sábado, 26 de abril de 2014

PEDÁGIO PAULISTA BANCA UMA COPA POR ANO

Esta é uma notícia interessante para qualquer viajante, profissional ou turista (me enquadro nas duas categorias). Já reconhecidos como os mais caros do mundo de antanho, o faturamento dos pedágios paulistas no ano passado seria suficiente para construir os 12 estádios da copa.

As concessionárias que administram os pedágios nas estradas de São Paulo (o que exclui, por exemplo, a Dutra, a Regis Bittencourt e a Fernão Dias) arrecadaram, em 2013, cerca de R$ 6,891 bilhões, de acordo com o Pedagiômetro– que utiliza os relatórios de arrecadação das próprias empresas para aferir os valores recebidos nas praças de cobrança.
Já o valor contratado para a reforma e construção das 12 arenas, a disposição no Portal Transparência do governo federal, aba Copa 2014,  está orçado em R$ 7,6 bilhões, com o adendo de que esse recurso vem de diferentes fontes, incluindo BNDES, Caixa Econômica Federal, além de governos estaduais e municipais, dentre outros.

Ou seja, o pedágio tomou do cidadão um valor R$ 700 milhões abaixo do montante que gerou tanta gritaria na oposição, tantos imbecis na rua, a ponto de tentarem desestabilizar o governo. Acontece que desde que começou esse processo de expropriação de um bem público, o caminho para as pessoas se locomoverem, não teve um filho da puta que saiu de casa a protestar contra esse assalto institucional. Assim, com a conivência do PIG, sempre lacônico no tema (quando não abertamente a favor), se explica por que as concessionárias, avalizadas pelo governo tucano, não pouparam recursos na construção das praças de pedágios, que saltaram de 40, em 1997, para 246 em 2013.

A extorsão fica evidente quando se lembra que as estradas concedidas, principalmente na primeira fase, em 1998, já apresentavam boa qualidade, construídas com recursos dos impostos pagos pelos contribuintes estaduais. Os tucanos entregaram para a iniciativa privada o melhor, as rodovias duplicadas e com maior fluxo de tráfego.

O drama não acaba por aí. Entre as rodovias pedagiadas em SP, 67% dos contratos são corrigidos pelo IGPM, anualmente. Se o governo tucano utilizasse o IPCA para o ajuste da tarifa, como faz o governo federal, os pedágios estariam 38% mais baratos. Além disso, siliconando as tetas para a mamata das empresas arrecadadoras, o tucanato paulista estipulou a TIR (Taxa Interna de Retorno) na média de 20%. O resultado é que a receita com pedágios superou os R$ 7 bilhões, em 2012, e o lucro líquido ultrapassa 30% ano após ano.

Houve quem já defendesse inclusive que todos irrompêssemos as cancelas dos guichês de pagamento, num exercício de cidadania e desobediência civil. A base jurídica para tal conduta é bem plausível: uma vez que a rua/avenida/estrada qualquer logradouro são públicos e que o direito de ir e vir é assegurado como cláusula pétrea na Constituição, a cobrança seria um abuso contra direitos com mais elevada dignidade legal. Os espoliadores dos bens públicos ficaram furiosos. Óbvio que essa contenda, levada às barras dos tribunais, é facilmente vencida pelo poder da capital, ao qual se submete lépido e faceiro o nosso judiciário.

A indignação seletiva do movimento "não vai ter copa" tem que necessariamente se basear na ignorância. No mínimo, no conhecimento parcial dos fatos. É público que alguns celerados pediam para que se gastasse o mesmo que se gastou com estádios em saúde (cujo orçamento chega a quase R$ 100 bilhões anuais) e educação (R$ 91 bilhões, só do governo federal).

Muitas dessas pessoas têm como porta-voz as virgens vestais que formam a escória do já tão combalido jornalismo tupiniquim: os jornalistas esportivos contra a Copa. Elejo a figura do recalcado Juca Kfouri como seu representante mor, e alguns da ESPN que nem sei o nome para comporem sua comitiva. Alegam que copa não é prioridade a um Brasil tão carente (uma verdade) para subirem a tribuna e desancarem o governo em todo e qualquer assunto. Nem a copa, nem o futebol, nem qualquer esporte, muito menos os programas esportivos e os rios de dinheiro que circulam em seus patrocínios são relevantes ao país. Mas, se fosse verdade que se preocupam mesmo com a nação, que tal lançarem a campanha: Façamos uma Copa a cada ano somente com a arredação dos pedágios!?

