Queria falar de muita coisa.
As pautas acabam se atropelando.
Não dá tempo para um texto coeso, que aborde todos os assuntos.
Por isso, vou pingar alguns tópicos.
As idéias não estão acabadas.
Seriam muito melhor desenvolvidas com comentários.
“Ainda não tinha aprendido o quanto a natureza humana é contraditória;
não sabia quanta hipocrisia existe nas pessoas sinceras, quanta baixeza
existe nos nobres de espírito, nem quanta bondade existe nos maus.”
William Somerset Maughan
1. Domingo passado, escrevi que o brasileiro foi um povo bem humorado. Hoje, o Conversa Afiada publica um artigo de uma leitora que tem a mesma impressão: tem saudade do carioca irreverente, meio ateu, meio de esquerda e totalmente sacana. Agora, tudo carola, piegas, um horror. E a responsável por essa mutação é a Globo. E conclui: caparam o brasileiro!
2. Veio à tona o assunto democracia direta. Que muito me interessa, ao menos em termos acadêmicos. Só que essa nunca foi a pauta das manifestações. Ela apareceu na reação da presidenta da república que, tão questionada nas ruas por elementos conspiradores e idiotas açulados pelo PIG, propôs uma Assembleia Constituinte específica para se fazer a reforma política.
Quem sabe aí não se elegeriam os políticos não contaminados pela corrupção que permeia a sociedade?
Quem sabe daí não surgiria um modelo representativo mais próximo do cidadão, e que criasse barreiras para que o poder econômico não influenciasse tanto as decisões políticas?
Na verdade, esses caras não querem nada disso. O caldo cultural que os cobre é feito de golpismo, antipetismo, frustrações individuais, alienação e ressentimento elitista contra as tentativas de inclusão dos carentes. Em doses heterogêneas. É o povo que não vota, ou que vota nulo. Passa o tempo vendo a Globo e, de repente, se indigna "contra tudo o que está aí".
"A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude"
La Rochefoucauld
3. Drauzio Varella se exaspera com a pressão pelo veto ao projeto de assistência às vítimas de estupro. O lobby pelo veto é capitaneado pelo Mov. Pró-Vida, que que teve mais de 19 milhões de panfletos apreendidos na campanha de 2010, por associar à aprovação do aborto a então
candidata Dilma.
Agora, eles recorrem à tática da chantagem: "As consequências chegarão à militância pró-vida causando grande atrito e
desgaste para Vossa Excelência, senhora presidente, que prometeu em sua
campanha eleitoral nada fazer para instaurar o aborto em nosso país".
Se a filha de um desses dignos lobistas for
estuprada, receberá atendimento em clínica especializada, e realizará o
aborto, na surdina.
Mas mulher pobre, se
estuprada, é condenada a dar a luz ao fruto de um desgraçado
ato de ódio, para que cresça num péssimo ambiente, com péssimas
condições, perpetuando o ciclo da miséria moral e financeira.
Nasce mais um estuprador, pela lei de talião, aquela do olho por olho, dente por dente.
Aí,
cúmulo da hipocrisia, os vetustos senhores do Mov. Pro-Vida, que
ameaçam a presidenta agora, se convertem em Mov. Pro-Morte, e se tornam
ferrenhos defensores da pena de morte.
4. Novamente Dilma dá uma entrevista exclusiva a órgão do PIG, desta vez a Folha. De novo? Assim como célebre entrevista a Patrícia Poeta? Ou os omeletes com Ana Maria Braga? Ou o pedido de um fogão a Jorge Bastos Moreno?
Concordo com o Tijolaço. Em outra conjuntura, a entrevista mostraria uma presidenta segura, focada, consciente dos rumos do seu governo e capaz de administrá-lo. Hoje porém, é insuficiente. Respondeu exatamente o que interessava à repórter e à empresa que lhe paga com a firmeza peculiar, mas não revelou as causas germinais do porquê das críticas que vem recebendo.
Não há mais espaço para o modelo de contemporização que o PT optou por seguir na presidência, com Lula e com Dilma. Estou acompanhado nessa opinião. Escrevi isso quando comentei a intenção do Lula de levar adiante o debate da regulação dos meios de comunicação. E no melhor trecho da entrevista, para mim, Dilma foi certeira quando afirmou que não se trata de regular o conteúdo, e sim o negócio. Trocando em miúdos, a Globo pode continuar sua campanha insidiosa, mas tem que pagar os impostos.
