sábado, 28 de junho de 2014

COPA DO MUNDO 2014 - SELECIONÁVEIS

1. A fase de grupos se encerrou com 48 jogos e 2.454.377 espectadores, resultando uma média de 51.113 pagantes por partida. O menor público foi registrado no empate entre Rússia e Coreia do Sul, em Cuiabá: 37.603 pessoas num estádio em que caberiam 41.112, ou seja, ocupação de 91,46%. Já o maior público foi aferido na vitória da Argentina sobre a Bósnia-Herzegóvina, no Rio de Janeiro: 74.738, 100% de lotação.

2. A maior média de público de uma Copa do Mundo dificilmente será batida um dia, por causa da diminuição do tamanho das arenas. Foi nos Estados Unidos, em 1994, com 68.991 presentes por confronto, lembrando que aquela edição tinha 24 equipes e 48 jogos (e estádios para beisebol, futebol americano, além do Estádio Olímpico de 1984, adaptados ao soccer). Em 2.º lugar está a Copa da Alemanha de 2006, com média de 52.491 torcedores. Os jogos nos quatro menores estádios estão encerrados (Curitiba, Cuiabá, Manaus e Natal), palcos com aproximadamente 40.000 assentos. Agora, com os jogos eliminatórios e campos maiores, creio que superaremos a média alemã, ultrapassando-a no 2.º posto. Se a média permanecesse imóvel, seríamos 3.º colocado, à frente do México em 1970, com 50.174 entusiastas.

3. Cadê o caos profetizado? A regra do PIG é como o princípio ético de Aécio Neves: se a copa der errado, a culpa é do governo. Se der certo, é graças ao povo brasileiro. O caos aéreo era apenas o primeiro dos problemas que revelavam a nossa incapacidade em sediar um evento desse porte. A pregação pessimista incluía também o apagão elétrico, "estádio inseguros", blecaute na comunicação e surto de dengue. Até uma aliança entre black blocs e PCC nas manifestações durante os jogos aterrorizou a população. Durante anos o medo do vexame na Copa do Mundo martelou no noticiário.

4. A imprensa vem lentamente "costeando o alambrado", como diria o saudoso Leonel Brizola. Os jornais foram da crítica espasmódica suavizando o discurso até admitirem a que se trata das maior de todas as copas. Agora, a rede Globo percorre o mesmo caminho, inevitável diga-se de passagem, sob pena do ridículo. Mesmo que Ruy Castro, convidado num programa do Sportv (da Globo) tenha dito que a imprensa BRASILEIRA teve espírito de porco. Para atenuarem suas próprias culpas, dizem que a imprensa "internacional" foi quem mudou o tom. Como se precisasse de mais uma evidência, se prestam a mais uma manipulação desavergonhada.

5. Por falar em falta de vergonha, lembraremos do Ronaldo, se é que um dia existiu. É mais um com padrão Aético Neves: sugou o que pode como "organizador" da Copa. Fez anúncio de cerveja, de telefone, de chuteira… Apelou, dizendo que não se precisava de escolas e hospitais. De barriga cheia, "traírou", passando para o lado dos que ironizava, a turma do "Imagina na Copa". Novamente mudou de ideia, com disse que não disse que havia dito. Ou não.

6. Pérolas das quais escapamos. Boa lembrança de Emir Sader. O estoque de frases prontas já estava engatilhado. “Com um governo assim, só poderia ter dado totalmente errada a Copa do Mundo.”; “O governo saiu ainda menor do que entrou na Copa.”; “É esse governo, que organizou essa Copa do Mundo, que quer se reeleger para seguir dirigindo o Brasil?”; “Foi um erro ter trazido a Copa para o Brasil. Com tantos problemas na educação, na saúde, fomos gastar essa dinheirama toda na Copa.”; “Fracasso de organização, fracasso de público: estádios vazios durante quase todos os jogos da Copa.”; “O mundo pôde confirmar in loco que a mídia brasileira tinha razão quando fazia denúncias sistemáticas sobre o desastre que ia ser o Mundial. A nossa mídia sai fortalecida na sua credibilidade e as vozes dissonantes e o governo, ainda mais enfraquecidos.”; “Mas os brasileiros vão derrotar a esse governo incompetente em outubro, para que o Brasil nunca mais passe essa vergonha.”; “Agora o mundo todo ficou sabendo porque nós combatemos sem tréguas esse governo incompetente.”

7. Uma outra Copa já foi ganha: somos, entre participantes da Copa, o país que mais reduziu a mortalidade infantil. Quem fez o levantamento foi o The Health Site, da Índia. Eles concluíram que "Há duas razões principais para a redução da mortalidade infantil no Brasil: a ampliação do acesso aos cuidados de saúde primários e o Bolsa Família, o maior programa de transferência de renda do mundo”. O Programa Nacional de Imunizações aumentou as taxas de vacinação entre as crianças brasileiras e da Política Nacional de Aleitamento Materno mais do que quadruplicou a amamentação". No PIG, apenas uma nota, copiada de uma agência de notícias, saiu no Estadão.

8. O papo coxinha diz que a Copa é só para ricos. Na verdade, tivemos os ingressos mais baratos a R$ 30,00. Na Alemanha em 2006, o menor preço foi de R$ 101,00 e no Japão e na Coreia, em 2002, R$ 154,00. “Nunca tivemos um preço como esse em todas as Copas do Mundo”, disse o diretor de Marketing da FIFA, Thierry Weil. Ele acrescentou que a prática de descontos só foi realizada duas vezes nos mundiais de futebol da FIFA. “É a segunda vez que temos ingressos com desconto. A primeira foi na Copa do Brasil em 1950 e a segunda é agora. Temos que dizer que o governo brasileiro é ótimo negociador”, acrescentou.

9. Luís Suárez, o mordedor. Gostei das piadas, mas achei um porre as explicações sociológicas, e principalmente as psicológicas sobre sua conduta antidesportiva. Não sei dizer se a pena foi justa, ou melhor, proporcional. Creio que falta "jurisprudência" sobre o assunto. Ele é catimbeiro, como centenas de outros que cospem, passam a mão na bunda, entram na canela, abusam do cotovelo. O folclórico Dé Aranha jogava gelo na bola para desviá-la dos pés do adversário. Só que Suárez descobriu que o excesso de criatividade para malandragem é detestado pela FIFA. A entidade se amarra no fair play, por mais hipócrita que seja. Sinto ganas quando vejo um beque dando sermão num jogador que se atirou para cavar uma falta. E na ausência de explicação melhor, fico tão sem jeito quanto Pepe Mujica:

10. Minha seleção da primeira fase: Ochoa (MEX); Johnson (EUA), Godín (URU), David Luiz (BRA) e Mena (CHI); Kroos (ALE), Rodriguez (COL) e Messi (ARG); Müller (ALE), Benzema (FRA) e Neymar (BRA). Reservas: Eneyama (NIG), Debuchy (FRA), Kompany (BEL), Rafa Márquez (MEX) e Armero (COL); De Jong (HOL), Feghouli (AGL) e Brian Ruiz (COS); Samaras (GRE), Robben (HOL) e Shaqiri (SUI)

11. O adversário do meu time já está escalado, desde sempre: é o PIG Futebol Clube. No segundo quadro, joga o Rola Bosta Esporte Clube.

