quarta-feira, 20 de outubro de 2010

COMBATE DE IDÉIAS – PARTE V

POSTURA DA CLASSE MÉDIA


A classe média não é homogênea. Nela, há trabalhadores organizados (como professores, bancários, metalúrgicos), profissionais liberais, pequeno e médio produtor rural, comerciantes, enfim, uma gama de cidadãos cujo único parâmetro é a equivalência aproximada de poder aquisitivo. Como o próprio nome já diz, é uma classe de passagem, intermediária. Por isso, vive em crise de identidade, negando o passado (de pobre) e reproduzindo a ideologia que aspira (os ricos). No Governo Lula, 28 milhões de pessoas ingressaram nesse estrato social. Pessoas que foram assistidas por políticas públicas, de transferência de renda, e hoje se mantêm a custa do próprio trabalho.
Para ridicularizar suas manias e costumes, existia um site que deixou de ser atualizado, mas cujos arquivos são divertidos, o http://classemediawayoflife.blogspot.com/. Também tem o exame ácido da irresponsabilidade de sua postura política, no http://anaispoliticos.blogspot.com/. Parece-me que é escrito de Curitiba, um foco de replicação do ideal conservador burguês: mantenha-se o status quo, para que nada se altere e que tudo permaneça como está. Contribui para essa ilusão a falsa perspectiva de que Curitiba seja uma cidade modelo, o que desautoriza a crítica e possíveis mudanças.
Essa classe tem sido dopada com doses cavalares de consumismo, levada a cultivar um egoísmo absurdo, graças à louca competitividade do sistema, e restringido sua visão da existência aos mesquinhos interesses pessoais. Por estar tão entretida em seus negócios particulares, a classe média acaba odiando a política, se transformando no que Hannah Arendt provocativamente chamou de Animal Laborans, aquele ser cujo patamar máximo de cidadania é invocar seu papel de consumidor.
Mas é na classe média que surge a consciência de classe, a perspectiva de alteração nos rumos do destino, a insubordinação racional aos ditos do mercado; olhando-se sob esse prisma, há esperança. Praticamente toda blogosfera progressista é composta de seres oriundos da classe média. A maioria dos revolucionários era pequeno-burguesa. É onde é dada a oportunidade de sonhar com um mundo melhor.


O que fazer?


Na faculdade, eu conhecia praticamente todos os colegas, mas só me relacionava com alguns. Afinidades classistas e eletivas. Havia uma moça, com amigos em comum, que diziam ser patricinha, fútil, que estava no curso apenas por prestígio, ou no máximo, para prestar concurso. Nunca conversei a fundo com ela, nem soube o que ela pensava de fato. Por isso, concedi o benefício da dúvida, apesar da sua aparência realmente me empurrar a acreditar no que diziam. Na minha cabeça preconceituosa, ela estaria acima da classe média.
Pois bem, passaram-se vários anos, saímos da faculdade, e eis que eu encontrei o texto abaixo, escrito por ela, publicado em seu blog. É isso, com a classe média é necessário fazer desabrochar seu potencial transformador, dar um empurrãozinho na desalienação. Não é fácil, até porque esse processo é mais interno que externo. Mas o fato de tumultuar sua restrita zona de conforto, instando-os a pensar, sem amarras, com desconforto típico de quem sai de um casulo, me parecer ser o melhor caminho.

