contudo, não nos cegamos para questões problemáticas. Logo após a eleição de 2010, republicamos um artigo de Gilberto Maringoni intitulado "As relações ambíguas do Governo com a Mídia" cuja veracidade explodiu na nossa cara recentemente, com a cobertura da eleição de 2014 e a revelação do bolsa-PIG. Ainda assim, por termos alguma vivência nos meandros da política, sabíamos da ingenuidade de esperar pureza angelical nos homens que lidam com a coisa pública. Em suma, apesar das contradições internas, por ser forçosamente uma coalizão em permanente tensão, em correlação de forças, acreditávamos que esse governo poderia realizar o projeto de um grande país. Reitero: apesar das contradições internas.

Para esse projeto víamos a Caixa Econômica Federal como determinante no papel das políticas públicas com corte financeiro. Uma empresa pública, que durante o período FHC se tornou banco múltiplo, além das suas consagradas atribuições de poupança popular e financiadora da casa própria.

A Caixa financia diretamente o salto qualitativo na infra-estrutura do país, aportando recursos para grandes obras que nos foram negadas por duas décadas: estradas, pontes, usinas de força, portos, aeroportos. Linhas de crédito conjugadas à expertise do corpo técnico da empresa já consagrado no saneamento e na construção civil.

E por ter sido historicamente o banco dos pobres, a sede do penhor, a cara da poupança do brasileiro, a CAIXA atuava com ainda mais ênfase na promoção da cidadania, permitindo a bancarização das classes marginalizadas, contribuindo para formalização dos empregos (o FGTS é outra atribuição da CAIXA), estendendo sua rede de atendimento para o pagamento dos benefícios sociais e a transferência direta de renda para a população.

Com isso, a CAIXA enfrentaria as duas grandes chagas da civilização brasileira: o combate, através de políticas governamentais sistemáticas da iniquidade denominada desigualdade social, e solucionaria o problema do nosso deficit logístico para o escoamento da produção, o acesso aos mercados, a integração do país e o crescimento do mercado interno. A Caixa é a prova cabal de que a intervenção estatal na economia, e não a mão invisível do mercado, é que regula e orienta o desenvolvimento da nação.

Porém, com a fala de hoje, Dilma abre mão disso. Em 23 de outubro, o discurso era feito em outro sentido, se comprometendo a fortalecer as instituições financeiras públicas, "que são indispensáveis para a economia brasileira e um patrimônio da sociedade". Pior, abre mão do futuro, porque depois que os especuladores avançarem suas garras no patrimônio brasileiro, nunca mais, vide Petrobras. O que restará? Os sindicatos de trabalhadores pedirão ao governo que recompre as ações da empresa?

É o fim de um modelo desenvolvimentista de capitalismo. Troca-se a lógica de nação auto-determinda pela do mercado. É quase como sugeriu Paulo Henrique Amorim, quando afirmou que o bolsa-família seria operada pela Wal-Mart, caso o PSDB ganhasse. Nem precisaram ganhar a eleição.

Por fim, essa notícia também decreta o fim do AntiPIG. Não há mais sentido em lutar contra os próprios aliados. Não consigo defender aquilo em que não acredito, apenas por exercício de retórica. Cada uma das 276 postagens valeu a pena, mas hoje seguiremos outro caminho. O governo saberá se defender, como tem demonstrado de maneira recorrente. E nós, no esteio de Plínio Marcos, continuaremos a provocar e a inquietar os espíritos mais empedernidos para as lutas comuns da libertação.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

FALANDO SOBRE NADA

A última postagem do blog parece ter sido escrita a séculos - quando na verdade lá se vão 24 dias. Se considerar então que, de 18 de outubro até hoje foram apenas dois textos, a coisa atinge uma alarmante crise nos moldes da anunciada em tom apocalíptico pela imprensa em torno dos primeiros passos do segundo mandato da Dilma.

Mas carrego comigo uma máxima: não escrever sobre nada. Se pegarmos o imenso volume de matérias, reportagens e opiniões veiculadas nos últimos 40 dias, teremos uma rala essência de assuntos nem tão interessantes assim, à maioria da população.

Um assunto que talvez valha um parágrafo é sobre a trégua olímpica, ou a falta dela. Remontando aos gregos, esse cessar fogo temporário tinha o objetivo de estabelecer um período de paz durante a realização dos Jogos Olímpicos. Denominada "Ekecheiria", que em grego significa “dar as mãos”, durante sua vigência atletas, artistas e suas famílias, bem como peregrinos comuns, poderiam viajar em total segurança para participar ou assistir aos Jogos e voltar posteriormente às suas origens. Originalmente a trégua começava sete dias antes dos Jogos e durava mais sete dias após, mas depois foi estendido para cinquenta dias antes e depois.

