sábado, 27 de novembro de 2010

PARA COMPREENDER ESSE PAÍS



E tem gente que queria matá-los afogados...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CEGUEIRA NEOLIBERAL




Rodrigo Constantino, em 21 de fevereiro de 2006, escreveu o seguinte excerto:

"A Irlanda vem experimentando um choque liberal há anos, com redução de gastos públicos, abertura comercial e maior liberdade econômica. O país já está em terceiro lugar no ranking de liberdade econômica do Heritage Foundation, perdendo apenas para Cingapura e Hong Kong. A economia apresentou crescimento superior a 7% ao ano desde 1993. O país conta com uma das mais favoráveis políticas para investimentos estrangeiros do mundo, assim como ambiente bastante amigável para os negócios. Os impostos corporativos foram reduzidos para 12,5%, um dos mais baixos da Europa. A Irlanda se tornou um enorme ímã de investimentos de americanos e ingleses, que são também os maiores parceiros comerciais do país. A tarifa média ponderada para importação é de apenas 1,3%, bastante inferior a do Brasil, acima de 13%. Não existe controle de preços por parte do governo. A proteção à propriedade privada é forte, e o sistema legal é transparente. Em resumo, a Irlanda é um ótimo exemplo das reformas defendidas pelos liberais.

Os resultados são claros. Fora o excelente crescimento econômico já citado, a renda per capita está chegando perto dos US$ 40 mil, uma das maiores do mundo. O desemprego é baixo, perto dos 5%. Os indicadores sociais estão melhorando a cada ano. O gasto com educação não é muito diferente do brasileiro, em cerca de 4,3% do PIB. O que faz a diferença mesmo é o grau de liberdade econômica. A Irlanda vem reduzindo o tamanho do Estado, assim como sua interferência na economia. Vem abrindo seu comércio, atraindo investimentos estrangeiros, tratando bem os empresários e adotando o império da lei. Exatamente a receita liberal. E com isso, vem colhendo os doces frutos dessas medidas.

Como ficou claro, a Irlanda de Bono está na contramão do Brasil de Lulla. Aqui, o Estado é cada vez maior, mais inchado e mais interventor. Falta muito para chegarmos ao grau de abertura comercial da Irlanda. Falta muito para chegarmos ao ambiente amistoso para os negócios. Falta muito para termos um império da lei que respeite as propriedades privadas. Enfim, falta muito para o Brasil virar uma Irlanda."

Essa cantilena era o pano de fundo para achincalhar o presidente do Brasil e a visita que Bono Vox, irlandês, do U2, o fez.
Menos de cinco anos depois, o vocabulário mais acadêmico diria que "mudamos de paradigma". Vejam a notícia de hoje, 26 de novembro de 2010, acerca da real situação da economia que até outro dia se apresentava como farol da modernidade liberal:

"Em troca do socorro governamental, todos os cinco maiores bancos da Irlanda serão total ou parcialmente nacionalizados, com participações que vão de 51% a 100%. A estimativa vem sendo feita por analistas econômicos da agência Fitch e por autoridades do país. Já socorridos com 46 bilhões de euros no auge da crise, em 2008, o sistema financeiro da Irlanda deverá receber uma nova injeção de recursos, de cerca de 12 bilhões de euros, conforme análises otimistas.

Todo o oligopólio do sistema financeiro irlandês está incluído. Já detentor de 100% das ações do Anglo Irish Bank desde 2009 - quando a instituição foi nacionalizada em troca de um empréstimo de 30 bilhões de euros, o equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país -, o governo de Brian Cowen também deve superar os 90% de ações no Allied Irish Bank (AIB), do qual hoje detém 18% dos títulos. Além dos dois, o Estado também deve assumir o controle do Bank of Ireland, elevando sua participação acionária dos atuais 34% para mais de 50%.

