Pesquisei no site do TSE para estudar a nova configuração da Câmara Federal e das Assembléias Legislativas Estaduais. Não sei como publicar planilhas no blog, nem creio que esse seja o foco, mas um breve ranking das bancadas é o seguinte:
Deputados Federais
PT - 88
PMDB - 79
PSDB - 52
DEM - 43
PSB - 41
PP - 41
PR - 34
PDT - 28
Deputados Estaduais
PT – 148
PMDB - 147
PSDB - 124
PDT - 76
DEM - 76
PSB - 71
PR - 53
PP - 48
No Senado, considerando apenas as 54 vagas em disputa, o resultado foi esse:
PMDB – 16 eleitos
PT – 12 eleitos
PSDB – 5 eleitos
PSB, PP e PR – 3 eleitos cada
PSOL, DEM e PDT – 2 eleitos cada
PMN, PCdoB, PTB, PSC, PRB e PPS – 1 eleito cada
27 cadeiras do Senado ainda permanecem com mandato até 2014. Na atual configuração:
DEM – 6
PSDB e PTB – 5 cada
PT e PMDB – 3 cada
PDT – 2
PCdoB, PR e PP – 1 cada
Algumas Análises:
- A vitória do governo Lula foi incontestável. Os partidos da base aliada ampliaram suas representações, a oposição perdeu na urna legitimidade para sua gritaria. Num eventual mandato Dilma Rousseff, ela terá maioria absoluta com facilidade, ao contrário dos 8 anos de mandato do atual presidente.
- O PMDB continua sendo o velho balaio de gatos. A eleição alavancou vários de seus nomes, na dobradinha com Lula. Mas, apesar de compor a chapa de Dilma Rousseff, com o vice Michel Temer, entre seus eleitos há governistas e oposicionistas. Já há movimentos para a fundação de uma dissidência, o PPL – Partido Pátria Livre, que se julga herdeiro do MR-8 e responsável pela aproximação do partido com o presidente Lula.
- Por um mínimo de coerência ideológica, e contra partidos nanicos visivelmente fisiológicos, que falta faz a verticalização das alianças! Essas legendas de aluguel acabam sempre conquistando as últimas vagas por Estado, numa verdadeira reengenharia de votos permitida pelos quocientes eleitorais.
- A crítica supostamente de “esquerda” ao governo, também sofreu uma derrota fragorosa. PCB, PCO, PSTU não elegeram nenhum parlamentar. O PSOL elegeu três Deputados Federais (2 no RJ e 1 em SP) e 4 Estaduais (2 no RJ, 1 em SP e 1 no PA). Importantes quadros do partido ainda ficaram sem mandato como Heloísa Helena (AL), Luciana Genro (RS) e Raul Marcelo (SP). Não seria hora de repensar a estratégia?
- O DEM foi o maior derrotado das eleições. O partido caminha rapidamente para a extinção. Em 2002 (como PFL) detinha 94 assentos na Câmara. Caiu para 43. Até o final da legislatura esse número tende a se reduzir. Nos governos estaduais, o partido outrora imbatível elegeu apenas 2 governadores. O carlismo foi definitivamente sepultado e velhos caciques, como Marco Maciel, não se elegeram.
- Por falar em PFL, até o governo Lula, eles nunca haviam sido oposição, qualquer que fosse a sigla que a legenda assumisse, desde a ARENA. Hoje, quem merece o rótulo de “partido da situação” é o PR. É da base aliada e faz parte da maioria das coligações vitoriosas nos estados, mesmo quando de oposição ao governo central.
- A tucanada também sofre o fenômeno do desinchaço. Nos idos FHC, compra de votos para reeleição e outros quejandos, chegaram a ostentar 93 mandatos. Agora, o número despencou para realísticos 52 congressistas. E mais: vêm se tornando um partido de gueto: 64% dos seus deputados estão concentrados em 6 estados. Não elegeu ninguém em outros 7 estados.