Esse instituto foi adaptado às modernas democracia ocidentais. Consta que um governo tem 100 dias de trégua da oposição e da imprensa (que no Brasil são a mesma coisa) para arrumar a casa e aprumar o rumo que pretende seguir. Deste feita, não houve sequer resquícios do espírito esportivo e cavalheiresco que dão forma a essa conduta. O mandato ainda não começou e já foi atacado em todas as frentes. Só de ameaças de golpe, temos um rol de modelos: os delirantes, que sonham em acordar os milicos de pijama, os segregacionistas, que pretendem dividir o país, e várias modalidades do "Golpe Paraguaio", daqueles que perdem a eleição na urna e recorrem ao judiciário para reverter a derrota, sugerindo fraudes, irregularidades, ou mesmo pelo conluio das forças do atraso com o poder togado.

Outro assunto que desperta uma falsa celeuma é a formação dos ministérios. Há críticas de todos os lados. Guilherme Boulos, líder do MTST, ironiza a composição conservadora indicando Lobão, Bolsonaro e outras badalhocas para completar a trupe. Soaria engraçado, não tivesse sido escrito para a Folha. É só ler os comentários para perceber que o autor não atingiu o público do jornal com seu chiste. Se torna cada vez mais ridículo alguém com visão progressista usar um veículo tosco como aquele jornal. Na versão escrito, não duvido que ele dividiria a página com suas próprias sugestões.

Agora engraçado mesmo, ainda que (e talvez por isso) se trate de humor involuntário é a postura da oposição, que define as escolhas de Dilma como "estelionato eleitoral". O tempo inteiro os jornais dizem que o governo vai ter que acalmar os mercados, que isso, que aquilo, e quando acontece a oposição grita como se tivessem roubado suas (raras) ideias. É cada vez mais patético o papel de maus perdedores desse pessoal, O guru de Marina Silva vai na mesma linha, afirmando que Dilma fez petistas de palhaços. Tão infantil quanto querer jogar Lula contra Dilma. Quer dizer que eles cometeriam estelionato eleitoral se ganhassem? Ou eles teriam carta branca para jogar às favas os compromissos sociais? Ou a Dilma traiu o povo e eles são a salvação para NÃO fazer o que o povo quer?

Na verdade, eu não queria escrever sobre isso. É pequeno demais rir de quem vem mostrando sistematicamente ser mais merecedor de piedade do que qualquer coisa. Queria escrever algo sobre a palestra do prof. Paulo Arantes, tratando da Nova Direita como fenômeno mundial com reflexos nas últimas eleições brasileiras. Ou sobre a Nova Esquerda, representada pelo PODEMOS espanhol e o SYRIZA grego. Mas na verdade, estou envolvido com as prestações que vencem, com uma cobrança injusta da qual tento me desvencilhar. Além disso, a patroa adotou um gatinho achado no lixo, com a patinha frouxa, ou quebrada, ou com defeito de nascença. e além disso, a nossa cachorra mais velha, de 13 anos vem sofrendo com uma hérnia de disco e inspirando todos os cuidados do "papito", este que vos bloga.

Como se vê, tenho assuntos muito mais importantes para cuidar do que falar da histeria dos derrotados.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A DOENÇA DE MATAR POBRE

Ainda não concluímos a transição de mandatos, passadas as eleições. O chororô é proporcional às necessidades do sistema Cantareira. Quando cada assunto com potencial de desequilíbrio começa a esvanecer, surge algo para requentá-lo e dar seguimento ao plano maior de desestabilização do governo brasileiro.

Alguém se lembra da Copa? Do clima criado antes da Copa? As obras não ficariam prontas, o caos aéreo seria instalado, viveríamos um apagão, um surto de dengue de magnitude bíblica, os protestos de rua tumultuariam o país, enfim, passaríamos vergonha perante o mundo.

Tirando a seleção, essa foi a Copa das Copas, escolhida por torcedores de todo mundo.

Agora, o filme se repete: indisposição ao diálogo, afronta no Congresso, recontagem dos votos, impeachment da presidenta, e apelos à intervenção militar, seja brasileira ou americana. Tudo sintetizado nesse tweet do José Anibal.

Nada responderia melhor a esse cenário que um provérbio árabe:

"Os cães ladram, e a caravana passa".

Nesse prenúncio do Apocalipse, pintado em cores macabras pela imprensa golpista, não poderia faltar uma ameaça à saúde pública. Eles, que fracassaram na campanha contra o Mais Médicos, tentam impingir com tons alarmantes e irresponsáveis, um pânico na população: a epidemia do Ebola.