Primeiro Quadro
Segundo Quadro - Há fominhas que jogam nos dois

terça-feira, 24 de junho de 2014

A COPA DO MUNDO NA IMPRENSA LOCAL

"Faz duas semanas, deixei um país em guerra, afundado nas mais apocalípticas previsões, e desembarquei agora noutro, na volta, bem diferente, sem ter saído do Brasil. Durante meses, fomos submetidos a um massacre midiático sem precedentes, anunciando o caos na Copa do Fim do Mundo.
Fomos retratados como um povo de vagabundos, incompetentes, imprestáveis, corruptos, incapazes de organizar um evento deste porte. Sim, eu sei, não devemos confundir governo com Nação. Eles também sabem, mas, no afã de desgastar o governo da presidente Dilma Rousseff, acabaram esculhambando a nossa imagem no mundo todo, confundindo Jesus com Genésio, jogando sempre no popular quanto pior, melhor." Ricardo Kotscho

"A imagem disseminada pela imprensa nacional - era a de um fracasso retumbante. Por uma mera questão política, lançou-se ao mundo a pior imagem possível do Brasil. O maior evento da história do país, aquele que colocou os olhos do mundo sobre o Brasil, que atraiu para cá o turismo do mundo,  foi manchado por uma propaganda negativa absurda. Em vez das belezas do país, da promoção turística, do engrandecimento da alma brasileira, da capacidade de organização do país, os grupos de mídia nacionais espalharam a imagem de um país dominado pelo crime e pela corrupção, sem capacidade de engenharia para construir estádios - justo o país que construiu duas das maiores hidrelétricas do planeta -, com epidemias grassando por todos os poros.
Um dos jornais chegou a afirmar que haveria atentados na Copa, fruto de uma fantasiosa parceria entre os black blocks e o PCC. Outro informou sobre supostas epidemias de dengue em locais de jogo da Copa.

O episódio é exemplar para se mostrar a perda de rumo do jornalismo nacional, a incapacidade de separar a disputa política da noção de interesse nacional. E a falta de consideração para com seu principal produto: a notícia.
Primeiro, cria-se o clima do fracasso.
Criado o consenso, abre-se espaço para toda sorte de oportunismos. É o ex-jogador dizendo-se envergonhado da Copa, é a ex-apresentadora de TV dizendo que viajará na Copa para não passar vergonha." Luis Nassif
"A grande vergonha do Brasil nesta Copa do Mundo foi o papel jogado pela mídia. Mentiram para todo o planeta, venderam o caos sobre um evento que tem sido considerado o melhor de toda a história.
Caos aéreo, trânsito impeditivo, rebelião nas ruas, violência contra turistas, surto de dengue, estádios incompletos, tudo isso foi apregoado pela mídia familiar brasileira e reverberado pela mídia de fora. Fora que nos preparativos ajudaram a confundir a opinião pública brasileira, misturando financiamento com orçamento, investimento público com privado.
Deram a entender falsamente que os recursos investidos em uma Copa do Mundo seriam suficientes para resolver todos os problemas da educação e da saúde pública brasileira.
Com a chegada de correspondentes estrangeiros ao país, e com o bom funcionamento do evento, a mentira desabou aos olhos de todos. Uma vergonha. Tudo feito para criar uma expectativa negativa sobre o país, para estimular o antigo complexo de vira-latas.
Um momento que serve de aprendizado para as pessoas honestas e de bem do país. A grande mídia ser desmascarada pela vida, pelos fatos, mostrando claramente a que e a quem servem. Mais uma clara demonstração de que a democratização da mídia é uma exigência da modernidade.
"
Barão de Itararé, no Facebook
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Colômbia vs. Japão
A Colômbia deu mais uma demonstração de futebol soberba, somando 100% dos pontos disputados com uma folga invejável. Escalaram 8 reservas no primeiro tempo e mesmo assim foram mais perigosos, abriram o placar e deixaram de encaminhar a goleada por preciosismo, até que o Japão empatou no último lance.
Na segunda etapa entrou o craque James Rodríguez. Os inocentes japoneses que tentavam desesperadamente a virada, deixaram o rapaz com uma marcação frouxa. Aí foi covardia. Deitou e rolou, além de fazer um golaço, sacramentando a vitória e jogando uma pá de cal nos sonhos nipônicos.
Estava tão fácil que colocaram o goleiro reserva para bater o recorde de mais velho atleta a jogar um mundial. Faryd Mondragón está com 43 anos. Esteve na Copa de 1994! O jogador mais novo daquele mundial, Ronaldo Fofo, já pendurou as chuteiras faz tempo.
O Japão andou como caranguejo - para trás. Deu a impressão de jogar um esporte da década de 70, sem a intensidade atual. Quando eles montam uma equipe mais robusta, eles perdem em criatividade. Essa equipe até que é boa com a bola no pé, mas é inofensiva. Parece que são 10 jogadores como o nada saudoso Zinho (cera, enceradeira... cera, enceradeira). Não fizeram nem cócegas.

Grécia vs. Costa do Marfim, ou
Termópilas, Pernambuco, 2014.
Já dizia o citado acima Barão de Itararé, que daonde nada se espera, é dali que não sai nada mesmo. A Grécia renegou a filosofia do barão, reagindo como o exército de Leônidas frente aos persas. Com menos de 15 minutos já tinha feito duas alterações por lesão! Não tinha feito nenhum gol até agora! Era o franco favorito ao último lugar geral! E mesmo assim, arrancaram uma classificação que derrubou todas as apostas.
Sobre Costa do Marfim, é fato que os manos Touré jogaram abalados pela morte do outro irmão Ibrahim. Também é nítido que o diferencial do time, Drogba, estava sem condições físicas. Mas o técnico, na falta de uma expressão polida, é um tremendo bunda mole! Nos dois jogos anteriores precisou tomar gol para botar o time para frente - a ÚNICA forma que eles jogam bem. A história estava se repetindo, mas ele ainda tinha uma alteração a fazer, e colocou mais um volante no lugar do cara que poderia puxar o contra ataque da virada, Gervinho. Pois esse jogador foi quem cometeu o penalti aos 48' do 2.º tempo. Trágico, como bom enredo grego, mas merecido.

domingo, 22 de junho de 2014

UMA COPA, CEM GOLS E MIL IMAGENS

Elite é elite, ainda mais na América Latina. Lembro de um personagem, o Caco Antibis. Fazia um esquete em que dizia ter horror a pobre. Uma espécie de Maria Antonieta do largo do Arouche. Pois bem, seu bordão pegou, e não é difícil deparar-se com essa expressão, ou a ainda mais agressiva: "Pobre é uma desgraça mesmo!" Pois os uruguaios, livres da globo e de sua teledramaturgia repetem a mesma ladainha.