Fica a dica.

domingo, 13 de abril de 2014

VERDADES DEMOCRÁTICAS

Eis que, direto de Rio Branco, Acre, ilhado do resto do Brasil, num raro momento de ociosidade, ligo a TV e me deparo com a propaganda política do PSDB.

Primeira verdade: perderam a vergonha de expor aquele tio gagá, que já não fala coisa com coisa. O que é bom, verdadeiro, pois vincula o nome do partido às pessoas que dele fazem parte. Na cidade de Goiás, que os demais estados chamam de Goiás Velho, é comum as famílias terem um parente com problemas mentais, ou, no linguajar do povo, um bobo. A anedota é que a cadeia de lá não precisa de grades: para conter os detentos, eles dão chicletes aos mesmos. Acredito que seja a consanguinidade, após muitos anos de isolamento, mas o fenômeno é recorrente na cidade. O que não é nada coincidente é o fato das origens de FHC serem de lá.

Segunda verdade: Aécio, pego num flagrante de sobriedade, disse que o Brasil precisa de um governo que ouça mais do que fala, e faça mais do que promete. Absolutamente pertinente, ainda que se trate de uma platitude. Tanto é verdade, que o Brasil, movido pelo anseio de um governo que falasse menos e agisse mais, defenestrou a corja do PSDB em 2002, e desde então eles batem cabeça de todas as formas para voltar a dilapidar o patrimônio público e sugar as gordas e generosas tetas do Estado brasileiro*.


Achei que algo diferente estivesse ocorrendo no sul maravilha, mas não. Continuamos no mais do mesmo. A campanha já começou, e o que consideramos sujo em 2010 deve atingir níveis impensáveis de sordidez em 2014. Prolifera na internet esse tipo de "jornalista": assumidamente de direita, disposto a xingar, ofender, assassinar qualquer petista e/ou aliado, clamar pela volta de ditadura e delirar nas paranoias. A mais divertida é a que "denuncia" o Foro de São Paulo, ritual satânico ungido pelas forças das trevas. Nunca estivemos tão distantes de "lançar as bases para dominação comunista internacional" e esses trouxas berram que o Fidel e o Lula em conluio com todas as maldade interplanetária tramam esse ardil há quase 25 anos.

Também gosto da transformação do discurso sobre o bolsa-família. Partiram da premissa de não realizar nenhuma autocrítica (coisa de esquerdista), tomando seu governo como perfeito, ainda que os índices de rejeição e a falta de popularidade ao fim do segundo mandato de FHC tenha atingido níveis estratosféricos. De outro lado, contestaram TODAS as iniciativas petistas no governo. Oras, até por probabilidade, é impossível alguém errar sempre. Se não houvesse a histeria antipetista, perceberiam que não há governos monolíticos; são eivados de contradições. Com esse contexto, massacraram o bolsa-família, tratando o programa como "bolsa-vagabundagem", assistencialismo, promoção da preguiça, até se darem conta que já tinham perdido tanto espaço e voto que alteraram o discurso: agora dizem que o bolsa-família foi "idealizado" nos governos tucanos, permitindo um legado de prosperidade ao PT.

A falta de visão dessa malta não se limita à política: com esse discurso procuram cavar uma boquinha no PIG, sempre disposto a dar espaço para quem esculache as ideias/pessoas/política de esquerda, ainda que caminhem, enquanto veículos de comunicação, para a extinção. Estão, como diz o PHA, em estado comatoso, mas ainda torram seus últimos insumos para fomentar a oposição hidrofóbica através desses indivíduos insignificantes e desprezíveis.

A grande verdade é que vivemos um tempo estranho, de subversão de conceitos caros ao senso comum. A democracia, como governo do povo, pelo povo e para o povo, nas simples e sábias palavras de Lincoln não existe mais. Consente em seu seio com a conspiração, criando no próprio ninho o ovo da serpernte. Nenhum regime de governo, seja quando a quem exerce o poder (a democracia, está em oposição à aristocracia e à monarquia), sua forma jurídica, ou modelo econômico admite a tramóia para derrubá-lo. E essa verdade vale para qualquer regime, socialista ou capitalista, democrata ou ditatorial.