AIB e Bank of Ireland perderam 80% de seus valores de mercado nas bolsas de valores desde a eclosão da falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008. As três instituições dividem o mercado de 4,4 milhões de clientes do país. Dois outros bancos de financiamento imobiliário, o EBS e o Irish Nationwide (INBS), também já são controlados pelo poder público, que detém 51% das ações das duas empresas.

A nacionalização, entretanto, vai custar caro à Irlanda. Só o AIB pode receber até 7 bilhões de euros dos 85 bilhões de euros em recursos prometidos pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). E nem a injeção de recursos é capaz de garantir a perenidade da instituição. Desde janeiro, o banco já perdeu 13 bilhões de euros em depósitos de seus clientes. Levantamento da agência de risco Moody's avalia a necessidade de recapitalização dos bancos irlandeses entre 8 bilhões de euros e 12 bilhões de euros."

Comparação descaradamente copiada do Esquerdopata.

domingo, 14 de novembro de 2010

RUMO AO FUNDO DO POÇO

O discurso político no Brasil apresentava um vácuo. Desde as "Diretas já" não havia um movimento capaz de catalizar os anseios da sociedade. Talvez o impeachment de Collor, com ressalvas acerca do controle que a Rede Globo exerceu sobre as manifestações cara-pintada. Nos raríssimos momentos de participação popular - as eleições - as escolhas sempre se pautaram pelo pragmatismo, pelos interesses imediatos de classe, ou apenas pelo protesto inconsequente do voto em um Enéas, Clodovil, et caterva.
Essa eleição fez emergir do "submundo da política" (expressão lapidar do apedeuta) outros interesses, outrora tachados de mesquinhos e/ou inconfessáveis. Simbolizando a ideologia que mistura o que há de pior em termos de preconceito - xenofobia, racismo, aristocracismo tardio e deslocado, enoclofobia - Mayara Petruso encarna o ideal da "eugenia paulista", uma suposta "POI", resultado do amálgama das três raças - branco, negros e índios - como de resto, todo o Brasil, mas que atingiu excelência em termos culturais e evolutivos, e agora deve tomar as rédeas do destino de todo povo brasileiro, purgando-o da miscigenação e remindo-o dos sangue impuro de seus ancestrais indignos.
Mayara foi barbaramente defendida em dois editorais na Folha de São Paulo. Na quinta, dia 11, Leandro Narloch assina o nazista "Sim, eu tenho preconceito", justificando o injustificável e fazendo a apologia do preconceito contra "cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente", "com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país" e "quem insiste em pregar o orgulho de sua origem", entre outras baboseiras.
Mais longe foi Janaína Conceição Paschoal, advogada e professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Seu texto tem como título “Em defesa da estudante Mayara”, publicado no matutino do dia 12. O cúmulo foi atribuir a Lula (!) a responsabilidade pelas declarações da "Patricinha Fascista", supostamente motivadas oposição de regiões promovidas pelo atual governo: "Mayara é um resultado da política separatista há anos incentivada pelo governo federal".
Mayara, Leandro e Janaína são estão sozinhos: Ju Tedesco aí ao lado (clique na imagem para ampliar) vem corroborar e tornar mais agudas as posições até então demonstradas. Daqui uns dias, eles, que já não têm vergonha de pleitear a dissolução da União, clamarão pela revogação do sufrágio universal e - mais adiante - da Lei Áurea.



Patricinha fascista

A estupidez está sempre ao alcance de todos. Mayara Petruso, patricinha paulista, estudante de direito, saiu do anonimato para a fama, via Twitter, graças a um coice na inteligência nacional.

Indignada com a vitória de Dilma Rousseff, a moça disparou este petardo: "Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado. Tinham que separar o Nordeste e os bolsas-vadio do Brasil (...) Construindo câmaras de gás no Nordeste, matando geral". No Facebook, a burrinha racista se atolou um pouco mais: "Afunda, Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar vagabundos que fazem filhos pra ganhar bolsa 171". Mayara já perdeu o emprego no escritório onde trabalhava e sofrerá ação judicial protocolada pela OAB.