Junto à tropa do fracasso temos a trupe das Madalenas Arrependidas. A colunista da Folha Mariliz Pereira Jorge, confessa estar arrependida de não ter se preparado para viver a Copa. Diz que "broxou" com a quantidade de notícias ruins sobre o evento. Ela diz que hoje faz a "Copa dos Arrependidos". Na mesma linha, Fabio Porchat solta um lamento coxinha, como se o clima anti-copa, na véspera, não fosse culpa dos seus patrões.


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Nigéria vs. Bósnia-Herzegóvina. Muita transpiração, pouca inspiração. Gradativamente, os europeus vão sentindo o efeito do nosso clima. Acostumados a neve e gelo, sua temporada de "verão", que ocorre agora, nem chega perto de um inverno de Cuiabá, mesmo depois do sol se por. A Nigéria se sobrepôs graças ao melhor preparo físico, num jogo amarrado e tenso. No fim da partida, tomou uma pressão descoordenada da Bósnia, cujos atletas mal se aguentavam em pé.

O jogo que não ia dar ninguém, Nigéria e Bósnia-Herzegóvina, em Cuiabá, às 19 hs de um sábado emendado em feriado teve 40.499 pagantes, num estádio em que cabem 41.112, o que representa 98,% de ocupação. Eles apostaram tudo contra a Copa e contra o Brasil. Nunca foi tão forte o bombardeio vira-lata contra a nação. E quebraram a cara. É coisa de pouco tempo, 10 dias atrás todos eram unânimes. Uma gente "diferenciada" para quem o luxo dos camarotes é pouco. Você vai esquecer deles???

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Bélgica vs. Rússia

Outro jogo em que o fator clima foi determinante. Era visível que no primeiro tempo as equipe se poupavam. A Rússia recuperou uma velha sina da União Soviética, tão garfada pelos campeonatos ao longo da história quanto a Portuguesa de Desportos. Houve um pênalti clamoroso que o juiz, ao lado do lance, preferiu não marcar. Quando tudo se encaminhava para um chato 0x0, os belgas gastaram as últimas reservas e acuaram a Rússia até o gol sair, aos 43' do 2.º. Festa belga, que se classificou sem mostrar grande coisa até aqui. Os russos, que momentaneamente suspenderam a vodka e caíram na cerveja, são candidatos a dar adeus à Copa antes do esperado.

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Argélia vs. Coreia do Sul 

O primeiro tempo, em que os argelinos decretaram sua supremacia, parecia um treino entre adultos e infantis. O pessoal do zóinho puxado (inclua-se o Japão) sempre teve como ponto forte de seu jogo a velocidade. Vinham progredindo, torneio após do torneio. Até que trocaram sua principal virtude por um toque de bola lento, e pior, estéril, sem qualquer objetividade. Não deram um chute a gol na etapa inicial.
No intervalo, após uma carraspana do técnico voltaram mais ligados e aí tivemos um bom jogo, com chances de ambos os lados. Os argelinos se tornaram favoritos a segunda vaga do grupo.


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Estados Unidos vs. Portugal

Um jogo eletrizante, do tipo piscou, dançou. Muitas alternativas, numa partida em que toda vez que uma equipe se acomodou com o resultado foi castigada. Portugal saiu na frente, e tentou o famoso "cerca Lourenço". Os EUA vieram para cima e viraram o jogo. Quando os lusos estavam chicoteados psicologicamente, eis que no último lance, surge o empate. Quem foi ver o performático Cristiano Ronaldo (para não dizer que passou em brancas nuvens, deu bela assistência para o gol salvador) viu o esbugalhado Clint Dempsey atormentar os patrícios. Temi por esse dia, mas devo admitir: os ianques aprenderam a jogar o nosso futebol. Num eventual cruzamento contra adversários do grupo H, considero-os favoritos contra as quatro possibilidades.
Portugal jogou pela honra na competição. Agora, sobrevive por aparelhos. A incrível sequência de contusões pode revelar uma péssima preparação física ou uma tenebrosa maré de azar. Ou os dois.

sábado, 21 de junho de 2014

FATOS E DADOS SOBRE A COPA DO MUNDO - FORA DOS GRAMADOS

Esclarecimentos à postagem anterior:

Não imaginava a necessidade, mas descobri que existem militantes petistas que consideram a postagem imprópria. O primeiro fato é que não fui em quem escreveu: foi Francisco Costa, no Facebook, conforme o link que coloquei ao final. O segundo fato é que eu cheguei ao texto através do blog Tijolaço, do jornalista Fernando Brito, que trava um combate de ideias muito mais produtivo que as festas de aniversário promovidas pelo partido.

Entrementes, o pior é a questão de não entender a ironia. Já foi matéria de pesquisa científica que a incapacidade de detectar sarcasmo e mentiras pode ser um dos primeiros sinais da deterioração cerebral, provocada por algumas doenças, que leva à demência. Eu considero uma obrigação dos alfabetizados em língua portuguesa a compreensão de uma figura de linguagem ainda mais velha que o próprio idioma. Sem delongas, acho suficiente o que está no minidicionário Aurélio: 1. modo de exprimir-se em que se diz o contrário do que se pensa ou sente. 2. contraste fortuito que parece um escárnio.

Agora, sobre a Copa do Mundo e as informações:

1. Receita fiscal do evento chegará a US$ 7,2 bilhões (R$ 16 bilhões), segundo cálculos da Ernst & Young e da Fundação Getúlio Vargas. É que cada bilhete vendido recolhe impostos, pois o centro de ingressos, o COL e os prestadores de serviços da FIFA são tributados nos termos da nossa legislação.

2. A isenção fiscal concedida à FIFA refere-se importação de bens, como uniformes, carros e ônibus. Tudo vai permanecer no Brasil, mas não representa risco para a indústria nacional, pois os patrocinadores dão bens e não recursos. Tudo aconteceu mediante aprovação de lei no Congresso Nacional, seguindo um trâmite semelhante ao que aconteceu na Alemanha e na África do Sul.
* As emissoras de TV também vão trazer muitas toneladas de equipamentos para garantir que as imagens do torneio brasileiro cheguem ao mundo todo e não vão pagar impostos por isso.

3. Copa gerou 910 mil empregos. 710 mil permanente e 200 mil temporários. Isso representa 15% de todos os empregos gerados no governo Dilma - 4,8 milhões. É mais dos que os oito anos de governo FHC (771 mil). Nas palavras de Vicente Neto, presidente da Embratur, "A Copa do Mundo põe o setor de turismo num novo patamar. Só com este evento estamos criando cerca de 1 milhão de postos de trabalho diretos, fora os indiretos. Adicione a isso os cerca de R$ 30 bilhões que, segundo pesquisa da FIPE, serão injetados em nossa economia. Apenas no setor de turismo estimamos movimentar R$ 6,7 bilhões, com gastos dos 3,7 milhões de turistas nacionais e estrangeiros que irão circular pelo país durante o evento."

