sábado, 30 de outubro de 2010

ENFIM, AS URNAS

Este blog ficou uma semana sem atualização. É que seus editores estiveram envolvidos até a alma na militância tradicional, aquela do contato físico, do debate de idéias, da troca de olhares.
As últimas pesquisas antes da eleição já foram divulgadas. Sensus, Vox Populi, Ibope e Datafolha. Todas elas apontam a eleição de Dilma Rousseff. A margem varia de 10 a 15% dos votos válidos. Será a primeira mulher presidente da nossa história.
Bagagem, capacidade e história para isso ela já mostrou ter. Foi a coordenadora de um governo, liderado pelo carisma incomparável de Lula, que se finda com 83% de aprovação, um recorde e parâmetro complicado para futuras comparações.
Mas tudo isso foi eclipsado pela campanha em si. O adversário, representante da elite local e de grupos econômicos internacionais despejou cobras e lagartos num marketing que, apesar do gosto duvidoso e da lamentável ausência de ética e escrúpulos, se mostrou eficiente, pois alavancou um péssimo candidato (arrogante, antipático) sem propostas (até hoje não foi registrado no TSE um programa de governo) ligado a interesses impopulares (chegaram a negociar nossas riquezas no meio da campanha!) a 40% do eleitorado.
Esse número merece uma reflexão. Atividade posterior; por agora, apenas afirmamos que a imprensa comercial, o PIG é responsável direto por esse número. Apostaram suas fichas, as mesmas utilizadas na manutenção de seus privilégios, numa bolinha de papel, supostamente atirada num candidato que, de tão impopular, já havia sido alvo de ovadas, por pelo menos duas vezes na sua inglória carreira.
Há quem enxergue pluralidade, como nas corajosas posições assumidas pela TV Record, e as Revistas Carta Capital e Istoé. Ou ainda na dubiedade da Band (que participou da CONFECOM) e SBT (que desmontou a farsa da bolinha). Porém, numa cidade como a que eu moro, não existem bancas de jornais, a conexão de internet é precária e o único canal disponível sem parabólica é a TV Globo.
É aguardado com ansiedade o tratamento que a comunicação receberá do próximo governo.
Porque durante esse pleito eleitoral, quem segurou o rojão foi a militância. Ela (nós), que ainda tem a hercúlea tarefa de legitimar o governo que será atacado desde antes da posse, por essa elite retrógrada que espuma através do PIG. Militante, termo que, inexplicavelmente, no Brasil tem uma conotação negativa, mas mereceu de Pepe Mujica(*) essa bela homenagem:

"Que seria deste mundo sem militantes?
Como seria a condição humana se não houvesse militantes?
Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem.
Não, não é isso.

É que os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos.
Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana requer inapelavelmente que exista gente que se sinta muito feliz em doar sua vida a serviço do progresso humano.
Porque ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício.
É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente".

domingo, 24 de outubro de 2010

COMBATE DE IDÉIAS – PARTE VI

PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA

Em 09 de outubro, exatos quinze dias atrás, ainda perplexos com o resultado da eleição no primeiro turno, nos propusemos a analisar o que aconteceu.
Surgiram duas indagações: Por que Marina Silva teve 20 milhões de votos? E, em seguida, como reverter esses votos em favor de Dilma Rousseff? Arrolamos seis hipóteses, que não esgotam as alternativas, e estão interconectadas. É evidente que se Marina fosse a candidata do PT, ela teria sido o alvo da campanha insidiosa movida pelo submundo da política, que alimenta o obscurantismo da candidatura Serra.
Tivemos a preocupação de apontar um motivo e a solução. Não por ser dono da verdade, mas diante do antipetismo mais empedernido não há o que fazer; já perante o antipetismo abrandado, tem que sem feito o convite à reflexão de quais interesses esse partido defende, e qual a pauta dos seus adversários eleitorais.
Pois bem, chegamos ao sexto item: o Partido da Imprensa Golpista. Este blog existe em razão do PIG. Cansamos que ver a manipulação da notícia, a informação tratada como privilégio de poucos, a comunicação nas mãos de meia dúzia de famílias.
Nos últimos dias, o PIG parece ter chegado ao fundo do poço, com a tentativa de criar um factóide sobre o episódio da bolinha de papel.
Muito poderia ser escrito para explicar o que significa o PIG. Na verdade, todas as postagens desde março são nesse sentido. Porém, apenas duas situações devem ser explícitas:

1.ª O PIG não é nacional. Debaixo de sua máscara, escondem-se até defensores do apartheid. Há várias lembranças da campanha que Obama sofreu nos EUA. Também sabemos que o PIG atuou direta e recentemente na Ucrânia, em 2004, (na denominada revolução "laranja"), no Quirguistão em 2005 (outro nome de boa publicidade, revolução das "tulipas") e em Honduras em 2009 (Observadores internacionais estimam, por exemplo, que agências internacionais investiram US$ 50 milhões anuais no suporte às entidades que desestabilizaram e derrubaram o governo de Manuel Zelaya). Sem contar o papelão da imprensa venezuelana, que impossibilita o diálogo, impede o exercício do governo constitucional, fomenta golpes. Nesta campanha eleitoral, os esforços articulados da imprensa comercial brasileira com a campanha do PSDB começaram a surtir efeito e ficar evidente após as visitas de Ravi Singh.
2.ª O PIG não surgiu para enfrentar a Dilma, nem Lula ou o PT. O PIG é senil, decrépito. Foi responsável direto pelo Golpe de 64 e ajudou na manutenção do regime militar por 21 anos. Os editoriais até grande imprensa tecendo elogios ao golpe, em 1.º de abril de 1964 são chocantes. O maior ícone do PIG brasileiro é Carlos Lacerda. O único fenômeno moderno do PIG é a ainda maior concentração de seus órgãos nas mãos de menos pessoas.

O que fazer?

Apesar dos números favoráveis das últimas pesquisas eleitorais, a campanha não acabou. É hora de atender a um chamado histórico sobre qual o modelo de desenvolvimento o Brasil seguirá. É muito evidente que um se vincula à soberania nacional e o outro subordina o país aos interesses do capital, sobretudo estrangeiro.
A campanha adversária (que apesar de dizer o contrário, se apressa em se mostrar inimiga), atua baseada nos seguintes mandamentos operativos:

1) Difunda o ódio. Ele é mais rápido que o amor.
2) Comece pela juventude. Ela esta multiconectada e pode ser mais facilmente mobilizada para destruir do que para construir.
3) Perceba que destruir é “divertido”, ao passo que “construir” pode ser cansativo e chato.
4) A veracidade do conteúdo é menos relevante do que o potencial impacto de uma mensagem construída a partir da aparência ou do senso comum.
5) Trabalhe em sintonia com a mídia tradicional, mas simule distanciamento dos partidos tradicionais.
6) Utilize âncoras “morais” para as campanhas. Criminalize diariamente o adversário. Faça-o com vigor e intensidade, de forma a reduzir as chances de defesa.
7) Gere vítimas do oponente. Questões como carga tributária, tráfico de drogas e violência urbana servem para mobilizar e indignar a classe média.
8) Eleja sempre um vilão-referência em cada atividade. Cole nele todos os vícios e defeitos morais possíveis.
9) Utilize referências sensoriais para a campanha. Escolha uma cor ou um objeto que sirva de convergência sígnica para a operação.
10) Trabalhe ativamente para incompatibilizar o político-alvo com os grupos religiosos locais.
Nossa posição deve ser a seguinte:




Passada essa verdadeira guerra eleitoral, nova batalha se apresenta: o de fazer valer o artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Este site possibilita pesquisa sobre a promiscuidade que existe entre mídia e poder no Brasil e a necessidade de alteração na lei que regula o setor. Acesse: http://www.donosdamidia.com.br/


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

COMBATE DE IDÉIAS – PARTE V

POSTURA DA CLASSE MÉDIA


A classe média não é homogênea. Nela, há trabalhadores organizados (como professores, bancários, metalúrgicos), profissionais liberais, pequeno e médio produtor rural, comerciantes, enfim, uma gama de cidadãos cujo único parâmetro é a equivalência aproximada de poder aquisitivo. Como o próprio nome já diz, é uma classe de passagem, intermediária. Por isso, vive em crise de identidade, negando o passado (de pobre) e reproduzindo a ideologia que aspira (os ricos). No Governo Lula, 28 milhões de pessoas ingressaram nesse estrato social. Pessoas que foram assistidas por políticas públicas, de transferência de renda, e hoje se mantêm a custa do próprio trabalho.
Para ridicularizar suas manias e costumes, existia um site que deixou de ser atualizado, mas cujos arquivos são divertidos, o http://classemediawayoflife.blogspot.com/. Também tem o exame ácido da irresponsabilidade de sua postura política, no http://anaispoliticos.blogspot.com/. Parece-me que é escrito de Curitiba, um foco de replicação do ideal conservador burguês: mantenha-se o status quo, para que nada se altere e que tudo permaneça como está. Contribui para essa ilusão a falsa perspectiva de que Curitiba seja uma cidade modelo, o que desautoriza a crítica e possíveis mudanças.
Essa classe tem sido dopada com doses cavalares de consumismo, levada a cultivar um egoísmo absurdo, graças à louca competitividade do sistema, e restringido sua visão da existência aos mesquinhos interesses pessoais. Por estar tão entretida em seus negócios particulares, a classe média acaba odiando a política, se transformando no que Hannah Arendt provocativamente chamou de Animal Laborans, aquele ser cujo patamar máximo de cidadania é invocar seu papel de consumidor.
Mas é na classe média que surge a consciência de classe, a perspectiva de alteração nos rumos do destino, a insubordinação racional aos ditos do mercado; olhando-se sob esse prisma, há esperança. Praticamente toda blogosfera progressista é composta de seres oriundos da classe média. A maioria dos revolucionários era pequeno-burguesa. É onde é dada a oportunidade de sonhar com um mundo melhor.