O ministro da saúde, Arthur Chioro, tem se dedicado a esclarecer a população sobre os cuidados com a doença e a contestar o sensacionalismo inconsequente do PIG. Aliás, nesse particular, é tarefa de todo membro do governo desmentir o festival de boatos e calúnias proferidos pela imprensa que se arvora oposição quando conveniente, mas que rechaça toda crítica como "atentado à liberdade de expressão", e mama sofregamente nas tetas da publicidade governamental.

O Ebola não é transmissível no ar. A forma de contágio é pelo contato com as secreções do infectado (secreções... lembrei do Fidelix). Esse é o motivo primordial de muitos profissionais de saúde que manipularam doentes terem se contaminado. Os cuidados com equipamentos de proteção, como luvas e máscaras devem ser redobrados. Na África, e em locais onde as condições de higiene são precárias, a doença se alastra como rastilho de pólvora. As trágicas consequências humanitárias são agravadas pela ausência completa do Estado nas condições sanitárias da população.

E é aí que entram as políticas sociais do governo. Estamos longe da perfeição, mas 85,3% das residências contam com água tratada, 64,3% está integrada em algum sistema de coleta de esgoto e 89,8% têm a coleta de lixo na porta. Os dados são referentes à pesquisa PNAD de 2013 do IBGE, que registrada melhoras percentuais, em comparação com o ano de 2001 de 5,3%, 10,9% e 7,7% em cada um desses serviços básicos, respectivamente.

Um pequeno adendo: só se faz saneamento básico com recursos públicos. O egoístico interesse particular encontra limite na sua própria natureza: a busca do lucro por si só. No Brasil, é um banco público que responde por essa demanda social, oferecendo tanto os recursos quanto o suporte técnico operacional para realização das obras. Dá para imaginar isso privatizado?

Há uma expressão latina usada no direito, "erga omnes", que significa contra todos, aquilo que pode ser aplicação contra ou favor de todos, sem exceção. É algo "democrático" no sentido atual do termo. A AIDS é uma doença democrática, pois todo mundo faz sexo. A dengue é uma doença democrática, porque todo mundo é porco (e deixa água parada para o mosquito procriar). Já o Ebola não é democrático: mata apenas os pobres, os que não acenderam às mínimas condições de dignidade e higiene.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

DIVIDIR PARA CONQUISTAR

A eleição acabou, mas ainda são ouvidos os ecos de uma facção que não aceita as regras democráticas. Como disse uma prima, ao votar, você endossa o que as urnas apontam, seja favorável às suas ideias ou não. Infelizmente, não é o pensamento dominante entre os defensores do impeachment: insistem em absurdos, como a suposta supressão das liberdades individuais, vociferando contra o governo a plenos pulmões e por todos os canais possíveis e imagináveis.

Esse pessoal lembra os boleiros sulamericanos. Argentinos, chilenos, uruguaios e paraguaios são useiros e vezeiros desta prática: quando percebem a derrota iminente e que não têm mais forças para reagir, se entregam às botinadas, procuram todo tipo de confusão, tentam diminuir a conquista do rival, não aceitando o destino inglório da derrota.

Para não ser mal interpretado, esclareço que é apenas uma metáfora, pois eleição não é uma competição desportiva. Ninguém é obrigado a comemorar a derrota, mas sim a acatar o resultado legítimo que representa a voz do povo. Não existe o tal Fla x Flu eleitoral, como bem lembrou Ana Moser: você faz opções políticas racionais e, independente das escolhas da maioria, as mantém, de acordo com a força das suas convicções.

Outra tese berrada por essa turma é a da divisão do país. Um ícone das liberdades ameaçadas pelo governo, Romeu Tuma Jr.propôs um muro ao estilo Palestina x Israel, para dividir o Brasil entre o que ele gosta e o que ele despreza. É interessante que ele toma para seu lado MG e RJ, estados onde Dilma venceu e desdenha de RO, AC e RR, onde seu candidato saiu-se melhor. Deste "país da maravilhas" de Tuma Jr., saíram quase 30 dos 54 milhões de votos que elegeram Dilma Presidenta da República. Outro defensor das garantias ameaçadas pelo PT, o coronel Telhada dá ares de seriedade ao seu manifesto: "Já que o Brasil fez sua escolha pelo PT entendo que o Sul e Sudeste (exceto Minas Gerais e Rio de Janeiro que optaram pelo PT) iniciem o processo de independência de um país que prefere esmola do que o trabalho, preferem a desordem ao invés da ordem, preferem o voto de cabresto do que a liberdade".