4. Os estádios já estão pagos. Detesto o neologismo "arena" para designar campo de futebol, mas apenas com o lucro auferido na Copa das Confederações, ano passado, de R$ 9,7 bilhões, elas já se pagaram. E os prognósticos são auspiciosos: segundo estudo da FIPE ainda em abril, no auge do azedume, aportarão no Brasil mais de R$ 30 bilhões, o que representa 0,5% do PIB nacional. Em São Paulo e no Rio Grande do Sul o número de turistas estrangeiros está no dobro da expectativa

5. É a Copa com o maior número de jornalistas credenciados na história. Cerca de 20 mil profissionais de TV, rádio, jornal e internet devem circular pelo País, um recorde de todas as Copas. Apenas 20% são brasileiros. Os Centros de Mídia Aberta e bem como as comunicações com as suas devidas bases funcionam perfeitamente, com ressalvas: a invasão chilena, num lugar cuja segurança era feita por uma empresa contratada diretamente pela FIFA e um certo Sr. Barriga que entrevistou Felipão já pensando em voos mais altos.

6. Só escreverei o sexto item depois de alguma seleção fazer seis gols num jogo.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O FRACASSO DA COPA DO BRASIL


Como era esperado, o vexame é total, o que enxovalha o Brasil aos olhos do mundo e mostra toda a incompetência política e administrativa desse governo, nos expondo assim a humilhante situação, da qual demoraremos muitos anos para nos livrarmos.
Para fazer as afirmações que se seguem, pautei-me pelo que tenho lido na imprensa internacional, a partir de jornalistas estrangeiros e turistas do mundo todo, e postado pelos bravos militantes da direita, intelectualizados e precisos nas suas análises e críticas.
Os estádios todos inacabados, de arquitetura no mínimo duvidosa, feios, mal iluminados… Acertaram os que disseram que só ficariam prontos na próxima década.
As chamadas obras de infraestrutura, no entorno dos estádios, foram uma balela. Os engarrafamentos, nos momentos que antecedem os jogos, são quilométricos, com os torcedores chegando atrasados, inclusive com muitos deles desistindo de entrar nos estádios.
Os aeroportos superlotados, com voos atrasados e cancelados, filas imensas nos guichês, bagagens extraviadas… Com todos os aeroportos por terminar, cheios de materiais de obras espalhados, numa imundície só.
Um outro fiasco que não poderia passar em branco é o das comunicações, com os correspondentes sem poder fazer contatos com suas bases, os links interrompidos ou com interferências, nos isolando nos momentos de pico, que antecedem e durante os jogos.
E o apagão, a suprema humilhação? Como é que em pleno século XXI um país inteiro pode ficar sem energia elétrica por horas, em silêncio, no escuro, envergonhado?
O apontado infelizmente aconteceu: um surto de dengue em pleno inverno, com os hospitais lotados, sem ambulâncias para transportar doentes, medicamentos em quantidade insuficiente, com muitos turistas debandando, voltando para os seus países, com medo.
Mas… O que mais temíamos e tínhamos certeza que aconteceria e ficaria fora de controle… A violência generalizou-se de tal maneira que nem mesmo as Forças Armadas estão tendo força suficiente para, se não debelar, pelo menos minorizar: brigas generalizadas entre torcidas, resultado de um serviço de segurança ineficiente, pequeno no número de homens, e despreparados.
Arrepara na legenda. Curtura do PIG
As delegacias policiais já não dão conta de tantos registros de ocorrências de roubos, assaltos e sequestros, com balas perdidas em grandes aglomerações de turistas, os arrastões, promovidos por facções criminosas, com gente descida dos morros e vindas dos subúrbios.
Perdeu-se a conta de ônibus queimados, vitrines quebradas, lojas comerciais saqueadas…
Claro que uma situação dessa, e que só surpreendeu aos mal informados, não leitores de nossos jornais e revistas e telespectadores, só poderia gerar protestos, indignação, e então o que se viu foi o coro, em São Paulo, usando palavras de baixo calão, dirigidas à presidente da república.
Não passou pela cabeça de ninguém que deixar o povo ter acesso aos estádios seria uma temeridade? Como esperar civilidade, educação, postura, respeito e até caráter de pessoas de pouco estudo, baixos salários, residindo em áreas longínquas? Como esperar dessa gente qualquer coisa como simpatia, hospitalidade, cortesia? São ogros.
Só deveriam ter acesso aos camarotes vips dos estádios os grandes empresários, os políticos de direita, os artistas e apresentadores da televisão, gente polida, educada, respeitadora, como não mostram no vídeo, em pleno exercício de monetário cinismo.
O país está um caos, e não foi por falta de aviso: a mídia avisou que seria assim, a oposição ao governo provou que seria assim, uma multidão de internautas inteligentes e bem informados mostraram todas as evidências de que seria assim, mas o governo não quis ouvir e pôs avante esse sonho megalômano de realizar uma Copa do Mundo aqui.

terça-feira, 17 de junho de 2014

OBRIGADO, GUARDIOLA!

A XX Copa do Mundo tem apresentado uma média de gols bem acima das edições anteriores. 47 gols nos primeiros 15 jogos resulta em respeitáveis 3,13 tentos por partida. Desde a remota Suécia, em 1958, não se passava de 3. A título de comparação, na primeira rodada da Copa anterior, realizada na África do Sul, tivemos 16 jogos e 25 gols, o que perfaz 1,56 gols/jogo, menos da metade do atual torneio. Outro dado interessantíssimo é o exíguo número de empates: apenas 1 nas 15 primeiras partidas, enquanto na África tivemos 6 nos 16 jogos iniciais. E o número de viradas no placar? Já tivemos a 6.ª virada antes de acabar a rodada. Nos 64 jogos da última copa, foram somente 4 (inclusive a da Holanda sobre o Brasil).

E o melhor é que esses números não foram inflados artificialmente, como, por exemplo, com uma bola polêmica como a finada Jabulani. A atual, a Brazuca, só recebeu elogios de que a trata com mais autoridade, de cientistas a artilheiros. A grande novidade é que ouve uma mudança de mentalidade no esporte nos últimos quatro anos, e o maior responsável por ela não está de corpo presente no evento, mas o marcou de forma indelével. Falamos de Pep Guardiola.

É verdade que quando rolou a Copa passada, Guardiola já havia assumido o departamento técnico do Barcelona e conseguido resultados encantadores. Fato consumado é que a Espanha venceu o campeonato com um arremedo do Barça - desfalcado de Messi, enxertado por defensores do Real Madrid: Casillas, Sérgio Ramos, Xabi Alonso. Só não havia até então o consenso público de que essa forma de atuar além de plástica, era eficiente.