O que fazer?


Na faculdade, eu conhecia praticamente todos os colegas, mas só me relacionava com alguns. Afinidades classistas e eletivas. Havia uma moça, com amigos em comum, que diziam ser patricinha, fútil, que estava no curso apenas por prestígio, ou no máximo, para prestar concurso. Nunca conversei a fundo com ela, nem soube o que ela pensava de fato. Por isso, concedi o benefício da dúvida, apesar da sua aparência realmente me empurrar a acreditar no que diziam. Na minha cabeça preconceituosa, ela estaria acima da classe média.
Pois bem, passaram-se vários anos, saímos da faculdade, e eis que eu encontrei o texto abaixo, escrito por ela, publicado em seu blog. É isso, com a classe média é necessário fazer desabrochar seu potencial transformador, dar um empurrãozinho na desalienação. Não é fácil, até porque esse processo é mais interno que externo. Mas o fato de tumultuar sua restrita zona de conforto, instando-os a pensar, sem amarras, com desconforto típico de quem sai de um casulo, me parecer ser o melhor caminho.

Hoje mais uma vez me olhei no espelho e me perguntei: será que tenho cara de conservadora, demagoga, hipócrita, reacionária, coronelista, ou exploradora das classes menos favorecidas? Ou tenho, ou nada justifica o espanto das pessoas ao saberem que sou contra o Serra e toda a sua política que remonta aos tempos da monarquia.
Aos meus queridos amigos que o apoiam, tenho certo que são boas pessoas e que querem o melhor para o país, no entanto, temo que estejam mal informados. Espero que não deixem de ser meus amigos devido aos meus arroubos político-literários.
Irei tecer alguns argumentos que explicarão porque depois de gastar anos estudando história do Brasil e do mundo, geografia, ciências políticas, sociologia, e tantas outras coisas, eu sigo pensando que a Dilma não é a candidata dos meus sonhos, assim como o Lula não foi o presidente que eu gostaria que ele tivesse sido, mas que o Serra é um dos meus piores pesadelos.
Serra apóia, é apoiado e deve favores às pessoas das quais eu gostaria de ver o Brasil livre para acreditar em um futuro melhor. O PSDB (criatura do PMDB) está e sempre esteve ao lado das políticas mais opressoras dos trabalhadores e pobres desse país, de gente conservadora e reacionária, da bancada ruralista do Congresso, dos coronéis que ainda comandam esse país. Para citar exemplos, Marco Maciel, Ronaldo Caiado, Demóstenes Torres, ACM Neto (agora que o avô morreu), Orestes Quércia, Joaquim Roriz, Siqueira Campos, só pra começar. Essa gente compõe uma classe que acha igualdade social discurso de comunista, que para eles dar a quem é de direito é só mantê-los no poder porque é lá que eles sempre estiveram, portanto, o direito é deles. Justiça social, melhores condições de vida pra população, e etc. servem apenas pra angariar votos nos anos de eleição. No trabalho deles de verdade se preocupam em garantir suas posições, ajudar os amigos, e fazem o que for preciso pra que os interesses deles próprios nunca sejam contrariados
Esse não é o país que eu quero. Nos anos de governo Lula, com todas as críticas que tenho a ele, eu vi o poder aquisitivo da população aumentar, eu vi gente que passava fome, comer, eu vi o serviço público melhorar, eu vi investimento no nacionalismo há muito abandonado, eu vi as pessoas terem opção, opção gerada pela comida na mesa. Isso foi tão significativo, que vimos muitos desses senhores antes citados não serem reeleitos em seus currais eleitorais. As pessoas estão parando de agir como gado.
O modelo casa grande - senzala, não serve pra mim. Não quero ser escrava de ninguém e muito menos quero viver explorando os outros.
A carga tributária é outro argumento recorrente na roda tucana. Já falei sobre isso, e faço questão de lembrar que nos oito anos de governo FHC, que tinha maioria no congresso nacional, a carga tributária continuou enorme, e com a criação da CPMF, aumentou. O Estado de São Paulo, nas mãos do PSDB há dezesseis anos, conta com o maior IPVA, o maior ICMS, além do maior IPTU na capital, e ainda paga pedágio. Portanto, não esperem de Serra uma reforma tributária para diminuir a carga, porque ele não irá fazer isso.
Quanto à reforma política, o FHC também teve oportunidade e não a fez. Não vejo porque acham que o Serra fará.
Ouço muito das pessoas que são contra o PT e a Dilma, por consequência, que o PT é corrupto e que se a Dilma ganhar a moralidade do país continuará abalada. Fico chocada que ainda existam pessoas que acreditem que o PT inventou a corrupção, ou que seja o partido mais corrupto que existe no Brasil. Os mensalões, lobistas, fraudes em licitações já existem há tanto tempo, que não sei nem por onde começar. Darei como exemplo o rombo da previdência, ou será que tem alguém que acha que ela quebrou sozinha?
Para corroborar meu argumento, vou citar o caso do Paulo Preto, agora capa de algumas revistas, pois outras fizeram questão de abafar o caso enquanto deu. O Serra está diretamente envolvido, e ainda assim julgam ele mais probo que a Dilma. Alguém se lembra dos muito processos engavetados na época de FHC? Um deles foi o caso do superfaturamento das ambulâncias, que ocorreu no ministério que Serra comandava.
Acho que corrupção é um dos maiores problemas desse país, mas não tenho motivos pra acreditar que o Serra vá resolvê-lo.
Infelizmente, ainda insultam minha inteligência mandando e-mails me dizendo que Dilma é terrorista, come criancinhas, ou que registrou um programa de governo no TSE (pois é, pra ver onde chegam os absurdos, desde quando se registra esse tipo de coisa no TSE) no qual ela irá acabar com a propriedade privada. Sinceramente, penso não ter se quer que comentar esse tipo de coisa com os meus leitores, pois tenho certeza que vocês são inteligentes o suficiente pra saber que isso sim é terrorismo. Tentam amedrontar as pessoas com esses comentários da mesma forma que fizeram na época da ditadura e difamar a história política de Dilma, a quem devemos agradecer por ter lutado, inclusive pela nossa liberdade de expressão, correndo o risco de perder a vida, como tantos perderam.
Dilma é a continuidade de um governo que dentro do possível, trabalhou pela igualdade social, melhor distribuição de renda e justiça para a população brasileira. Por pior que seja sua aliança com Michel Temer, e que eu discorde de muitos de seus programas de governo, os princípios dos governos petistas ainda são os que mais estão de acordo com os meus, diante das duas opções que tenho.
Se me chamam de Petista, ou alguns gostariam de me chamar de Petralha, deixo claro que prefiro esses adjetivos a ver as pessoas do meu país passando fome, salário mínimo que mal compra uma cesta básica, gente sem a menor condição de ter uma vida digna.
Prefiro-me ver pintada de vermelho em busca de um país melhor, do que ver o sangue azul na sua eterna aristocracia, subjugando aqueles derramam sangue e suor de verdade por este país.
Não é nada pessoal, é apenas uma questão de princípios.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Serviço de utilidade pública. Cadê o MPE?

O "Escrivinhador" do Rodrigo Viana acaba de alertar para a nova onda do candidato das trevas. Trata-se do terrorismo difuso. Um serviço de telemarketing despejando milhares de ligações gravadas difamando Dilma precisamente nas regiões onde a candidata do PT tem ampla vantagem sobre o demo-tucano.

Justamente no dia em que a nova pesquisa mostra que a esperança pode bater a canalhice, a direita chafurda mais um pouco na sua imundice.