Não é a primeira vez que o Brasil é atacado por separatistas. Na ditadura militar, de onde emergem alguns destes que pregam novamente a secessão, ficou famoso o slogan "Ame-o ou Deixe-o", sem qualquer espaço para o diálogo ou a construção de uma nação plural. A mensagem era clara: ou se amava o país, do jeitinho que os militares o tratavam, ou a porta da rua era serventia da casa. Ao contrário do que fez Lobão, que prometeu chispar e arregou, essa possibilidade não existia naquela época.

Como disse Breno Altman, por ora, a tese da divisão do país mal acoberta a tentativa de desestabilização e sabotagem de um governo recém-eleito. Em sua faceta mais visível, esse tese busca coagir este governo a medidas e nomeações afeitas ao bloco político-social batido nas urnas. Como se a vitória por margem estreita retirasse legitimidade da governante, que só a recuperaria se atendesse aos interesses dos adversários. Alguém imagina o contrário, Aécio Neves eleito por exígua diferença sendo obrigado a nomear um ministro do trabalho sindicalista ou ainda a reduzir taxa de juros como indutor do crescimento da economia?

Sobre a vantagem da candidata eleita ser pequena e isso ensejar o movimento sepatista, é sempre bom ter à mão números confiáveis. Em 2012, na França, Hollande derrotou Sarkozy por 51,6 x 48,4, mas nem o Le Pen ousou questionar a legitimidade do sufrágio.

É a velha chantagem do dividir para conquistar. Vem de Felipe da Macedônia, passa por Júlio César e Napoleão. Os europeus ao chegarem aqui, a utilizaram, explorando as rivalidades locais entre os indígenas. Expediente retido à exaustão nas colõnias da África e da Ásia. Ao colonizado, resta o papel de joguete das potências, o que cai como luva na mentalidade de Tuma Jr, Telhada, Lobão e companhia golpista.

sábado, 18 de outubro de 2014

É O PRÉ-SAL, ESTÚPIDO!

No blog tentamos manter a autoria dos textos como princípio. Não somos imparciais, e fazemos questão de deixar isso bem claro. Entendemos que é necessário atuar no sentido de equilibrar e se contrapor às notícias amplamente veiculadas no PIG, que por razões escusas esconde sua parcialidade. Nós não.

Há alguns anos, tive a oportunidade de ler "O Povo Brasileiro", de Darcy Ribeiro, e a frase final do prefácio é uma espécie de guia que orienta nossas posições, já tendo inclusive sido citada em outra postagem:

"Portanto,
 não 
se 
iluda 
comigo,
 leitor. 
Além 
de 
antropólogo, 
sou 
homem
 de fé
 e 
de 
partido. 
Faço 
política 
e 
faço 
ciência 
movido 
por 
razões
 éticas 
e 
por 
um
 fundo
 patriotismo.
 Não
 procure,
 aqui,
 análises
 isentas.
 Este
 é
 um
 livro
 que 
quer 
ser 
participante, 
que 
aspira 
a 
influir 
sobre
 as 
pessoas,
 que
 aspira
 a
 ajudar 
o 
Brasil
 a 
encontrar‐se 
a 
si
 mesmo".



Contudo, um texto publicado hoje, no jornal GGN, do Luis Nassif, traduz uma reportagem que saiu na rede norte-americana Bloomberg semana passada. Mais do que insinuar o caráter entreguista do projeto de poder tucano, ele demonstra como os abutres estão assanhados, como os corvos estão de olhos vidrados em se apropriar da nossa maior riqueza. Que não é o pré-sal em si, pois sondagens da próprias Petrobrás já indicaram a presença da mesma camada no litoral de Angola, na Costa da África. A riqueza é que a Petrobras é a única empresa do mundo capaz de prospectar e retirar esse óleo das profundezas marinhas. Editei alguns trechos, mas no link há a tradução completa, em português:


Shell e Halliburton ganharão com vitória de Neves no Brasil

A perspectiva de uma mudança de regime no Brasil está fazendo da Petrobras o estoque mais valioso de petróleo do mundo. E também está abrindo as portas para empresas estrangeiras explorarem mais as grandes riquezas energéticas do país. Políticas da estatal Petrobras para com projetos no exterior frearam empresas como a Shell e a Halliburton de se expandirem no país.

