Os cães ladram e a caravana passa. Essa frase ilustra de forma fidedigna o que representaram os últimos quatro anos de ganidos - quase ensurdecedores - da matilha de vira-latas que torce contra o Brasil.
Mas a Copa está aí. E, no vácuo de argumentos mais racionais, a turminha do contra buscará alguma conspiração na atuação do juiz, na chuva, na vaia dos camarotes. Contudo, houve um erro grosseiro: a tentativa de esconder uma enorme vitória do Brasil fora das quatro linhas. Com o exoesqueleto criado por Miguel Nicolelis, paraplégicos voltarão a andar, através de comandos cerebrais como num corpo normal.
Pois a caravana passará novamente. Até achei que o PIG ia se emendar quando saíram matérias na Foia e no Estadão (entre os dias 22 e 23 de maio) relativizando o discurso mais radical e falso que foi usado até então: que a Copa tirava recursos de setores essenciais, como saúde e educação. Esse movimento, porém, foi mais um ardil, provocado por dois fatores:
1.º: Eles perceberam que, apesar de tudo que fizeram, a Copa ia acontecer;
2.º: Os patrocinadores, os mantenedores do PIG em última análise, estavam se lixando para as críticas. Queriam mesmo era lucrar com a Copa - o que estão fazendo sem nenhum pudor.
Mas vamos falar de coisa boa, sobre a Copa em si. Vou lançar alguns pitacos:
O jogo de estreia:
Quando me dei por gente, já estávamos na Copa de 1986. E assisti a tantos vídeo-tapes das anteriores que julgo ter algum saber futebolístico. Afirmo que poucas vezes tivemos uma estreia contra um adversário tão bom (a mesma Croácia, em 2006, era medíocre - um bando de atletas em fim de carreira), e raramente fizemos um placar tão elástico. Apesar do nervosismo, do gol contra, da necessidade de reação.
O time do Brasil:
Claro que temos muito a melhorar. Ou o sistema de jogo dá um jeito de cobrir os avanços dos laterais, ou seremos vulneráveis sempre. Penso que Maicon ganhará a vaga de Daniel Alves, por defender melhor. Na esquerda, não temos opção: o jeito será amarrar uma cordinha na cintura do Marcelo - se bem que isso mataria sua principal qualidade.
O pênalti em Fred:
O jornalista Adriano Silva definiu bem: o público de Copa é diferente daquele que acompanha o dia a dia do futebol. Não está acostumado às filigranas do esporte. Cavar pênalti é quase uma arte cultivada pelos centroavantes. Sobre a validade da prática ou não, a discussão se arrasta desde os primórdios. O jogador Olic, da Croácia, também tentou o recurso, mas não teve nem uma fagulha da capacidade do Fred. De mais a mais, o beque croata estava com a mão no brasileiro para que? Fazer carinho? Futebol se joga com os pés...
Sobre a Croácia:
Em que pese as belezas naturais do país, o nazismo é força muito presente na mentalidade. Desde a 2.ª guerra até o ex-capitão da seleção entoando cânticos dos Ustashas, grupo de extrema direita que governou o país e aderiu à Alemanha (até sentir a mão pesada do Mal. Tito e dos partizans que os subjugaram). Como tiveram facilidade em aderir ao blablablá do PIG! Falaram em "circo armado", e depois de detonarem o vestiário, puseram a culpa nas obras! Foram comprados pela oposição?
México vs. Camarões:
E agora, como será o coro de mimimi dos coxinhas? Camarões, com sua "pujança econômica", comprou a Copa, a FIFA, os árbitros e as outras seleções? Pois foi o time mais beneficiado pela arbitragem até aqui, com os dois gols do México invalidados. Sobre o jogo em si, duas zagas horríveis, que enlouquecem seus razoáveis goleiros. O meio de campo mexicano toca melhor a bola, mas teve dificuldade com os armários camaroneses. Respirei mais aliviado, confesso.
Holanda vs. Espanha:
Literalmente uma tamancada. Depois de um breve reinado, a Espanha volta ao papel de coadjuvante no futebol. Geração envelhecida, que ganhou tudo e perdeu a motivação. Uma fórmula de equipe outrora inovadora, mas que se tornou batida, monótona e neutralizável, sem capacidade de se renovar. Quanto à laranja, mostrou um time parecido com o Brasil de 2002: sete abnegados marcadores e três craques com toda liberdade na frente: Sneijder, Van Persie e Robben. Promete dar trabalho, mesmo que digam que a festa em Salvador não acabou até agora.
Chile vs. Austrália:
Tenho muitas expectativas na seleção chilena. Talvez apresentem o futebol mais bonito, em termos coletivos. Não tocam a bola sem levantar a cabeça e escolher o companheiro mais bem posicionado. Fizeram 2x0 com tamanha facilidade que relaxaram. No fim, tomaram um sufoco, até que veio o golpe de misericórdia já nos acréscimos. A Austrália lembra o time dos EUA: não têm nenhuma intimidade com o "soccer", mas são de uma raça e entrega comoventes. Ainda assim, segurará a lanterna desse grupo.