Alguns jovens universitários paulistas têm revelado um grau superior de idiotice. Depois da turminha que hostilizou uma guria por causa da sua minissaia, apareceu o bando do "rodeio das gordas", propondo tratar meninas obesas como animais. E agora entra em cena a tal Mayara. O escândalo maior é imaginar que isso representa uma opinião média difundida na Internet. Como será que a mulinha Mayara explica a vitória de Dilma em Minas Gerais? Achar que as ajudas sociais são incentivos à vagabundagem é típico de uma elite primitiva ou de uma classe média ignorante. Qualquer país civilizado, a começar por França, Alemanha, Inglaterra e, evidentemente, países escandinavos, oferece mais ajudas sociais que o Brasil. Não adianta ir à Europa só para comprar bolsas Vuitton. É preciso espiar o cotidiano.

Quem não recebeu e-mails dizendo que Dilma não podia ser candidata por ter nascido na Bulgária? Quantos analistas têm por aí sugerindo que os nordestinos são subeleitores que votaram com o estômago? Quando um empresário escolhe um candidato seduzido pela possibilidade de redução de impostos, o que é legítimo, não se trata de voto por interesse? Não é voto com o bolso? Quando ruralistas votam num candidato na esperança de conseguir mais incentivos, o que é comum, não é voto interesseiro? Mayara não deixa de ser o produto de uma estratégia perigosa, a divisão ideológica entre bem e mal. Foi essa perspectiva, cara ao vice Índio da Costa, que José Serra adotou. A revista Veja e o jornal Estado de S. Paulo deram aval a essa idiotice retrógrada. Uau!

O PSDB, que nasceu pretendendo ser moderno e racional, podia mais. Veja, que se acha mais moderna do que os modernos, acabou por produzir leitores Mayara. Isso não tem a ver com partidarismo como imaginam os mais simplórios ou ideológicos. Eu jamais terei partido. Meu único capital é a independência selvagem. Sou a favor do voto de castidade partidária para jornalistas. Tudo pela liberdade de dizer que quem acha o Bolsa-Família um incentivo à vadiagem pensa como Mayara. Esse foi o principal erro tucano na campanha eleitoral: ter guinado à direta para tentar seduzir as Mayaras, que arrastaram um intelectual progressista como Serra para o reacionarismo rasteiro do Estadão e da Veja. Mayaras, nunca mais!

Juremir Machado da Silva
Artigo publicado no Correio do Povo de 5/11/2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

PARA PENSAR

No centro da ideologia dominante hoje há um mito, chamado a glorificar o Ocidente e, em particular, seu país-guia. É o mito segundo o qual o liberalismo teria gradualmente se transformado, por um impulso puramente interno, em democracia, e numa democracia cada vez mais ampla e mais rica. Para nos darmos conta de que se trata de um mito, basta uma simples reflexão. Da democracia como hoje a entendemos, faz parte em qualquer caso o sufrágio universal, cujo advento foi por muito tempo impossibilitado pelas cláusulas de exclusão estabelecidas pela tradição liberal em detrimento dos povos coloniais e de origem colonial, das mulheres e dos não-proprietários. E estas cláusulas foram por muito tempo justificadas, assimilando os excluídos a “bestas de carga”, a “instrumentos de trabalho”, a “máquinas bípedes” ou, na melhor das hipóteses, a “crianças”.


O mito hoje dominante também quer fazer crer que democracia e livre mercado se identificam. Na realidade, durante séculos, o mercado do Ocidente liberal comportou a presença da chattel slavery, da escravidão-mercadoria: os antepassados dos atuais cidadãos negros foram, no passado, mercadorias a serem vendidas e compradas, e não consumidores autônomos. E precisamente a história dos dois países em que a tradição liberal está mais profundamente enraizada se mostra inextricavelmente entrelaçada com a história do instituto da escravidão. Um dos primeiros atos de política internacional da Inglaterra liberal, nascida da Gloriosa Revolução de 1688-1689, foi arrancar da Espanha, com a paz de Utrecht, o Asiento, o monopólio do tráfico negreiro. Do mesmo modo, dever-se-ia saber que só em 1865 foi abolida nos Estados Unidos a escravidão dos negros, os quais, por outro lado, mesmo depois de tal data, continuaram por muito tempo a ser submetidos a formas de servidão ou semi-servidão.