O candidato da oposição Aécio Neves promete leiloar licenças de exploração com mais frequência, aumentar os preços dos combustíveis e facilitar o processo legal e burocrático para as petroleiras estrangeiras. Neves, cujo partido PSDB abriu o petróleo brasileiro para as petroleiras estrangeiras no final dos anos 90, surpreendeu aos analistas ao ficar em segundo lugar no primeiro turno e forçar um segundo turno eleitoral. A frustração das petroleiras e seus investidores com a presidenta Dilma Rousseff tem crescido desde que assumiu o cargo. No mês passado, um grupo de lobby do petróleo disse que a indústria enfrenta dificuldades e alguns fornecedores da Petrobras podem deixar o Brasil.

Neves ataca a administração de Dilma e contratou um consultor da indústria e um funcionário envolvido nas  privatizações na década de 1990, para  redigir o seu programa de energia.

"Se Neves ganhar, ele vai abrir aos investidores estrangeiros", disse Robbert van Batenburg, diretor de estratégia de mercado na corretora Newedge EUA LLC, em entrevista por telefone de Nova Iorque: "Essas restrições às importações e barreiras comerciais não nos ajudam. Se ele ganhar, ele vai reverter todas as restrições"

Aécio Neves se comprometeu a fazer mais leilões de direitos de exploração. Ele também está pensando em mudar a legislação que obriga a Petrobras, a maior produtora em águas mais profundas do mundo, a manter um mínimo de 30 por cento em todos os projetos na região chamada de pré-sal (...) A exigência de que a Petrobras seja a operadora em cada nova descoberta no pré-sal, uma formação sob uma camada de sal no subsolo marinho, devem ser revistos para estimular a concorrência, Elena Landau, que aconselha Neves em matéria de energia, disse em uma entrevista ontem no Rio de Janeiro,  que mudanças precisam da aprovação do Congresso.


"Quando você tem a Petrobras como operadora única, você está limitando a capacidade", disse Landau, que foi apelidada de "Dama de Ferro das Privatizações" pela imprensa brasileira depois de seu envolvimento nas privatizações de empresas públicas durante a década de 1990 no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "Isso restringe a concorrência".

"As empresas estrangeiras não são muito valorizados por este governo, como se elas fossem irrelevantes", disse Elena Landau. Dilma aponta que durante a sua administração mais de 500.000 barris por dia na área do pré-sal já estão sendo produzidos, e disse ter protegido os preços de combustível aos consumidores da volatilidade dos mercados internacionais de petróleo. Ela prevê grande lucro que proporcionará o financiamento de programas sociais para reduzir a pobreza na nação mais populosa da América Latina. A eliminação dos subsídios aos combustíveis que custaram Petrobras pelo menos 60 bilhões de reais no primeiro mandato de Dilma Rousseff aumentariam o lucro da empresa e sua capacidade de comprar bens e serviços de fornecedores como a Halliburton, de acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo, ou IBP, um grupo que faz lobby para a indústria.
FHC quebrou o monopólio da Petrobras na exploração e produção de petróleo em 1997 e criou os primeiros leilões de exploração a serem leiloados sob um modelo de concessão em 1999. O Brasil realizava leilões todo ano, até o ano de 2008. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que os depósitos maciços eram prova de que "Deus é brasileiro" e decidiu que a Petrobras seria responsável por todos os projetos futuros na região.

Lula suspendeu licenças offshore para manter reservas de petróleo recém-descobertas do Brasil sob o controle do governo por meio da Petrobras, e o Brasil ficou sem oferecer nenhum leilão aberto na área no pré-sal até 2013 .Em 2007, Lula e Dilma, ministra da Energia e depois chefe de gabinete, começou a planejar a legislação para permitir que o governo, por meio da Petrobras, mantivesse o controle do ritmo de desenvolvimento. Sabendo que custaria centenas de bilhões de dólares para desenvolver a região do pré-sal, eles ainda queriam empresas estrangeiras para ajudar a produção de finanças como sócios minoritários, mas sem entregar à eles o poder de definir orçamentos ou decidir onde perfurar.

A legislação resultante foi algo nunca antes visto na indústria. As empresas petrolíferas são livres para formar consórcios e lances contra a Petrobras. Se eles vencerem, eles precisam convidar a ex-rival para se juntar ao grupo, com uma participação de 30 por cento e conceder-lhe o controle sobre as decisões do dia-a-dia.  Nenhuma empresa entrou no leilão contra a Petrobras, quando o Brasil colocou o modelo à prova. Ela leiloou os direitos para produzir a Libra, um campo com valor equivalente as atuais reservas provadas brasileiras, e apenas um grupo liderado pela Petrobras colocou uma oferta. "O Monopólio" do produtor estatal sobre o pré-sal precisa ser revisto, Adriano Pires, o consultor e co-autor do plano de Petróleo de Aécio Neves, disse em uma entrevista por telefone do Rio. "A Petrobras não pode ser um instrumento de uso político", disse Pires. "Muita coisa vai ter que mudar."

sábado, 11 de outubro de 2014

VAMOS CONVERSAR SOBRE CORRUPÇÃO?

