domingo, 15 de junho de 2014

A COPA E A POLÍTICA

Perder uma disputa, seja no futebol ou na vida, faz parte do jogo. O que é inaceitável é perder a dignidade, a compostura, a vergonha na cara. Apelar, como o uruguaio inconformado com o chocolate que tomava da Costa Rica, e deu um pontapé no adversário. Da mesma forma, o exército de mercenários do PIG continua sua cruzada tentando menosprezar o trabalho de Miguel Nicolelis, do qual não sabem nada, mas que só veem defeito pelo cientista já ter dito abertamente ser simpático ao Lula e ao modelo de gestão federal do governo do PT.

É desqualificante para o ANTIPIG reproduzir a opinião de Roger sobre a tecnologia aplicada no exoesqueleto que possibilita a mobilidade a pessoas paraplégicas. Não fossem as deliciosas respostas de Miguel Nicolelis, preferiria nem tocar no assunto, para não gerar audiência para essas e outras tranqueiras, que José Trajano, da ESPN, nominou.




Outras abordagens interessantes são as do jornalista americano que pede que todas as copas futuras sejam no Brasil. Mais ou menos na mesma linha do meio-campista da seleção alemã Bastian Schweinsteiger. Já cantou o hino do Bahia E.C., dançou com os índios pataxós, bateu uma pelada na praia com crianças e posou de tropa de elite com soldados. Disse estar "dominado pela febre brasileira". Mas não só isso: afirmou sentir-se completamente em casa aqui. Segundo ele, os brasileiros são um exemplo, com sua alegria, positividade e amor pela vida. “E, pelo que ouvi, a economia brasileira também está se fortalecendo já faz algum tempo – uma combinação excelente” Está tão fascinado pelo país que logo logo vira Tião Taiga.

E também, por misericórdia faço o seguinte estudo. É para poupar minha paciência e a de outros que não aguentar mais ouvir essa asneira. Vamos desenhar um quadro das últimas cinco Copas, que passaram a coincidir com o ano de eleição para Presidente da República:

1994 - Brasil venceu a Copa: O PT perdeu as eleições. FHC, na verdade, o plano real, venceu no primeiro turno.

1998 - Brasil perdeu na final: PT perdeu novamente a eleição. FHC, que havia mudado a regra do jogo, pode ser reeleito.

2002 - Brasil ganhou mais uma!: PT ganhou as eleições, com Lula.

2006 - Brasil do oba-oba é eliminado nas quartas de final: O PT e Lula, apesar da ofensiva midiática no caso mensalão, vencem mais uma.

2010 - Brasil do ufanismo perde novamente nas quartas: Lula faz sua sucessora, a até então pouco conhecida Dilma Rousseff, do PT.

Sendo mais didático:

Nas duas vitórias do Brasil: PT ganhou uma (2002) e os demais a outra (1994);
Nas três derrotas do Brasil: PT ganhou duas (2006 e 2010) e perdeu uma (1998).

Conclusões: o resultado da Copa não interfere diretamente nas eleições;
-  para os infelizes que estão torcendo contra a seleção brasileira achando que com isso a oposição cresce, sorry, mas não há indícios que confirmem a ideia;
- para quem está com receio de torcer para a seleção, pois não quer que o PT ganhe, perca o medo de ser feliz, pois uma coisa não leva necessariamente à outra;
- para quem não gosta de futebol: vá ler um livro, faça uma caminhada, veja um filme ou durma. Faça exatamente o que você faz sempre que o assunto da bola entra em evidência. Mas, por favor, pare de encher o saco!
- para quem sempre torceu contra o Brasil, seja dentro ou fora de campo: seu caso não tem solução. Talvez uma mudança de país, caso seja aceito noutra freguesia. Recomendo, apenas como paliativo, as palavras de Dilma Rousseff:

Em 1970, eu estava na cadeia. Naquela época, havia segmentos que diziam: “Se você torcer pelo Brasil, você estará fortalecendo a ditadura”. Isso era uma sandice. Para mim, esse dilema nunca existiu.
Eu havia sido presa em 16 de janeiro e, como agora, a Copa começava em junho. Naquela época, muitas pessoas que eram de oposição ao regime militar inicialmente começaram a levantar a questão de que a gente fortaleceria a ditadura se torcesse pela Seleção Brasileira. Eram muitas pessoas, no início. Elas foram diminuindo progressivamente. Até que não sobrou ninguém. Com o decorrer dos jogos, todos, os que estavam na cadeia e os que estavam fora, torceram de forma apaixonada pela Seleção Brasileira.