Carta Capital publicou reportagem algumas semanas atrás noticiando como Sandra Cureau acatou denúncia anônima contra a revista. Recentemente, a censora Cureau voltou à carga com um pedido de multa contra Paulo Henrique Amorim. O tacão dela aponta pra um lado apenas. Bem, já que a senhora Cureau tem por hábito acatar denúncias anônimas seria o caso de algum militante de Brasília ir ao Ministério Público Eleitoral e denunciar esse telemarkentig.



Acho que todos podemos inundar o MPE com denúncias contra essa nova canalhice. O difícil é imaginar gente como a tal Sandra Cureau se mover para apurar essa nova barbaridade.

À luz dos números

A pesquisa do Vox Populi divulgada hoje apresenta Dilma com 51% das intenções de voto contra 39% do queridinho do PIG. Dilma tem então, de acordo com a pesquisa, 57% dos votos válidos. Mais importante do que as grandezas em si, é o fato de que as pesquisas feitas mais recentemente parecem indicar o estancamento da transferência dos votos da Marina para o candidato demo-tucano. Ao levarmos em conta as margens de erro, Serra está girando em torno de números parecidos.

Nas pesquisas realizadas no segundo turno, Serra obteve 40% na primeira pesquisa da Vox Populi; 43% na Sensus/CNT; 43% no Ibope; 41% nas duas pesquisas da Datafolha.

Dilma apareceu com 48% na primeira pesquisa da Vox Populi; 47% na Sensus/CNT; 49% no Ibope; 48% na primeira pesquisa da Datafolha e 47% na segunda.

A novidade é que ao que tudo indica Serra não conseguiu transformar a tal "onda verde evangélica" que veio pela direita em um movimento ascendente. A tal onda parece já ter atingido o seu pico máximo e agora o movimento é de acomodação dos números serristas. O efeito da onda de boataria sustentada pela direita cristã não pode ser desprezada, mas também parece ter atingido o seu clímax e apesar dos evidentes estragos também parece ter encontrado a acomodação dos números. Entre os evangélicos, Serra lidera com 44%, mas Dilma segue colada com 42%; entre os católicos, as posições se invertem e Dilma aparece com 54% contra 37% do demo-tucano.

Os números servem para mostrar que ao que tudo indica a militância tem tido efeito. Um grande número de manifestos assinados por diversos segmentos com grande efeito de potencializador de votos têm surgido, como o de professores universitários, intelectuais e artistas. Na fronteira da internet, a militância também tem se mostrado atenta e combativa. Embora o presidente Lula, conforme comentou Paulo Henrique Amorim, tenha sido relativamente contido pelo PIG no segundo turno justamente pela acusação de "marionete" que a mídia tenta impigir a Dilma, a campanha petista tem sido capaz de contornar os estragos e Dilma parece ter conseguido dissipar a surpresa negativa do segundo turno.

Alguns estudiosos dizem que nos casos de uma sequência de pesquisas a média ajuda a diluir pontos fora da curva. Nesse caso, Dilma teria 48,33% e Serra 41,16%, sem descontar os votos brancos e nulos. Os números continuam a pedir toda a atenção da militância no intuito de converter os votos indecisos ou mesmo roubar algum voto serrista menos convicto (esse do rebanho marinista). O importante, no entando, é a mudança de humor da militância. A demonstração de intelectuais e artistas é uma amostra da mudança do tom da campanha. Muita gente comparou com a onda de apoio de artistas e intelectuais a Lula em 1989 e realmente existem semelhanças, mas a grande diferença é que em 2010 existem números que podem ser comparados e a pergunta "de que lado você quer estar?" tem mais substância para todos os eleitores.



Um outro vídeo bastante criativo comparando números. Lembrando que contra fatos não há argumentos

domingo, 17 de outubro de 2010

COMBATE DE IDÉIAS – PARTE IV

Já passava das 2 da manhã desse domingo. Na porta da gráfica Pana, no Cambuci, um grupo de 50 a 60 pessoas seguia de plantão – para evitar a distribuição dos panfletos (supostamente encomendados pelo bispo católico de Guarulhos) recheados de mistificação religiosa e de ataques contra a candidata Dilma Rousseff. Mais um capítulo da guerra suja travada nessa que já é a mais imunda eleição presidencial, desde a redemocratização do Brasil.

Na internet, durante a madrugada, outro plantão rolava: tuiteiros, blogueiros e leitores de todo o Brasil buscavam informações sobre os donos da gráfica, e sobre as possíveis conexões deles com o mundo político.

Stanley Burburinho (ele mesmo!) e Carlos Teixeira fizeram o trabalho. Troquei com eles algumas dezenas de mensagens. E essa apuração colaborativa levou à descoberta: uma das sócias da gráfica Pana é filiada ao PSDB, desde 1991!

Trata-se de Arlety Satiko Kobayashi, vinculada ao diretório da Bela Vista - região central de São Paulo. Nenhum problema com a filiação de Arlety ao partido que bem entender. O problema é que a gráfica dela foi usada para imprimir panfletos aparentemente encomendados por um bispo, mas que “coincidentemente”, favorecem ao candidato do partido dela.

Aqui, o contrato social da empresa – onde Arlety Kobayashi aparece como uma das sócias: contrato_social_grafica_pana[1]

E aqui a lista de filados do PSDB, onde ela aparece no diretório zonal da Bela Vista.

Mais um detalhe: Arlety é também funcionária pública, tem cargo na Assembléia Legislativa de São Paulo. E tem um sobrenome com história entre os tucanos: Kobayashi. Paulo Kobayashi ajudou a fundar o partido, ao lado de Covas, foi vereador e deputado por São Paulo.

Arlety aparece como doadora da campanha de Victor Kobayashi ao cargo de vereador, em 2008. Victor concorreu pelo PSDB.

A conexão está clara. Os tucanos precisam explicar:

- por que o panfleto com calúnias contra Dilma foi impresso na gráfica de uma militante do PSDB?

- quem pagou: o bispo de Guarulhos, algum partido, ou a Igreja?

- onde seriam distribuídos os panfletos?

- onde estão os outros milhares de panfletos?

Os panfletos do Cambuci são mais uma prova da conexão nefasta que, nesa eleição, aproximou os tucanos da direita religiosa – jogando no lixo a história de Covas, Montoro e tantos outros que lutaram para criar um partido “moderno”, que renovasse os costumes políticos do país. Serra lançou esse passado no esgoto – e promoveu uma campanha movida a furor religioso.

Mas não é só isso!

Se Arlety Kobayashi (uma tucana) é a responsável pela impressão dos panfletos, na outra ponta quem é o sujeito que encomendou tudo?

O Blog “NaMaria” traz a investigação completa, que aponta Kelmon Luis da S. Souza como o autor da “encomenda”. Ele teria ligações com movimentos integralistas e monarquistas!

O Blog do Nassif, por sua vez, mostra que as conexões poderiam chegar até bem perto de Índio da Costa (DEM), o vice de Serra. Ele, em algum momento, também teve proximidade com monarquistas. Mas esse detalhe ainda não está bem esclarecido.

De toda forma, o círculo se fecha: tucanos, demos e a extrema-direita (católica, integralista ou monarquista). Todos unificados numa barafunda eleitoral que arrastou nomes de bispos para a delegacia, e nomes de políticos para o rol daqueles que apostam na guerra de religiões como arma eleitoral.

Há mais mistérios entre o céu e o Serra do que supõe nossa vã filosofia. Paulo Preto é um deles. A gráfica do Cambuci parece ser outro. Mistérios que não serão decifrados por teólogos, mas por delegados e agentes federais.

É caso de polícia. E não de religião.

http://www.rodrigovianna.com.br/geral/exclusivo-dona-da-grafica-e-do-psdb.html#more-4436



Os panfletos mentirosos da CNBB e suas relações obscuras

Coisas pavorosas.
A desgraça dos panfletos contra a Dilma, que "supostamente" bispos da CNBB mandaram imprimir na Gráfica Pana, no Cambuci, tem em documento de encomenda/fatura o e-mail de um senhor chamado "kelmon.luis@theotokianos.org.br" (Kelmon Luis da S. Souza). Vide imagem.

Ora, trata-se e-mail da Associação Theotokos, da qual o Sr. Kelmon é o presidente.
Pelo RegistroBR sabe-se que o site está em nome da Casa de Plínio Salgado, que por sua vez é isto (credo!).



Será o benedito que a santa madre igreja tá nesse terror de mandar essa gente mandar uma gráfica fazer e entregar panfleto mentiroso, descarado, sórdido e podre no Paraíso, Barra Funda e Rua do Bosque? E quem paga é a Mitra Diocesana de Guarulhos? Vide imagem.