Em todas as eleições, corrupção surge como um dos mais inflamados temas. Políticas públicas, como o tratamento da economia em macro e micro escala, as relações internacionais, política indústrial e agrícola, prestação de serviços públicos como saúde, educação, segurança pública e geração de empregos e oportunidades, além do papel do Estado no desenvolvimento do país são outros assuntos que deveriam interessar ao debate político.



Contudo, da forma que vem acontecendo na eleição, o tópico corrupção bloqueia todas as demais discussões, tão fundamentais quanto, para quem se preocupa com o futuro do país. E isso vem acontecendo a algumas eleições: à véspera de cada pleito surgem boatos de irregularidades na Petrobras. Passada a votação perde sentido o ataque desembestado, ânimos voltam ao lugar, e o que era mera suposição, pressão, chantagem, volta à sua insignificância.

Em 2010, apesar da eleição estar focada num debate absurdo sobre religião, aborto e questões afins, as "denúncias" contra a Petrobras incluíam a ingerência de Collor no cofre da empresa, favorecimento a contratos com o marido da presidente da empresa, Graça Foster, problemas na capitalização da estatal e um lobista "operador" vinculado a um partido da base do governo (PMDB) denunciando uma esquema de propinas e vantagens aos partidos governistas.


Os links estão aí, para quem quiser pesquisar. As denúncias, que saem nos jornais e revistas da mídia corporativa, são repercutidas pela televisão visando potencializar o estrago. Ocas, vazias, sem consistências para subsistir após o frisson eleitoral. Foram investigadas pela polícia, MP e demais órgãos de controle e não deram em nada. Como consequência só a difamação do governo e da Petrobrás.

Esse é o grande problema da difamação: se manipula a reputação do acusado, como quem pega uma folha de papel, rasga, e atira ao vento. Não há retratação que faça a folha voltar ao que era antes. Ademais, com o vento, é quase impossível, recuperar todos os pedaços do papel, como se fossem os pontos da credibilidade de quem foi difamado.

Outro problema que precisamos enfrentar é a da "indignação seletiva". Ultrapassa o bom senso, a justiça, qualquer parâmetro civilizado, a diferença de tratamento dispensada às denúncias dos candidatos em disputa. Com sinceridade, não há nenhuma forma de administração, pública ou privado, que seja imune a desvios de seus indivíduos. O que pode qualificar a administração é a forma como ela trata essa situação.

Sejamos claros: 

Quem difama?
É sempre algum agente político irrelevante. Por exemplo, um bandido confesso, cuja palavra seria mais que suspeita, mas que é tomada como verdade inquestionável.

Quem divulga?
A imprensa corporativa, que aqui no blog chamamos de PIG - Partido da Imprensa Golpista, que assassina a reputação da vítima na manchete da capa e depois da eleição publica (se é que publica) os desmentidos na seção dos obituários ou dos classificados, que ninguém lê.


A quem interessa?
A quem quer derrubar o governo. A quem que tomar a Petrobras. A quem está louco para conhecer os segredos de como retirar o petróleo do Pré-Sal, pesquisa da Petrobŕas que começou na extração em alto mar, décadas atrás, e evoluiu muito, sempre com conteúdo genuinamente brasileiro. A quem não tem uma visão nacionalista para perceber que a geração de petróleo e seus recursos é um passaporte para o país crescer e melhorar seus serviços públicos.


E quem acredita?
Pessoas. Pessoas que antipatizam com o projeto do governo por qualquer motivo (às vezes, inclusive, por outro motivo criado nesse modelo de "denúncias" na imprensa corporativa). Pessoas de boa fé. Pessoa que se informam exclusivamente por esses veículos de imprensa. Pessoas que nem entendem direito o teor da acusação, mas que, acostumadas ao padrão Datena de exposição de assaltantes, logo associam: se são acusados, são iguais àqueles miseráveis enquadrados nos Cidade Alerta e Brasil Urgente da vida.

Quem é prejudicado?
De imediato, os envolvidos diretamente: os diretores da empresa, e o próprio governo federal responsável pela estatal. Num segundo momento, o grande prejudicado é o povo brasileiro, pois a Petrobras não é de nenhum governo: é do povo. E as riquezas que ela é capaz de gerar devem servir ao povo. E sob hipótese alguma aos "investidores" que a sobrevoam como aves de rapina a cada eleição.

