1. Essa semana participei de um curso de capacitação profissional chamado Liderança e Resultados Sustentáveis. Noves fora a baboseira das teorias de administração e a hipocrisia de se propor a solução da equação impossível de um capital "humanizado", com as preocupações empresarias divagando e perpassando as dimensões econômica, social e ambiental, determinado aspecto me permitiu um link com a realidade: num momento em que se falava da liderança através do exemplo, foi dito que quem legitima a liderança é a credibilidade do líder. Que as pessoas não aceitam uma mensagem se não confiam no mensageiro. Pois bem, vá às ruas, repartições públicas, casas, escolas, restaurantes e hospitais: todos repetem freneticamente a mensagem de uma específica "mensageira". A Globo é de fato onipresente no Brasil. As pessoas creem com devoção religiosa na Globo. Democracia do controle remoto com a hegemonia da Globo é fascismo.
2. A prudência me aconselha a não explicitar essa ideia. Estamos numa luta ideológica e é fundamental ponderar as opiniões, até para que não se traia pela própria tagarelice. Mas há outras coisas mais importantes que a prudência em jogo. Dia 19 de junho escrevi um texto aqui no Antipig, o "O Caos", e concluía que a onda de marchas acabaria em nada, ou em tudo, que no caso é a completa destituição e subversão da ordem estabelecida. Dia 27 de junho me senti o próprio personagem descrito por Paulo Henrique Amorim: "Como dizia aquele amigo, velho comunista, que não caiu na esparrela do PPS: isso aí não dá em nada, ou derruba o Governo. Acertou."
Hoje, temos os míopes que enxergam no amainar dos ímpetos aquela velha falha de caráter do brasileiro acomodado. Não é o caso. O governo Dilma, tal qual até maio de 2013 não existe mais. O poder está em disputa, pendendo acentuadamente para a direita. O governo tem sido criticado por agir e por não agir, por desonerar produtos industriais e por causa dos altos impostos, pelo consumo e pela inflação, pelo menor desemprego jamais aferido e pelo aumento real dos salários, pela subida do dólar e antes por sua baixa. E não reage, sua voz não ecoa na sociedade envolvida pela Globo. E não tem condições políticas de propor nada além dos cinco pactos, sendo que um deles já foi para saco, o da reforma política através de uma Constituinte. Está acuado. Está se aliando com governadores e prefeitos da oposição que não hesitarão uma vírgula em sabotar o êxito das iniciativas.
Não escrevo isso apenas para orgulhosamente demonstrar meu prognóstico acertado. Quero pensar e agir a partir da certeza de que a esquerda tem uma agenda para oferecer ao Brasil. Que queremos continuar políticas como a inclusão social, a manutenção das garantias trabalhistas e sua ampliação para segmentos antes excluídos, que a política externa continue sendo altaneira e que os juros fiquem em níveis civilizados. Não quero perder essas conquistas tão suadas, que podem virar pó ao ritmo da avalanche direitista que nos assolou em junho.
3. Às vezes, as percepções não conseguem ser verbalizadas, por falta de elementos que a tornem uma ideia plausível. Que os protestos e arruaça dos últimos dias foram controladas à distância, não tínhamos dúvida, devido à ignorância e desinteresse político dos participantes. Mas por quem?
Temos elementos agora para provar que não se tratava de paranoia. O professor Wanderley Guilherme dos Santos explica a receita de como as marchas eram direcionadas - fisicamente - para objetivos específicos. A direita instigou e capturou desde logo a insatisfação da classe média nas redes sociais. Grupelhos profissionais emergiram com nomes palatáveis e endereços desconhecidos, vide o Anonymous Brasil, conquistando jovens autointitulados bem intencionados, pedindo paz e não violência. Esses disciplinados militantes se ajuntavam às passeatas, protegidos na multidão acéfala. Homens formados, vestidos de executivo, incorporavam-se à marcha a distâncias regulares e ditavam a velocidade dos caminhantes, coordenando as ações, a exibição dos cartazes e os alvos, para depois, encaminharem incautos, saqueadores e sociopatas de todas as inclinações, para o conflito aberto. Nenhum foi, até agora, apanhado. Preliminares de 2014.
Eis que a linha temporal dos protestos virtuais foi dissecada aqui. Uma origem metódica, sistemática, secretamente introjetada no caos aparente. Saíram do dia 04 de junho como baderneiros estudantis para dia 22 articularem o golpe de Estado via Orlando, Flórida. Agora, Luiz Carlos Azenha publica um breve historial da cooptação de movimentos inicialmente legítimos que atuaram exatamente como os ditames de Washington. O apoio aos governos direitistas da América, o fomento das guerras nos países em desenvolvimento, as revoluções coloridas do leste europeu. Tudo isso evoluiu para uma forma mais sutil (na aparência) de dominação. Através de uma ampla rede horizontal não hierarquizada (percebem algo nessa linguagem?) de entidades que fomentam um determinado tipo de "democracia" conveniente aos interesses da Casa Branca. Dentre essas, citamos a Open Society, do escroque George Soros.
Sombrio. Percebe-se que o inimigo é muito maior que pensávamos. Como o próprio Azenha descreve: "do ponto de vista estratégico, esse conjunto de ações parece refletir a evolução da preocupação dos Estados Unidos com as
mudanças inevitáveis derivadas de uma juventude cujas aspirações não
podem nem vão ser atendidas pelo neoliberalismo. Uma tentativa de
direcionar a energia da chamada “bomba demográfica”. De incentivar,
através das redes sociais e de novas tecnologias, um movimento de jovens
que se contraponha a uma saída pela esquerda: em defesa do
empreendedorismo, da livre iniciativa, contra a cobrança de impostos,
contra o Estado ‘inchado e perdulário’, contra a regulamentação das
corporações e do sistema financeiro e assim por diante".
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