Vide o filme de onde foram retiradas as imagens.

Que relações são essas?
Desculpe, sou alma ingênua.

ATUALIZAÇÕES:

Dando voltas.
O dono da Editora Gráfica Pana LTDA é Alexandre Takeshi Ogawa. O pai, Paulo Ogawa, que aparece no vídeo é o "contador". Sócia da gráfica é Arlety Satiko Kobayashi, funcionária pública da Assembleia Legislativa de SP (ver DO: matrícula 5057); filiada do PSDB do bairro da Bela Vista; décima maior doadora da campanha de Victor Kobayashi (vereador suplente PSDB, 2008; em 2010 candidato a deputado estadual, não eleito), que por sua vez é filho do também político Paulo Kobayashi, falecido, e que solta belezas difamatórias feito esta no Twitter.

2.100.000 panfletos, por R$33 mil - Quem paga?

ATUALIZAÇÕES²
Por que os panfletos teriam de ser entregues na Barra Funda, na Rua do Bosque (que também é Barra Funda) e no bairro do Paraíso? O que a Mitra Diocesana teria a ver nesses lugares? Qual é a rede nessa história?

A Associação Theotokos fica exatamente na Rua do Bosque, 1903 - Barra Funda - São Paulo - CEP 11360-001 - essa casa abaixo. Para onde iriam os panfletos depois daí?

Já no Paraíso, também há representantes ortodoxos. E um monte de igrejas católicas.

Link: http://namarianews.blogspot.com/2010/10/os-panfletos-mentirosos-da-cnbb-e-suas.html

Notas do AntiPIG: Em 09 de outubro, elencamos seis itens que aumentaram a votação de Marina Silva e José Serra e diminuíram a de Dilma Rousseff na véspera do primeiro turno. É desnecessário um texto autoral sobre o falso moralismo, quando vêem à tona matérias dessa natureza. É a exploração inescrupulosa de um dos sentimentos mais puros do ser humano: seu amor verdadeiro à Deus, e sua tenência aos representantes de Deus na terra, os sacerdotes. Além disso, emerge do lodaçal ao mesmo tempo que pipocam denúncias de desvio de verbas tucanas, a figura de Paulo Preto.
Um dos maiores embustes que o PIG e os donos do poder impingiram ao povo brasileiro nesses últimos 8 anos é que a corrupção havia sido criada por Lula e pelo PT. Nos 502 anos que eles mandaram e desmandaram no país não havia corrupção. Bastou o PT chegar ao poder que o Estado se tornou um cabide de empregos e todo aquele trololó que já estamos de saco cheio de ouvir. Para quem ainda precisa de argumentos nesse sentido, além do fato de a polícia federal ter passado a atuar sem o rabo preso, veja esse link:
http://www.cgu.gov.br/Imprensa/Noticias/2010/noticia11510.asp
Sim, esse é o Brasil de Lula: o segundo menos corrupto das Américas, segundo o USAID e a Universidade Vanderbilt!

sábado, 16 de outubro de 2010

COMBATE DE IDÉIAS - PARTE III

O ANTIPETISMO

Nota de esclarecimento

Reconheço que o texto anterior ficou muito longo. É que os ataques pessoais à nossa futura presidente não param. O submundo da política emana ódio. Li muito sobre os porquês da campanha insidiosa contra Dilma: comparação com o “case” Obama, vítima parecida; enlace entre a pauta do marketing de Serra e o PIG; a direita raivosa, que sai do esgoto e leva o debate de idéias para as ameaças religiosas (vídeo abaixo); despolitização da eleição; erros estratégicos da campanha petista; “salto alto” da militância. São hipóteses válidas. Outras também são.


Porém, de repente todo mundo virou sociólogo a apurar as causas desse fenômeno. A postura equidistante, alheia ao problema, sem superá-lo, é que me deu paura da Universidade. O assunto pode ser interessante, mas a prioridade é outra: devemos combater essa ladainha e reverter o maior número de votos dos eleitores não convictos – que votaram em Marina, ou mesmo em Serra, mas não suportam o método de vencer a qualquer preço, que escancara sua canalhice.

O Antipetismo

O antipetismo é a manifestação nacional e tardia do ódio de classe na política. Algo similar foi notado desde a Revolução Francesa, quando o governo do povo foi chamado de “terror” pelo PIG da época. O antipetismo é anterior ao PT, e mistura elitismo e desconhecimento. No Brasil, é visível lá na formação dos sindicatos, 100 anos atrás. Antes de Lula e o PT, quem mais arcou com esse preconceito foi Luiz Carlos Prestes e o Partido Comunista.
A linguagem foi atualizada. Não se fala mais operário, nem proletário. Hoje, o politicamente correto diz classe trabalhadora. A luta de classes é esforço de integração. Mas a conquista de direitos sociais continua provocando asco e resistência da elite. Para que homens e mulheres, independente da cor ou posição econômica, pudessem votar e serem votados, muito sangue correu e inúmeras barreiras foram derrubadas. Até hoje, alguns vêem a “política” como passatempo de dândis enfastiados. Bancar uma eleição não é para pé-rapado, que deve labutar o sustento do dia a dia, sem reclamar...
O PT se abrandou para convencer os iludidos com a retórica conservadora. Trabalhadores replicavam a ideologia dos patrões, sabotando suas próprias necessidades, até darem um voto de confiança a Lula. E na prática seu governo conciliou interesses, ao tirar 18 milhões de pessoas da pobreza sem perseguir os mais abastados. Todo mundo se deu bem no governo Lula; só o irracional faz com que a burguesia se deixe manipular contra a eleição de Dilma*.
Há o contexto da polarização esquerda/direita, capitalismo/socialismo, da Guerra Fria e a posição geopolítica do Brasil como satélite cultural dos EUA, o perigo vermelho e a ameaça do Comunismo aos valores que se tornaram tão caros ao Ocidente. André Singer tratou disso em “As raízes sociais e ideológicas do Lulismo”. De como o PT se transformou de partido alternativo, de luta contra a ditadura, congregando sindicalistas, religiosos, intelectuais, rebeldes ou gente “descolada”, e passou a ser de fato um partido de massas, o único da nossa história.

O que fazer?

Aqui, o ponto é identificar o interlocutor com sua origem social. Aos trabalhadores e seus familiares, é fundamental identificar-se com o trabalho, em oposição ao capital. Refutar de antemão termos chulos e mesquinhos contra pobres, mesmo que “engraçados”. Isso é síndrome de capitão do mato, o negro pinçado pelos escravocratas para capturar e punir seus irmãos fugidios, ou aquele que, numa posição pouco melhor, se volta contra seus antigos companheiros.
Mesmo profissionais liberais, agricultores e empresários, que dependem de seu suor, obtêm vantagens com o mercado interno dinâmico. Todos em princípio são contra privilégios, pois suas famílias e eles mesmos tiveram que vencer isso. Não há “reserva de mercado”, e quem trabalhar com afinco, terá oportunidades. Essas demandas estão contidas com exatidão nas propostas de Dilma, e no que o governo Lula defendeu. Sem contar as conquistas coletivas, cujo retorno difuso exige maior compreensão. É o olhar social enfatizado na campanha televisiva.
Aos egressos da nobreza, pouco há a argumentar. É pertinente demonstrar que numa sociedade mais igualitária, todos saem vitoriosos. Mas são tão poucos, e tão encalacrados em suas razões quatrocentonas, que talvez não valha a pena.



* O componente irracional é o pânico: Lula é um notório apaziguador; da Dilma não se tem essa certeza; logo, urdiu-se que ela é “linha-dura”, no sentido de ampliar os avanços sociais iniciados por Lula; expor o conflito de interesses das classes é a última coisa que eles querem.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Cantanhêde e a interne livre, leve e solta

Eliane Cantanhêde parece ter ficado muito entusiasmada com a divulgação da pesquisa CNT/Sensus. Quase podemos escutar, no podcast da colunista, os pulinhos de alegria da funcionária padrão do PIG ao fazer um exercício de futurologia usando os números da pesquisa. A funcionária do PIG, que disse que o instituto de pesquisa inflava os números de Dilma, trabalha com a hipótese da candidata do PT no limite inferior da margem de erro e o candidato demo-tucano n0 limite superior da margem de erro.

Cantanhêde também nos convida, serelepe, a esperarmos os novos números do Datafalha que, segundo a moça, são os números que "balizam" a disputa. Uma coisa me chamou a atenção: eu não ouvi a colunista se referir às calúnias que Dilma vem sofrendo dia sim e o outro também, mas agora ela fala que o clima em Brasília é propenso para o aparecimento de personagens obscuros e factóides já que, em suas palavras, a campanha de Dilma está em franco declínio e a de Serra está em ascensão. Será que por factóide a moça quer se referir ao Paulo Preto?