Hoje mais uma vez me olhei no espelho e me perguntei: será que tenho cara de conservadora, demagoga, hipócrita, reacionária, coronelista, ou exploradora das classes menos favorecidas? Ou tenho, ou nada justifica o espanto das pessoas ao saberem que sou contra o Serra e toda a sua política que remonta aos tempos da monarquia.
Aos meus queridos amigos que o apoiam, tenho certo que são boas pessoas e que querem o melhor para o país, no entanto, temo que estejam mal informados. Espero que não deixem de ser meus amigos devido aos meus arroubos político-literários.
Irei tecer alguns argumentos que explicarão porque depois de gastar anos estudando história do Brasil e do mundo, geografia, ciências políticas, sociologia, e tantas outras coisas, eu sigo pensando que a Dilma não é a candidata dos meus sonhos, assim como o Lula não foi o presidente que eu gostaria que ele tivesse sido, mas que o Serra é um dos meus piores pesadelos.
Serra apóia, é apoiado e deve favores às pessoas das quais eu gostaria de ver o Brasil livre para acreditar em um futuro melhor. O PSDB (criatura do PMDB) está e sempre esteve ao lado das políticas mais opressoras dos trabalhadores e pobres desse país, de gente conservadora e reacionária, da bancada ruralista do Congresso, dos coronéis que ainda comandam esse país. Para citar exemplos, Marco Maciel, Ronaldo Caiado, Demóstenes Torres, ACM Neto (agora que o avô morreu), Orestes Quércia, Joaquim Roriz, Siqueira Campos, só pra começar. Essa gente compõe uma classe que acha igualdade social discurso de comunista, que para eles dar a quem é de direito é só mantê-los no poder porque é lá que eles sempre estiveram, portanto, o direito é deles. Justiça social, melhores condições de vida pra população, e etc. servem apenas pra angariar votos nos anos de eleição. No trabalho deles de verdade se preocupam em garantir suas posições, ajudar os amigos, e fazem o que for preciso pra que os interesses deles próprios nunca sejam contrariados
Esse não é o país que eu quero. Nos anos de governo Lula, com todas as críticas que tenho a ele, eu vi o poder aquisitivo da população aumentar, eu vi gente que passava fome, comer, eu vi o serviço público melhorar, eu vi investimento no nacionalismo há muito abandonado, eu vi as pessoas terem opção, opção gerada pela comida na mesa. Isso foi tão significativo, que vimos muitos desses senhores antes citados não serem reeleitos em seus currais eleitorais. As pessoas estão parando de agir como gado.
O modelo casa grande - senzala, não serve pra mim. Não quero ser escrava de ninguém e muito menos quero viver explorando os outros.
A carga tributária é outro argumento recorrente na roda tucana. Já falei sobre isso, e faço questão de lembrar que nos oito anos de governo FHC, que tinha maioria no congresso nacional, a carga tributária continuou enorme, e com a criação da CPMF, aumentou. O Estado de São Paulo, nas mãos do PSDB há dezesseis anos, conta com o maior IPVA, o maior ICMS, além do maior IPTU na capital, e ainda paga pedágio. Portanto, não esperem de Serra uma reforma tributária para diminuir a carga, porque ele não irá fazer isso.
Quanto à reforma política, o FHC também teve oportunidade e não a fez. Não vejo porque acham que o Serra fará.
Ouço muito das pessoas que são contra o PT e a Dilma, por consequência, que o PT é corrupto e que se a Dilma ganhar a moralidade do país continuará abalada. Fico chocada que ainda existam pessoas que acreditem que o PT inventou a corrupção, ou que seja o partido mais corrupto que existe no Brasil. Os mensalões, lobistas, fraudes em licitações já existem há tanto tempo, que não sei nem por onde começar. Darei como exemplo o rombo da previdência, ou será que tem alguém que acha que ela quebrou sozinha?
Para corroborar meu argumento, vou citar o caso do Paulo Preto, agora capa de algumas revistas, pois outras fizeram questão de abafar o caso enquanto deu. O Serra está diretamente envolvido, e ainda assim julgam ele mais probo que a Dilma. Alguém se lembra dos muito processos engavetados na época de FHC? Um deles foi o caso do superfaturamento das ambulâncias, que ocorreu no ministério que Serra comandava.
Acho que corrupção é um dos maiores problemas desse país, mas não tenho motivos pra acreditar que o Serra vá resolvê-lo.
Infelizmente, ainda insultam minha inteligência mandando e-mails me dizendo que Dilma é terrorista, come criancinhas, ou que registrou um programa de governo no TSE (pois é, pra ver onde chegam os absurdos, desde quando se registra esse tipo de coisa no TSE) no qual ela irá acabar com a propriedade privada. Sinceramente, penso não ter se quer que comentar esse tipo de coisa com os meus leitores, pois tenho certeza que vocês são inteligentes o suficiente pra saber que isso sim é terrorismo. Tentam amedrontar as pessoas com esses comentários da mesma forma que fizeram na época da ditadura e difamar a história política de Dilma, a quem devemos agradecer por ter lutado, inclusive pela nossa liberdade de expressão, correndo o risco de perder a vida, como tantos perderam.
Dilma é a continuidade de um governo que dentro do possível, trabalhou pela igualdade social, melhor distribuição de renda e justiça para a população brasileira. Por pior que seja sua aliança com Michel Temer, e que eu discorde de muitos de seus programas de governo, os princípios dos governos petistas ainda são os que mais estão de acordo com os meus, diante das duas opções que tenho.
Se me chamam de Petista, ou alguns gostariam de me chamar de Petralha, deixo claro que prefiro esses adjetivos a ver as pessoas do meu país passando fome, salário mínimo que mal compra uma cesta básica, gente sem a menor condição de ter uma vida digna.
Prefiro-me ver pintada de vermelho em busca de um país melhor, do que ver o sangue azul na sua eterna aristocracia, subjugando aqueles derramam sangue e suor de verdade por este país.
Não é nada pessoal, é apenas uma questão de princípios.

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