Domenico Losurso in Democracia ou Bonapartismo

sábado, 6 de novembro de 2010

Trilha Sonora AntiPIG - V

Rio Ancho - Paco de Lucia

Trilha Sonora AntiPIG - IV

O Bêbado e o Equilibrista

Música de João Bosco e Aldir Blanc

Trilha Sonora AntiPIG - III



The King Will Come
Wishbone Ash

In the fire, the king will come.
Thunder rolls, piper and drum.
Evil sons, overrun,
Count their sins - judgment comes.

The checkerboard of nights and days -
Man will die, man be saved.
The sky will fall, the earth will pray,
When judgment comes to claim its day.
See the word of the prophet
On a stone in his hand.
Poison pen revelation,
Or just a sign in the sand?

The checkerboard of nights and days -
Man will die, man be saved.
The sky will fall, the earth will pray,
When judgment comes to claim its day.
See the word of the prophet
On a stone in his hand.
Poison pen revelation,
Or just a sign in the sand?

Trilha Sonora AntiPIG - II



Echoes - Part I
Overhead the albatross hangs motionless upon the air
And deep beneath the rolling waves in labyrinths of coral caves
The echo of a distant tide comes willowing across the sand
And everything is green and submarine

And no one show us to the land
And no one knows the wheres or whys
But something stares and something tries
And starts to climb towards the light

Strangers passing in the street
By chance two separate glances meet
And I am you and what I see is me
And do I take you by the hand
And lead you through the land
And help me understand the best I can
And no one calls us to move on
And no one forces down our eyes
And no one speaks
And no one tries
And no one flies around the sun

Echoes - Part II
Cloudless every day you fall upon my waking eyes
Iniviting and inciting me to rise
And through the window in the wall comes streaming in on sunlight wings
A million bright ambassadors of morning
And no one sings me lullabies
And no one makes me close my eyes
So I throw the windows wide
And call to you across the sky

Ecos - Parte I
Lá em cima os albatrozes se mantêm imóveis no ar
E nas profundezas das ondas nos labirintos das cavernas de corais
O eco de um tempo distante vem magicamente pela areia
E tudo é verde e submarino

E ninguém nos mostrou a terra
E ninguém sabe onde ou porquê
Mas algo encara e algo tenta
E começa a subir em direção à luz

Estranhos passando na rua
Acidentalmente dois olhares se encontram
E eu sou você e o que eu vejo sou eu
E eu pego você pela mão
E o conduzo através da terra
E ajude-me a compreender o melhor que eu puder
E ninguém nos chama para seguir em frente
E ninguém nos obriga a fechar nossos olhos
E ninguém fala
E ninguém experimenta
E ninguém voa ao redor do sol

Ecos - Parte - II
Entretanto todos os dias você surge em meus olhos atentos
Convidando e me incitando a subir
E através da janela na parede entram agitados raios de luz solar sobre asas
Um milhão de brilhantes anunciando a manhã
E ninguém canta canções de ninar para mim
E ninguém me faz fechar meus olhos
Então escancaro a janela
E chamo você através do céu