No poscast, ainda existem outras pérolas. A funcionária padrão do PIG alerta que em duas semanas muita coisa pode acontecer "ainda mais em dias de internet livre, leve e solta". Pergunto, como diria o Mino Carta, aos meus espantados botões o que será que ela quer dizer com isso. Quiçá chiste de jocosa satisfação sobre os recursos torpes que a campanha serrista usa jogando às favas qualquer resquício de moralidade, ética e decência?

A funcionária padrão do PIG termina quase conclama que os tucanos do Brasil deem as mãos e evitem viajar no feriadão. A classe média urbana está preparando as malas e pode deixar de votar. Cantanhêde parece esperar do fundo de seu coração que parcela dessa classe média urbana - que em grande medida é a mesma que vontando na Marina despejou o segundo turno no colo de Serra - cumpra o papel que lhe cabe.

Vários analistas, nos mais diversos blogs, alertam para que a campanha de Dilma reaja de maneira mais veemente. Mostre de forma inapelável a diferença do Brazil de FHC/PSDB e o Brasil de Lula/PT. Parece que está passando da hora de Lula entrar de sola na campanha. Olhar no olho do povo e perguntar seriamente que país que cada um quer. Lula precisa perguntar se as pessoas querem um país que começou a despontar nos últimos oito anos e ninguém ainda conseguiu definir com clareza, mas que é diferente do que costumava ser ou se querem o país que a turma de Serra quer.

Paul Singer ousa dizer que é um país que parece estar desenvolvendo um modo de produção que ele chama de economia solidária. Pode haver talvez uma dose de exagero, mas que o Estado agora tem um papel de resposabilidade social que no tempo do príncipe dos sociólogos nem o cheiro tinha isso é inegável.

De qualquer forma, antes de teorizarmos em cima dos oito anos de governo Lula, precisamos que o autor dessas mudanças olhe no fundo dos olhos do povo e pergunte de maneira clara que pais nós queremos.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

COMBATE DE IDÉIAS – PARTE II

Campanha insidiosa contra a pessoa Dilma Rousseff

Continuaremos a série que se propõe a apresentar argumentos sensatos e honestos para que a militância democrática e popular conquiste o maior número de votos possíveis dados no primeiro turno à candidata Marina Silva. Relembramos que voto se ganha no corpo-a-corpo e eleição se decide na urna

Lula escolheu sua sucessora: Dilma Rousseff

Um dado é ponto pacífico nessa campanha: apesar da sistemática oposição do PIG, a aprovação popular de aproximadamente 80% dos cidadãos ao governo de Lula o tornam praticamente inatingível. Outros fatores contribuem para reforçar a aura do ex-metalúrgico, principalmente a identificação carnal que ele tem com o povo. Afinal de contas, ele é um retirante, que foi de pau-de-arara para o sul maravilha, fez curso de torneiro mecânico do SENAI, se tornou líder dos metalúrgicos, depois líder do Partido dos Trabalhadores (e isso é muito significativo, pois mostra que para ascender ele não trocou de lado) e presidente da nação. Não tem educação formal, educação como subproduto da diferença de classes do país, mas é o mais próximo que a nossa civilização chegou do gênio político. Não foi à toa que Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, império de escala planetária, sentenciou: Lula é o cara!
A oposição nem tenta abalar o prestígio de Lula; pelo contrário, faz tudo para capitalizar em cima das enormes conquistas sociais do seu mandato. Na campanha, surgiram diversos "pais" dos programas sociais de Lula. Em Goiás, um senador eleito pelo DEM, que representou judicialmente contra o PROUNI no STF, se arvorou o pai da educação. O candidato a governador de Goiás pelo PSDB, por seu turno, é pai do Bolsa Família. Mesmo Serra, que também é pai de todos os programas de compensação financeira, usou uma edição na qual Lula o cumprimentava, num encontro protocolar, tentando se aproximar do presidente do povo.
Quando Lula entrou de corpo e alma na campanha, demarcando território e demonstrando as diferenças, Serra começou a declinar vertiginosamente e Dilma a crescer, crescer. Apesar da frustração de alguns, o fato é que Serra esteve mais próximo de perder o segundo lugar para Marina do que ultrapassar Dilma.
Mas, como Lula é insuperável, o QG que coordena o marketing e as falas de José Serra resolveu mirar em Dilma. A partir daí, vimos a campanha mais baixa, suja e ilegal da nossa história. E olha que temos experiência farta nesse quesito. Em 89, Mário Amato, presidente da FIESP, disse que se Lula fosse eleito os empresários sairiam do país, espalharam que Lula trocaria a bandeira por uma vermelha, a ala mais tacanha das religiões atiçou a boataria de que Lula fecharia as Igrejas, Collor usou Mirian Cordeiro para acusar Lula de forçar o aborto da filha Lurian. Em 98, FHC comprou a emenda da reeleição, num dos escândalos mais absurdos da nossa história, com a conivência da imprensa.
Esse know how na baixaria tem sido descarregado contra Dilma Rousseff, ofendida em sua intimidade desde a ficha falsa que a Folha de São Paulo teve coragem de publicar na capa antes de apurar a verdade! O site “Seja dita a verdade” mantém em constante atualização uma lista dos emails falsos que circulam na internet mistificando o passado de Dilma, do PT, de Lula, enfim, que quem se contrapõe aos antigos donos do poder, representados nessa eleição por Serra. A coluna está aqui, e se chama “Desmentindo Boatos”. Num dos posts, de nome “Central de Boatos”, a autora unificou a lista de emails falsos mais comuns e a sua respectiva resposta, desmascarando a campanha urdida por gente que Lula lembrou bem, saiu do “submundo da política” para atacar Dilma Rousseff.

O PNDH3

A histeria de ala mais atrasada da Igreja Católica, que encontrou respaldo na Regional Sul 1 da CNBB, alude o problema do PT, e consequentemente de Dilma Rousseff, ao Plano Nacional de Direitos Humanos - O PNDH3, Decreto 7.177, de 12/05/2010. Por causa do PNDH3, alguns padres têm pregado abertamente que os fiéis não votem no PT. Como consequência lógica e sem alternativa, que votem no PSDB.
Na Constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, o Estado tinha religião:
Art. 5.º A religião Catholica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras Religiões são permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma exterior de templo.
Contudo, a Igreja perdeu poder político, e hoje há somos um Estado laico, onde há separação do Estado e da Igreja, conforme expressa a Constituição de 1988:
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
Convém esclarecer que o PNDH é um decreto presidencial sem força normativa, ou seja, ele depende de leis que o regulamente. Também é bom frisar que como o próprio nome diz, ele é a terceira versão de uma plano originado em 1995, no governo FHC. Por fim, nunca é demais lembrar que o PNDH3, que o governo Lula apresentou, foi modificado por pressão desse segmento conservador, em vários pontos, a saber: mediação dos conflitos agrários e urbanos, a exigência do cumprimento dos Direitos Humanos para a outorga ou renovação de concessão pública de radiodifusão, a criação de um ranking de publicações que mais respeitassem os Direitos Humanos, a proibição de nomear logradouros com nome de torturadores, monitoração da tramitação judicial das ações decorrentes de crimes do regime militar (1964-1985), e a proibição de ostentar símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da união, entre outros.
Nesse pantomina conservadora, católicos reacionários e evangélicos retrógrados, inimigos seminais, se aliaram na fraude. Os eixos atacados por estas vestais de moralidade são: O governo Lula estaria apoiando: o aborto; a união civil de homossexuais; cirurgias de mudança de sexo patrocinadas pelo SUS e a regularização da profissão de prostituta.
Acontece que o PNDH3, nesses tópicos, é somente a continuidade do PNDH2, de autoria do Governo FHC, do PSDB, mentor de Serra. A introdução é do próprio FHC, que assim diz:
O PNDH II será implementado, a partir de 2002, com os recursos orçamentários previstos no atual Plano Plurianual (PPA 2000-2003) e na lei orçamentária anual. Embora a revisão do Programa Nacional esteja sendo apresentada à sociedade brasileira a pouco mais de um ano da posse do novo governo, os compromissos expressos no texto quanto à promoção e proteção dos direitos humanos transcendem a atual administração e se projetam no tempo, independentemente da orientação política das futuras gestões. Nesse sentido, o PNDH 2 deverá influenciar a discussão, no transcurso de 2003, do Plano Plurianual 2004-2007. O Programa Nacional servirá também de parâmetro e orientação para a definição dos programas sociais a serem desenvolvidos no País até 2007, ano em que se procederia a nova revisão do PNDH.
Portanto, sobre estes assuntos, as políticas tucana e petista são rigorosamente iguais! Para quem ainda não se dê por satisfeito, vamos aos detalhes:

Sobre o aborto:
PNDH2 – FHC
Art. 179. Apoiar a alteração dos dispositivos do Código Penal referentes ao estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude e o alargamento dos permissivos para a prática do aborto legal, em conformidade com os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro no marco da Plataforma de Ação de Pequim.
Art. 334. Considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços de saúde para os casos previstos em lei.

