Elite é elite, ainda mais na América Latina. Lembro de um personagem, o Caco Antibis. Fazia um esquete em que dizia ter horror a pobre. Uma espécie de Maria Antonieta do largo do Arouche. Pois bem, seu bordão pegou, e não é difícil deparar-se com essa expressão, ou a ainda mais agressiva: "Pobre é uma desgraça mesmo!" Pois os uruguaios, livres da globo e de sua teledramaturgia repetem a mesma ladainha.
Junto à tropa do fracasso temos a trupe das Madalenas Arrependidas. A colunista da Folha Mariliz Pereira Jorge, confessa estar arrependida de não ter se preparado para viver a
Copa. Diz que "broxou" com a quantidade de notícias ruins sobre o
evento. Ela diz que hoje faz a "Copa dos Arrependidos". Na mesma linha, Fabio Porchat solta um lamento coxinha, como se o clima anti-copa, na véspera, não fosse culpa dos seus patrões.
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Nigéria
vs. Bósnia-Herzegóvina. Muita transpiração, pouca inspiração.
Gradativamente, os europeus vão sentindo o efeito do nosso clima.
Acostumados a neve e gelo, sua temporada de "verão", que ocorre agora,
nem chega perto de um inverno de Cuiabá, mesmo depois do sol se por. A
Nigéria se sobrepôs graças ao melhor preparo físico, num jogo amarrado e
tenso. No fim da partida, tomou uma pressão descoordenada da Bósnia,
cujos atletas mal se aguentavam em pé.
O jogo que não ia dar ninguém, Nigéria e Bósnia-Herzegóvina, em Cuiabá, às 19 hs de um sábado emendado em feriado
teve 40.499 pagantes, num estádio em que cabem 41.112, o que representa
98,% de ocupação. Eles apostaram tudo contra a Copa e contra o
Brasil. Nunca foi tão forte o bombardeio vira-lata contra a nação. E
quebraram a cara. É coisa de pouco tempo, 10 dias atrás todos eram
unânimes. Uma gente "diferenciada" para quem o luxo dos camarotes é
pouco. Você vai esquecer deles???
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Bélgica vs. Rússia
Outro jogo em que o fator clima foi determinante. Era visível que no primeiro tempo as equipe se poupavam. A Rússia recuperou uma velha sina da União Soviética, tão garfada pelos campeonatos ao longo da história quanto a Portuguesa de Desportos. Houve um pênalti clamoroso que o juiz, ao lado do lance, preferiu não marcar. Quando tudo se encaminhava para um chato 0x0, os belgas gastaram as últimas reservas e acuaram a Rússia até o gol sair, aos 43' do 2.º. Festa belga, que se classificou sem mostrar grande coisa até aqui. Os russos, que momentaneamente suspenderam a vodka e caíram na cerveja, são candidatos a dar adeus à Copa antes do esperado.
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Argélia vs. Coreia do Sul
O primeiro tempo, em que os argelinos decretaram sua supremacia, parecia um treino entre adultos e infantis. O pessoal do zóinho puxado (inclua-se o Japão) sempre teve como ponto forte de seu jogo a velocidade. Vinham progredindo, torneio após do torneio. Até que trocaram sua principal virtude por um toque de bola lento, e pior, estéril, sem qualquer objetividade. Não deram um chute a gol na etapa inicial.
No intervalo, após uma carraspana do técnico voltaram mais ligados e aí tivemos um bom jogo, com chances de ambos os lados. Os argelinos se tornaram favoritos a segunda vaga do grupo.
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Estados Unidos vs. Portugal
Um jogo eletrizante, do tipo piscou, dançou. Muitas alternativas, numa partida em que toda vez que uma equipe se acomodou com o resultado foi castigada. Portugal saiu na frente, e tentou o famoso "cerca Lourenço". Os EUA vieram para cima e viraram o jogo. Quando os lusos estavam chicoteados psicologicamente, eis que no último lance, surge o empate. Quem foi ver o performático Cristiano Ronaldo (para não dizer que passou em brancas nuvens, deu bela assistência para o gol salvador) viu o esbugalhado Clint Dempsey atormentar os patrícios. Temi por esse dia, mas devo admitir: os ianques aprenderam a jogar o nosso futebol. Num eventual cruzamento contra adversários do grupo H, considero-os favoritos contra as quatro possibilidades.