Vivíamos sob uma ditadura. Não havia direito de manifestação, direito de organização, direito à divergência. Havia tortura, perseguição e repressão. Mas essa nunca foi a questão. Eu e as minhas companheiras de cela nunca tivemos dúvidas e todas torcemos pelo Brasil, porque o futebol está acima da política.

O nosso sentimento pode ser traduzido no verso de Camões, em Os Lusíadas: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta”.  

A Seleção Brasileira representa a nossa nacionalidade. Está acima de governos, de partidos e de interesses de qualquer grupo.

Ontem, hoje e sempre, o povo brasileiro ama e confia em sua Seleção.

Sobre os jogos de hoje:

Equador vs. Suíça
O Equador fez tanta força para perder que conseguiu. Seu técnico tirou todos os jogadores que ameaçavam a outra meta e os que ficaram em campo conseguiram perder uma chance clara de gol, na marca da cal, aos 48' do segundo, que redundou num contra-ataque e a virada dos helvéticos.
Uma partida ruim tecnicamente, marcada pela cautela excessiva e a falta de maiores ambições, o que deve marcar a trajetória destas duas equipes na Copa.
Mais interessante que o jogo é a abordagem étnica. O time do Equador é constituído majoritariamente por negros, que são apenas 7% da demografia do país, quase todos na província de Esmeraldas, a noroeste da capital. 71% da população é resultado da miscigenação entre os colonizadores europeus e os povos indígenas nativos.
Já na Suíça, uma torre de babel formada por gente que foi atrás de chances na vida. 2 ítalo-suíços, 1 chileno, 1 ebúrneo, 1 cabo-verdiano, 1 turco e ao menos 8 oriundos dos Bálcãs: 2 macedônicos, 2 bósnios, 1 croata e 3 kosovares, o que forma a equipe mais globalizada da Copa.

França vs. Honduras
Foi infrutífera minha torcida por mais um latino-americano. É um time violento, por vezes espeloteado, por vezes maldoso. Se não fosse a contemporização do juiz, era capaz do jogo se encerrar por falta de atletas - uma meia-dúzia merecia o vermelho. Sem o recurso da truculência não consegue emparelhar forças com nenhuma outra seleção do grupo. A França venceu mas não convenceu, pois jogou o segundo tempo todo com um jogador a mais e ficou tocando bola de ladinho. Tem bons jogadores, mas não é uma grande equipe. Demonstra potencial a desenvolver, mas talvez nunca ultrapasse esse estágio.
A primeira falha da organização foi a ausência da execução dos hinos. Quem está acompanhando pode ter algumas reações: "ai, que vergonha de ser brasileiro, que falha lamentável, os petralhas estão manchando a fama da organização brasileira no mundo"; tem gente que lamenta, mas não dá maior importância, visto que esse é um ingrediente acessório ao espetáculo, que transcorreu na mais perfeita normalidade; mas o que chama a atenção é o comportamento dos estrangeiros, embasbacados com o país. Até mesmo franceses e hondurenhos reagiram com o famoso "e daí?"