PNDH3 – Lula
“Considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços de saúde”.
“Implementar mecanismos de monitoramento dos serviços de atendimento ao aborto legalmente autorizado, garantindo seu cumprimento e facilidade de acesso”.
Vale destacar também que aborto é matéria de competência do poder legislativo, e não do presidente da república. Presidente que legisla é ditador, incompatível com o regime democrático, onde o presidente se submete às leis que o Congresso impõe. O Código Penal, que é de 1940, há 70 anos dispõe o seguinte:
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Ainda mais alguns itens do PNDH2, de Fernando Henrique Cardoso:
Sobre a união civil de homossexuais e as cirurgias de mudança de sexo patrocinadas pelo SUS
114. Propor emenda à Constituição Federal para incluir a garantia do direito à livre orientação sexual e a proibição da discriminação por orientação sexual.
115. Apoiar a regulamentação da parceria civil registrada entre pessoas do mesmo sexo e a regulamentação da lei de redesignação de sexo e mudança de registro civil para transexuais."
Sobre a regularização da profissão de prostituta
"185. Apoiar programas voltados para a defesa dos direitos de profissionais do sexo."
No entanto, não ouvimos sacerdotes bradando aos paroquianos para que não votassem no PSDB por causa do PNDH2. Muito menos panfletos apócrifos foram distribuídos da entrada da Basílica de Aparecida-SP. A matéria de defesa dos direitos humanos é séria e não pode ser tratada com hipocrisia ou oportunismo eleitoral. Preconceitos devem ser combatidos e enfrentados. E o presidente do Brasil tem que defender a Constituição sob a qual faz juramento:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

O que fazer?

Combater o preconceito é uma das tarefas mais árduas e grandiosas de quem luta por justiça. Quando cada um de nós estiver conversando com pessoas que votaram em Marina Silva, ou até em José Serra, no primeiro turno, nunca é demais lembrar que Dilma tem a chancela do Lula. Ela representa o modelo do governo por ele iniciado. Ele pessoalmente se empenhou em fazer dela sua continuadora.
As respostas via email, das falsas acusações são pouco produtivas. Geram discórdia, briga, antipatia e afastam os eleitores que abominam a patifaria eleitoral promovida pela direita. As medidas judiciais, através das denúncias no portal da própria Dilma são mais eficientes, ainda que o judiciário não seja um poder tão confiável assim. (Muito menos o Ministério Público Eleitoral, que anda calado diante de tamanha torpeza, na figura da Dra. Sandra Cureau). Ainda assim, vale lembrar que Serra já é réu em ação de calúnia e difamação.
Sobre a questão do conflito interno da Igreja, é de se esperar que as lideranças se manifestem publicamente para acabar com os boatos. Já são várias as dissidências, tanto entre católicos quanto entre evangélicos, que não admitem a profanação de suas crenças para interesses eleitoreiros. E os religiosos historicamente ligados aos movimentos sociais, defensores das causas do povo, já estão dando testemunhos de qual é o caminho que o Brasil deve seguir em busca do ideal cristão de amor, fraternidade e justiça.

É no contato direto, no boca-a-boca, no tete-a-tete que essas mentiras se dissiparão. Uma de cada, a desconstrução da farsa deve ser serena, tranquila, pois muita informação, ao invés de esclarecer pode gerar mais confusão.
99% da repercussão dessa boataria têm origem no preconceito, filho do medo com a ignorância. É a hora da esperança vencer o medo, e o conhecimento suplantar a ignorância de uma vez por todas.

domingo, 10 de outubro de 2010

COMBATE DE IDÉIAS – PARTE I

Esquecimento/Ignorância dos idos FHC


Iniciaremos uma série cujo objetivo é subsidiar argumentos para que a militância do campo democrático e popular reverta o maior número de votos possíveis dados no primeiro turno à candidata Marina Silva. Nossa pequena contribuição é tentar colocar em prática todo sentimento e informação que está difusa na internet e levá-los para as ruas.

Já disse, com propriedade, o Azenha – como deve ser repassado o conhecimento. A proximidade física entre militantes e eleitores é fundamental nesses próximos 20 dias. A quem formula seu voto baseado em dados, muitos dados. Para quem é de pouca informação, mensagens simbólicas que contenham toda a informação.
De um jeito ou de outro, a reação deve ser baseada na comparação. Sem rancores ou sentimentalismos, a frieza dos números é o que importa. A brilhante iniciativa do ilustre Bob, designer gráfico que mantém um portfólio na internet, diz bem como a mensagem deve ser veiculada, de acordo com o público alvo a que se destina.

É preciso ficar claro que os benefícios do governo Lula não são advindos do governo FHC. Esse é um embuste que encontra eco na cabeça vazia daqueles que esqueceram (por alienação ou má-fé) o arrocho, o desemprego e a falta de perspectivas de marcaram aquela época. O “tucanato” foi um governo deles para eles mesmos, sem qualquer consideração com o povo. Na verdade, do governo FHC, Lula só legou a “herança maldita” da qual ainda sofre para se livrar. A comparação do número de empregos gerados e do valor do salário é apenas a ponta do iceberg.
Graças ao atual governo, pela primeira vez na história a nossa reserva cambial (a poupança em moeda estrangeira) é maior que a dívida externa. O mercado interno está aquecido. As pessoas mais simples têm tido acesso a bens de consumo outrora distantes de sua realidade. A classe média, apesar de seu egoísmo, tem tido oportunidades antes longínquas, como viajar, montar seu próprio negócio, fazer pós-graduação.
A nossa política externa é feita de cabeça erguida. Finalmente, o Brasil é tratado como um dos países mais importantes do mundo. Lideramos blocos econômicos, somos a vanguarda mundial na discussão sobre as futuras matrizes energéticas e arbitramos conflitos internacionais. Sem ufanismo, no exterior o nome de Lula é um dos mais cotados para secretário-geral da ONU. Ao invés de passar o chapéu pedindo uns caraminguás à banca de agiotagem mundial (principalmente o FMI), hoje somos credores, isto é, emprestamos dinheiro. Com isso, podemos ser altaneiros e não precisamos obedecer “cartilhas” como a que o FMI impôs à nossa educação, obrigando-nos à progressão continuada para aumentar a escolaridade formal na marra. Serra, no seu restrito horizonte, de venda do patrimônio e submissão aos interesses estrangeiros, confessou no último debate da globo no primeiro turno, que o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do “terceiro mundo”. Oras, chega de ser capacho!

O blog Terra Goyazes fez uma longa, profunda e excelente série sobre os anos FHC (1995-2002). O correto título é “A Idade das Trevas”. São sete capítulos fartamente abastecidos com informações sobre o período: “A precarização do Estado”, “O mito da eficiência da iniciativa privada”, “O Itamaraty tucano e a diplomacia de pés descalços”, “De um ensino tecnicista a uma educaçãozinha meia boca”, “Daniel Dantas como modelo de empreendedorismo e de como os oligarcas tucanos saquearam o estado”, “Sob FHC, a justiça, apesar de caolha, enxerga muito bem” e “O supremo sonho tucano: transformar o Brasil num imenso Paraguai”. Vale a pena como documento histórico e também como fonte de lembranças para aqueles que ainda insistem em dizer que não vêm diferenças entre o governo Lula e o Governo FHC.
Nesse outro site, você encontra 45 motivos para nunca mais votar no PSDB. É o itinerário de um desastre, rememorando 45 escândalos da era FHC.
Para terminar, é importante dizer a utilização desses argumentos não precisa e nem deve ser agressiva. Temos que conquistar eleitores que estão confusos com o bombardeio de mentiras que recebem mastigadas pela imprensa venal, e não fazê-los inimigos. O vídeo abaixo é uma demonstração de que a indignação com o governo vendilhão dos tucanos deve estar acompanhada da postura adequada àqueles que lutam do lado da justiça.


sábado, 9 de outubro de 2010

QUEM DITA A PAUTA?

VAMOS PARA AS RUAS!

EM DEFESA DO BRASIL!

PELA IMPORTÂNCIA DESSA ELEIÇÃO!