Adepto do futebol-arte, recorda com carinho quando foi treinado por José Macia, o Pepe, o canhão da Vila, ex-ponta-esquerda e maior artilheiro da história do Santos (Pelé não vale). Fã do toque de bola argentino, interlocutor de Marcelo "El loco" Bielsa, seu Barcelona deu várias lições ao mundo futebolísitco: a melhor maneira de se defender é ficar com a bola atacando; não é necessário povoar o campo com atletas parrudos, montanhas de músculos sem refinamento técnico; todos na equipe, até o goleiro, devem saber tocar a bola com categoria e inteligência; e o principal: o futebol pode ser bonito, vistoso e ainda assim ganhar títulos, quebrando uma maldição de pragmatismo que perdurava desde 1982, com a derrota do Brasil naquela Copa.

Por tudo isso, reconheçamos que o brilhantismo desta Copa dentro das quatro linhas também tem seu responsável. Sejamos gratos: Obrigado, Guardiola!

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Bélgica vs. Argélia
Les Diables Rouges sofreram muito mais do que poderiam supor ante os adoradores de Allah. Tinha a impressão que o grande adversário da Bélgica nestas paragens seria o clima, uma lua de uma da tarde no Mineirão não é propício às cútis róseas que seus jogadores mais nativos exibem.  Só que não: o grande obstáculo foi a absurda falta de imaginação e criatividade de seu scratch.
O Argélia veio como uma proposta de jogo típica de quem sabe que é o time pequeno da Copa, o que destoa da mentalidade citada acima. Como não tem individualidades aquilatadas, baseia seu esquema na solidariedade e no coletivismo.
O Bélgica, cabeça-de-chave, que ameaçou até ares de favorita, decepcionou. Mas talvez porque as expectativas estivessem fora do padrão de realidade belga. Atletas jogando em grandes clubes europeus, mas sem protagonizarem os grandes feitos, formam um time razoável, e nada além disso.

domingo, 15 de junho de 2014

A COPA E A POLÍTICA

Perder uma disputa, seja no futebol ou na vida, faz parte do jogo. O que é inaceitável é perder a dignidade, a compostura, a vergonha na cara. Apelar, como o uruguaio inconformado com o chocolate que tomava da Costa Rica, e deu um pontapé no adversário. Da mesma forma, o exército de mercenários do PIG continua sua cruzada tentando menosprezar o trabalho de Miguel Nicolelis, do qual não sabem nada, mas que só veem defeito pelo cientista já ter dito abertamente ser simpático ao Lula e ao modelo de gestão federal do governo do PT.

É desqualificante para o ANTIPIG reproduzir a opinião de Roger sobre a tecnologia aplicada no exoesqueleto que possibilita a mobilidade a pessoas paraplégicas. Não fossem as deliciosas respostas de Miguel Nicolelis, preferiria nem tocar no assunto, para não gerar audiência para essas e outras tranqueiras, que José Trajano, da ESPN, nominou.




Outras abordagens interessantes são as do jornalista americano que pede que todas as copas futuras sejam no Brasil. Mais ou menos na mesma linha do meio-campista da seleção alemã Bastian Schweinsteiger. Já cantou o hino do Bahia E.C., dançou com os índios pataxós, bateu uma pelada na praia com crianças e posou de tropa de elite com soldados. Disse estar "dominado pela febre brasileira". Mas não só isso: afirmou sentir-se completamente em casa aqui. Segundo ele, os brasileiros são um exemplo, com sua alegria, positividade e amor pela vida. “E, pelo que ouvi, a economia brasileira também está se fortalecendo já faz algum tempo – uma combinação excelente” Está tão fascinado pelo país que logo logo vira Tião Taiga.

E também, por misericórdia faço o seguinte estudo. É para poupar minha paciência e a de outros que não aguentar mais ouvir essa asneira. Vamos desenhar um quadro das últimas cinco Copas, que passaram a coincidir com o ano de eleição para Presidente da República:

1994 - Brasil venceu a Copa: O PT perdeu as eleições. FHC, na verdade, o plano real, venceu no primeiro turno.

1998 - Brasil perdeu na final: PT perdeu novamente a eleição. FHC, que havia mudado a regra do jogo, pode ser reeleito.

2002 - Brasil ganhou mais uma!: PT ganhou as eleições, com Lula.

2006 - Brasil do oba-oba é eliminado nas quartas de final: O PT e Lula, apesar da ofensiva midiática no caso mensalão, vencem mais uma.

2010 - Brasil do ufanismo perde novamente nas quartas: Lula faz sua sucessora, a até então pouco conhecida Dilma Rousseff, do PT.

Sendo mais didático:

Nas duas vitórias do Brasil: PT ganhou uma (2002) e os demais a outra (1994);
Nas três derrotas do Brasil: PT ganhou duas (2006 e 2010) e perdeu uma (1998).

Conclusões: o resultado da Copa não interfere diretamente nas eleições;
-  para os infelizes que estão torcendo contra a seleção brasileira achando que com isso a oposição cresce, sorry, mas não há indícios que confirmem a ideia;
- para quem está com receio de torcer para a seleção, pois não quer que o PT ganhe, perca o medo de ser feliz, pois uma coisa não leva necessariamente à outra;
- para quem não gosta de futebol: vá ler um livro, faça uma caminhada, veja um filme ou durma. Faça exatamente o que você faz sempre que o assunto da bola entra em evidência. Mas, por favor, pare de encher o saco!
- para quem sempre torceu contra o Brasil, seja dentro ou fora de campo: seu caso não tem solução. Talvez uma mudança de país, caso seja aceito noutra freguesia. Recomendo, apenas como paliativo, as palavras de Dilma Rousseff:

Em 1970, eu estava na cadeia. Naquela época, havia segmentos que diziam: “Se você torcer pelo Brasil, você estará fortalecendo a ditadura”. Isso era uma sandice. Para mim, esse dilema nunca existiu.
Eu havia sido presa em 16 de janeiro e, como agora, a Copa começava em junho. Naquela época, muitas pessoas que eram de oposição ao regime militar inicialmente começaram a levantar a questão de que a gente fortaleceria a ditadura se torcesse pela Seleção Brasileira. Eram muitas pessoas, no início. Elas foram diminuindo progressivamente. Até que não sobrou ninguém. Com o decorrer dos jogos, todos, os que estavam na cadeia e os que estavam fora, torceram de forma apaixonada pela Seleção Brasileira.

Vivíamos sob uma ditadura. Não havia direito de manifestação, direito de organização, direito à divergência. Havia tortura, perseguição e repressão. Mas essa nunca foi a questão. Eu e as minhas companheiras de cela nunca tivemos dúvidas e todas torcemos pelo Brasil, porque o futebol está acima da política.

O nosso sentimento pode ser traduzido no verso de Camões, em Os Lusíadas: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta”.  

A Seleção Brasileira representa a nossa nacionalidade. Está acima de governos, de partidos e de interesses de qualquer grupo.

