quarta-feira, 31 de julho de 2013

CRÍTICA DA CRÍTICA CRÍTICA*

A notícia da semana é o relatório divulgado pelo PNUD, o programa da ONU para o desenvolvimento, que mostra uma espantosa melhora nos indicadores sociais brasileiros. Não me alongarei nas análises. Apenas duas observações:

1.ª Estamos no caminho certo;

2.ª É uma injeção de ânimo nos corações que aspiram um país melhor.

Muitos acusam o governo de maquiar dados para obter um quadro melhor que o da vida real, com fins eleitoreiros. O estudo é chancelado pela ONU, e não pelo governo brasileiro. Assim, só se a ONU tivesse interesse na manutenção de um governo petista isso faria sentido.

Tenho certeza que respeitados analistas, os que deformam a opinião dos "formadores de opinião", estariam com esse argumento na ponta da língua caso Lula fosse secretário geral do ONU. No link abaixo, a discussão dos resultados, feita com propriedade pelo IPEA.


Depois, essa página mostra por munícipio as três dimensões da pesquisa: a oportunidade de viver uma vida longa e saudável (longevidade), ter acesso a conhecimento (educação) e ter um padrão de vida que garanta as necessidades básicas (renda). 


Mas nem tudo são flores.

Como salientou Márcio Pochman, o índice foi criado no auge do neoliberalismo, e hoje vivemos o momento de questionar os legados sociais e econômicos desta doutrina. Pochman entende que a metodologia do índice deveria ser aprofundada, outros indicadores deveriam ser considerados além dos atuais, permitindo um panorama mais complexo dos municípios e países. Como é feito, assemelha-se a medir a temperatura de dois braços do indivíduo, um no congelador e outro no forno. Somam-se as temperaturas dos dois braços/grupos (mais ricos e mais pobres) e a média produz um resultado distorcido.

Mas tão espantosa quanto a progressão brasileira, é a saraivada de críticas que se lê nos portais do PIG, notadamente no UOL. Como sempre, as notícias positivas logo saem das manchetes, substituídas por reportagens centradas em conjunções adversativas: melhorou, reconhecemos quase que num sussurro, MAS ainda está atrás da Argentina; PORÉM a inflação está galopante;  CONTUDO faltam escolas e hospitais; ENTRETANTO a corrupção grassa; TODAVIA os petralhas estão no poder; NÃO OBSTANTE, é capaz do Genoíno morrer antes de ir para a cadeia (o link, hospedado nos domínios da UOL, diz ser uma "notícia boa").

Nos comentários, o rancor que é apregoado na editoria aparece sem disfarces. O ódio de classe mostra que vivemos a léguas da falada "democracia racial". Têm a pachorra de dizer que a desigualdade aumentou para invalidar a conquista. Tudo é motivo para não admitir que melhoramos, um ranço que enoja o estômago não acostumado. Infelizmente já vimos tantas bestas-feras estumadas pela mídia grunhir contra o bolsa família e as cotas sociais e raciais, vibrar com o câncer do Lula, com as derrotas políticas do PT, com a possibilidade de fracasso em eventos protagonizados pelo Brasil, que ficamos com o couro grosso.

Hoje, a feroz oposição a política de inclusão social vai além da famosa figura de chafurdar na lama. Isso seria altamente ofensivo aos suínos. Chegaram ao fundo do poço mas não se conformam, e na sua absurda falta de visão revolvem a terra com as próprias unhas, escavando sua indigência moral a uma baixeza sem precedentes.


* É o subtítulo de "A Sagrada Família", escrito por Marx e Engels. No livro, os autores se opunham ao pensamento dominante em Berlin à época, preconizado por determinada filosofia (uma reinterpretação casuística de Hegel) que conduzia necessariamente a uma política liberal e elitista. Marx denuncia o humanismo abstrato dos intelectuais: "A classe possuidora e a classe proletária representam a mesma alienação humana. Mas a primeira sente-se à vontade nesta alienação; encontra nela uma confirmação, reconhece nesta alienação de si o seu próprio poder e possui nela a aparência de uma existência humana; a segunda sente-se aniquilada nesta alienação, vê nela a sua impotência e a realidade de uma existência inumana". A polêmica era travada contra os irmãos Bauer - Bruno (que foi professor de Marx) e Edgar -, e seus consortes, que alimentavam essa ideologia através do periódico "Gazeta Geral Literária".

Um comentário:

Apelido disponível: Sala Fério disse...

É a mídia advsersativa (pelas conjunções que usam em seus comentários a toda boa nova). :)