Trilha Sonora AntiPIG - I



Años – Silvio Rodriguez
Pablo Milanéz e Mercedes Sosa

El tiempo pasa,
nos vamos poniendo viejos y el amor no lo reflejo,
como ayer.
En cada conversación,
cada beso,
cada abrazo,
se impone siempre un pedazo de razón.
Pasan los años,
y cómo cambia lo que yo siento;
lo que ayer era amor se va volviendo otro sentimiento.
Porque años atrás tomar tu mano,
robarte un beso,
sin forzar un momento formaban parte de una verdad.
El tiempo pasa,
nos vamos poniendo viejos y el amor no lo reflejo,
como ayer.
En cada conversación,
cada beso,
cada abrazo,
se impone siempre un pedazo de temor.
Vamos viviendo,
viendo las horas,
que van muriendo,
las viejas discusiones se van perdiendo entre las razones.
A todo dices que sí,
a nada digo que no,
para poder construir la tremenda armonía,
que pone viejos,
los corazones.
El tiempo pasa,
nos vamos poniendo viejos y el amor no lo reflejo,
como ayer.
En cada conversación,
cada beso,
cada abrazo,
se impone siempre un pedazo de razón

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Durante toda a campanha, a candidata eleita Dilma Rousseff usava em seus discursos o termo "presidenta", como forma feminina de presidente. Na verdade, os substantivos e adjetivos de dois gêneros terminados em -ente não apresentam flexão de gênero feminino (e nem masculino, afinal, são de dois gêneros) terminado em -a. Por esse motivo, não se diz "a gerenta", "a pacienta", "a clienta" etc. Caso fosse correto o uso de "a presidenta", por coerência, diríamos que "a presidenta está contenta" e "o presidente está contento"?*


E o Brasil será presidido pela primeira mulher presidente da nossa história. Com 55.725.529 votos, Dilma Rousseff sucederá Lula, que finda seu mandato com popularidade recorde. Precisamos recorrer à imprensa uruguaia para vermos uma manchete digna do impacto dessa notícia.

Breve antecedente

Os oito anos de governo Lula têm um corte epistemológico bem definido. Até meados de 2005, sua equipe econômica era monetarista, conservadora, elogiosa e submissa ao modelo do governo anterior. Já a política engatinhava no ofício de ser governo, afeito aos conchavos com a base fisiológica do Congresso. Os mais cotados para assumirem o legado de Lula eram Antonio Palocci e José Dirceu.
José Dirceu foi defenestrado cargo de Ministro Chefe da Casa Civil em junho de 2005 por conta do seu envolvimento no esquema do Mensalão. Já em março de 2006, é Palocci que é exonerado do cargo de Ministro da Fazenda. Sua situação ficou insustentável a partir da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, que viu o então ministro se reunindo com lobistas acusados de interferir do governo para benefício particular, partilhando o "butim" e animando festas com garotas de programa.
A partir de então, apesar dos ensaios golpistas da oposição e do PIG, há uma regeneração dos quadros do Poder Executivo. O presidente Lula vai às ruas, se legitimar no apoio popular. Guido Mantega assume o Ministério da Fazenda e faz uma pequena revolução: mantem uma política cambial austera, o que possibilita recordes na reserva; baixa a taxa de juros SELIC; reduz a influência do BC nas decisões políticas; se utiliza dos bancos públicos como agencias de fomento do desenvolvimento. Com essa virada econômica, Dilma Rousseff, que havia sido alçada a Casa Civil, coordena o PAC, lançado em janeiro de 2007. Mais que um programa de expansão do crescimento, o PAC é um novo conceito de investimento em infraestrutura que, aliado a medidas econômicas, vai estimular os setores produtivos e, ao mesmo tempo, levar benefícios sociais para todas as regiões do país. Daí nasce a confiança que Lula deposita em Dilma, e que leva a crer que sua sucessora é que mais estará familiarizada com as políticas de desenvolvimento do país.