Ontem, hoje e sempre, o povo brasileiro ama e confia em sua Seleção.

Sobre os jogos de hoje:

Equador vs. Suíça
O Equador fez tanta força para perder que conseguiu. Seu técnico tirou todos os jogadores que ameaçavam a outra meta e os que ficaram em campo conseguiram perder uma chance clara de gol, na marca da cal, aos 48' do segundo, que redundou num contra-ataque e a virada dos helvéticos.
Uma partida ruim tecnicamente, marcada pela cautela excessiva e a falta de maiores ambições, o que deve marcar a trajetória destas duas equipes na Copa.
Mais interessante que o jogo é a abordagem étnica. O time do Equador é constituído majoritariamente por negros, que são apenas 7% da demografia do país, quase todos na província de Esmeraldas, a noroeste da capital. 71% da população é resultado da miscigenação entre os colonizadores europeus e os povos indígenas nativos.
Já na Suíça, uma torre de babel formada por gente que foi atrás de chances na vida. 2 ítalo-suíços, 1 chileno, 1 ebúrneo, 1 cabo-verdiano, 1 turco e ao menos 8 oriundos dos Bálcãs: 2 macedônicos, 2 bósnios, 1 croata e 3 kosovares, o que forma a equipe mais globalizada da Copa.

França vs. Honduras
Foi infrutífera minha torcida por mais um latino-americano. É um time violento, por vezes espeloteado, por vezes maldoso. Se não fosse a contemporização do juiz, era capaz do jogo se encerrar por falta de atletas - uma meia-dúzia merecia o vermelho. Sem o recurso da truculência não consegue emparelhar forças com nenhuma outra seleção do grupo. A França venceu mas não convenceu, pois jogou o segundo tempo todo com um jogador a mais e ficou tocando bola de ladinho. Tem bons jogadores, mas não é uma grande equipe. Demonstra potencial a desenvolver, mas talvez nunca ultrapasse esse estágio.
A primeira falha da organização foi a ausência da execução dos hinos. Quem está acompanhando pode ter algumas reações: "ai, que vergonha de ser brasileiro, que falha lamentável, os petralhas estão manchando a fama da organização brasileira no mundo"; tem gente que lamenta, mas não dá maior importância, visto que esse é um ingrediente acessório ao espetáculo, que transcorreu na mais perfeita normalidade; mas o que chama a atenção é o comportamento dos estrangeiros, embasbacados com o país. Até mesmo franceses e hondurenhos reagiram com o famoso "e daí?"

Argentina vs. Bósnia-Herzegovina
Los Hermanos mantém a sina de ter um ataque fenomenal acompanhado de uma defesa meia-boca, além de Mascherano, uma espécie de Dunga argentino, e Maxi Rodriguez, um Forest Gump do futebol. Essa dupla de meia cancha, incrível, vai para sua terceira Copa. Por causa dessa realidade, o técnico tem de coalhar a equipe com zagueiros para que Messi possa exercer seu talento. La Pulga, por seu turno, mais experiente, parece lidar melhor com a pressão. Errou quase tudo, mas o golaço, com o arranque marca registrada, apaga as demais tentativas frustradas.
Como saldo, penso que agora a Argentina assusta menos do que antes do início do campeonato.
Já a Bósnia-Herzegovina fez uma estreia honrosa em Copas do Mundo. Depois de Sérvia, Croácia e Eslovênia, e o quarto país advindo da antiga Iugoslávia a participar do maior evento de futebol do planeta. Seu grande astro, Dzeko, ficou devendo, se mostrando um atacante de poucos recursos técnicos e nenhuma mobilidade, ao contrário do que seu cartaz apregoava. Ainda assim, é forte candidata a segundo lugar desta chave.

sábado, 14 de junho de 2014

E A COPA ESTÁ ROLANDO...

Os cães ladram e a caravana passa. Essa frase ilustra de forma fidedigna o que representaram os últimos quatro anos de ganidos - quase ensurdecedores - da matilha de vira-latas que torce contra o Brasil.

Mas a Copa está aí. E, no vácuo de argumentos mais racionais, a turminha do contra buscará alguma conspiração na atuação do juiz, na chuva, na vaia dos camarotes. Contudo, houve um erro grosseiro: a tentativa de esconder uma enorme vitória do Brasil fora das quatro linhas. Com o exoesqueleto criado por Miguel Nicolelis, paraplégicos voltarão a andar, através de comandos cerebrais como num corpo normal.

Pois a caravana passará novamente. Até achei que o PIG ia se emendar quando saíram matérias na Foia e no Estadão (entre os dias 22 e 23 de maio) relativizando o discurso mais radical e falso que foi usado até então: que a Copa tirava recursos de setores essenciais, como saúde e educação. Esse movimento, porém, foi mais um ardil, provocado por dois fatores:

1.º: Eles perceberam que, apesar de tudo que fizeram, a Copa ia acontecer;
2.º: Os patrocinadores, os mantenedores do PIG em última análise, estavam se lixando para as críticas. Queriam mesmo era lucrar com a Copa - o que estão fazendo sem nenhum pudor.

Mas vamos falar de coisa boa, sobre a Copa em si. Vou lançar alguns pitacos:

O jogo de estreia:
Quando me dei por gente, já estávamos na Copa de 1986. E assisti a tantos vídeo-tapes das anteriores que julgo ter algum saber futebolístico. Afirmo que poucas vezes tivemos uma estreia contra um adversário tão bom (a mesma Croácia, em 2006, era medíocre - um bando de atletas em fim de carreira), e raramente fizemos um placar tão elástico. Apesar do nervosismo, do gol contra, da necessidade de reação.

O time do Brasil:
Claro que temos muito a melhorar. Ou o sistema de jogo dá um jeito de cobrir os avanços dos laterais, ou seremos vulneráveis sempre. Penso que Maicon ganhará a vaga de Daniel Alves, por defender melhor. Na esquerda, não temos opção: o jeito será amarrar uma cordinha na cintura do Marcelo - se bem que isso mataria sua principal qualidade.


O pênalti em Fred:
O jornalista Adriano Silva definiu bem: o público de Copa é diferente daquele que acompanha o dia a dia do futebol. Não está acostumado às filigranas do esporte. Cavar pênalti é quase uma arte cultivada pelos centroavantes. Sobre a validade da prática ou não, a discussão se arrasta desde os primórdios. O jogador Olic, da Croácia, também tentou o recurso, mas não teve nem uma fagulha da capacidade do Fred. De mais a mais, o beque croata estava com a mão no brasileiro para que? Fazer carinho? Futebol se joga com os pés...

Sobre a Croácia:
Em que pese as belezas naturais do país, o nazismo é força muito presente na mentalidade. Desde a 2.ª guerra até o ex-capitão da seleção entoando cânticos dos Ustashas, grupo de extrema direita que governou o país e aderiu à Alemanha (até sentir a mão pesada do Mal. Tito e dos partizans que os subjugaram). Como tiveram facilidade em aderir ao blablablá do PIG! Falaram em "circo armado", e depois de detonarem o vestiário, puseram a culpa nas obras! Foram comprados pela oposição?