* Essas tetas gordas, lógico, são mamadas apenas por meia dúzia de apaniguados. No interior do Acre, na divisa com a Bolívia, elas são mirradas como as de uma cadela de rua.

terça-feira, 1 de abril de 2014

RE-HISTÓRIA

Por força das atribulações da vida profissional, o blog anda meio às moscas. Os últimos meses foram intensos, na estrada, e me permitiram uma coisa com a qual já sonhei: num curto período de tempo, estive nas cinco regiões brasileiras.

No Sul maravilha, estive apenas a passeio. Pela BR-101, de carro, e pagando pedágios de R$ 1,70, fui até Florianópolis. Amei o que vi, comi como um rei, mas não moraria. Como ponto turístico, é perfeito. Na volta, parei em Joinville. No Centro-Oeste, onde fixei residência há 26 anos, estive em Goiânia e Brasília, que subiram em meu conceito. É que às vezes, santo de casa não faz milagre, mas, se comparadas com outras capitais... Por exemplo, para chegar à Paulicéia desvairada domingo último, de carro, levei de 3 horas para vencer as modernas e amplas rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, até o aeroporto de Guarulhos, num percurso de 120km. Conclusão da ópera: perdi o vôo.

Ainda no sudeste, pelo qual passei mais de uma vez, estive em Sorocaba, Campinas, no Vale do Paraíba, e estiquei ate a praia, na belíssima Trindade, município de Paraty, Rio de Janeiro. Nas últimas três semanas, conheci a tenebrosa Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, encostado no distrito de São Benedito e ouvindo alertas sobre o perigo da violência urbana que eu pensava serem adstritos a São Paulo. Como BH enfeiou desde minha última visita (2004). Que trânsito caótico!

Pegando o gancho da mobilidade urbana, conto que aportei em Salvador antes da folia de carnaval. Me decepcionei com o estereótipo de praia, sombra e água (de coco) fresca. Salvador não tem praia e como estava trabalhando na Av. Paralela (curiosidade geométrica: ela não é paralela a nada), que liga o centro ao aeroporto, passando por incontáveis bairros, aluguei um carro, apenas para o trajeto trabalho-hotel-trabalho. E fiquei mais tempo dentro do Celta prata que consegui a R$ 60,00 a diária, preso nos intermináveis engarrafamentos, do que trabalhando efetivamente no que fui fazer. O que ia pagar de táxi, caso não alugasse o carro, não está no gibi.

E eis que agora escrevo de Rio Branco, no Acre, suando em bicas às 19 horas, no fuso local. Experimentando uma sensação ímpar de separatismo. Não como o dos gaúchos, que se julgam superiores aos mestiços e indolentes brasileiros. Mas também um sentimento de raiva, por tanta tempo de esquecimento e exclusão.A cidade sofre no momento com a falta de alguns produtos, por conta da cheia do Rio Madeira, que impede o transito na BR-364, via terrestre que liga o Acre ao resto do Brasil. Por isso, chegam carretas do Peru, via transoceânica, com todo tipo de produto. É inimaginável a histeria das redes de comunicação com o assunto. Trata-se de estado governado pelo PT há 16 anos e o PIG, mesmo o acreano, fica fulo da vida com isso. É um PT mais afeito à etiqueta palaciana, mas que jamais perderá o mérito de ter expurgado do poder bandidos e assassinos, como Orleir Camelli, Ronivon Santiago e Hildebrando Pascoal.

Enfim, essa são as notícias, mas uma data como essa tem que ser permanentemente lembrada, sob pena de repetirmos o erro. O dia que jamais acabou.
Esse texto foi escrito a exatos dez anos. Passávamos então pelos 40 anos da efeméride que marcou nosso futuro. É interessante notar como em 2004 já havia a preocupação com essa interpretação da história revisionista. Um pecado do original é a citação, em inglês. Ainda que seja uma música de "protesto", que lembra o domingo sangrento, e cantada na voz do oprimido o contexto hoje é de abertura dos arquivos norte-americanos. O U2 é irlandês, mas o nome do meio de John Kennedy, que conspirou à distância, fomentando o discurso ameaçador do comunismo, instando as elites à insubordinação e, principalmente, resguardando o aval político ao que os milicos fizeram, também é (Fitzgerald).
Endosso a ideia de um amigo que fiz nessas andanças, paranaense de Campo Largo: assim como já há a substituição de logradouros públicos como Castelo Branco, Costa e Silva, Médici e corriola, que se substitua o nome de todas as ruas, escolas e instituições que hoje ostentam o patromínico do infame ex-presidente dos EUA que apoiou o golpe militar no Brasil. Infame, como quase todos os outros