O Resultado das Urnas

Ao fim do primeiro turno, o ANTIPIG insistiu que a tarefa da militância seria reverter os votos de Marina Silva e dos demais candidatos derrotados. O resultado, já publicado abaixo, é aqui reproduzido:
Votos em disputa (dos candidatos derrotados): 20.806.436 Crescimento de votos de Dilma (do primeiro para o segundo turno): 8.101.059 Crescimento de votos de Serra (do primeiro para o segundo turno): 10.579.016 Descréscimo do total de votos válidos (do primeiro para o segundo turno): 2.126.361

A partir destes números, vemos que a famigerada abstenção, supostamente causada pelo feriado prolongado não foi determinante no resultado na eleição. O decréscimo no total de votos válidos ainda foi atenuado pela diminuição dos votos brancos e nulos: 9.603.594 no 1.º turno e 7.142.013 no 2.º turno. Ou seja: quem foi votar, o fez com maior convicção e com menor sentimento de obrigação.
Se somarmos o crescimento de votos de Dilma e Serra, veremos que a candidata vitoriosa ficou com 43,37% deles, enquanto o derrotado Serra recebeu 56,63%. Grosso modo, podemos afirmar que os votos de Marina migraram em sua maioria para Serra, mas não o suficiente para reverter o resultado da eleição.
Outra afirmação é que Dilma venceu a eleição mesmo desconsiderando os votos do Norte e do Nordeste. Gunter Zibell, do portal Luis Nassif fez uma brilhante análise, comparando os resultados da eleição de 2010 com a de 2006. Dilma só obteve mais votos que Lula no RS. Mas nos estados tipicamente tucanos (os do Sul, São Paulo e os dois Mato Grosso), as votações foram muito semelhantes:
Sul : Lula = 46,5% > Dilma = 46,1% (redução de 0,4%)
SP : Lula = 47,7% > Dilma = 45,9% (redução de 1,8%)
MS+MT : Lula = 47,6% > Dilma = 47,1% (redução de 0,5%)

Já nos estados mais lulistas, a perda de votos foi mais significativa, chegando a quase 9% nos estados da Região Sudeste:
Nordeste : Lula = 77,2% > Dilma = 70,6% (redução de 6,6%) Norte : Lula = 65,5% > Dilma = 57,4% (redução de 8,1%) RJ+MG+ES : Lula = 67,0% > Dilma = 58,4% (redução de 8,6%)
Várias são as conjecturas. Também farei as minhas:
  1. Os estados do sul são mais pragmáticos e mais insensíveis às mudanças.
  2. Dilma teve mais votos que Lula no RS graças ao PT local, que venceu a eleição para Governador, Tarso Genro.
  3. Aécio impactou significativamente pró-PSDB, apesar da guerra interna que eles travam.
  4. Não faço idéia do que aconteceu no ES. Para apurar.
  5. A paúra religiosa fez mais estragos no Nordeste e Norte.
  6. Grande parte da elevação social para classe média se deu no Nordeste. O sentimento de não mais precisar do governo, um misto de ingratidão e egoísmo se fez presente em cidades como Natal, Aracaju, Maceió e Campina Grande.


* http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/presidente-ou-presidenta

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O LEGADO DA CAMPANHA DE J. SERRA

Ao contrário da imprensa comercial, retornaremos à ordem natural das coisas. Primeiro, falaremos sobre o derrotado. Depois, sobre a vitoriosa. É só no Brasil do PIG que o candidato perdedor tem palanque para suas lamúrias APÓS a presidente eleita fazer um discurso de grandeza, de integração, de acordo com a "liturgia" do cargo de estadista.

Eu poderia fazer inúmeras análises sobre os números que trouxemos nos posts anteriores. Nos Estados onde Serra ganhou, o fez por pequena margem, exceto Roraima e Acre*. Onde Dilma venceu, colocou no mínimo 17% de vantagem, exceto Distrito Federal e Alagoas.
Apesar de ter construído uma sólida vantagem de 15% na região Norte, e de incríveis 41% na Região Nordeste, Dilma ainda venceria a eleição desconsiderando estes 16 entes federativos.
Levando em conta apenas as regiões Sul (RS, SC e PR), Sudeste (SP, RJ, MG e ES) e Centro-Oeste (MS, MT, GO e DF) a vitória de Dilma seria apertada, com os seguintes números:
Dilma Rousseff: 33.247.499 votos
José Serra: 32.972.450 votos
Ainda chama a atenção o fato de que Serra vence em 8 destes 11 estados; seu melhor desempenho é em Santa Catarina, onde abre 13% de frente. Mas onde Dilma vence, MG e RJ, são vitórias acachapantes.