"Foge por um instante do homem irado, mas foge sempre do hipócrita".
Confúcio
5. Considero esta manchete e sua introdução tão conclusiva que apenas mencionarei, direto do portal Brasil 247: Terror midiático naufraga diante da realidade
"Programas oficiais como Bolsa-família, Enem e Mais Médicos, o regime de
pleno emprego e o controle da inflação já foram, um a um, dinamitados,
antecipadamente, pela mídia tradicional; ao que se pode ler nos últimos
meses em revistas como Veja, Exame e Época, fracasso de todas as
principais iniciativas do governo Dilma, sem exceção, era líquido e
certo; na vida real, porém, quadro é outro: inflação de junho foi de
0,07%, Mais Médicos bateu metas, Enem superou recordes, Bolsa-família é
copiado mundialmente e estádios que Veja previu para 2038 já foram
entregues e estão em uso; até aposta em que se cantaria o Hino Nacional
de costas, na Copa das Confederações, deu errado, assim como a do apagão
de energia; mídia vai se emendar?"
6. Tenho acompanhado com grande curiosidade a saga de Paulo Henrique Amorim na defesa de Joaquim Barbosa. Ele tem sincera expectativa que o condenador maluco vá legitimar a Satiagraha e o Mensalão do PSDB. PHA não aceita que ele seja um Torquemada discricionário, e imagina que sua sanha punitiva não escolha alvos.
Ele já errou e se arrependeu com Ayres Britto. Disse que era o presidente do supremo que abriria as janelas da casa, para a entrada de sol e ar, depois do tenebroso mandato de Gilmar Mendes. Por fim, Ayres Britto se revelou mais do mesmo, e foi convertido pelo próprio PHA no "Big Ben de Propriá", aquele que marcou a condenação do José Dirceu para o exato momento do segundo turno das eleições de 2012.
Me divirto com esses apelidos que ele cria. Mas não tenho nenhuma esperança no poder judiciário. É sem dúvida o mais corrupto dos três. Os mecanismos que impedem os bons juízes de se destacarem e ocuparem cargos importantes são insuperáveis. Meu raciocínio vai na mesma linha do Bresser Pereira: "As democracias se caracterizam pelo equilíbrio de Poderes, mas isso não
significa que os três tenham a mesma importância. O Legislativo é o
Poder democrático por excelência, e cabe a ele a palavra final em todas
as questões, através das emendas. Entretanto, o que vemos no Brasil é o
Judiciário -- Poder burocrático por excelência -- tentar assumir essa
posição, o que é inaceitável do ponto de vista da democracia".
"Nenhum homem é hipócrita nos seus prazeres."
Albert Camus
7. Ufa, finalizando. E o propinoduto tucano? Quando se fala em milhões, bilhões de dinheiro, quantidade que a pessoa normal nunca viu, importam mais as caras e bocas de quem dá o alarme do que as grandezas matemáticas. Quando o Bonner faz aquele ar grave e diz que o mensalão foi o maior escândalo da história política do país, movimentando 55 milhões de reais, as pessoas sentem calafrios.
Mas quando omite que o governo de São Paulo desfalcou sua população em 425 milhões (em contas preliminares) no desvio de verbas do metrô, a coisa não parece tão grave assim.
E como diz o amigo Mello, é um vexame, mas compreensível. A promiscuidade em que convivem tucanos e mídia golpista os retira completamente dos limites do bom senso. A revista Istoé, pela segunda semana consecutiva, demonstra o esquema de superfaturamento denunciado pela Siemens. Na Folha e na Globo? Necas de pitibiriba.
Um comentário:
E o PIG iria atacar o próprio PIG ou os que ajudam a financiá-lo? Essa ética seletiva do PIG é que o expõe ao ridículo. Como para algumas pessoas só existe aquilo que é divulgado no PIG, para elas essa corrupção toda do tucanato não terá existido, mas temos que apostar no contrário e continuar divulgando cada um desses desvios tanto quanto nos seja possível. Acho que Dilma só precisa da mídia para fazer frente a um tipo de esquerda que usa 'black bloc' pra se afirmar, embora não reconheça isso de público. Rebelião árabe no Brasil, ou anárquica, acho que nem a direita quer. Só por isso esse balanço necessário de forças, mas não se pode negar a penetração que veículos já tradicionais têm nas camadas sociais: é difícil mudar isso por decreto. Abraço!
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