Há infinitos modos de apresentar um argumento. Sempre quis escrever algo sobre este assunto, mas me faltava inspiração. Agora, de uma tacada, duas visões privilegiadas sobre o tema que envolve hipocrisia, teleologia estatal (para que o Estado serve), ideologia, luta de classes, retórica... enfim, é um prato cheio para discussão.
Comecemos, pois, com o Tijolaço, agora capitaneado pelo jornalista Fernando Brito, cuja epígrafe é sensacional: "A política, sem polêmicas, é a arma das elites"
Duas maneiras de poluir a atmosfera |
A RICO, INCENTIVO; A POBRE, POPULISMO
Quando o caro amigo ou a cara amiga ler ou ouvir a palavra populismo, cuidado.
Em geral, é um adjetivo usado para desqualificar o que é bom para o povo.
Hoje, em editorial, o Estadão
diz que o crédito facilitado para que os beneficiários do programa
“Minha Casa, Minha Vida” comprem móveis e eletrodomésticos é “um ato
populista”.
Porque “o Tesouro terá de subsidiar o novo programa de estímulo ao consumo”.
Curioso é que esse argumento não vale quando quem é estimulado é o capital, não o consumo.
Não há preocupação com quanto sai do Tesouro para bancar a elevação
da taxa de juros. Nem com quanto deixa de entrar com o fim do IOF sobre
investimentos estrangeiros.
Exigem superávits cada vez maiores, a qualquer preço, no Brasil. Mas
os europeus, os EUA, o Japão, todos eles têm déficits astronômicos e
ninguém os chama de populistas.
Quando Lula, em 2009, tirou o IPI de uma série de produtos para
enfrentar a crise européia também não faltaram críticas deste tipo:
populista, irresponsável, eleitoreiro.
E, se não fosse isso, a marolinha teria sido mesmo um tsunami.
O financiamento oferecido ao público do Minha Casa, Minha Vida, além
do benefício imensurável que traz à vida doméstica de milhões de
brasileiros de baixa renda, tem outros méritos.
Inclusive no combate à inflação.
Ao fixar valores máximos para os produtos elegíveis para a compra, a
linha de crédito contribuirá para segurar os preços de várias linhas de
consumo. Que empresa desejará, por alguns reais, deixar seus produtos
fora dos limites do que pode ser financiado? Além disso, com a alta do
dólar, o que é produzido aqui, com custos em real, será mais
competitivo, certamente.
A roda da economia vai girar e é isso o que mantém a bicicleta equilibrada.
A finalidade das políticas econômicas é produzir bem estar, não superávits a qualquer custo social.
Isso não é populismo. Isso é considerar a economia um bem de todo o povo, não a economia para os bens de uns poucos.
Duas maneiras de ter vizinhos inconvenientes |
Clap, clap, clap. Agora, uma outra versão do mesmo tema. Mais sucinta e, me atrevo a dizer, espirituosa. O autor da frase é o finado George Carlin.
Uma maneira de ser sarcástico. E honesto. |
"Os conservadores dizem que se você não der aos ricos mais dinheiro, eles
vão perder o incentivo para investir. Quanto ao pobre, eles nos dizem
que perderam todo incentivo, porque nós lhes demos muito dinheiro. "
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