* Não sei explicar o porquê da votação de Serra tão expressiva no AC e RR. Suponho que no AC tenha a ver com a postura da família Vianna e com a dissidência de Marina Silva. Já em RR, um dos deputados eleitos com maior votação foi Paulo Cesar Quartiero, que se armou até os dentes contra a demarcação da reserva Raposa do Sol. Ele fez campanha para Serra. Sem falar que o Estado convive endemicamente com a compra de votos.



Mas, deixando de lado a frieza dos números, salta aos olhos o apartheid social, a trincheira que foi cavada separado dois "Brasis" (palavras do próprio derrotado, que na campanha falava em união, mas sempre investiu na segmentação). Desde 1974, no célebre neologismo de Edmar Bacha, o Brasil é a Belíndia da distribuição de renda: uma pequena e rica Bélgica e uma imensa e pobre Índia.
A campanha de José Serra se articulou em duas frentes. Uma, visível, nas inserções publicitárias e no horário eleitoral operava com paradoxos ("Não se deixe levar pelos boatos"), constatações sem lastro ("Foi o melhor deputado da Constituinte"), estímulo ao medo ("Ela não vai dar conta") e em fina sintonia com o PIG (chegaram ao cúmulo de antecipar uma capa da Veja). A outra, subterrânea, urdida no esteio de preconceitos inconfessáveis, de cor, classe social, origem e religiosidade. Temas supérfluos emergiram do esgoto em detrimento da verdadeira agenda política. Afinal de contas, o que é um presidente da República: é alguem que palpita sobre aborto e fé cristã ou é o chefe do Poder Executivo da nação? É um aiatolá ou um dirigente laico?

A incitação da irracionalidade na disputa política descambou para o ódio puro e simples. Há relatos de bullying nas escolas particulares de São Paulo sobre alunos cujos pais fossem eleitores da Dilma. O antipetismo cresceu e se associou a grandes setores da classe média, alienada e manipulada pelo PIG e, na parte Bélgica do país, o Brasil rachou.