Portugal jogou pela honra na competição. Agora, sobrevive por aparelhos. A incrível sequência de contusões pode revelar uma péssima preparação física ou uma tenebrosa maré de azar. Ou os dois.
3 comentários:
Holanda vs. Chile - Espanha vs. Austrália
Explicando: é evidente que eu não vi dois jogos ao mesmo tempo. Priorizei o jogo que decidia o primeiro lugar do grupo, e depois assisti a um VT de Espanha e Austrália. Os socceroos estavam desfalcados de seu melhor jogador, Tim Cahill, e foram presa fácil. Não deram um susto no goleiro espanhol. A Espanha equilibrou o jogo no quesito motivação e ganhou sem maiores dificuldades. Destaco apenas - e novamente - a expressividade de Fernando Torres, ao "comemorar" o gol que fez.
No jogo principal, o Chile pagará caro pelo antijogo. Demonstrou tanto respeito à Holanda que denunciou medo. O ponto fraco da Holanda é a defesa, que eles foram incapazes de agredir. Cheguei a me preocupar com o toque de bola chileno, mas se mantiveram a mentalidade de equipe pequena, vão perder.
A Holanda esperou o Chile tomar a iniciativa do jogo. Era irrelevante ganhar, pois o empate garantia a primeira posição do grupo. A vitória veio após o dedo mágico do técnico: dois gols marcados por atletas que entraram no decorrer do jogo. Um explorando o jogo aéreo (excelência batava e fragilidade chilena), e o outro, num contragolpe puxado por Robben, que é, na minha opinião, o "cara" do time. Sem menosprezar Van Persie e Snijder, mas o carequinha está comendo a bola.
Brasil vs. Camarões – México vs. Croácia.
Minha antipatia pela equipe croata foi redimida por Chicharito & CIA Ltda. Parece que foi jogo de um time só, pelo que deduzi do VT. E olha que o empate era mexicano. Os mariachis formam uma esquadra tinhosa, com um excelente goleiro, uma defesa sólida, que combina experiência e juventude, um meio de campo que trata bem a gorduchinha. Faltam definidores “top scorers”, ainda que Peralta e Chicharito não sejam ruins. É uma zebra bem viável contra a laranja. À Croácia, do mimimi acerca do pênalti, dos problemas no vestiário, do contar com a pressão da torcida brasileira sobre seu próprio time, da copa “comprada”, só lamento: porta da rua é serventia da casa.
Sobre o Brasil, me entristecia ver os torcedores que só acompanham futebol nessa época dizerem que faltava raça. Na verdade, sobrava raça, e tudo era afoito, exagerado. Hoje, com mais tranquilidade, o jogo fluiu. Camarões na minha opinião só tinha um objetivo, que era não passar a Copa em branco. Partiram para cima, numa atitude completamente oposta a dos jogos anteriores.
O nosso time continua com velhos defeitos: laterais com dificuldade de marcar, ligação direta da defesa para o ataque e a Neymardependência. Mesmo com isso tudo, não vejo nenhuma equipe muito superior à nossa. E houve uma melhora acentuada no 2.º tempo, com Fernandinho de volante. Vencer e perder são do jogo, mas em casa, acho que o campeão voltou.
Uruguai vs. Itália
Começando pelos derrotados: foi só a bota apertar que os italianos voltaram ao que sempre foram. Adeptos do catenaccio, a nossa retranca, povoaram o campo de zagueiros, riscando a idéia de um futebol ofensivo, baseado no toque de bola. Puro jogo de cena. Afinal, veio o castigo, pois não defendem mais com a mesma eficiência de outrora.
O Uruguai estava psicologicamente mais forte, ainda que como os rivais, já estivessem capengando no calor potiguar, lá pelo meio do 2.º tempo. Pelo que acompanhei, o gol era questão de tempo e os celestes mostraram “cabeça fria, pernas fortes e coração ardente”. Destaque para o mordedor Luiz Suarez, que cravou o dente em Chielini. Uruguai, Copa no Brasil, carga dramática excessiva. Tá do jeito que eles gostam.
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