...

Esse texto foi inspirado num artigo de Márcio Valley titulado "Um soco na arrogância da visão seletiva supostamente intelectual (ou, carta Aberta ao antropólogo Roberto DaMatta)". Recomendo entusiasticamente sua leitura! Trata-se de uma elegante desconstrução de um texto de Roberto DaMatta chamado "Um soco na onipotência" vibrando com a votação que Aécio recebeu e repetindo os clichês antipetistas que lemos a torto e direito nos "penas de aluguel, "experts" pagos justamente para isso: apresentar a visão do patrão (o dono do meio de comunicação) e tentar criminalizar um governo que se oponha aos seus mesquinhos interesses.

No afã de que um maior número de pessoas conheçam esse artigo do Márcio Valley, seleciona alguns trechos que julgo imperdíveis:

"Participo pouco do Facebook, mais para divulgar meus textos. Isso porque percebo nas redes sociais uma enorme carência de discussão inteligente e racional dos problemas políticos brasileiros. Trata-se de mera gritaria irracional, com repetição de memes e de conteúdo absolutamente raso. É nessas discussões adialéticas, onde não é possível o contraponto, visto como ofensa, e cuja pretensão é somente a de fazer prevalecer a própria visão e de repelir agressivamente todo pensamento que contrarie essa ótica, que vejo comumente serem usadas essas expressões de mera injúria como 'petralhas', 'tucanalhas', 'privataria', 'coxinhas' e, vejam só, 'lulopetismo', a mesma utilizada por você, um intelectual."

...

"Como um intelectual pode se unir à grita da corrupção generalizada petista assim, de forma tão leviana? Sem o adensamento das causas? Sem uma perspectiva histórica? Sem analisar o sistema legal que proporciona tais desvios? Sem uma análise comparativa? Sem qualquer pronunciamento sobre a existência ou não das ações de combate? A corrupção inexistia no Brasil pré-PT ou nasce a partir da assunção desse partido? A malfadada governabilidade no Brasil - e seus filhos diletos, o fisiologismo e o patrimonialismo - é uma pré-condição do exercício do poder ou somente foi e será praticada pelo PT, mas não por outros partidos que eventualmente venham a conquistas o governo? Em outras palavras, é possível a qualquer partido governar sem se render aos clamores e anseios de sua inexoravelmente necessária base de apoio?"

...

"Sei que você sabe (ou deveria saber) que um dos primeiros atos de Fernando Henrique Cardoso (desse mesmo PSDB que você agora tão calorosamente articula em favor), assinado somente dezoito dias depois de tomar posse, através do Decreto nº 1.376/1995, foi extinguir a Comissão para Investigar a Corrupção, comissão que havia sido criada em 1993 por Itamar Franco.
Lula, no dia 1º de janeiro de 2003, primeiro dia de seu governo, a partir da antiga Corregedoria-Geral da União, assinou a MP n° 103/2003 (depois Lei n° 10.683/2003), criando a Controladoria-Geral da União e atribuindo ao seu titular a denominação de Ministro de Estado do Controle e da Transparência, o que implicou elevar o status administrativo da pasta e sinalizou aos subalternos o norte a ser orientado.
Nos oito anos de governo do PSDB, com FHC, a Polícia Federal realizou um total de 48 (quarenta e oito) operações, ou seja, uma média de seis operações por ano.
Nos doze anos de governo do PT, essa número saltou para cerca de duas mil e trezentas, o que dá uma média de mais de 190 (cento e noventa) por ano.
Ao assumir, o governo do PT encontrou cerca de cem varas federais. Agora já são mais de quinhentas.
Como você sabe, ou deveria saber, são as operações da Polícia Federal e as varas da Justiça Federal que, no âmbito federal, investigam, combatem e julgam os crimes de corrupção."

...

"Enfim, retorno à indagação que fiz acima: a corrupção é uma característica do PT? Se não, onde estão os condenados por corrupção do período do PSDB no governo federal?
E Aécio, DaMatta? Está ele livre de indícios de corrupção em sua passagem pelo governo mineiro? Você bem sabe que Minas Gerais, com o PSDB, foi o berço do mensalão tucano, gerido pelo mesmo indivíduo, o publicitário Marcos Valério, cujos tentáculos se espraiaram em direção ao governado federal do PT. Além disso, você sabe que Aécio é réu, acusado de improbidade administrativa, em ação civil pública movida pelo Ministério Público Estadual, em razão de desvio de 4 (quatro) bilhões e 300 (trezentos) milhões de reais da área da saúde em Minas, não sabe? E o aeroporto construído com dinheiro público em área desapropriada de parte da fazenda de seu tio, em Minas, ouviu falar sobre isso?
Bom, tudo isso eu relato, DaMatta, em função de sua visão estreita e seletiva sobre a corrupção do PT, olvidando-se (de forma proposital?) daquela oriunda dos quadros tucanos. Em princípio, não me parece o papel de um intelectual. Passável para uma pessoa comum, para redatores de Facebook, essa visão reducionista é, no meu entender, vergonhosa para um erudito."