Mauro Carrara tratou com propriedade dessa parte obscura da campanha do PSDB no artigo "Os segredos internacionais por trás da 'Revolução do Ódio' no Brasil", enumerando inclusive os mandamentos operativos que guiaram as ações tramadas por debaixo dos panos. O próprio ANTIPIG modestamente compilou no seu "COMBATE DE IDÉIAS - PARTE IV", o falso moralismo revelado nas denúncias de que uma gráfica do PSDB imprimia panfletos apócrifos, para serem distribuídos nas Igrejas, contra Dilma Rousseff e o PT.
No rescaldo do resultado das eleições, o ânimos oposicionistas não se abrandaram. É o que reporta Leonardo Sakamoto, no "
Breve comentário sobre o preconceito no Twitter". Uma mistura de rancor, amargura, incompreensão do país como República Federativa faz destilar o preconceito mais criminoso que a campanha serrista patrocinou. O jornalista relata:
"Ao mesmo tempo, colegas jornalistas receberam spams que defendiam a necessidade de separar o Estado de São Paulo e a Região Sul do restante do país por conta do resultado da votação. Nada sobre juntar quem não concorda com o governo eleito e fazer uma oposição firme, programática e responsável. Até porque, como sabemos, a tática do 'perder e levar a bola embora' é super madura e fortalece a democracia. Tudo bem, é meia dúzia de pessoas que acha que 'São Paulo é meu país', mas estes reproduzem em profusão argumentos na internet, também estranhos e mais palatáveis, feito Gremlins."
Mas é nos comentários que se percebe a disposição para manter o clima de instabilidade, de provocação. Um tal Fernando Lopes assim escreve:
"Vir dizer que a campanha da oposição é que foi agressiva? A campanha cheia de ódio foi a do presidente Lula, mandando extirpar partidos políticos, chamando o atual governador de sujeito, babando completamente descontrolado, tocado por algo mais que simplesmente emoção, algo meio etílico… Botando ricos contra pobres, nordestinos contra paulistas e sulistas, minorias étnicas contra a maioria branca, cristãos contra ateus disfarçados de defensores de Estado Laico… mentira destes cabras a gente até TEM de engolir mas a de gentinha puxa-saco, ah, tenha dó!"
Um outro leitor, Cláudio H. Medeiros de Andrade, assim lhe responde:
"Fernando, lembra daquela história do sujeito que estava com merda no bigode e achava que o mundo fedia? Pois é, são seus olhos vidrados que vêem tudo ao contrário."
A quem, o inconformado e beligerante Fernando Lopes replica apelando:
"Claudio, sua tática é a dos nazistas travestidos de almofadinhas. São pessoas como você que, tentando torturar a verdade, progridem em sua labuta que é a de impor sua opinião e mais que isto, criar a mentira absoluta, aquele que deve ser a nova verdade, como todo regime autoritário que com certeza você deve admirar. Não me confunda com sua família e com a sua trempe, nem me dirija a palavra, usando de expressões que devem lhe ser bem comuns e caras… senão vou ter a certeza de que faz suas necessidades na mesa e se alimenta na privada."
Como se vê, esse é o legado que José Serra deixa não só para os seus eleitores, mas para o Brasil. Cultivando preconceitos, oferecendo farto campo para eles crescerem, estimulando a discórdia sob o pretexto de vencer uma eleição a qualquer preço, conseguiu sair menor do que entrou na campanha eleitoral, como já disse Lula. Acrescentamos que sai menor inclusive que os valores que estão embutidos nestes preconceitos. Para terminar, a última reflexão do artigo de Sakamoto:
"... Até porque, como todos sabemos e o preconceito rastaquela paulistano reafirma diariamente, os nordestinos em São Paulo estão apenas em ocupações subalternas. Seja na superfície, através de risinhos, ironias e preconceitos, seja estruturalmente, via baixos salários e uma desigualdade gritante, já passamos o recado de quem manda e quem obedece. Direitos sociais e econômicos já são sistematicamente negados. Agora passamos a dizer não também aos direitos políticos? Qual o próximo passo? Revogar a Lei Áurea?"




segunda-feira, 1 de novembro de 2010

OS NÚMEROS DAS ELEIÇÕES - II


1.º Turno 2.º Turno
Dilma Rousseff 47.651.434 46,9% 55.752.493 56,05%
José Serra 33.132.283 32,6% 43.711.299 43,95%
Marina Silva 19.636.359 19,3%

Demais Candidatos 1.170.077 1,2%

Total 101.590.153 100,0% 99.463.792 100,00%

Crescimento No 2.º turno Cres/Total Cres/Válidos
Dilma Rousseff 8.101.059 38,94% 43,37%
José Serra 10.579.016 50,84% 56,63%
Total -2.126.361 10,22% -

OS NÚMEROS DAS ELEIÇÕES


2.º TURNO 1.º TURNO
Votos Válidos 99.463.792 93,30% 101.590.153 91,36%
Votos Nulos 4.689.417 4,40% 6.124.254 5,51%
Votos em Branco 2.452.596 2,30% 3.479.340 3,13%
Pendentes 272 0,00% 0 0,00%
Subtotal/Comparecimento 106.606.077 100,00% 111.193.747 100,00%
Abstenções 29.196.930 21,50% 24.610.296 18,12%
Total 135.803.007 100,00% 135.804.043 100,00%
Registros no TSE 135.804.433 100,00% 135.804.433 100,00%
Diferença 1.426 0,00% 390 0,00%