Real, but sad, Politik


I can't believe the news today
I can't close my eyes and make it go away.
How long...
How long must we sing this song?
How long, how long?*

As imagens de 40 anos atrás continuam vívidas nas íris de todo cidadão brasileiro. São marcas indeléveis no corpo nacional. Feridas que não cicatrizam. O golpe alterou para sempre os destino de todos nós, até mesmo daqueles que sequer existiam.

Personagens heróicos, dados a voluntariedade, a retidão de caráter, a fibra e a defesa de ideais, caçados como animais e empalados em praça pública, de forma exemplar. Personagens infames, metendo o coturno na cara da sociedade, com todo escárnio e desprezo pela humanidade, com o escopo de manter a ordem e acelerar o progresso. Infelizmente, milhares de outros personagens, hoje em dia tratados como heróicos ou infames, graças às circunstâncias criadas nesse purgatório terrestre.

Uma ínfima parcela da sociedade conhecia os fundamentos do comunismo. (aliás, nesse aspecto, pouco coisa mudou!). Pois os golpistas utilizaram a velha artimanha de instigar o pavor ao desconhecido para tentar alguma adesão, algum respaldo. Ao invés de levar luz onde há trevas, conhecimento onde há ignorância, leva-se o medo, e mantém-se a dominação, intelectual e física. A grande massa, circunstancialmente covarde, se omitiu.

Mesmo assim, foram repudiados pelo povo. Jamais houve uma manifestação popular tem apoio ao regime de exceção. Os desfiles de 7 de setembro lembravam o totalitarismo nazi-fascista. Vaquinhas de presépio, acuadas, aplaudiam comedidamente o passar dos tanques, que por qualquer motivo, poderiam esmagá-los instantes depois. Multidão reunida? Só pelas diretas...

Não menos culpados foram os “intelectuais” que tentaram dar um quê de racionalidade naquela estupidez. Bob Fields, Mário Henrique Simonssen, Delfim Netto. Jamais se aproximaram dos porões da ditadura. Jamais sujaram seus belos ternos, cortes impecáveis, com o sangue dos inocentes. Porém cometeram, não uma, mas várias vezes, o crime de lesa-pátria. Tornaram o FGTS um regime obrigatório, esfaqueando o suado salário do trabalhador. Revogaram a lei de remessa de lucros. Engessaram a reforma agrária, revertendo nosso campo para a exportação. Construíram obras faraônicas com o dinheiro público, e enriqueceram construtores, empreiteiros, conglomerados de mídia. Tornaram a corrupção uma instituição... Atrelaram definitivamente nossas vida à dívida externa. E ao FMI.

Um grande monumento à bestialidade humana. O autoritarismo, a tortura, a violência, o tacão dos tacanhos. DOI-CODI, Dops, as diversas tecnologias criadas para extrair confissões, e para retirar dignidade. Atentados contra civis, cavalos pisando homens. Arapongas, traidores, infiltrados. Repressão, mordaça, AI-5, truculência. Guerra Civil sob os auspícios de um milagre?! Não, não é para quem tem estômago fraco. É mais macabro que qualquer ficção. É mais mórbido do que qualquer adjetivo possa expressar.

Justificando o injustificável. Nos dias de hoje, os historiadores explicam os acontecimentos passados graças ao “despreparo” de Jango. Apontam um bode expiatório depois de perpetrada a carnificina. Oprimem, como fizeram idos atrás os golpistas, e como fazem hoje os organizadores da divisão social do trabalho, com a reengenharia. Como estes, fundam uma nova “ciência”: a Rehistória.

Ninguém Lê.com.br – Porque temos memória

(*)Eu não posso acreditar nas notícias de hoje
Eu não posso fechar os olhos e fazê-las desaparecer.
Quanto tempo...
Quanto tempo teremos de cantar esta canção?
Quanto tempo, Quanto tempo?