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* Até uns 15 dias atrás, o MPL era
um asterisco na dinâmica social brasileira. Ignorado pela esquerda
(vá lá, a esquerda institucionalizada, aquela que disputa eleições.
Mas, mesmo assim, eles sempre rejeitaram a aproximação - entrismo -
do PSOL, PSTU, PCO) e hostilizado pela direita (que sempre os rotulou
como baderneiros, bandidos, arruaceiros), jamais teve acesso a mais
que alguns segundos na grande mídia. Mesmo na imprensa alternativa,
eram pra lá de coadjuvantes.
* É lógico que o que está à
baila é muito mais do que os R$ 0,20. A rejeição ao aumento das
passagens foi um estopim. Porém, no início, a mídia, falando em
nome da classe que representa, tratou de tachar todos de punks,
anarquistas e/ou rebeldes sem causa e a PM desceu o cassetete (e
balas de borracha também). Não só a mídia, mas, em uníssono, os
poderes constituídos. Até o desprezível ministro da justiça
endossou a tática de baixar o cacete nos manifestantes.
* Num segundo momento, alguns
setores (não necessariamente os entristas do PSOL, PSTU e PCO)
expuseram cartazes com outras pautas, uma completa geleia geral, mas,
entre elas, questionamentos sobre a realização da copa e cobranças
ou ataques ao governo federal. A mídia percebeu que se desse uma
“empurrãozinho” nesse samba do criolo doido a coisa poderia
gerar boas manchetes de acordo com seus interesses. No Rio, artistas
globais foram convocados para engrossar fileiras e empunhar cartazes
contra a “corrupção e a roubalheira”.
* Houve refração à cobertura da
globo, com o manjado slogan do povo, que não é bobo. Será que não?
Será que não houve pautas mais relevantes para que saíssem às
ruas os inconformados de hoje? Ou é inconciliável exercer a
cidadania durante a temporada do Big Brother? Será que a galera que
se informa através dos memes do facebook é realmente mais
consciente do que os perpétuos alienados pelo padrão global?
Queimaram o carro da record, mas tiram fotos com os astros de novela
da Vênus platinada.
* Superando meu comentário, o fato
é que a globo foi expulsa do evento. Adotou algumas estratégias,
como a cobertura dos acontecimentos à distância, por helicópteros,
microfones sem o cubo identificador da emissora, escalação de
repórteres desconhecidos em São Paulo, leitura de editoriais em
nome do compromisso com a informação, apesar da parcialidade
costumeira, e até um suspeitíssimo pedido de desculpas do Arnaldo
Jabor.
* Como já se disse, se o Jabor está
posando de revolucionário, temos que ficar de olho. Começou dizendoque os manifestantes não valiam nem os 20 centavos, mas mudou o tom.
Hoje ele é a personificação da cúpula global, e sempre tenta
desqualificar os movimentos sociais - ataques rasteiros e rancorosos
ao MST, ao sindicalismo, à esquerda. Ademais, é assíduo
frequentador do Instituto Milleniun, o antro dos barões da mídia e
dos ricaços, onde se porta como cabo eleitoral da oposição
demotucana.
* Ele até
tentou “politizar” a baderna, dizendo ser mais digno lutar contra
a PEC 37. Mas depois do que o promotor Zagallo falou, acho pouco
provável que angarie qualquer simpatia. Isso dá um indício de como
o custus legis está distante dos supostamente defendidos
direitos difusos e coletivos, e, indo além, como os órgãos do
Estado são alheios à sociedade a qual prestam serviços.
*
Impossível dissociar os fatos da cobertura midiática. Para quem não
está pulsando ao calor dos fatos, é a versão (única) disponível.
E a dicotomia que eles propõem é a seguinte: se a manifestação é
pacífica, então é legítima; se há confrontos e violência, perde
a razão, vira coisa de desocupados. Literalmente, foda-se o conteúdo
dos protestos, desde que a forma dele seja aquela prevista e
disponível dentro dos estreitos limites do ordenamento jurídico.
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* O
problema é que prometeram uma festa para o povo, mas é mentira. O
povo não vai chegar perto dos estádios nem para vender
churrasquinho e camisas de time. É um evento ultra elitizado, uma
farra que consumiu 30 bilhões de reais para o convescote dos
turistas e de uma elite absolutamente insensível ao contexto em que
falta o essencial. Acho brilhante a sacada das escolas e hospitais
com “padrão FIFA”.
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Mais
imbecil ainda é a ideia do apolítico. O que eles fazem? Esporte?
Terapia?
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Essa
indistinção, bem ao estilo dos porcos com os homens do epílogo da
Revolução dos Bichos, de George Orwell, é a causa de uma parte do
amorfismo dos protestos, mas que pode conduzir a desfechos
completamente díspares: tudo ou nada. Ao fim e ao cabo, nos dois extremos, jazem a
cidadania e a política.
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