Meus anos de academia deixaram sequelas. A mais grave é a ojeriza da abordagem teorética em assuntos práticos. Muito já foi escrito, várias possibilidades foram exploradas e o tema não se esgota. A surpreendente votação de Marina Silva tem quebrado a cabeça de muita gente boa. Marcos Coimbra, Idelber Avelar, Miguel do Rosário, entre outros ilustres comentadores se debruçaram sobre o fenômeno. Cada qual à sua maneira, expuseram razões para os quase 20 milhões de votos da candidata verde.
Apesar do tema ainda intrigar, tenho certeza que já passou da hora de virar a página. A grande questão para quem milita no campo democrático e popular é: como conquistar esse eleitorado?
Pois bem, sugiro começar pelos números. Fiz um levantamento dos votos separando capitais e interior. Os votos das 27 capitais foram assim distribuídos:

27 capitais
Dilma – 10.039.703 (39,9%)
Serra – 7.613.213 (30,3%)
Marina – 7.059.732 (28,1%)
Demais – 423.733 (1,7%)
Total – 25.136.831 (100%)

Interior
Dilma – 37.611.731 (49,2%)
Serra – 25.519.070 (33,4%)
Marina – 12.576.627 (16,4%)
Demais – 746.344 (1,0%)
Total – 76.453.772 (100%)

Antes da análise dos números, algumas ressalvas:

  1. Entre as capitais, há cidades das 5 regiões geográficas do país. Representam quase 25% do eleitorado;
  2. Apesar disso, há cidades como Campinas, Campina Grande, Joinville, Juiz de Fora, que não são capitais, mas que têm um eleitorado mais volumoso que Florianópolis, Vitória, Boa Vista e Aracaju, por exemplo;
  3. Também há que se considerar as regiões metropolitanas. A esmo, escolhi a região metropolitana de Curitiba. Dilma teve 46,04%, Serra 34,81% e Marina 17,81% nos 25 municípios circunvizinhos à capital do Paraná. Mas, colocando a capital na equação, o quadro se reverte pró Serra e Marina: Serra passa a 40,57%, Dilma cai a 34,82% e Marina sobe para 23,02%;
  4. Isso sem contar as conurbações que não surgiram em torno de capital alguma, como as Baixadas Fluminense e Santista, Vale do Itajaí, Região de Caxias do Sul, entre outras.

Feitas as devidas considerações, e apesar delas, entendo que o voto que impediu a vitória de Dilma já no primeiro turno é o mais urbanizado. No interior, desconsiderando a máquina de escândalos da imprensa, e outros golpes baixos, como o voto de cabresto e a disseminação do pânico, somos favoritos, ressaltando que os argumentos que serão tratados posteriormente servem para o público em geral. Vários são os fatores, e é importante conhecê-los para que a reversão dos votos da Marina seja mais clara, embasada no real convencimento das pessoas de qual o melhor projeto para o país. Podemos elencar os itens que aumentaram sua votação:

  1. “Esquecimento”/Ignorância do período FHC;
  2. Campanha insidiosa contra a pessoa Dilma Rousseff;
  3. Antipetismo;
  4. Falso moralismo;
  5. Postura da classe média;
  6. Partido da imprensa golpista.

Não há ordem no rol acima, e também há uma pequena margem de voto ideológico, da pauta ambientalista e consciente, que migrará para Dilma. Inobstante o esforço da campanha Serra por integrar esses fatores, o fato é que não existe “serrismo”. Um poste Anti-PT, ou o Vesgo, do Pânico (PHA), teria mais votos que o Serra. Esse candidato não tem partidários, correligionários, muito menos seguidores ou entusiastas. Sua campanha é exclusivamente baseada em “militância paga” (expressão paradoxal) comercial e produtiva, que atua na lógica do mercado, de forma articulada, respondendo diretamente ao QG central. Por isso as ações dos trolls da internet, o programa na TV, as reportagens da mídia gorda aparentam tamanha simbiose. Se encaixam como luva porque são engendradas na mesma fonte, que se alimenta dos (e retroalimenta os) fatores acima expostos.
A faceta mais evidente dessa máquina eleitoral é a imprensa comercial. Desde o primeiro turno, a candidatura Dilma tem apresentado uma agenda propositiva, ao passo que a oposição se organiza em torno da destruição. Não há nada de positivo no programa do PSDB. Promessas desvairadas, populistas, e difamação, sordidez, torpeza. O índice de rejeição à Dilma Rousseff era o mais baixo dos candidatos; logo, ela foi colocada na alça de mira dos mercenários das redações, que tentam se imiscuir em cada detalhe de sua vida pessoal. A última atitude nesse sentido é a pressão que a FSP tem dado no Supremo Tribunal Militar para tornar público o arquivo da prisioneira nos porões da repressão. Mais uma vez esse órgão se presta ao papel de porta-voz da ditadura. Na vida, na arte, no futebol e na construção civil, destruir é mais fácil que construir.
Nos próximos posts, falaremos dos itens e como argumentar no sentido de angariar os votos indecisos. Podemos convencer um enorme contingente de pessoas iludidas, pois lutamos do lado verdade. O próprio voto em Serra não é um voto convicto, a não ser em Higienópolis, Zona Sul Carioca, TPF e na UDR – nesses locais se trata do voto de defesa de classe, a conservação dos privilégios disfarçada em competência e meritocracia.



Deixo uma mensagem de qual deve ser a postura da militância comprometida com o futuro desse país. Passam-se os anos, não muda a atitude.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O RESULTADO DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

Pesquisei no site do TSE para estudar a nova configuração da Câmara Federal e das Assembléias Legislativas Estaduais. Não sei como publicar planilhas no blog, nem creio que esse seja o foco, mas um breve ranking das bancadas é o seguinte:

Deputados Federais
PT - 88
PMDB - 79
PSDB - 52
DEM - 43
PSB - 41
PP - 41
PR - 34
PDT - 28

Deputados Estaduais
PT – 148
PMDB - 147
PSDB - 124
PDT - 76
DEM - 76
PSB - 71
PR - 53
PP - 48

No Senado, considerando apenas as 54 vagas em disputa, o resultado foi esse:

PMDB – 16 eleitos
PT – 12 eleitos
PSDB – 5 eleitos
PSB, PP e PR – 3 eleitos cada
PSOL, DEM e PDT – 2 eleitos cada
PMN, PCdoB, PTB, PSC, PRB e PPS – 1 eleito cada

27 cadeiras do Senado ainda permanecem com mandato até 2014. Na atual configuração:

DEM – 6
PSDB e PTB – 5 cada
PT e PMDB – 3 cada
PDT – 2
PCdoB, PR e PP – 1 cada


Algumas Análises:

  • A vitória do governo Lula foi incontestável. Os partidos da base aliada ampliaram suas representações, a oposição perdeu na urna legitimidade para sua gritaria. Num eventual mandato Dilma Rousseff, ela terá maioria absoluta com facilidade, ao contrário dos 8 anos de mandato do atual presidente.
  • O PMDB continua sendo o velho balaio de gatos. A eleição alavancou vários de seus nomes, na dobradinha com Lula. Mas, apesar de compor a chapa de Dilma Rousseff, com o vice Michel Temer, entre seus eleitos há governistas e oposicionistas. Já há movimentos para a fundação de uma dissidência, o PPL – Partido Pátria Livre, que se julga herdeiro do MR-8 e responsável pela aproximação do partido com o presidente Lula.
  • Por um mínimo de coerência ideológica, e contra partidos nanicos visivelmente fisiológicos, que falta faz a verticalização das alianças! Essas legendas de aluguel acabam sempre conquistando as últimas vagas por Estado, numa verdadeira reengenharia de votos permitida pelos quocientes eleitorais.
  • A crítica supostamente de “esquerda” ao governo, também sofreu uma derrota fragorosa. PCB, PCO, PSTU não elegeram nenhum parlamentar. O PSOL elegeu três Deputados Federais (2 no RJ e 1 em SP) e 4 Estaduais (2 no RJ, 1 em SP e 1 no PA). Importantes quadros do partido ainda ficaram sem mandato como Heloísa Helena (AL), Luciana Genro (RS) e Raul Marcelo (SP). Não seria hora de repensar a estratégia?
  • O DEM foi o maior derrotado das eleições. O partido caminha rapidamente para a extinção. Em 2002 (como PFL) detinha 94 assentos na Câmara. Caiu para 43. Até o final da legislatura esse número tende a se reduzir. Nos governos estaduais, o partido outrora imbatível elegeu apenas 2 governadores. O carlismo foi definitivamente sepultado e velhos caciques, como Marco Maciel, não se elegeram.
  • Por falar em PFL, até o governo Lula, eles nunca haviam sido oposição, qualquer que fosse a sigla que a legenda assumisse, desde a ARENA. Hoje, quem merece o rótulo de “partido da situação” é o PR. É da base aliada e faz parte da maioria das coligações vitoriosas nos estados, mesmo quando de oposição ao governo central.
  • A tucanada também sofre o fenômeno do desinchaço. Nos idos FHC, compra de votos para reeleição e outros quejandos, chegaram a ostentar 93 mandatos. Agora, o número despencou para realísticos 52 congressistas. E mais: vêm se tornando um partido de gueto: 64% dos seus deputados estão concentrados em 6 estados. Não elegeu ninguém em outros 7 estados.
  • A opção de centro-esquerda, como oferecem PDT e PSB, parece finalmente ter alcançado o eleitorado de perfil mais conservador. Pautas ligadas ao nacionalismo, como a defesa do patrimônio público, o trabalhismo, com a defesa do salário e do emprego, e a igualdade, na melhoria da distribuição de renda, mostram resultados muito melhores para a população do que a manjada cartilha neoliberal, que tachava essa agenda de “jurássica”. Somadas, essas suas agremiações tinham 32 deputados em 2002. Hoje, saltaram para 79.

