quarta-feira, 26 de junho de 2013

PEC 37 JÁ ERA

O império mafioso que controla a mídia vai ter que arranjar outra bandeira e, quiçá, novos fantoches. Pelo que sairão às ruas agora os teleguiados manifestantes? O Congresso derrubou ontem de forma quase unânime a PEC 37, de autoria do deputado federal e delegado Lourival Mendes (PT do B-MA). A matéria era uma das propostas polêmicas em tramitação no Congresso Nacional que estavam na mira de protestos na vaga de manifestações pelo Brasil. Não só dos protestos, mas da Globo, do Jabor, do Roberto Gurgel, do Demóstenes e, por tabela infalível, do Carlinhos Cachoeira.
No total, foram 430 votos pela contra a PEC, nove favoráveis à proposta e duas abstenções. Com a derrubada, o texto da proposta foi arquivado.
Noutro momento, essa votação passaria despercebida, exceto pelos anseios corporativos que enseja. Assunto de importância secundária ao povo brasileiro, foi elevado à falsa condição de clamor social por aquela direita que manobrou os alienados nas últimas manifestações. Aqui em Goiânia, o nível de despolitização chegou ao cúmulo dos marcheteiros irem até o Paço Municipal, sede da prefeitura, protestar contra os gastos faraônicos do governador Marconi Perillo, do PSDB, na recepção dos treinos da seleção. Ou seja, independente saberem do que reclamam, da justeza da pauta, caminharam 7 km à toa, estorvando as pessoas que saiam do trabalho, bem no horário do rush. Mas deram às caras a "nova bandeira", ou melhor, guarda-chuva que acobertará a inconfessável ideologia dos poderosos que manipulará as marionetes: é o genérico e dispersivo "combate à corrupção".
Faço minhas as palavras do jornalista Carlos Motta, que mostrou rara lucidez nos momentos cruciais do levante golpista:

"Gritar nas ruas 'abaixo a corrupção' não é algo difícil de ser feito. Também não exige muita prática ou conhecimento dar declarações demagógicas sobre o assunto, como costumam fazer os parlamentares que integram a turma do contra. Tudo isso faz parte do que se costuma definir como 'jogar para a plateia'.  Não traz nenhum resultado prático em favor da luta contra esse câncer que corrói o organismo social, a não ser a promoção pessoal do 'indignado'. O combate à corrupção é algo muito mais sério do que esgoelar refrões e slogans batidos, muito mais profundo do que caprichar nas caras e bocas em frente às câmeras de TV.
Exige, quando se pretende realizar um trabalho sério, profundo, que dê resultados, muito dinheiro, investimentos pesados em pessoal e estrutura. A turma que leva esses cartazes anticorrupção de português trôpego aos 'protestos' de rua, tenho certeza, nem sabe ao certo o que é corrupção, nem sabe que muitos de seus integrantes a praticam e a veneram como uma das grandes virtudes do ser humano."

Quando derrubaram Getúlio, e depois Jango, o mote levantado pelos jornais (é bom lembrar que Carlos Lacerda, o corvo, era dono de jornal) foi o malfadado combate à corrupção. É uma estratégia moral que escolhe os adversários: somente a corrupção alheia é motivo de repulsa. Ninguém mais lê jornais, mas a grande desgraça da modernidade é a tal democracia do controle remoto. Não votamos nas empresas e o poder de pressão da audiência em relação à programação é tênue, quase nulo. São dois valores inconciliáveis. Ou se exerce a cidadania, interagindo e decidindo os destinos da coletividade, com o povo sendo a razão e o fim da política, ou se prostra, qual ser vegetativo, à frente do que Stanislaw Ponte Preta chamava de máquina de fazer doido, e de espasmos em espasmos se "indigna contra tudo que está aí", desde que a próxima atração não seja assim tão imperdível. Não é garantido ao homem comum o direito de se abster desse melancólico circo de horrores que invade os lares brasileiros sem qualquer cerimônia, patrocinado pelos mais "filantrópicos" anunciantes.
Apesar do golpe não haver se concretizado na íntegra, os partidos de esquerda saíram chamuscados. O "sem-partido" era claramente direcionado às bandeiras vermelhas. E de pensar que o PT foi conivente com a abjeta democracia do controle remoto, não incentivando sequer alternativas culturais à televisão. A Globo, pelo contrário, embolsou o movimento do passe livre e escondeu bem as ocasionais faixas criticando-a.
Quem agora tem condição política de ir às ruas incluir na pauta de avanços sociais, ao lado da reforma política, do 100% dos royalties do petróleo da educação, da importação de médicos para os grotões mais recônditos do país, desprezados pelos profissionais da medicina brasileira oriundos de famílias abastadas dos grandes centros, a aprovação do marco regulatório das comunicações? Vamos ter que aguardar outro momento, com condições mais favoráveis, e assistir a outro ciclo golpista como esse?

Odeio isso, mas finalizo com mais perguntas que respostas.

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