A vaia:
O melhor artigo a respeito foi do jornalista Paulo Nogueira. Invocou o argumento de Santo Agostinho sobre as monjas que se suicidavam após serem estupradas. Uma agressão tão vil diminui quem a pratica, e
não quem a sofre. Considera essa forma de pensar "um capítulo
particularmente luminoso da filosofia ocidental", escrito sob circunstâncias extremas. O horror estava nos bárbaros estupradores, e não nas vítimas. Na mesma linha, um princípio do Direito Romano que foi recepcionado no Brasil, mas que anda meio esquecido: "nemo turpitudinem suam allegare potest" (a ninguém é dado beneficiar-se da própria torpeza).
Mas o grande momento foi a fala dela própria, a agredida, colocando no devido lugar tanto os que a ofenderam quanto a parcela de jornalistas cúmplices que tiveram a desfaçatez de dizer que "não se faz isso contra uma mulher". Uma mulher que sofreu os maiores suplícios carnais com uma dignidade poucas vezes vistas, mesmo no mais vigoroso dos heróis masculinos.
Isso tudo em dois dias de Copa! Como diz o pulha, amigo haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaja coração!
5 comentários:
Caros leitores favoritos,
Até nova postagem, vou "analisar" os jogos da Copa aqui na caixinha de comentários.
O mais legal da Copa, para quem curte futebol, é o seguinte: hoje em dia, o melhor campeonato de clubes é a Liga dos Campeões européia. Mas, se você olhar os protagonistas do certame, o crème de la crème futebolísitco, perceberá esquadrões mundiais, o que acaba homogenizando todos, ainda que essa "nivelação" seja por cima. (Há exceções, claro, como o Barça de Guardiola). Na copa, é nítida a diferença de formas de jogo: os sul-americanos gostam de jogar com a bola no pé, os europeus, em geral , são mais táticos e por aí vai...
Colômbia vs. Grécia:
Ainda estou na dúvida se a Colômbia é tudo isso ou a Grécia é fraca demais.
Mesmo sem seu maior astro (Falcão Garcia), a Colômbia se impôs desde o início, evidenciando uma brutal diferença técnica dos times.
Outra coisa que chamou a atenção foi o fato da Colômbia ter jogado em casa, no Mineirão. Atorcida fez a maior festa.
A moral deles está lá em cima, o que por se tratar de uma equipe de sangue latino-americano, pode ser ruim, favorecendo o salto alto e o excesso de confiança.
Por seu turno, o que falar da Grécia? Vai para sua terceira Copas (94, 2010 e 2014), e já são sete jogos, dos quais fez gols em apenas um! Seu futebol é pobre como sua economia. Vejo-os como reféns de um título da Eurocopa, em 2004. Naquele campeonato, jogaram na retranca o tempo todo, e no final foram campeões. E desde então tentam repetir a fórmula, colecionando fracassos...
Uruguai vs. Costa Rica
E a celeste foi vítima do "Castelaço", em Fortaleza. De longe, minha maior decepção em campo. Time apático, que nem de longe demonstrou a garra charrua que a consagrou. O pior é que não exibiu alternativas, numa apresentação indigna de suas tradições. Precisa urgentemente sacar do time titular jogadores que se mantém pelo nome, mas que não são nem sobra do que já foram: Lugano, Arévalo, Forlan, e outros, deveriam pedir para sair. E o juiz deu uma força começando a mudar o time por causa da expulsão.
Agora o principal: Luis Suarez tem que sarar na marra!
Já a Costa Rica, em quem muitos não apostavam um tostão furado (mea culpa, assumo), mostrou um futebol que explica porque se classificou na frente do México nas eliminatórias. Seu centroavante, Campbell, é um azougue. Sua bola parada é temível. E na verdade, mandou no jogo os 90 minutos, com uma autoridade que a credencia para voos mais altos - e imprevisíveis.
Itália vs. Inglaterra
Os melhor jogo, até aqui. Duas equipes com equilíbrio de forças, que eram conhecidas por seu jogo feio, mas que mostraram um futebol pra frente, sempre em busca do gol.
O jogo teve seu momento hilário: o massagista do English Team se machucou (!) sozinho (!) ao comemorar o gol que àquela hora empatava a peleja! Quem vai cuidar do fisioterapeuta?
Também teve o comentarista da Band, que disse que Rooney, após recente implante capilar, estava com "cabelo de boneca".
A torcida pendeu para a Azzurra, depois das infelizes declarações dos ingleses.
O escrete italiano é muito forte, defende bem como sempre, mas tem um regente no meio de campo que torna as coisas mais elegantes, Pirlo. Na frente, Mario Balotelli resolve.
A Inglaterra, que ficou sem pernas no fim para buscar novo empate, também apresentou uma safra de jogadores jovens que não fazem chuveirinho na área. No fim, já exaustos, tentaram apelar para essa tática, mas erraram todos os cruzamentos.
Costa do Marfim vs. Japão
Jogo chocho, que nem merecia duas linhas. Bastaria repetir alguns clichês: time do Japão é organizado, metódico, mas falta capacidade de improviso. Costa do Marfim tem atletas fortes, bons de bola, mas no jogo coletivo é sofrível. Nenhum dos dois é páreo para a Colômbia nesse grupo.
A única coisa a comentar é a incapacidade dos japoneses, tão autocríticos e resignados, de reverter o resultado negativo.
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