Deixei por último, mas considero o tópico mais importante. Tanto em política quanto na física, toda ação gera uma reação contrária e proporcional (Newton – o Isaac, físico, não o Newtão de Minas). O crescimento do PT, a consolidação como maior partido do Brasil, trás consequências.
O lado positivo é que o PT é um partido de massas. E mesmo que não se concorde com seu programa, é inegável que haja um nexo de continuidade ideológica com as bandeiras do partido: pluralidade, justiça social, democracia.
Depois que deixou de ser estilingue e passou a ser vidraça, caiu a aura de moralidade irretocável, o que produziu manchetes sensacionalistas. O partido é feito de pessoas, e há pessoas de todos os tipos e condutas. Não se trata de uma seita que investiga a fundo o perfil psicológico dos seus filiados. Também não podemos nos iludir com a interpretação ingênua (ou talvez maliciosa?) de que só existe corrupção no PT. Ou que a corrupção só chegou ao Governo nos últimos oito anos. Ou pior ainda (pior como argumento ainda mais sub-reptício), de que a corrupção aumentou com a chegada do PT ao poder. Os crimes lesa-pátria (privatizações a preço de banana, financiamento dos bancos privados, confisco da poupança, compra de votos do Congresso, etc) cometidos em governos anteriores tiveram julgamento bem mais complacente. Também há que se ressaltar a relação com os movimentos sociais, que se não é perfeita, em nada lembra o período anterior, onde eram tratados na esfera da delinquência (Greve dos petroleiros, massacre de Eldorado dos Carajás, os exemplos se multiplicam).
O mais nefasto disso tudo é o crescimento do anti-petismo. Esse sentimento surgiu quase simultâneo ao partido. No começo, remetia aos temores de uma república sindical. O partido começou a eleger parlamentares comprometidos com as causas populares, verdadeiros ícones da resistência popular, rompendo as amarras da velha república dos coturnos. Nas eleições de 89 ficou muito evidente que o anti-petismo se aliava ao conservadorismo, seja nas questões urbanas (direito à greve, por exemplo), agrárias (confisco das propriedades improdutivas) ou religiosas (Estado laico). Até a cor da bandeira seria mudada, associando o PT ao ataque de símbolos nacionais. Carcomidos pelos anos de chumbo, é verdade, mas ainda símbolos nacionais.
Pano rápido, e passamos por um longo torpor, no qual o anti-petismo se amalgamou com a grande imprensa comercial. Poucas variações sobre o mesmo tom diziam que o programa do partido era “inviável”. Em cada momento, uma justificativa para essa suposta inviabilidade, questão irresolúvel para os “formadores de opinião”. A ditadura do pensamento único vivia seu apogeu, e pensar de forma distinta era quase um delito intelectual. No qual o PT incorria quase sempre.
Aí veio o presidente Lula. Tratados serão escritos sobre esse período riquíssimo da história brasileira. Sem ir muito fundo, hoje, esse “sentimento” anti-petista descambou para três vertentes: 1.º decepção, daqueles realmente enxergavam no PT uma restauração do messianismo, como se num passe de mágica, ou num exercício de mandato, todos os problemas da sociedade se resolvessem; 2.º postura elitista, que numa contradição é proferido pela classe média que ascendeu socialmente nesse período, como se ela – apenas ela – tivesse que aturar o fardo da distribuição de renda; 3.º preconceito, puro e simples, que como qualquer preconceito é fruto da alienação e da ignorância.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Marina Silva e seu eleitorado

Marina Silva em Wall Street.

texto extraído do Conversa Afiada.

Com o programa econômico mais liberal entre todos, PV apresentou o novo centro, com roupagem “moderna”

Wladimir Safatle, Folha de S.Paulo, 4 de outubro de 2010

“Wall Street” é, entre outras coisas, o nome do novo filme do cineasta norte-americano Oliver Stone. Ele conta a história da crise financeira de 2008 tendo como personagem central um jovem especulador financeiro que parece ter algo semelhante ao que um dia se chamou pudor.

Sua grande preocupação é capitalizar uma empresa, que visa produzir energia ecologicamente limpa, dirigida por um professor de cabelos brancos e ar sábio. O jovem especulador é, muitas vezes, visto pelos seus pares como idealista. No entanto, ele sabe melhor que ninguém que, depois do estouro da bolha financeira, os mercados irão em direção à bolha verde. Mais do que idealista, ele sabe, antes dos outros, para onde o dinheiro corre. Enfim, seu pudor não precisa entrar em contradição com sua ganância.

Neste sentido, “Wall Street” foi feliz em descrever esta nova rearticulação entre agenda ecológica e mundo financeiro. Ela talvez nos explique um fenômeno político mundial que apareceu com toda força no Brasil: a transformação dos partidos verdes em novos partidos de centro e o abandono de suas antigas pautas de esquerda.

A tendência já tinha sido ditada na Europa. Hoje, o partido verde alemão prefere aliar-se aos conservadores da CDU (União Democrata-Cristã) do que fazer triangulações de esquerda com os sociais-democratas (SPD) e a esquerda (Die Linke). Quando estiveram no governo de Schroeder, eles abandonaram de bom grado a bandeira pacifista a fim de mandar tropas para o Afeganistão. Com o mesmo bom grado, eles ajudaram a desmontar o Estado do bem-estar social com leis de flexibilização do trabalho (como o pacote chamado de Hartz IV). Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes do partido verde francês, fez de tudo para viabilizar uma aliança com os centristas do Modem. Algo que soaria melhor para seus novos eleitores que frequentam as praças financeiras mundiais.

No Brasil, vimos a candidatura de Marina Silva impor-se como terceira via na política. Ela foi capaz de pegar um partido composto por personalidades do calibre de Zequinha Sarney e fazer acreditar que, com eles, um novo modo de fazer política está em vias de aparecer. Cobrando os outros candidatos por não ter um programa, ela conseguiu esconder que, de todos, seu programa era o economicamente mais liberal. O que não devia nos surpreender. Afinal, os verdes conservaram o que talvez havia de pior em maio de 68: um antiestatismo muitas vezes simplista enunciado em nome da crença na espontaneidade da sociedade civil.

Não é de se estranhar que este libertarianismo encontre, 40 anos depois, o liberalismo puro e duro. De fato, a ocupação do centro pelos verdes tem tudo para ficar. Ela vem a calhar para um eleitorado que um dia votou na esquerda, mas que gostaria de um discurso mais “moderno”. Um discurso menos centrado em conflitos de classe, problemas de redistribuição, precarização do trabalho e mais centrado em “nova aliança”, “visão integrada” e outros termos que parecem saídos de um manual de administrador de empresas zen. Alguns anos serão necessários para que a nova aliança se mostre como mais uma bolha.

VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.



O texto é muito sagaz ao colocar a falaciosa "onda verde" em seu devido lugar: um sintoma do nosso tempo de despolitização da sociedade e de individualismo exarcebado.
A linguagem é típica dos famigerados livros de "gestão"... Nada mais vazio de conteúdo e ao mesmo tempo pomposo.

A utilização do jargão oriundo das escolas de bussiness mundo afora agrada à juventude urbana "pós-moderna" que cresceu ouvindo esse mesmo discurso na TV, nas revistas tipo Veja ou Exame e nos jornais. É um discurso que foi gramourizado pela mídia gorda ganhou os ouvidos da juventude pateta que estuda em escola particular de preferência de grife, para depois fazer medicina, direito ou engenharia nas universidades federais, como se isso fosse um direito inalienável de classe. A juventude que votou em Marina Silva é a mesma que protesta contra as cotas porque não se conforma em perder suas vagas por direito adquirido de classe, enche a pança de macdonalds, acha o MST demoníaco, e acha que o suprassumo da inteligência do país são as tiradas do CQC e o programa de debates do Lobão na MTV...