- A opção de centro-esquerda, como oferecem PDT e PSB, parece finalmente ter alcançado o eleitorado de perfil mais conservador. Pautas ligadas ao nacionalismo, como a defesa do patrimônio público, o trabalhismo, com a defesa do salário e do emprego, e a igualdade, na melhoria da distribuição de renda, mostram resultados muito melhores para a população do que a manjada cartilha neoliberal, que tachava essa agenda de “jurássica”. Somadas, essas suas agremiações tinham 32 deputados em 2002. Hoje, saltaram para 79.
Deixei por último, mas considero o tópico mais importante. Tanto em política quanto na física, toda ação gera uma reação contrária e proporcional (Newton – o Isaac, físico, não o Newtão de Minas). O crescimento do PT, a consolidação como maior partido do Brasil, trás consequências.
O lado positivo é que o PT é um partido de massas. E mesmo que não se concorde com seu programa, é inegável que haja um nexo de continuidade ideológica com as bandeiras do partido: pluralidade, justiça social, democracia.
Depois que deixou de ser estilingue e passou a ser vidraça, caiu a aura de moralidade irretocável, o que produziu manchetes sensacionalistas. O partido é feito de pessoas, e há pessoas de todos os tipos e condutas. Não se trata de uma seita que investiga a fundo o perfil psicológico dos seus filiados. Também não podemos nos iludir com a interpretação ingênua (ou talvez maliciosa?) de que só existe corrupção no PT. Ou que a corrupção só chegou ao Governo nos últimos oito anos. Ou pior ainda (pior como argumento ainda mais sub-reptício), de que a corrupção aumentou com a chegada do PT ao poder. Os crimes lesa-pátria (privatizações a preço de banana, financiamento dos bancos privados, confisco da poupança, compra de votos do Congresso, etc) cometidos em governos anteriores tiveram julgamento bem mais complacente. Também há que se ressaltar a relação com os movimentos sociais, que se não é perfeita, em nada lembra o período anterior, onde eram tratados na esfera da delinquência (Greve dos petroleiros, massacre de Eldorado dos Carajás, os exemplos se multiplicam).
O mais nefasto disso tudo é o crescimento do anti-petismo. Esse sentimento surgiu quase simultâneo ao partido. No começo, remetia aos temores de uma república sindical. O partido começou a eleger parlamentares comprometidos com as causas populares, verdadeiros ícones da resistência popular, rompendo as amarras da velha república dos coturnos. Nas eleições de 89 ficou muito evidente que o anti-petismo se aliava ao conservadorismo, seja nas questões urbanas (direito à greve, por exemplo), agrárias (confisco das propriedades improdutivas) ou religiosas (Estado laico). Até a cor da bandeira seria mudada, associando o PT ao ataque de símbolos nacionais. Carcomidos pelos anos de chumbo, é verdade, mas ainda símbolos nacionais.
Pano rápido, e passamos por um longo torpor, no qual o anti-petismo se amalgamou com a grande imprensa comercial. Poucas variações sobre o mesmo tom diziam que o programa do partido era “inviável”. Em cada momento, uma justificativa para essa suposta inviabilidade, questão irresolúvel para os “formadores de opinião”. A ditadura do pensamento único vivia seu apogeu, e pensar de forma distinta era quase um delito intelectual. No qual o PT incorria quase sempre.
Aí veio o presidente Lula. Tratados serão escritos sobre esse período riquíssimo da história brasileira. Sem ir muito fundo, hoje, esse “sentimento” anti-petista descambou para três vertentes: 1.º decepção, daqueles realmente enxergavam no PT uma restauração do messianismo, como se num passe de mágica, ou num exercício de mandato, todos os problemas da sociedade se resolvessem; 2.º postura elitista, que numa contradição é proferido pela classe média que ascendeu socialmente nesse período, como se ela – apenas ela – tivesse que aturar o fardo da distribuição de renda; 3.º preconceito, puro e simples, que como qualquer preconceito é fruto da alienação e da ignorância.
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