México vs. Camarões:
E agora, como será o coro de mimimi dos coxinhas? Camarões, com sua "pujança econômica", comprou a Copa, a FIFA, os árbitros e as outras seleções? Pois foi o time mais beneficiado pela arbitragem até aqui, com os dois gols do México invalidados. Sobre o jogo em si, duas zagas horríveis, que enlouquecem seus razoáveis goleiros. O meio de campo mexicano toca melhor a bola, mas teve dificuldade com os armários camaroneses. Respirei mais aliviado, confesso.

Holanda vs. Espanha:
Literalmente uma tamancada. Depois de um breve reinado, a Espanha volta ao papel de coadjuvante no futebol. Geração envelhecida, que ganhou tudo e perdeu a motivação. Uma fórmula de equipe outrora inovadora, mas que se tornou batida, monótona e neutralizável, sem capacidade de se renovar. Quanto à laranja, mostrou um time parecido com o Brasil de 2002: sete abnegados marcadores e três craques com toda liberdade na frente: Sneijder, Van Persie e Robben. Promete dar trabalho, mesmo que digam que a festa em Salvador não acabou até agora.

Chile vs. Austrália:
Tenho muitas expectativas na seleção chilena. Talvez apresentem o futebol mais bonito, em termos coletivos. Não tocam a bola sem levantar a cabeça e escolher o companheiro mais bem posicionado. Fizeram 2x0 com tamanha facilidade que relaxaram. No fim, tomaram um sufoco, até que veio o golpe de misericórdia já nos acréscimos. A Austrália lembra o time dos EUA: não têm nenhuma intimidade com o "soccer", mas são de uma raça e entrega comoventes. Ainda assim, segurará a lanterna desse grupo.

A vaia:
O melhor artigo a respeito foi do jornalista Paulo Nogueira. Invocou o argumento de Santo Agostinho sobre as monjas que se suicidavam após serem estupradas. Uma agressão tão vil diminui quem a pratica, e não quem a sofre. Considera essa forma de pensar "um capítulo particularmente luminoso da filosofia ocidental", escrito sob circunstâncias extremas. O horror estava nos bárbaros estupradores, e não nas vítimas. Na mesma linha, um princípio do Direito Romano que foi recepcionado no Brasil, mas que anda meio esquecido: "nemo turpitudinem suam allegare potest" (a ninguém é dado beneficiar-se da própria torpeza).

Mas o grande momento foi a fala dela própria, a agredida, colocando no devido lugar tanto os que a ofenderam quanto a parcela de jornalistas cúmplices que tiveram a desfaçatez de dizer que "não se faz isso contra uma mulher". Uma mulher que sofreu os maiores suplícios carnais com uma dignidade poucas vezes vistas, mesmo no mais vigoroso dos heróis masculinos.



Isso tudo em dois dias de Copa! Como diz o pulha, amigo haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaja coração!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

E AÍ: QUER PARTICIPAR OU DAR GOLPE?

A Política Nacional de Participação Social é o projeto é mais democrático jamais feito no Brasil. Ano passado, após as "jornadas de junho" que começaram por causa do aumento da passagem de ônibus, mas que, no dia subsequente, passaram a ser ditadas pelo PIG, o Governo reagiu propondo cinco pactos para atender aos reclames da população:

* melhoria na Saúde Pública, o que vem sendo perceptível com o Programa Mais Médicos;

* melhorias na Educação Pública: o Governo propôs que 100% dos royalties do pré-sal fossem para a educação. O Congresso acabou votando uma distribuição, após reservar os quinhões dos Estados produtores, de 75% para a educação e 25% para a saúde. Mas esse ano foi aprovado o PNE (Plano Nacional da Educação), que destina 10% do PIB para a educação;

* responsabilidade fiscal. O Brasil cumpriu a meta de inflação pelo 11.º ano consecutivo. É interessante falar que, apesar do critério de "meta" ter sido criado no governo FHC, eles não a cumpriam. Lula, e depois Dilma, ao contrário, foram muito mais efetivos e lograram êxito. O Superavit primário foi batido. E vou parar por aqui, porque esse é justamente meu ponto de descontentamento com o governo do PT: agradar demais ao mercado e à banca especulativa;

 * mobilidade urbana: apesar de não estar com números exatos em mãos, passei recentemente por Brasília, Salvador, Rio Branco, Belo Horizonte, Goiânia. Em todas essas cidades há obras com recursos do governo federal: BRT, VLT e/ou metrô. Os aeroportos, que não irão embora depois da Copa, estão num nível muito acima do anterior.

Por fim, o mais importante, era sobre a política em si. Foi proposta uma mini-constituinte, para acabar com a farra dos financiamentos privados nas campanhas eleitorais (a verdadeira origem da corrupção pública, quando interesses privados e escusos se imiscuem no ambiente político), e mecanismos para participação mais direta do povo nas decisões. O lobby dos golpistas, que estava se deliciando com as manifestações de rua, bloqueou. O PMDB, contrapeso que a aliança governamental tem de sustentar em nome da governabilidade e de alguns minutos a mais no horário político na TV, se aliou à oposição e boicotou a iniciativa. Aí veio, por Decreto Presidencial, a PNPS - Política Nacional de Participação Social.

Seu texto dá linhas gerais de como a sociedade civil pode participar na formulação e avaliação de políticas públicas da administração federal. A PNPS define como é que os cidadãos, movimentos sociais, associações, coletivos podem intervir na criação das políticas públicas. Ficam definidas algumas maneiras dos cidadãos serem ouvidos dentro do governo federal. É algo mais abrangente que o "orçamento participativo", outra inovação de administrações petistas, notadamente Porto Alegre. Nele, a população decide as prioridades de investimentos em obras e serviços a serem realizados a cada ano, com os recursos do orçamento da prefeitura. Porém, as políticas já estão definidas, restando apenas priorizá-las através da direção do financiamento. Em todo caso, ambas as práticas estimulam o exercício da cidadania, o compromisso da população com o bem público e a co-responsabilização entre governo e sociedade sobre a gestão do país.


Nunca é demais repetir o parágrafo único do primeiro artigo da constituição federal: Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou DIRETAMENTE. Estão previstas várias formas de participação: conselhos, comissões, conferências, ouvidorias, mesas de diálogo, audiências e consultas públicas e os chamados “ambientes virtuais de participação social”. Todos menos onerosos e burocráticos que os previstos hoje: Plebiscito, Referendo e Iniciativa Popular de Lei. Basta citar que, desde sua previsão, em 1988, há 26 anos, tivemos apenas um plebiscito, um referendo e quatro leis promulgadas por iniciativa popular. 

