A NAU DOS INSENSATOS

Para todo mundo que assiste ao noticiário matinal da Globo, o dia começa mal. Hoje, a tragédia dizia respeito à nossa balança comercial: apesar do superávit de US$ 2,4 bi em junho (essa notícia, positiva, a Globo omitiu), o semestre fechou em déficit de US$ 3 bi, o pior resultado em 18 anos.

Aqui cabe um parêntese: Há 18 anos atrás, ou seja, em 1995, o resultado foi pior. E quem comandava nossa economia 18 anos atrás? Aliás, quem nos comandava em 95, 96, 97, 98, 99 e 2000, últimos anos que a balança comercial registrou déficit?

Fecha o parêntese.

Corta pra 18.

Eis que entra em ação a Miriam Leitão. Ela é um erro de concordância de gênero. Na carinhosa alcunha dada por Paulo Henrique Amorim, a Urubóloga se pôs a explicar os porquês de tal desatino.

Culpa da Petrobrás, seu alvo preferido. Segundo ela, a Petrobrás fez "malabarismos contábeis". Deixou para registrar as importações de gasolina de outubro, novembro e dezembro de 2012 (que totalizaram US$ 4,5 bi), em 2013 (de fato, o mês de janeiro de 2013 registrou um déficit de US$ 4 bi).

E tem mais: depois, em junho, a estatal exportou para uma subsidiária no Panamá uma plataforma de US$ 1,6 bi, o que seria algo que foi sem nunca ter ido.

É por isso que toda vez que ela abre a boca cabe direito de resposta. Na verdade, quem manipulou dados, para criar negatividade foi ela mesma. E isso se torna mais grave no jornalismo econômico, que carece de sensatez para evitar o pânico, o comportamento de manada e a insegurança que a especulação e volúpia dos mercados proporciona.

Só nas duas operações citadas, a Petrobrás acumulou déficit de US$ 2,9 bi no primeiro semestre de 2013. Isto é, não é economia brasileira como um todo que vai mal das pernas, muito pelo contrário, é uma das que mais cresce no mundo, segundo nota de rodapé no Estadão. Esse raciocínio tacanho, que conduz à confusão, cai como luva para quem tem interesse em disseminar o caos, a desordem, a baderna.

Quem paga o salário da Miriam Leitão?

Quais interesses estão por trás do seu "brilhante" comentário?

Entre os números e a chatice do economês, o que se esconde em termos de ideologia, ainda mais passando na Globo?

Se a  Petrobrás escriturasse as importações de 2012 no ano certo, ainda assim fecharíamos com superávit de US$ 15 bi (ao invés dos R$ 19,5 bi), o que comprova que esse não é um dado que mereça maior relevância política. O problema é que desde 2003, quando Lula assumiu, nunca, pleonasmo enfático e retórico, NUNCA, o governo acertou em uma medida. Errou todas as vezes. Ao governo petista, a Urubóloga não permite sequer o desvio estatístico de 50% de acertos.

Meus colegas de trabalho vieram com essa logo no começo do expediente. Por isso, me dei ao trabalho de pesquisar sobre o assunto. Vivemos sob uma saraivada de opiniões infundadas, repetidas a esmo, sem o devido juízo crítico. Pasmem, mas me tranquilizei quando o assunto enveredou pelas intrigas d'A Fazenda, o que não demorou a acontecer.

Além do repertório de obviedades, a Urubóloga ainda teceu comentários sobre fracassos petrolíferos de Eike Batista, clamando que a ANP preservasse os investidores dos eventuais riscos de uma empreitada desta monta.

Aí eu pergunto: se os lucros fossem fabulosos, uma fatia era da ANP?

Que raios de capitalismo é esse que quando especuladores enganam especuladores, aparece o afago e a benevolência da mão generosa do Estado, a protegê-los e alertá-los quanto ao risco, mas que na hora dos ganhos brada a ladainha contra a cobrança de impostos e a inclusão social?

Página de apoio: todos os saldos da balança comercial brasileira, desde janeiro de 1993.

http://www.portalbrasil.net/economia_balancacomercial.htm

Para os de estômago forte, o vídeo das sandíces:

http://globotv.globo.com/rede-globo/bom-dia-brasil/v/deficit-da-balanca-comercial-tem-o-pior-resultado-em-18-anos/2666745/

Nota final: Tentando me jogar ao mar, para fugir dessa Nau dos Insensatos, não poderia deixar de registrar o mais sábio pensamento publicado acerca dos distúrbios de junho:

"A pior corrupção é um país concentrar riqueza e gerar exclusão e fome. O que nós produzimos no país deve se reverter em bens repartidos". Dom Mauro Morelli