89 foi a primeira eleição que eu acompanhei entendendo alguma coisa. Tenho a memória afetiva de que nunca mais o debate foi tão presente nas nossas vidas. Uma miríade de postulantes ao Planalto, de todos os tons e cores, na ressaca das três décadas sem eleições diretas. Nunca mais a direita se fragmentou em tantas candidaturas.
Minha mãe desde o primeiro turno era Lula (coisa que se repetiu até o fim de sua vida). Tios e primos mais à esquerda eram Brizola. Meu pai era eleitor do Collor.
Os votos deles expunham a crise conjugal em que viviam (o divórcio veio no ano seguinte, em março). Conversava com os dois separadamente. Não entendia os motivos do meu pai. Ele dizia que o Collor era diferente dos políticos que estavam aí, os de "sempre", era o único que poderia tornar o Brasil menos burocrático (à época, a palavra era mais produtivo), e principalmente, acabar com a corrupção.
Por seu turno, na ingenuidade que meus 13 anos permitia, perguntava à minha mãe por que o Lula não colocava no plano de governo o combate à corrupção, ao que ela respondia: porque NINGUÉM é a favor da corrupção.
Às vezes, o óbvio tem que ser dito.
Aprendi essa frase num curso que fiz duas semanas atrás.
Ah... o Collor ganhou, a classe média continua hipócrita, crendo nos arautos contra a corrupção e o resto da história é de domínio público.
2 comentários:
E o mais bizarro dos que se dizem 'contra a corrupção' (como agora faz o tucanato), é que eles geralmente são corruptos. Dizer: 'sou contra a corrupção' é como dizer que se é contra a inveja, o orgulho, o mau-caráter ... mas situando esse problema fora de nós, no outro.
Esse tipo de classe média é a que compra recibo para sonegar imposto de renda; que, quando médico, vende os recibos; que registra o imóvel abaixo do valor para pagar menos (ITBI/ISTI), que forja contra-cheques para pegar empréstimos incompatíveis com sua renda, etc, etc, etc...
E é contra a corrupção e acha um absurdo o que pagamos de imposto!
Vou escrever um pouco sobre isso...
Abraços
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