Argentina vs. Bósnia-Herzegovina
Los Hermanos mantém a sina de ter um ataque fenomenal acompanhado de uma defesa meia-boca, além de Mascherano, uma espécie de Dunga argentino, e Maxi Rodriguez, um Forest Gump do futebol. Essa dupla de meia cancha, incrível, vai para sua terceira Copa. Por causa dessa realidade, o técnico tem de coalhar a equipe com zagueiros para que Messi possa exercer seu talento. La Pulga, por seu turno, mais experiente, parece lidar melhor com a pressão. Errou quase tudo, mas o golaço, com o arranque marca registrada, apaga as demais tentativas frustradas.
Como saldo, penso que agora a Argentina assusta menos do que antes do início do campeonato.
Já a Bósnia-Herzegovina fez uma estreia honrosa em Copas do Mundo. Depois de Sérvia, Croácia e Eslovênia, e o quarto país advindo da antiga Iugoslávia a participar do maior evento de futebol do planeta. Seu grande astro, Dzeko, ficou devendo, se mostrando um atacante de poucos recursos técnicos e nenhuma mobilidade, ao contrário do que seu cartaz apregoava. Ainda assim, é forte candidata a segundo lugar desta chave.

4 comentários:

Márcio Scott Teixeira disse...

Não é Bahia E.C., é E.C. Bahia.
Para quem sempre torceu contra o Brasil: "Nunca discuta com um estúpido, você descerá ao nível dele e ele te ganhará por experiência!" - Albert Einstein

Marco disse...

Alemanha vs. Portugal
Tinha tudo para ser um jogaço, mas foi um passeio. Os tedescos deram uma traulitada nos murrugas sem sujar o uniforme. As coisas foram muito facilitadas por Pepe, um carniceiro travestido de jogador de futebol.
No futebol, europeus e seus correligionários adoram falar que o jogador brasileiro simula falta, engana o árbitro, ludibria o espectador. Pois Pepe (que nasceu no Brasil por engano - encarna bem essa mentalidade européia) demonstrou uma trapaça que eu já cansei de ver em jogos do primeiro mundo: tirar "satisfações" com que cai no lance, aí sim, jogando para o torcida. Rídiculo, e felizmente, parece que esse comportamento passará a ser coibido pelos juízes.
Tinha tirado minhas fichas da Alemanha, após tantas contusões e pelo clima de férias de seus treinamentos. Preciso rever meus conceitos; é um time completo, consciente e com atletas muito habilidosos, como Özil, Müller e Gotze.
Já Portugal padece do mesmo defeito da Argentina, em uma escala muito mais dramática. É incapaz de oferecer um time para sua estrela luzir. A julgar por essa apresentação, não passa da fase de grupos.

Marco disse...

Nigéria vs. Irã
O jogo que não aconteceu. Empolgado com o que via até então, cheguei a imaginar um bom jogo entre essas duas equipes. A Nigéria, que já teve craques, é o 3.º país mais populoso das seleções da Copa (atrás dos EUA e Brasil; 7.º no total) foi recebida com todo carinho pelo povo brasileiro, ainda que o jogo tenha sido na capital mais branca do país, Curitiba.
O Irã, por seu turno, berço da civilização ocidental, mais de 80 milhões de habitantes, quebrou uma belíssima regra de etiqueta que exibiu com elegância nas outras Copas que eu os vi jogar (98 e 2006): entregavam, cada atleta, um ramalhete de flores aos adversários, em sinal de respeito e amizade.
Quando ao jogo, pode parecer incrível, mas falei tudo.

Marco disse...

EUA vs. Nigéria
Confesso que só assisti ao primeiro tempo. Na verdade, bastavam os 30" iniciais. É interessante mencionar que o ranking de turistas estrangeiros na Copa tem no primeiro lugar um empate: argentinos e estadunidenses.
O técnico Klinsmann conseguiu implantar uma mentalidade um pouco mais ofensiva no time dos EUA, historicamente retranqueiro. Mas a vitória pode ter sido como a de Pirro: perdeu dois titulares lesionados e, num grupo com equilíbrio de forças, pode não ser o suficiente à classificação.
Gana, por sua vez, mostrou todos os estereótipos de equipe africana, mas com jogadores mais tarimbados. É o tipo da derrota amarga, onde a impressão que fica é que a vitória esteve a pouquíssima distância. Não está morta.