É estranho chamarem isso de golpe: se for golpe, é um golpe que retira poder de quem hoje o concentra e o reparte com todos que tenham disponibilidade e interesse em participar. Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos - desmistificou de forma didática o terrorismo em relação à PNPS. Trata-se do presidente de uma instituição que, militando do lado do setor privado, tem desempenhado papel fundamental na busca da transparência e do controle democrático do Estado. Ele relembra que se trata de um órgão consultivo, não procedendo a história de usurpação do poder. Ademais, a discussão pública elimina o que ele chama de “lobby do mal”, fruto de pressões por baixo do pano, onde não se consegue sequer identificar os interesses que estão por trás. Todas as áreas da sociedade civil podem estar representadas. "É uma oportunidade plural da nossa sociedade avançar", disse.

O nome "decreto" assusta, é verdade. Mas o ordenamento jurídico manteve esse nome da época da ditadura para os atos administrativos usados pelo Poder Executivo (pelo presidente ou presidenta, governadores e prefeitos) ao fazer nomeações e regulamentar coisas que precisam de regulamentação. De mais a mais, o decreto apenas regula o que já está em lei desde 2003, que determina que a Secretaria-Geral da Presidência da República deve auxiliar a presidência a cumprir suas funções. Dentre essas funções está o “relacionamento e articulação com as entidades da sociedade civil e na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Poder Executivo”.

Quem acusa o PT de estar infiltrado nos movimentos sociais que serão atores desse debate tem a possibilidade de também participar. Basta se inscrever no site participa.br (o que recomendo a todos). Está aí a oportunidade para que outras frentes políticas, seja qual for sua orientação, façam o mesmo: ganhem diálogos com seus movimentos e incentivem ou oportunizem que suas militâncias saiam da clandestinidade. Em muitos casos, esses “ativistas” são puras invencionices partidárias. 

E, se é possível exercer o poder diretamente, o que justifica a lamúria dos deputados oposicionistas para manter uma espécie de "reserva de mercado" dos temas atinentes à toda sociedade? Lamento informar, mas a diminuição da importância de "representantes" do povo vem de encontro a um anseio latente das ruas, onde se ouve que os próprios parlamentares arruinaram a legitimidade que sua representação poderia ter.

Como já disse Emir Sader, quem tem medo da participação popular é quem subverte o conceito de poder popular pelo dinheiro, pelo monopólio privado e manipulador da mídia, ou quem usa o partido político como máquina eleitoral e de chantagem para obtenção de cargos, favores e/ou benefícios.

Em suma, é como se dissessem àquela turba que clamava "contra tudo o que está aí":

1.º Não pode dar golpe para derrubar a presidente eleita democraticamente;

2.º Não pode assassinar, física ou moralmente, nenhuma membro do PT;

3.º De resto, a participação popular na escolha dos assuntos que pautarão a atuação do poder executivo, as prioridades e mesmo os orçamentos está aberta a qualquer um que tem interesse em participar.

Quanto ao povo, esse não tem o que temer, exceto que os Conselhos sejam eleitos de forma democrática e pluralista, e que sejam de fato atuantes e não apenas mais uma inciativa inútil e coalhada de boas intenções. O propósito é a abertura dos canais de comunicação àqueles que não encontram formas de se pronunciar pelos métodos tradicionais e desgastados das instituições.

Voltando ao Emir Sader, os milhões de beneficiados com as políticas inclusivas do governo agora terão a chance de defendê-las, de resistir aos que tentarem o retorno a um passado de miséria e frustração.

E quem tem muito a perder? Quem chama de varguismo, bolivarianismo, ou outros "ismos", mas que no fundo, são contrários à transparência Os quem foram despojados de um poder que julgavam legítimos desde a donataria das capitanias hereditárias, ou quiçá das tábuas mosaicas, e tentam bloquear a construção da democracia autêntica que necessitamos.

sábado, 7 de junho de 2014

CORRUPÇÃO NAS OBRAS PARA A COPA

Um amigo meu, o Deciolino, realizou o sonho da casa própria após a expansão do crédito realizada pelo governo federal, através do programa Minha Casa Minha Vida. Somaram renda, ele e a esposa, cada qual empregados de um banco público diferente, e compraram uma casa num bairro de classe média numa aprazível cidade interiorana com vocação turística.
Após três anos de feliz habitação, os filhos crescendo, sentiram que era o momento de ampliar. Dois cômodos e um banheiro no fundo do lote, além da cobertura da lateral da casa, com o objetivo de desapertar a sala, ganhar espaço para as crianças brincarem e receber os amigos para confraternização. Ano de Copa do Mundo, é sempre bom juntar a turma para torcer.
Deciolino, um amante das planilhas, pois tudo na ponta do lápis e mãos à obra: iniciadas em 10 de novembro do ano passado, tinham prazo para conclusão antes do natal, em 20 de dezembro, a tempo de receber as tradicionais visitas de fim de ano. Apertando aqui e acolá, viu que suportava o orçamento de R$ 18.000,00.
Contudo, como toda construção civil, nem tudo saiu como planejado. Nem mesmo depois do carnaval ele pode apreciar as mudanças na sua residência. Assumiu pessoalmente a parte elétrica da varanda lateral e refez o jardim, plantando alguns temperos e orquídeas. Terminou tudo no fim de março. Os gastos bateram em R$ 56.000,00, sendo necessários novos aportes de empréstimos bancários.

Outro amigo, o Bacana, pensou em algo semelhante. Morando sozinho, na flor da idade, com os pais mudando recentemente para outro estado, imaginou um espaço para receber os amigos - e, principalmente, as amigas - com todo conforto, tornando seu lar um verdadeiro point para a juventude de sua diminuta cidade.
Bacana não é uma pessoa que possa ser considerada um primor de organização. Ainda assim, com pouca idade, já conseguiu juntar um patrimônio que justifica o título de "bom partido" que as moças lhe concederam. Do seu projeto constavam uma churrasqueira e a cobertura de um espaço razoável, antes inutilizado, quando muito uma parte do quintal. Como conhece tudo mundo no local, ouviu várias sugestões e alocou os serviços dos melhores pedreiros disponíveis.
As obras começaram no meio de abril, com prazo para conclusão no fim de maio. "Tranquilo", sossegou o Bacana, que gostaria de inaugurar suas novas instalações no jogo de abertura da Copa do Mundo. Reservou de suas economias R$ 15.000,00 e me convidou para assistir Brasil e Croácia na sua casa.
Contudo, como toda construção civil, nem tudo saiu como planejado. Se o Brasil se classificar para a fase seguinte, talvez consigamos assistir ao jogo na sua casa. O que era previsto para 15 dias já passou de 55 e não se vê ainda a luz do fim do túnel. A estimativa de custos previstos estourou triplamente, e ele já desembolsou R$ 45.000,00.

Ao saber desses dois casos, me pergunto: imagina na Copa?
Ou será que meus amigos são corruptos?
Os Black Bloc protestarão na frente da casa deles?
O MTST vai invadir suas humildes propriedades?
Nem na ditadura se torcia contra a seleção. Será agora?