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"DaMatta, retorne à sanidade intelectual. Não para infalivelmente apoiar o PT, mas para, se for o caso, rejeitá-lo pelos motivos lógicos e racionais corretos, ou seja, fundamentando sua contrariedade à linha econômica petista; ou à forma como ocorre, hoje, o enfrentamento da questão social; ou, ainda, pelas teses de relações internacionais atualmente defendidas pelo Itamaraty; ou por qualquer outra que você, livremente e como cidadão, considerar não ser adequada ao seu pensamento.
O que não dá é para alcunhar o PT de 'dono espúrio de um Brasil que é de todos nós', uma frase de efeito cujo único objetivo é o aplauso fácil. Ou de falar em “aparelhamento do Estado”, um mantra que pode ser considerado bonitinho para aqueles que ignoram as formas pelas quais se materializam os processos políticos, mas que se torna ridículo se proferido por um intelectual ciente de que o aparelhamento do Estado faz parte do processo democrático, uma vez que todo partido que chega ao poder preenche os espaços de indicação política existentes no governo justamente como meio de oferecer aos eleitores a direção política que eles escolheram através da eleição livre. Ou você, DaMatta, acha que o PSDB não “aparelhou” o governo federal, quando lá esteve, ou, atualmente, não nomeou todo e cada um dos cargos políticos de livre nomeação no Estado de São Paulo durante esses vinte anos de seu governo (algo a dizer sobre a “perpetuação no poder” em São Paulo?)."


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

MEDIDAS IMPOPULARES

Aécio Neves anunciou que se, for eleito, tomará medidas impopulares, segundo ele necessárias ao bom andamento da economia. Fica claro que para o Aécio Neves é a população que deve estar em função da economia, e não a economia em função da população. 
O tucano, num encontro com setores da alta sociedade, disse:

"Eu conversava com o Armínio Fraga e ele me perguntou: 'Mas é para [num eventual governo] fazer tudo o que precisa ser feito? No primeiro ano?'. E eu disse: 'Se der, no primeiro dia. Estou preparado para tomar as decisões necessárias, por mais que elas sejam impopulares'".

Lógico que no PIG você não lerá isso. Até porque notícias que implicam em saias justas ao candidato foram varridas para debaixo do tapete da campanha, ao estilo do que faziam com a corrupção. E é importante frisar que a declaração de Aécio foi dada para aqueles para os quais ele pretende governar: os ricos, que como não são "populares", estão apoiando as tais medidas impopulares.

E, se depender do Arminio Fraga, cidadão estadunidense, verdadeira raposa do mercado a querer cuidar do galinheiro, a primeira medida impopular é a desvalorização dos salários dos trabalhadores brasileiros. Veja na transcrição abaixo o que o Arminio Fraga, Ministro da Fazenda do Aécio, se ele for eleito, pensa do salário mínimo:

"É outro tema que precisa ser discutido. O salário mínimo cresceu muito ao longo dos anos. É uma questão de fazer conta. Mesmo as grandes lideranças sindicais reconhecem que, não apenas o salário mínimo, mas o salário em geral, precisa guardar alguma proporção com a produtividade, sob pena de, em algum momento, engessar o mercado de trabalho." 



O Aécio Neves e Arminio Fraga vão baixar os salários a fim de que o mercado de trabalho não seja engessado. Ora, quanto mais os salários sobem mais a economia fica produtiva, pois quanto mais o trabalhador ganha, mais ele fica incentivado, aumentando assim a sua produtividade.

Se os salários sempre guardarem proporção com a produtividade, a distribuição funcional da renda continuará sempre da forma que está, 60% da renda indo para os capitalistas a título de lucros e 40% para os trabalhadores a título de salário. Se depender do Aécio Neves, o Brasil vai continuar sendo o campeão mundial das desigualdades sociais.

Se salários baixos fossem sinônimos de economia forte, a economia do Japão, por exemplo, seria inferior à do Brasil, pois lá os salários são muito mais elevados do que aqui.

Contudo, talvez, as medidas impopulares sejam o apoio do Malafaia e do Bolsonaro. Mas aí, já é outra história...








Com inspiração do texto do CMI Brasil